terça-feira, abril 05, 2016

Dançar nas ruas de Paris


A primeira vez que estive em Paris em turismo foi como se tivesse entrado dentro de um filme. A Torre Eiffel, o Louvre, o Arco do Triunfo, essas coisas, isso já não era novidade, mas andar com calma nas ruas, estar numa esplanada, andar a ver museus com tempo ou andar a cirandar pelas lojas, isso, era uma experiência toda nova.

E era uma festa, verdadeiramente uma festa.

Nos Champs-Élysées, numa esplanada, aproximou-se uma mulher gorda, alta, toda ela volumosa, com cabelo curto aos caracóis muito abertos, cara pintada, muito rímel, lábios de rosa choque e, o que era extraordinário, estava vestida de bailarina, mas bailarina de ballet clássico, tutu de tule cor de rosa, sapatilhas atadas em cor-de-rosa. Mas o mais extraordinário, de facto, nem era a vestimenta, era a naturalidade com que se movimentava e a indiferença dos circundantes, como se fosse a coisa mais usual do mundo.

Na zona des Halles fiquei também boquiaberta ao ver como casais masculinos se abraçavam e beijavam, de beijo na boca, em plena rua. E também perante isso ninguém mostrava estranheza.

Numa outra rua, prostitutas à porta chamavam os passeantes, riam, provocavam, e também ninguém ficava espantado. 

E as pessoas entravam com os cães nas lojas e levavam-nos no metro e tudo natural. A primeira vez que entrei numa Fnac foi em Paris, um delírio, livros, livros, livros e lembro-me que fiquei estupefacta por andar ao meu lado, também a ver as novidades, uma mulher com um enorme cão pela trela. Eu nem queria acreditar.

E, não me lembro se nessa vez, se numa das várias visitas que se seguiram, umas em trabalho, outras como acompanhante de quem trabalhava (ie, do meu marido - calma aí), outras em turismo, vi, como se fosse uma coisa do outro mundo, um homem que, no carro, ia a falar ao telefone. Cheguei a Portugal e relatei isso do telefone e ninguém sabia do que é que eu estava a falar. Os telemóveis ainda não tinham aparecido em Portugal. Algum tempo depois apareceram, uns tijolos enormes que se acoplavam junto das mudanças, nos carros.

Lembro-me de falar também numa coisa que estava anunciada por todo o lado e que se chamava Minitel e que, se não me engano, era o início da internet e que nem eu sabia explicar bem para que servia nem ninguém adivinhava o que pudesse ser. 
Todo um mundo novo que eu via nas ruas de Paris.

E muitos árabes e africanos e asiáticos e também muitos portugueses e toda essa gente andava pelas ruas, nos armazéns, nos transportes. E uns andavam de bicicleta e outros de carro e tudo parecia meio caótico, parece que andavam depressa de mais mas também ninguém se chocava com isso.

Gosto muito de ambientes assim, onde não se conhece ninguém, onde a familiaridade advém de toda a gente parecer estrangeira ou diferente e tudo ser aceite como igual.

Já não vou a Paris há algum tempo. A última vez que lá estive foi por alturas do natal, tudo iluminado, muito bonito, um frio antárctico, talvez há uns quatro anos, não me lembro bem, foi uma visita curta, creio que pouco mais que um fim-de-semana. Mas lembro-me bem deste ambiente, de que tudo é admissível, tudo é encarado com naturalidade por todos quantos passam.

Lembrei-me disto ao ver o vídeo que aqui vos mostro, tão alegre, tão bonito, em Paris, mon amour.

Transcrevo o texto que acompanha o vídeo:

CUBANS DANCING SALSA, RUMBA & REGGAETON IN ROMANTIC PARIS


Ever wondered what happens when a bunch of Cuban dancers arrive in the city of light? They paint the town red to the rhythm of Cuban music! 
« Cubanos In Paris » sees a few friends of DOT MOVE from La Havana turning lovely Paris into their very own dancefloor. Believe us, it was madness ! 
At a time when Cuba is opening up to the world, what better occasion to blend the cuban culture to the french one and have fun with their respective heritage?
This video is a celebration of art, love, life and most of all, freedom! 


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As fotografias foram obtidas via google, não são minhas -- bien sûr.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça-feira.

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3 comentários:

Rosa Pinto disse...

Ir a Paris? Sim...sempre. Ver gente...andar na rua...ver as montras...comer um bolo bonito...tanta coisa para fazer.

Um Jeito Manso disse...

Olá Rosa,

Esta semana, se eu pudesse, metia-me a caminho e era palmilhar aquelas ruas e cirandar por museus e lojas até cair para o lado. Estou num daqueles períodos que o que mais me anima é pensar que, quando estiver de férias a sério, descanso também a sério (embora, para mim, descansar a sério não é bem estar de perna estendida, é mais andar a bater perna).

Mas uma coisa lhe digo, Rosa: tenho cá para mim que as duas à solta em Paris ia ser uma festa...

Rosa Pinto disse...

Maravilha