quinta-feira, fevereiro 18, 2016

Bárbara Guimarães, Manuel Maria Carrilho, o filho Dinis
-- ou quando o ódio consome os que um dia se amaram e arrasta para a fogueira da raiva os filhos que deveriam ser poupados


Já falei do Carlos Costa (lamentavelmente não do inofensivo moçoilo daquela Casa da TVI que tem à frente a Madame Teresa Guilherme, mas do outro, do irresponsável do BdP -- como António Costa fez o favor de dizer com todas as letras) e também já dei a palavra a quem muito bem falou sobre essa coisa dos mercados, da importância relativa que Portugal tem nas tempestades que se desencadeiam ou da perspicácia ladina do Schäuble, esse mimo de senhor. Portanto, quanto a matérias desta índole, já chega.

Hoje vinha com uma em mente e estava aqui toda animada. Mas há alturas em que é difícil a gente fazer de conta que não vê o mundo a andar à nossa roda. É certo que, numa de miopia, uma pessoa mais depressa vê as minudências que estão junto aos nossos pés do que as coisas, mesmo que grandes, que nos são mais distantes. O Carlos Costa ou os comentadores que andam assanhados distorcendo a realidade são, na realidade, gente sem qualquer importância ou interesse mas, enfim, a verdade é que, apesar da sua irrelevância a gente, se tem melgas pregadas a picar-nos a pele, também não descansa enquanto não lhes der um safanão.

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E a verdade é que estou aqui a vacilar. Ando há algum tempo com alguma vontade de voltar a falar do caso Bárbara Guimarães vs Manuel Maria Carrilho e, ao mesmo tempo, sempre, a fugir disso. Em tempos falei do assunto e, já na altura, era para não voltar a falar; acho que, quanto menos se falar, melhor.


Mas o meu tema bom vai esperar e, por uma vez, vou voltar a falar deste conturbado divórcio (e espero que esteja a fazê-lo pela última vez – pois será sinal que as coisas irão serenar e nada mais haverá a dizer).

A questão é que, desde o início, penso que todos os problemas serem trazidos para a praça pública, não apenas alimenta um voyeurismo espúrio como destrói os intervenientes. Louvores públicos talvez saibam bem mas humilhações públicas destroem -- e, quando cada um deles humilha o outro da forma violenta e pública como até aqui o tem feito, está a atear uma fogueira que pode alcançar proporções perigosas.

Contudo, penso que ambos já ultrapassaram a barreira do racionalismo. Como pessoas inteligentes que são, poderiam pensar no que lhes está a acontecer. E falo desta forma, no plural, porque penso que, nesta coisa da exposição pública, há responsabilidades de parte a parte -- e, agora, é disso que estou a falar.

Uma pessoa que tem uma vida pública, que se expõe no palco mediático do entretenimento, da política, do jornalismo ou do ensino, gosta, naturalmente, de ser visto como alguém sobre quem há coisas boas a dizer e não o contrário. O insucesso é o pesadelo que não querem viver. Para além disso, em qualquer casamento, os intervenientes querem sempre que tudo corra bem. Se correr mal, quererão, em primeiro lugar, que o assunto se resolva entre as quatro paredes da casa antes que os outros saibam das desavenças. Se houver ofensas ou agressões, o ofendido sentirá, antes de mais, vergonha. E tenderão, pelo menos num primeiro momento, a esconder o que se passa. Ninguém gosta que a sua fragilidade seja pública, ninguém gosta que a sua fraqueza seja comentada.

Se uma mulher tem um marido que a denigre chamando-lhe velha, gasta, oferecida, a primeira reacção será esconder isso. Por um lado, se ele a vê assim, quem sabe se os outros, sabendo disso, não a verão também com esses olhos críticos, e, por outro, se a pessoa quer deixar transparecer uma imagem de que é poderosa, glamourosa, como pode admitir que, em casa, o próprio marido olha para ela com pouca benevolência, achando-a já uma sombra do que foi? E, por outro lado, se as ofensas passam a agressão como, em vez de o denunciar, continuar a suportá-lo? Como suportar a vergonha da dupla fraqueza? Como viver com o peso do segredo?
Ou, havendo filhos, como reagiriam a crianças a uma separação? E não viraria ele as crianças contra ela?
Enfim, tudo dilemas dolorosos que uma mulher numa situação destas certamente atravessa.

Mas, por outro lado, olhemos para o homem.

(E note-se que não quero desculpabilizar ninguém até porque cabe aos tribunais julgarem, não a mim; eu quero apenas pensar.)

Em casa, com pouco que fazer, uma vida profissional e social pouco activas. Vendo, na televisão, a mulher toda ela sensualidade, belas pernas, seios generosos, formas arredondadas, vestidos coleantes, toda ela sorrisos, insinuações de teor erotizado. Imagino-o em casa, com os miúdos, enquanto a vê na televisão. Imagino os ciúmes. Sabe-se agora que a gota de água terá sido o Futre, os ciúmes que sentia ao vê-los juntos.


Depois em casa, sem muito que fazer, o homem começa a adquirir rotinas: ter as coisas arrumadas, fazer isto a horas, aquilo a horas, deitar cedo as crianças, levantar cedo por causa da escola. E ela, imagino eu, a chegar a casa ainda com a adrenalina das gravações, a precisar de um copo, de fumar, de distender. E ele furioso com o cheiro do tabaco, e ele furioso por ela beber. Imagino. (Imagino a partir do que leio). E, às tantas, já descontrolado, ciumento, enervado.


Imagine-se agora que ela, um dia, saturada ou amedrontada, se enche de coragem e apresenta queixa na esquadra, e imagine-se que o assunto vem para as capas de jornais e revistas. O político, o ex-ministro da Cultura, o professor, o respeitável filósofo, afinal um vulgar agressor doméstico, um cobarde.


