segunda-feira, junho 27, 2016

Futebóis, Ronaldo in The Last Game, Eleições em Espanha, Passacailles, Fotografias de Rua, Metáforas.



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Depois de ter partilhado convosco o vídeo que a grafómana Gina G. fez para mim, pus-me por aqui a circular pela net.

O meu dia foi tranquilo, praia de manhã, depois arrumações em casa, cozinhar, tratar da roupa, passeio a pé ao fim da tarde. Não vi televisão, não li jornais. 

Só há pouco soube que o ensarilhanço em Espanha se mantém -- e isso dá-me vontade de rir.

Quando a nossa comunicação social se faz eco das bocas que os ex-pafs vão passando e que tentam fazer-nos crer que em Bruxelas aqueles artolas andam preocupados com as medidas do governo português, só mesmo gente descerebrada é que pode cair nessa: com uma Espanha com um governo em gestão há meses, com um Reino Unido tem-te não caias há meses, com uns países a serem corroídos por dentro pelos vermes do xenofobismo e do populismo, só mesmo totós é que iam acreditar que alguém de bom senso se preocupa com as contas orçamentais portuguesas que, no meio de todas as dificuldades (em especial do sistema bancário), até se vão aguentando bastante benzinho. Talvez se preocupem, isso sim, com a forma tranquila como a governação está a decorrer 'apesar' das rédeas estarem na mão dos socialistas que contam com o apoio de comunistas e bloquistas, heresia que tende a chocar as cabeças acéfalas e burocráticas.

Mas não estou agora virada para me pôr a falar disto.


Hoje recebi um mail em que o Leitor referia o facto de eu também não me ter pronunciado sobre a passagem de Portugal aos quartos de final. Pois foi, não comentei. A noite ontem foi agitada cá por casa.

De facto, este sábado tive um dia cheio, cheio. De tarde, a família reunida. Os caranguejos começaram a atacar e agora vai ser de seguida. Depois, parte da família veio cá para casa: jantar, futebol.

Por isso, vi o jogo, sim senhor, mas, quem tem crianças pequenas em casa sabe bem como é difícil estar concentrada em qualquer coisa. O meu marido acho que ontem, por acaso, até conseguiu. Deita-se no sofá dele e foca-se, não janta ao mesmo tempo que nós para não perder tempo, e, quando nós regressamos à sala vai ele até à copa, onde vê o futebol enquanto janta. Regressou à sala, salvo erro, para o prolongamento. Nessa altura tinha-me eu alapado no sofá dele, de onde se tem uma melhor visão para a televisão -- mas fui logo corrida. Obedeci porque já sei que em dias assim, em que quer ver o futebol sossegado, fica arreliado se há muita perturbação ambiente e, portanto, dadas as circunstâncias, não quis acrescentar factores de distracção que o deixam amofinado.

Fui para outro sofá. Mas por pouco tempo.

Pelo meio, os demais também viam o jogo, mas depois os mais pequenos queriam o jogo que estava em cima do móvel que eu já nem fazia ideia o que era, depois queriam que eu ligasse o computador para verem um vídeo que metia o Ronaldo transformado num boneco atoleimado (e que agora descobri para vos mostrar), depois outro queria escrever e, pelo meio, eu ia tentando perceber a quantas paravam as modas com o esférico entre as quadro linhas.

Do que vi, pareceu-me um jogo morno, desengonçado, uns moços desfocados, uma falta de graça. Finalmente, com o golo do Quaresma lá vibrámos e houve saltos e palmas - e pronto, lá se passou à próxima. Mas falta garra. Já no outro dia o disse: falta testosterona à equipa portuguesa. Não têm instinto guerreiro, aquilo não desenvolve. Uma seca.

Claro que ainda bem que passaram à fase seguinte mas, com este nível de jogo, ninguém dirá que têm mística que chegue para se igualarem aos artistas do Fado ou ao poder de atracção de Fátima. Os três F's passarão a ser FF e um f muito pequenino. 

Para quem goste, aqui vos deixo, então, o vídeo que os pimentinhas estiveram a ver todos entusiasmados e que, na volta, consegue ser mais animado do que foi o fastidioso Portugal-Croácia.


Nike Football: The Last Game



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De notar que quando falo no défice de testosterona da selecção portuguesa, não me baseio em nenhuma constatação médica nem estou a insinuar nada. É, digamos assim, uma metáfora. E eu gosto de metáforas. Tal como gosto de ironia. Tal como gosto de subtilezas - mesmo que possa não parecer. Muito do que digo é assim um modo de dizer mais do que uma coisa verdadeiramente dita. Posso é não ter a arte para dissimular o entretexto ou as costuras do texto.

Já agora, para os que também gosta do assunto:

A arte da metáfora -- por Jane Hirshfield com animações de Ben Pearce




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As fotografias que usei ao longo do texto são da autoria do fotógrafo Bill Cunningham que trabalhou para a The New York Times e que se foi este sábado, com 87 anos. Pode ver-se em acção nestas duas últimas, ao praticar um dos seus prazeres, a Street Photography.


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A Passacaille de Jean-Baptiste Lully (em  Armide) pode parecer aqui deslocada. Se calhar está. Mas a mim apeteceu-me ouvi-la enquanto escrevia. Era como se estivesse a ver reflexos de luz, cintilações, revendo memórias, intangíveis pontos de luz. Espelho no espelho.

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E queiram, por favor, aceitar o meu convite e ver, já aqui abaixo, o vídeo que recebi de presente.


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