domingo, fevereiro 21, 2016

Espalhem a notícia


O mar atrai os apaixonados. A cor que é variável, o movimento que é dança, a dobra espumada que é renda de lençol, e o perfume, a braveza, o inexplicável.

E depois a vastidão: a lonjura, os largos horizontes que prometem espaceza para muito amor, e os céus que trazem a paz por que os corações anseiam. 

E depois também o ocidente, o muito ocidente, o mais ocidente que há, depois dele só o oceano, o oceano infinito, o misterioso oceano que leva a novos mundos. 

E em cada escarpa, em cada miradouro, em cada recanto, como se estivessem sozinhos no mundo, é vê-los, aos casais abraçados, olhando o mais para lá, esperando que o tempo e o espaço seja a sua acolhedora casa. Forever.

Por isso, há uma outra dimensão a acrescentar ao que se vê quando por aqui se anda: o amor.

Espalhem, pois, a notícia.




Espalhem a notícia
Do mistério da delícia
Desse ventre
Espalhem a notícia do que é quente
E se parece
Com o que é firme e com o que é vago
Esse ventre que eu afago
Que eu bebia de um só trago
Se pudesse


Divulguem o encanto
Do ventre de que canto
Que hoje toco
A pele onde à tardinha desemboco
Tão cansado
Esse ventre vagabundo
Que foi rente e foi fecundo
Que eu bebia até ao fundo
Saciado


Eu fui ao fim do mundo
Eu vou ao fundo de mim
Vou ao fundo do mar
Vou ao fundo do mar
No corpo de uma mulher
Vou ao fundo do mar
No corpo de uma mulher bonita


A terra tremeu ontem
Não mais do que anteontem
Pressenti-o
O ventre de que falo como um rio
Transbordou
E o tremor que anunciava
Era fogo e era lava
Era a terra que abalava
No que sou


Depois de entre os escombros
Ergueram-se dois ombros
Num murmúrio
E o sol, como é costume, foi um augúrio
De bonança
Sãos e salvos, felizmente
E como o riso vem ao ventre
Assim veio de repente
Uma criança


Falei-vos desse ventre
Quem quiser que acrescente
Da sua lavra
Que a bom entendedor meia palavra
Basta, é só
Adivinhar o que há mais
Os segredos dos locais
Que no fundo são iguais
Em todos nós

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Fotografias dedicadas ao Leitor P. Rufino que gosta ver casais enamorados quando anda a cavalgar as rochas à beira deste mar.
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E queiram continuar para o post abaixo onde se mostra como são belos e inspiradores estes lugares a ocidente.

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1 comentário:

P. disse...

Que belas imagens, cara UJM! Só tenho que lhe agradecer! Aquilo, por ali, nas encostas da Biscaia (e mesmo do outro lado, da Figueira do Guincho), por aquelas arribas, é muito bonito. Encantador! E, como refere, vêem-se tantas vezes casais enamorados por ali a passear. À porta de nossa casa e de outros vizinhos, muitas vezes, aos Sábados e Domingos de manhã, temos uns tantos passeantes, grupos numerosos, por vezes estrangeiros, outros portugueses, que por ali vão, ou vindo do Cabo da Roca/Azóia, ou vindo do Guincho para lá. Há por ali um mapa, embora já desbotado, sobre o que se deve percorrer, com informações sobre o tipo de fauna e flora. Aqui já vimos raposas, coelhos, perdizes, águias (estão por cá e em permanência) - e até ginetas e saca-rabos! Embora isto fique a alguma distância de Lisboa, não imagina o que é chegar-se aqui, depois de um dia de trabalho e não ouvir o trânsito, estar no mais absoluto sossego, passear à noite e ouvir a coruja (uma velha amiga que aqui nos visita há já algum tempo), a ler com a lareira a crepitar, sabendo que lá fora a aldeia, muito pequena, talvez umas 15 ou 18 casas (do tamanho de uma Rua menor da grande urbe que é Lisboa- grande e bela, porque a nossa capital tem igualmente os seus encantos), dorme e que no dia seguinte se pode ir para Lisboa, de manhã cedo, pelo Guincho, a ver o mar, revolto ou calmo, depende do humor. Por vezes, já nos sucedeu, os tais passeantes batem-nos à porta de casa. Da última vez, era um casal, já velhotes, ingleses, que se tinham aventurado por aqueles sítios seguindo uma informação de uns amigos e tinham sede. Tocaram-nos à campainha e perguntaram-nos se lhes dávamos de beber. Mandei-os entrar dentro de casa, lá lhes dei de beber água e ofereci-lhes uma taça de vinho branco, que sempre tenho no frigorífico - just in case. Ficaram deliciados! Que nós, portugueses éramos um povo simpatiquíssimo, etc. Minha mulher só me dizia, a sorrir: “só mesmo tu metes aqui alguém que nunca vista e lhe ofereces uma taça de vinho!” E diverti-me a ouvi-los e a conversar com eles. E lá foram saciados. Da outra vez foram duas raparigas que não tinham trazido umas garrafas de água com elas. Lá estivemos na conversa e depois lá partiram, igualmente saciadas. Permita-me que aqui deixe algumas sugestões, para uma próxima vez, relativamente a uma boa refeição: O Refúgio da Roca e a Casa do Luís, onde se come um bom peixe e ambos, embora diferentes no estilo, oferecem um bom ambiente. Em Sintra, o “Incomum”, mas aqui convém reservar (fica logo a seguir à famosa Sapa, na Rua Alfredo da Costa), excelente! Tenha uma boa noite! Gostei da sua reportagem! Belas fotos!!
P.Rufino