Para ele, daí até à necessidade e da justificação pública vai menos que um pequeno passo.


Todas as semanas, revistas a favor de cada um com novas notícias: ela anda embriagada, cai, não toma conta dos filhos. Ele vai buscar uma faca e ameaça-a a ela e aos filhos. E ela chega tarde a casa e deixa os filhos sozinhos. E ele vai à escola fazer cenas à frente de toda a gente. Um crescendo de violência, um crescendo de não olhar a meios, um crescendo da utilização da comunicação social como arma de arremesso, um perigoso vale tudo.


Depois abrandou um pouco. Durante algum tempo, as capas trouxeram-na com um novo amor, depois voltou a apresentar um programa, parecia que as coisas se tinham acalmado.

Mas não, a guerra já voltou. Decorre o julgamento. A juíza, Joana Ferrer Antunes, pelos vistos, sente-se no direito de fazer juízos morais, de levantar dúvidas sobre as razões de Bárbara. As notícias dão agora conta que Bárbara vai avançar com um pedido de recusa da dita juíza


Um desgaste permanente, o limite certamente prestes a ser atingido.



Depois o depoimento de Dinis, o filho, um miúdo de 11 ou 12 anos, salta para a capa das revistas: quer viver com o pai, a casa está cheia de fumo, a mãe bebe demais. O título diz Bárbara Guimarães arrasada pelo filho em tribunal. a minha mãe bebe muito. Quero viver com o meu pai.


Brutal. (E como veio isto parar à capa de uma revista? Que porcaria de Justiça é esta que permite uma vergonha destas? -- concordo com Isabel Stilwell em Um país onde a justiça trai as crianças )



Imagino como se sente uma mãe com uma coisa destas. Mesmo que a sua vida não estivesse escancarada na opinião pública, o saber que o filho tem essa ideia negativa dela e prefere ir viver com o pai, deve deixar uma mãe completamente devastada. Mas pior será ver tudo isso exposto em todos os escaparates do país, escrito com todas as letras. Quem fomentou a divulgação disto quis que o país pense que a criança a considera uma má mãe. Quem aceitou divulgar uma coisa destas, a troco de um possível aumento de vendas, não se importa de dar cabo da vida da criança, da mãe da criança, talvez dos avós da criança.

Hoje voltei a ler que o miúdo pediu que o poder paternal fosse atribuído ao pai (penso que é assim que se diz) e que até, ele próprio, escolheu um advogado para o representar. Leio e fico perplexa. Eu, se me visse metida em trabalhos, teria alguma dificuldade em escolher o advogado mais adequado. E uma criança desta idade anos toma uma decisão destas e até escolhe um advogado…? Estranho. Mas pode ser, se calhar eu é que sou uma pobre néscia. Mas acho que é inevitável pensar-se que o pai o estará a manipular.

À hora de almoço passei por uma banca de jornais e revistas e lá estão, uma vez mais, a Bárbara Guimarães e o Manuel Maria Carrilho em destaque. Revelações chocantes, violência - leio  Ela diz que ele não descansa enquanto não a destruir. E as fotografia mostram-nos mais velhos, ar sofrido.



Não sei se são eles que alimentam esta imprensa necrófoga, se até pagam a agentes para passar notícias contra o outro ou se, pelo contrário, se é esta imprensa asquerosa que paga para obter notícias deste calibre. Seja como for, é nojento que se publiquem notícias destas que causarão danos quem sabe se irreversíveis nas crianças ou que levam, forçosamente, a um grande sofrimento dos intervenientes.
Não sei o que aconteceu com a mãe das crianças que caíram ou foram atiradas ou entraram na água na triste noite de segunda-feira na praia de Caxias. O que se sabe é que pelo menos uma das crianças morreu.  Já li que houve queixas contra o ex-marido e que ele se diz inocente. A justiça apurará a verdade dos factos e o que se espera é que actue lesta e eficientemente. 
Mas uma coisa é certa: quando há desavenças sérias ou perturbações graves, todos os desenlaces se tornam possíveis e a última coisa quê se deve fazer é acicatar os ânimos ou desprezar os efeitos perversos que podem vir a ocorrer.

Por isso, uma vez mais me interrogo: Não haverá ninguém que aconselhe Bárbara Guimarães e Manuel Maria Carrilho? Ninguém lhes diz que parem com as agressões na praça pública antes que seja tarde demais? Ninguém lhes diz que pensem nos filhos antes de pensarem no ódio que alimentam um contra o outro?

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[Quanto a quem viola segredos, a quem vende informações, quem publica toda a roupa suja alheia -- sobre esses ratos de esgoto não me apetece falar, acho que não deveriam merecer sequer uma palavra]

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E queiram, agora, por favor, deslizar por aí abaixo pois há muito que ler 

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3 comentários:

Francisco Clamote disse...

Olá, amiga. Cá estou para responder à pergunta que deixou no meu sítio: a "Pedra Furada" fica quase logo no início da Estrada da Graça (prolongamento da Av. Todi) no ponto em que a AV. D. Manuel I entronca com dita estrada. No Google Maps é perfeitamente visível, uns 100 ou 200m a seguir ao cais de embarque dos navios para Tróia. Coordenadas:38.5193; -8.8762.

Rosa Pinto disse...

É triste.
As permissas mudam ...a paixão acaba....o respeito para sempre....os filhos são de ambos.
Não aceitar isto é triste.
E sim, alguém deveria moderar esta trapalhada.

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco, muito obrigada.

Tantas vezes que por lá passei e nunca reparei, imagine. tenho que lá ir ver.

Agradeço!