terça-feira, março 15, 2016

Arouca -- Igrejas, santas, freiras, doces conventuais




Alguém me há-de um dia explicar porque é que, sendo eu tão pouco dada a rituais religiosos, a crenças, a santos e santinhas, gosto tanto de igrejas.

Chego a uma aldeia, vila ou cidade, ponho-me a passear e, mal vejo alguma igreja ou capelinha, logo lá entro. Não tenho companhia nestas minhas incursões e ainda bem senão logo haveria de me sentir censurada por andar eu por ali a inspeccionar tudo, a fotografar e, mais do que isso, a respirar aquela frescura silenciosa, sem perceber que local é aquele e porque é que as pessoas gostam tanto de ali se acolher.

Em Arouca comecei por entrar na Capela da Misericórdia, que é uma maravilha. Não sei se ainda lá fazem missas, creio que não pois não há bancos. Mas é de uma tal riqueza cromática ... A fotografia lá em cima e esta agora a seguir são de lá.


Contudo, creio que o edifício mais relevante de Arouca deve ser o Convento (Convento ou Mosteiro? Agora não me lembro). É um edifício enorme, muito bonito, e que tem uma igreja com uma talha dourada impressionante.

Tive, no liceu, péssimos professores de história. Queriam que decorássemos a matéria. Ora eu não sou capaz de decorar o que quer que seja. Ou melhor, acho que nem é que não seja capaz: a questão é que não tenho paciência, não quero, não me apetece. Por isso, da minha parte havia uma rejeição total. E, de resto, sempre me senti atraída pelo que não se percebem bem, coisas abstractas ou por provar. Ora, estar a estudar reis, dinastias, guerras de há cinquenta mil anos, estilos góticos ou rococós, torres, ogivas e o escambau... nunca quis saber de nada disso.

Hoje tenho pena mas ainda não subi ao patamar seguinte que é o de tentar recuperar o tempo perdido. Continuo a achar que um dia hei-de interessar-me e aprender alguma coisa. Talvez seja como com os cigarros. Não me preocupava com deixar de fumar porque sabia que, no dia em que resolvesse deixar de fumar, deixava. O problema é que esse dia nunca mais chegava.

Mas chegou. E desde esse dia nunca mais fumei.

Tenho esperança que um dia resolva: vou aprender história -- e devore todos os livros que há cá em casa e nos quais nunca toquei (são pelouro do meu marido). Também lhe posso pedir explicações mas acho que ele se ia passar por se estar a esforçar e ver que eu não estava a ligar patavina.


Portanto, não sei comentar nada a propósito destas fotografias, nem dizer se o estilo é assim ou assado. Zero. Só sei que acho bonito, grandioso.

Quando lá estou, de nariz no ar, a olhar para aquelas magníficas construções, parvamente, penso cá para mim: tanta riqueza deve valer uma pipa de massa. E depois, já com medo de que os meus pensamentos voem e vão pousar na cabeça de algum padre da linha pafiana, escondo o que pensei não vá algum ainda se lembrar de passar a patacos alguma destas riquezas aos chineses ou aos angolanos.




Descobri a imagem de pedra, que mostro na fotografia abaixo, num nicho de pedra de uma moradia e também achei bonito.

Também tenho santos cá em casa, em especial Santos Antónios (será que se põe no plural assim? Parece que não me está a soar bem, é capaz de ser Santo Antónios. Será). E tenho crucifixos e Nossas Senhoras (a mesma dúvida; devia mudar a frase para ultrapassar esta dúvida). Ao princípio, esta minha pancada fazia espécie a quem me conhecia, incluindo à minha família: parecia não bater certo. Nem os meus filhos baptizei e, afinal de contas, este gosto por santaria. Pois não sei o que diga. Se tudo em mim batesse certo até a mim me chatearia já que não gosto de gente perfeitinha, onde tudo bate certo. Assim, não me chateio comigo pois não compreendo grande parte das minhas coisas -- e acho que isso é simpático.


E também gostei da Rainha Santa Mafalda no jardim de Arouca, um jardim muito agradável. Aliás, gostei mesmo muito de Arouca. Fica aconchegada entre montes, imagino eu que protegida dos ventos e banda pelo sol. Uma vila muito arranjada, muito afortunada.


E, havendo um convento, há doces conventuais: barriga de freira, morcela doce (o que terá isto da morcela a ver com freiras? Não percebo), etc. Por exemplo, à frente de uma pastelaria perto do convento, no passeio, está uma irmãzinha da caridade, pum. (Sem ofensa. É que, quando eu era miúda, na praia costumávamos fazer uma roda, de mãos dadas, dentro de água, e dizíamos isso: 'irmãzinhas da caridade, pum' e dávamos um mergulho; mas, na verdade, não sei de onde veio essa brincadeira). Achei piada à ideia da freirinha ali no passeio, à porta da pastelaria, ou melhor, achei uma ideia com pinta.

