segunda-feira, novembro 28, 2016

António Domingues demitiu-se da CGD e eu tenho umas perguntinhas para ele e um recadinho para António Costa


Na fase em que andavam há meses para desarrincar um elenco para a CGD e, no fim, apareceram com um magote deles que mereceram dúvidas ao BCE, já eu aqui tinha criticado o Secretário de Estado Mourinho Félix e o Ministro das Finanças Mário Centeno e, consequentemente, António Costa. O Primeiro-Ministro deixou que a coisa se arrastasse daquela boa maneira para, no fim, aparecer um Conselho de Administração que era uma turma absurdamente excessiva.


A coisa passou. Mas logo a seguir rebentou a castanha do ordenadão de António Domingues e, pior, a de não querer (ele e os colegas) reger-se pela lei do comum dos mortais nestas funções, apresentando a declaração de rendimentos.

Também já aqui várias vezes disse que a trupe pafiana não ia descansar enquanto não visse a CGD de pantanas. Tem sido um fartote. Campanhas negras, interpelações, a comunicação social encharcada das notícias que os pafs não se têm cansado de plantar.

Face às ameaças, era da mais elementar prudência que António Costa percebesse que esta não é matéria para verdinhos. Mário Centeno e o Mourinho Félix podem ser competentes mas não passam de uns meninos do coro quanto têm pela frente macacos de rabo muito pelado. 


Agora as televisões anunciam o pedido de demissão de António Domingues que pode ter as suas razões mas que, perante a opinião pública, nos apareceu como uma diva caprichosa. 


Ora a Caixa não vai aguentar mais uns meses deste carnaval. Um banco vive da confiança dos clientes e necessita imperiosamente de estabilidade. Tem que haver uma equipa sólida à frente do maior banco público nacional. E tem que haver não é só para calar a boca à comunicação social e a alguns deputados mais histéricos - é, sobretudo, para pôr em prática o plano de recapitalização e é para transmitir aos clientes a necessária confiança..

A última coisa de que o País precisa é de mais um filme de tipo BES. Na SIC N, o José Gomes Ferreira já está a agitar o papão das contas com mais de 100.000 euros -- e daqui até a uma corrida aos depósitos pode ser um instante. 


Por isso, a coisa tem que ser estancada de imediato. Tem que ser António Costa a encabeçar a resolução deste imbróglio: tem que nomear uma boa equipa, agilizar todo o processo de aprovações, pô-la a agir o mais urgentemente possível. E, se necessário for, que Marcelo o ajude. Parece que já há um nome ou alguns nomes. Não faço ideia quem seja mas gente capaz e que aceite um tratamento dentro da lei é o que não falta. Pois bem, que se avance de súbito, dando todos os passos com segurança e rapidez -- e tranquilizem os depositantes.

Mário Centeno, António Costa e Marcelo têm que anular o efeito pernicioso que tudo isto está a ter na confiança dos portugueses. Façam-no o mais rápida e eficazmente possível.


NB: Não me parece que Mário Centeno deva ser demitido. Tem alcançado resultados que não devem ser subestimados, resultados ímpares. Nem digo que Mourinho Félix está a precisar de um par de patins. Não lhe conheço as competências. Admito que o Secretário de Estado seja bom em algumas coisas e que, apenas, tenha falta de tacto político ou de capacidade para lidar com situações mais complexas. António Costa é que sabe se é de segurá-lo ou não. Mas o que tem, em qualquer circunstância, é puxar o assunto CGD a si. Já.


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Agora uma pergunta a António Domingues: se era para isto, porque é que se não se demitiu logo? Se queria um regime de excepção e se viu o ensarilhanço que isto estava a causar, ou cedia e era logo ou saía e era logo. Agora meses deste chove-e-não-molha para, no fim, se vir demitir...? Ora abóbora. Que vá participar em regatas, estudar filosofia ou aprofundar o conhecimento dos gregos que, ao que parece, é o que está mortinho por fazer -- que vá e não chateie mais.


