Já contei muitas vezes: tive os meus filhos a sangue frio, sem epidurais ou qualquer outra anestesia que atenuasse as dores. A opção não teve a ver com heroísmo: simplesmente temia que, anos mais tarde, viesse a provar-se que alguma dessas coisas era prejudicial à saúde das crianças. Para além disso, não me achando eu diferente de qualquer outro animal, sempre pensei que deveria deixar que a natureza actuasse por si, sem artificialismos. Hoje, sabendo-se já de fonte segura que não há malefícios para as crianças, teria querido epidural.
Porque, chegado o termo da gravidez, as crianças não desciam, foram ambos os partos provocados e ambos com recurso a fórceps. Dores de morrer. Tantas dores que transpirava em bica, a cama alagada. Achava que não ia resistir a tamanha dilaceração das entranhas. Horas de contracções e dores, sempre em crescendo. Já extenuada, a sentir que não ia conseguir suportar aquele contrair-se o corpo num esforço brutal para expulsar um ser que parecia não conseguir atravessar o caminho para a vida, a sentir que me ia faltar a capacidade para superar tamanho e tão longo sofrimento, a verdade é que consegui.
E, verdade seja dita, mal as crianças saíam, imediatamente me esquecia das dores e entrava num estado de felicidade levitante, radiosa, como se nada de doloroso se tivesse passado e, pelo contrário, como se vogasse num mar de encantamento.
Ora eu estive lá, vivi cada momento, maravilhei-me quando me puseram as crias ensanguentadas em cima -- mas ver, ver mesmo, isso não vi.
Mesmo que houvesse espelhos, de tal forma estava aflita de dores, não sei se teria tido a capacidade de olhar para o espelho.
Mesmo que houvesse espelhos, de tal forma estava aflita de dores, não sei se teria tido a capacidade de olhar para o espelho.
Nem sei se seria capaz de assistir a parto alheio. Custa-me imenso ver alguém a sofrer. Também não sei se não estaria com tanto medo que houvesse algum problema que acabaria por cair para o lado.
E, no entanto, não há milagre maior. De dentro do corpo de uma mulher sair uma outra pessoa é coisa mágica -- seja pela via normal, seja via cesariana (como no caso da fotografia seguinte).
Estou, de novo, com isto não porque o tema me seja caro (e é: adorei estar grávida e, apesar de tudo, adorei dar à luz) mas porque vi algumas fotografias de nascimentos que me deixaram maravilhada.
Talvez algumas das pessoas que me lêem já tenham visto, ao vivo, algo com o que aqui mostro mas é a pensar nos outros que, tal como eu, nunca viram uma pessoa a irromper do corpo de uma outra que aqui as mostro.
Estou, de novo, com isto não porque o tema me seja caro (e é: adorei estar grávida e, apesar de tudo, adorei dar à luz) mas porque vi algumas fotografias de nascimentos que me deixaram maravilhada.
Talvez algumas das pessoas que me lêem já tenham visto, ao vivo, algo com o que aqui mostro mas é a pensar nos outros que, tal como eu, nunca viram uma pessoa a irromper do corpo de uma outra que aqui as mostro.
E devo dizer que de todas as alegrias desta vida, só há uma que supera a de conhecermos um filho que acabou de sair de dentro de nós: é a alegria de sentirmos essa felicidade nos nossos filhos ao conhecerem os seus filhos que acabaram de nascer.
! Aleluia !
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Estas fotografias foram algumas das premiadas no concurso anual da International Association of Professional Birth Photographers
Lá em cima: Aleluia do Messias de Handel pelo Coro do King's College
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2 comentários:
Wonder, Wonderful.
Um milagre. O único, para quem foi 'deformado'
na catequese com os milagres da Bíblia.
Tem razão, aquele momento em que nos põem a criança em cima, pele com pele, toda viscosa e ensanguentada, é do mais bonito que há. Um milagre no qual a gente sente que colabora sem qualquer arte. Que é incompreensível tal maravilha. Na verdade, quase tudo tem um quê de incompreensível. Mesmo com a ciência e a técnica há um remanescente de mistério. E julgo que pertença à essência da vida. Que usamos. De que não existe pertença integral
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