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Lá em cima, o vídeo das senhoras a cantarem a Nossa Senhora do Almortão foi filmado em Idanha-a-Nova, em colaboração com a Biblioteca Municipal de Idanha e com o apoio do Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas.
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Escolher as fotografias dos passadiços é um esticão quase tão violento como foi subir aqueles milhares de degraus (que fazem parecer o Bom Jesus uma brincadeira de crianças). Já fiz uma pré-selecção mas deve ter resultado para aí em mais de 20. Não posso massacrar-vos dessa maneira, tenho que crivá-las ainda mais. Só que, vocês nem imaginam, aquilo é tão lindo, tão espectacular que me dá pena não vos mostrar. Tenho que ver se me organizo para ver como é que hei-de fazer. Senão vocês, com um post gigante, chegam ao fim ainda mais cansados que eu quando cheguei ao top of the world.

Por isso, se não for hoje, fica para a amanhã, ok?

....

E, entretanto, pelo sim, pelo não, desejo-vos já uma óptima terça-feira.

..

3 comentários:

P. disse...

Olá UJM!
Estes seus comentários, ou melhor, “excelentes reportagens – fotográficas e descritivas” – levaram-me a recordar um livro de José Saramago, “Viagem a Portugal”, escrito há umas décadas a esta parte (que tenho cá por casa e fui folhear). Também fala das paisagens, das terras, das tais igrejas, das gentes, etc. É sobre o Portugal do Interior (mesmo que à beira-mar).
Quanto à História, no meu caso tive sorte de ter bons professores, sobretudo do ponto de vista humano, para além de didáctico. O mesmo não sucedeu com a Matemática, onde, com uma única excepção, apanhei seres inqualificáveis (vinguei-me dispensando das provas orais por causa das boas notas e depois mandei a Matemática ás malvas e segui, mais tarde, Direito). Desde então, até hoje, devoro História (nas suas várias temáticas). Para meu conhecimento pessoal.
Também não baptizámos os filhos (prática aliás da família em geral, quer do meu lado, quer de minha mulher) e não nos passa pela cabeça casamentos católicos (que de todo o modo eu nunca pagaria).
Quanto à arte sacra, também aprecio, o que nada tem a ver com a Fé e no significado religioso das imagens em causa. E gosto de entrar e ver o interior de igrejas. Há por este Portugal fora muita igreja e capela que merece um visita, quer pelas imagens que exibem, quer pelos órgãos, quer pelos tectos que exibem , quer pelos pequenos retábulos, pinturas murais, etc.
P.Rufino

Anónimo disse...

Confesso que já me ri com a panca pelas igrejas
já somos duas

mas eu tenho outra a que se calhar não vai achar piada :)
- visitar os cemitérios

o primeiro que visitei por puro prazer estético
não meta/m ai outras ideias mais macabras rsrs
tinha 14 anos
fui visitar o cemitério de agramonte no Porto

lembro-me perfeitamente como se fosse hoje e já lá vão mais de 40 anos

uma bonita tarde de primavera
o sol aquece-nos por poucos minutos
clamando pelo abraço de um agasalho quente



gosto de passear por entre as campas, ver as suas estatuetas, os epitáfios, as fotografias
da gente simples aos mais abastados
olho as fotos e imagino vidas
se vejo uma jarra caída tenho o cuidado de a colocar bem
estes passeios silenciosos trazem-me a paz da certeza
onde tudo é certo e nosso
como um pássaro ou uma flor

a morte faz parte da vida
tenho um enorme respeito por ela
aceito-a e convivo com ela da mesma forma
que o amanhecer de um poema
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Não se retire do que escrevi que passo a vida em cemitérios
cruzes credo :)
apenas gosto
quando conheço um lugar novo
de também visitar esta parte da vida de uma comunidade

GG

Um Jeito Manso disse...

Olá GG,

Cruzes, credo, canhoto: cemitérios não. Acho que deve haver lá 'cenas' bonitas, não digo que não mas, das poucas vezes em que não posso deixar de lá ir, nem olho para lado nenhum, faz-me muita impressão. Dantes tinha medo. Já contei. É trauma de miúda. Penso que foi quando o meu avô materno morreu, era a minha avó muito nova e teve um desgosto que ia morrendo, e a minha mãe também uma dor enorme, esconderam isso de mim, mandaram-me para casa da outra avó e tentaram que eu não descobrisse. Mas devo ter percebido só que ninguém falava no assunto. Comecei a gaguejar. A minha mãe levou-me ao médico e ele disse que devia ter sido algum choque que eu tinha sofrido. Desde aí fiquei com pavor. Nunca vi nenhum morto. Nas capelas mortuárias fico cá fora. Já lá vou e já consigo ir aos enterros mas é um sacrifício enorme. É irracional. Sei que tenho que ser mais forte e arranjar coragem. Mas é mais forte que eu. Não sei se é por achar sempre que há solução para tudo e saber que para a morte não há.

Enfim. (Ninguém é perfeito... :) )

Um beijinho, GG