quinta-feira, maio 19, 2016

Com vossa licença, vou ver se evito escrever num estado de desprogramação descontrolada


Estou tão cansada, tão sem energia, tão cheia de sono que ou me ponho ali no sofá e adormeço na hora e de seguida até amanhã ao meio-dia ou ponho-me para aqui a jogar conversa fora a ver se acordo. Bem. Vou tentar a segunda. Com vossa licença.


E sai uma musiquinha a preceito para ver se esperto que, se me ponho a escrever a seco, ainda desato a devanear de olhos fechados, a escrever completamente desprogramada. E isso é que não. Vamos lá.


Depois de um dia jeitoso, a começar logo com uma reunião para se fazer o ponto de situação de uma coisa que não está a correr bem, a coisa acabou em beleza. Ou seja, esta noite foi daquelas que só podem ter sido arquitectadas pelo capeta. Para fazer um percurso que, sem trânsito, é coisa para uma meia-hora, levei três horas. Ouvi música, telefonei para a família, recebi chamadas, vi blogs e, pelo meio, fiz um esforço do beleleu para me manter acordada. Aliás nem era preciso grande esforço porque já estava cheia de fome, capaz de sair do carro e ir assaltar o da frente. Catano, que fome. Se fosse a minha filha, teria bolachas de várias eras, garrafas de água, sumos ou pacotes de leite e, com sorte, até algum iogurte. Mas eu não. Nada. Só água. Mas também já estava com vontade de fazer xixi. De tarde tinha bebido umas duas chávenas de chá e, portanto, ainda era mais essa. 

Depois, sei lá porquê, doía-me uma perna por trás, cá em cima até à anca, e, agora, que estou aqui sentada, estou toda torta, dói-me a porcaria da perna ou do corpo todo, ainda nem percebi. Até a garganta parece que está a querer dar sinal. E, na perna ou nas pernas ou no corpo, ainda não percebi se é músculo se é articulação. Gaita.

Pior. Quando finalmente cheguei aqui à rua, já noite fechada, havia dois lugares aqui à frente de casa. Mas apertados e com carros em frente. Eu queria enfiá-lo de marcha atrás, aliás a única maneira, e o diabo dos sensores apitavam-me a 360º. Então puxava-o à frente, tentava outra aproximação à pista e de novo apitos em relação à frente esquerda, depois na traseira, e aquilo vai de pi-pi-pi e, no écrã, a amarelo, até que, se me afoitava mais, já era piiiii contínuo e no écrã os riscos a encarnado. Só me apetecia dizer palavrão do grosso. Acresce que estava na rua uma senhora que eu acho que tem alguma pancada, costuma andar a falar sozinha. Pois, pôs-se de plantão a apreciar o espectáculo. Ora se eu, a estacionar, sou completamente disléxica ou disfuncional ou o caraças, com alguém a observar-me, então, é que fico transtornada, incapaz de equacionar distâncias ou manobras. Para ali andei, furiosa com a vida e comigo, capaz de pedir ao meu marido para descer e salvar-me, mas depois resolvi desistir, nem para esperar por ele tive paciência. Fui de marcha atrás, com o estupor do pneu a roçar num lancil que para ali está nem sei onde. E a senhora a dizer sozinha 'Desistiu. Desistiu'. E eu com vontade de lhe dizer: 'E então? Algum problema? Se, em vez de estar aí especada a desconcentrar-me, me tivesse ajudado teria sido bem melhor'. Mas, claro que não disse nada. Sei bem a figurinha ridícula que fiz. Um vexame. Depois dei duas ou três voltas ao quarteirão até que o deixei em cima do único passeio livre onde era fácil estacionar de frente. Quando cheguei aqui à rua nem queria acreditar: como é que não consegui enfiar ali o diabo do carro? Não dá para perceber. Quanto mais porcarias os carros têm mais me dificultam a vida. A única coisa que deveriam ter, que era saberem estacionar sozinhos fosse onde fosse, é o tens. Chatice.

E pronto, já estou ligeiramente melhor. Aliás: não bem. De facto, longe disso. Por inacreditável que possa parecer, agora até parece que me está a doer também um ouvido. E o joelho do outro lado. Dá para acreditar nisto? Pode lá haver doença que seja isto, dor itinerante e injustificada? Só se for praga. Tantas e tão boas aqui escrevo que algum láparo de má raça me rogou uma praga. Só pode. Tenho que fazer uma reza.

Mas às tantas, se calhar , isto passava-me se fosse dormir.

Bem.

Enquanto não me decido, vou ver outras habilidosas que nem eu. Mulheres a estacionar. Um vídeo que a mim me põe a rir de gosto. Parece impossível tanta aselhice. E rio-me como se estivesse a ver-me ao espelho. 

Alguém ainda há-de um dia explicar-me, do ponto de vista teórico, qual o racional de uma boa manobra de estacionamento


Só eu é que posso rir. Não vocês.
(É que eu há bocado fui mesmo assim e, se sei que vocês gozam, então ainda fico mais traumatizada).

Tremo de um dia ter que voltar a fazer exame de condução para me revalidadem a carta.
Imaginem que me põem a estacionar num dia em que estou assim, de cabeça esparvoada?
Desgraça...

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quinta-feira muito feliz.
Que os vossos sonhos se tornem realidade (pelo menos, parte deles)


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