E que sirva de lição a António Costa: gaitas destas não podem voltar a acontecer. As crises têm que ter respostas imediatas. Há situações que não vão lá com sorrisos e ironias. Há ATR (assuntos que o tempo resolve), lá isso há. Mas este, seguramente, não é um deles.

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5 comentários:

P. disse...

Esta novela arrastou-se tempo demais. Situação que deveria ter sido estancada pelo Governo (PM e MF) em devido tempo. Com o PS a subir nas sondagens, de forma clara e inequívoca, este disparate político era absolutamente desnecessário e dispensável. Sai mal o Domingues e quem, no Governo, se envolveu mais directamente neste imbróglio (Centeno, sobretudo). Todavia, não penso que o MF (e, quem sabe, o SE) deva deixar o lugar. O estado da nossa economia fala por si, ou seja, está melhor, assim como as tais “contas” que agradam a Bruxelas. Daí que o PM não deva ceder às pressões “pafianas”. Não creio que seja “sensível” a essas “pregações” e ainda bem. Mas, deve, no futuro, aprender-se com este tipo de actuações erráticas e mal geridas politicamente. O Governo vive numa permanente corda-bamba, graças ao apoio do BE e da CDU. Que embora tudo o indique, deverá continuar. Conviria pois não esticar a corda, visto situações deste tipo, a repetirem-se, poderem vir a dar origem a uma eventual mudança de posição do BE e na CDU, com vista a evitar sairem chamuscados, eles também, de tanta trapalhada. Entretanto, o marau do Domingues ainda vai “abichar” um generoso subsídio de Natal (não sei se parcialmente cortado ou não – custa-me a crer. Isto de gestores privados, ainda por cima ligados à Banca, são sempre generosamente recompensados pelos seus erros. Ao contrário dos outros que trabalham sob as suas ordens, que ou são despedidos, ou “dispensados” sempre que há despedimentos colectivos para fazer face a uma qualquer reestruturação. Raramente sai alguém de cima, quase sempre alguém mais cá para baixo e depois lá estão os tribunais de trabalho atulhados de processos).
Mas, concordo com este seu “assessment”.
Boa semana (se possível, sem chuva!)
P.Rufino



Manuel Pacheco disse...

Proponho para o lugar de António Domingues que a escolha de António Costa ou Mário Centeno, seja a José Gomes Ferreira ou Camilo Lourenço.

Anónimo disse...

Proponho um candidato para Administrador da CGD que seja do PSD: por ex. Dias Loureiro ou Duarte Lima

Anónimo disse...

Claro que António Domingues se deveria ter demitido logo, se não queria a presentar a declaração. Mas ao que consta até teria concordado enviar a declaração de rendimentos para o Ratton, e apenas se demitiu na sequência da aprovação de uma alteração ao OE2017, alteração que apenas chove no molhado, visto que o Estatuto do Gestor Público e a lei n.º4/83 já obrigavam àquela entrega. Aparentemente o BE continua a brincar às casinhas, fazendo novamente " pendant" com o PSD e o CDS para aprovar uma proposta do primeiro (olha quem...) - da outra vez resultou na demissão do governo, e vamos a ver se estes comportamentos não resultam no mesmo. A Catarinazinha e as manas Mortágua podem estar a ser tentadas a ver quanto valem em termos de votos, e se há lugarzinhos no governo, mas na situação do país isso não é fazer política, é apenas sacanice, e inconsciência. Veja-se a posição do PCP, que votou contra a aprovação da alteração e não pode seguramente ser acusado de defender a não obrigação de entrega da declaração.
MPDAguiar

bea disse...

Já não proponho nada e também não sei se o propósito de conservar a caixa como banco público é verdadeiro. Num país de tal pobreza, se ao menos os políticos fossem sérios e bem intencionados, talvez o povo se safasse. Mas não lhe encontro jeito.