domingo, julho 10, 2016

O Relâmpago
- Poema lido pela filha da autora de Um Jeito Manso no meio da maior confusão


Não dá para acreditar. O que hoje aqui tenho sido parodiada...! Só alguém com uma razoável auto-estima aguentava tamanha rajada de opiniões demolidoras. A minha filha ria desabaladamente. As crianças estavam estupefactas. Admiradíssimas: Estavas cansada, Tá...? Outro: Parece que estavas a morrer, Tá... tinhas o quê...? 

E ainda o meu filho não viu... imagino quando vir... Há-de agarrar-se à barriga de tanto rir. 

As pernas peludas ao fundo não são minhas, juro!
O meu marido insiste que a minha voz é mesmo esta mas a minha filha diz que o problema é que leio muito baixinho, que parece que se me acabaram as pilhas. Pois não sei, não costumo declamar ou ler para o microfone. Ou é isto, o que ouviram, ou, se tento colocar melhor a voz, desato na gargalhada.

Portanto, para tirar teimas, no meio da maior barafunda, resolvi pedir aos presentes que lessem ou cantassem para o meu telemóvel. E assim fizeram. Mas naqueles em que as crianças cantam, a imagem está um desatino, Não queria que se lhes visse o rosto mas como não param quietos, aquilo ficou para esquecer, acabavam por aparecer pois algum havia de se pôr no ângulo que não apanhava os outros.

Não fui eu que a incentivei a pintar as unhas. Juro!
Pedi então à minha filha que lesse um poema. Depois de algumas tentativas em que nos desatávamos as duas a rir ou que ela lia o poema como se estivesse a correr para apanhar o comboio ou em que a chinfrineira era tamanha que tapava as palavras dela, aproveitou-se um que é o que aqui partilho convosco. Impossível tê-los calados durante o processo e também não íamos fechar-nos num quarto como se estivessemos a fazer qualquer coisa a sério. Portanto, ficou como abaixo verão.

Agora a casa serenou. Hoje é dia de acampamento cá em casa.

Como de costume, pediram uma história. Inventei, há tempos, uma tal Princesa Margaret e, então, qual Anita, as histórias variam, tendo sempre a princesa e o seu malandreco cão Kikas como protagonistas. Até uma vez, pelo verão passado, pediram que lhes  contasse a Princesa Margaret na Festa do Avante. E assim fiz, com o cão perdido no meio de um concerto e todos cheios de calor à procura do maroto do cão, com a organização, aos microfones, a pedir aos comunistas e simpatizantes que encontrassem o cão da Princesa Margaret. Hoje pediram-me a Princesa Margaret e a festa do Halloween. Gosto de inventar estas histórias e acho que eles gostam de as ouvir. Introduzo sempre algum suspense e eles põem-se a tentar adivinhar. Como a seguir se mantinham irrequietos, o meu marido pôs-se ele a contar também uma história. Contou a do gato maltês que tocava piano e falava francês mas, como é ainda mais maluco que eu, a história já ia no gato a frequentar o Conservatório, a mascarar-se de cão e outras cenas insólitas. Tive que o interromper senão espertava ainda mais as crianças.

Agora já dormem sossegados e eu, antes de me ir também -- que, nestes dias, a alvorada é com as galinhas e este domingo o dia promete (programa até depois do futebol) -- aqui estou a escrever isto. É o meu momento de sossego e silêncio ao fim do dia. Pode parecer estranho a quem não tenha esta necessidade mas, para mim, parece que o dia não se completa se eu não ficar a fazer qualquer coisa sozinha, enquanto a casa está em silêncio. 

Portanto, abreviando, aqui vai o grande momento: não a sumida voz de anjinha da autora do Um Jeito Manso mas a bem colocada voz da sua filha.


O Relâmpago - poema de Fernando Pinto do Amaral

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Permitam: caso queiram constatar as abissais diferenças, deslizem até ao post que se segue onde leio palavras minhas.

A gravação da opinião cá de casa a propósito do Cherne Sachs fica para amanhã, talvez até a cargo do marido da Angel UJM já que ele acha que a voz da sua partenaire é imprópria para ler coisas desagradáveis.

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3 comentários:

Fernando Lopes disse...

«Pode parecer estranho a quem não tenha esta necessidade mas, para mim, parece que o dia não se completa se eu não ficar a fazer qualquer coisa sozinha, enquanto a casa está em silêncio.»
Não é estranho, tenho o mesmo ritual. :)

Rosa Pinto disse...

Bom dia.
Gostei da sua voz. Uma voz jovem. Confesso que na minha imaginação a fazia com mais uns anitos. A calma está lá.

Bom fim de semana

Anónimo disse...

É curioso, mas, no final desta declamação mais enérgica, percebe-se, mesmo no final, a sua voz, ou seja, a sua filha acaba por ter uma voz, que, de algum modo, se parece, embora, para já - vagamente - consigo.
P.Rufino