terça-feira, setembro 06, 2016

Casas com gaivotas
[2º de 5 posts]


Querido Pai Natal,

Eu sei que às vezes me porto mal mas, Pai Natal, não é por mal. Também sei, Pai Natal, que ainda é cedo para escrever cartas ao Pai Natal mas, Pai Natal, eu sou muito distraída e, se não escrevo já, quando chegar ao Natal já não me lembro.

E o que eu gostava, mas gostava mesmo, era de ter uma casa assim, como esta. Bem, não preciso de 'ter'-ter. Podia ser apenas convidada. Gostava de poder estar dentro de uma casa assim, de lá estar a ver e a ouvir o mar. E a ver as gaivotas. São tantas as gaivotas que vêm para junto destas casas, Pai Natal. 

Eu fico maravilhada, Pai Natal. Elas voam, dão a vez umas às outras no telhado, parece que brincam. Mas grande parte do tempo estão a olhar para o mar. Como eu, Pai Natal.

Por isso, Pai Natal, se souberes uma maneira de eu poder entrar numa casa destas, eu gostava muito. E ainda mais de lá passar a noite. Deve ser tão bom, estar deitada a ouvir o mar e o voo e a fala das gaivotas.

Era só isto. E prometo que vou tentar portar-me melhor. Não sei é se consigo.

Obrigada desde já, Pai Natal.





4 comentários:

bea disse...

Sem querer desfazer o seu sonho e respectivo pedido: o mar pode ser muito incómodo durante a noite, sei porque já dormi ao som das vagas e nem sempre foi agradável. Tenha isso em conta.

As gaivotas usam um piado triste, quase lancinante e que não é muito colunável- Além disso sujam tudo de cocó, não têm casa de banho e assim. A casita que aí vê deve ter um telhado jeitoso, deve.

Por tudo isto, talvez as casas na praia - mesmo in loco - sejam desaconselháveis e ainda possa reformular o pedido ao Pai Natal. Pense nisso que ainda tem tempo.

PS1: se é coisa que deseja muito, o melhor é arregaçar as mangas e não esperar por ofertas de Natal. O pai natal não costuma dar senão brinquedos, doces, bombons...

PS2: ouvir as gaivotas de dia é melhor porque quase não piam, só voam; E o som do mar não aterroriza. Acredite: não há como vê-lo.

E agora, se me dá licença, vou-me à contemplação que isto não é vida que se veja. Be Happy

Fernando Ribeiro disse...

Muitas povoações costeiras, como a Costa de Caparica, começaram por ser aldeias erguidas na areia e constituídas por casas como esta, de madeira e assente sobre pilares. Estas casas são chamadas palheiros.

O dono desta casa tapou o espaço entre os pilares sobre que assenta a casa e fez uma espécie de "rés-do-chão", mas a casa original deveria ter o "rés-do chão" aberto, mantendo o espaço entre os pilares desimpedido, para que a areia das dunas, impelida pelo vento, passasse por baixo da casa sem se acumular contra as suas paredes.

A existência de um palheiro como este mostra que a Costa de Caparica foi fundada por varinos, isto é, por homens e mulheres saídos de Ovar, que povoaram muitos e muitos pontos da costa portuguesa, desde a Ria de Aveiro, donde eles saíram, até ao Algarve, inclusive. Mesmo em Lisboa, onde também se fixaram muitos varinos, a figura da varina foi e é muito cantada em fados e marchas populares, como toda a gente sabe.

Um Jeito Manso disse...

Olá bea, de novo,

Conheço bem os gritos lancinantes das gaivotas. Aqui, mesmo ao lado da minha casa, elas afastam-se um pouco do rio e têm por hábito, em algumas madrugadas, juntarem-se e desatarem a gritar. Faz impressão mas, apesar disso, gosto.

Quanto ao que diz, de sujarem tudo, olhe que tem muita razão. Estive na praia de manhã, maré vazia, e o areal estava todo pintalgada. Até comentei que o peixe que comeram já não devia estar fresco para lhes ter dado volta à tripa daquela boa maneira...

Quanto a ter uma casa em cima do mar é um sonho antigo e gostava mesmo. Quando era miúda ia para uma praia onde havia uma casa, de tipo quase cabana, em cima das rochas, com uma escada de pedra directamente para o mar. Ficou-me essa ideia. Acho que deve ser muito bom. Mas é apenas um sonho...

Um abraço, bea.

Um Jeito Manso disse...

Olá Fernando,

Há muitas casinhas destas, coloridas, muito bonitas. Provavelmente os pescadores e as mulheres, muitas vezes vendedeiras de peixe, agora vendedoras na praça, não saibam das suas raízes.

Gosto muito de ver não apenas a xávega, mas também gosto de ver os pescadores a arranjar as redes, e gosto de ver as casinhas.

Gostei muito de ler o que escreveu. Eu nem tinha reparado no pormenor do rés-do-chão feito no lugar das estacas em espaço aberto. A ver se vou fotografá-las outra vez para ver se vejo algumas ainda com as estacas ao ar...

Obrigada, Fernando.

Uma quarta-feira feliz para si, Fernando.