domingo, fevereiro 07, 2016

Corre um largo rio com ilhas dentro por estes campos afora. E que bela é a Moura que me acolhe.


Não falo hoje do Orçamento para 2016, da TAP, da TIA ou do Láparo que tão saudoso anda da TINA. Estou noutra. Há bocado ouvia chover e ventar com fragor, as janelas batiam e eu, aqui no bem bom, enquanto transcrevia parte da entrevista a Mario Vargas Llosa e à sua bela noiva Isabel, ouvia com gosto a manifestação da força da natureza.

Depois, quando já tinha passado as fotografias para o computador e me preparava para começar a dar conta das minhas presentes incursões, vi que tinha recebido um honroso e muito tentador convite, que desde já agradeço. Ainda aqui estou a digeri-lo e a pensar que, se alinhar, por um lado vou conhecer os ilustres tertulianos, nomeadamente um ou outro com quem já tive umas desconversas jeitosas mas, por outro, irei deixar cair o meu tão precioso anonimato. Tenho eu andado para aqui a vender refrescos -- que sou uma executiva avozinha que desfila deixando atrás de si um rasto a Chanel Nº5, uma maluca por livros e outras frescuras (e que só por acaso é que não vai à bola com o Rei das Cagarras ou com o Láparo das Farófias) --  e ia aparecer perante tão ilustres filósofos, politólogos, navegantes, beirões, transmontanos, doutores e sei lá que mais, toda euzinha, sem nada de interessante, incapaz de manter conversa profunda perante tanta erudição. Ainda desatam uns a falar em norueguês, outros em grego, a citar nomes de autores de que nunca ouvi falar e a dizer de cor parágrafos inteiros, logo ao pé de mim que tenho uma memória de galinha... Ainda me arriscava a ouvir algum dos mais destravados a perguntar-me porque é que, para a coisa ser mais coerente, não me tinha apresentado vanessamente com uma nail de cada cor, em vez de ter ousado comparecer num lugar destinado a gente de outra craveira. Pois, não sei. Vou ter que pensar bem. 

Adiante, que tenho mais de dois meses para pensar no assunto (e para fazer uma plástica e para me cultivar).



De dia, por aqui, não choveu. Mas esteve frio. Uma vez mais tive que vestir roupa sobre roupa porque, quando vim, não achei que estivesse tempo para a vetusta samarra que lá tenho guardada para as verdadeiras intempéries.


A paisagem por aqui é tranquila. Os campos estão verdes, o rio vai cheio, e os montes despontam por entre as águas. O Alqueva traz a estas terras ainda mais beleza. 

O Alentejo é sempre muito bonito. E não é só este rio, que mais parece um mar largo, nem são apenas as suas planícies, o gado que pasta pelas planícies, as árvores, as silenciosas lonjuras. São também as cidades, as vilas e aldeias. São terras sempre tratadas com mimo, limpas, arranjadas. Hoje uma senhora lavava a porta da casa que dava para a rua e, portanto, na prática, estava a lavar a rua. Há vasos na calçada, ninguém os tira ou estraga. Estão tratados com desvelo. A rua parece o prolongamento das casas.


Admiro-me sempre por ver tão pouca gente na rua. Contudo, em alguns passeios vi grandes grupos de homens. Reparei que era geralmente em frente a cafés, tabernas ou tascas. Lá dentro também só homens. Estão na rua a conversar uns com os outros, a ver quem passa. Não vi uma única mulher nesses grupos. E nessas tascas também não vi uma única mulher. Ao contrário das pastelarias em Lisboa ou arredores em que a freguesia é maioritariamente feminina ou que, nas ruas, quase se vêem mais mulheres que homens, aqui parece que as mulheres não usam o seu tempo livre para confraternizar em público. 


Em Moura não apenas as casas parecem quase todas pintadas de fresco, como há várias casas cobertas de azulejos e várias muito bonitas, com apontamentos decorativos ou arquitectónicos que apetece fotografar. Por fora as casas têm um ar requintado e, por dentro, imagino-as também assim e luminosas, sóbrias, bem arranjadas.




Como sempre, ando por aqui feita turista acidental, nariz no ar, a espreitar céus e telhados, torres e passarada escondida nas árvores que, ao fim do dia, isto foi um chilreio digno de um grupo coral. Mais: parece que só vejo bem se vir através da lente. Andei a fotografar portas, janelas, varandas. Vejo, por todo o lado, pormenores que me encantam como esta porta aqui abaixo debruada com enfeites de pedra trabalhada. 


Ou esta, aqui abaixo, de madeira, tão bonita, nesta casa também tão bonita.


Ou esta outra, cuja perspectiva ficou toda enviesada (as ruas são estreitinhas, não dá para apanhar de longe -- ou, então, é nabice minha). Vasinhos à porta, vasinhos pendurados, azulejos, a harmonia do branco, amarelo e azulejos: tudo tão bonito. Deve ter, lá dentro, tijoleira e soalho, móveis de madeira antiga. Se calhar, cheira a cera. 


E vi uma livraria que me comoveu. Já estava fechada quando lá passei, senão ter-me-ia deliciado lá dentro. Há quanto tempo não via uma livraria assim. Habituada que ando a Fnacs, Bertrands e outros grandes espaços cheios de estantes, escaparates e mostruários com livros a metro, ver uma pequena livraria à beira da rua, com montra, deixou-me encantada. E o puxador da porta, que forma um coração, que graça. Se calhar sou eu que sou uma deslumbrada, tudo me deixa assim, nestes encantamentos, mas acho isto tão genuíno, tão bonito. Viver aqui deve ser tão bom, deve haver uma tal qualidade de vida. Não há trânsito, não há barulho, e é isto que aqui vêem, tudo limpinho, tudo arranjado com carinho.


Depois desatou a tocar o sino. Acho que era uma gravação, uma coisa exagerada, como se fossem vários sinos ao mesmo tempo, sem grande harmonia. Estava perto e dirigi-me para lá. Mas, como eu, muita gente. Era o chamamento para a missa. Admirei-me por, do nada, aparecer tanta gente. A igreja ficou cheia, uma igreja muito simples, austera, bonita. As fotografias que fiz lá dentro não ficaram boas, não me senti muito à vontade em andar ali a fotografar quando as pessoas se estavam a preparar para assistir à missa.


De qualquer forma, ainda me aventurei a fotografar os altares.


Para terminar, uma palavra para a simpatia das pessoas com quem falámos. Quando chegámos a Moura, certos de que, numa terra pequena, daríamos com o hotel logo às primeiras, não nos informámos sobre a sua localização. E a verdade é que demos com um e, convencidos que só havia um, a ele nos dirigimos. Mas afinal havia outro. Metemo-nos, de novo, no carro e, preguiçosos, também não nos deu para usar o gps. Por isso, encostámos o carro e informámo-nos junto de uma jovem mulher que passava com uma criança pequena pela mão. Ela explicou-nos num belo sotaque alentejano e, no fim, quando lhe agradecemos, respondeu-nos, resplandecendo um belo sorriso: 'Nada, ora essa. Obrigada nós!'. Ficámos espantados pela resposta 'obrigada nós'. Nós? Será que nos estava a agradecer por estarmos a visitar Moura? Não sei. Mas a verdade é que todas as pessoas com quem temos falado têm sido assim, de uma simpatia tocante.

Gosto cada vez mais do meu País. 

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E agora permitam ainda que relembre: sobre a paixão que vive o nobelizado Mario Vargas Llosa pela porcelanosa Preysler falo no post abaixo. Falo eu não, falam eles, todos enamorados, mão na mão.

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1 comentário:

Rosa Pinto disse...

Os alentejanos são por norma boa gente.
Já que gosta de fotografar... umas fotos dos lagos do alqueva...coisa maravilhosa.