domingo, janeiro 31, 2016

Um outro tipo de rapariga. Um outro tipo de mundo.




De vez em quando preciso de parar. Não sei explicar porquê. Se me ficar pela superfície, direi que o que conheço acaba por me entediar. Mas sei que não é bem isso. Sei que há uma parte de mim que parece querer viver do outro lado, lá onde me desconheço por entre paisagens e culturas desconhecidas. De vez em quando preciso de rasgar a parede do mundo em que vivo e espreitar o que há para além dele. Apercebo-me, então, de um mundo real, tão real como este meu, apercebo-me de como é finita e precária a realidade que conheço e de como é imenso o que me atrai do outro lado.

Diz Carlo Rovelli,
As imagens que construímos do universo vivem dentro de nós, no espaço dos nossos pensamentos. Entre essas imagens -- entre aquilo que conseguimos reconstruir e compreender com os nossos limitados meios -- e a realidade da qual fazemos parte, existem inúmeros filtros: a nossa ignorância, a limitação dos nossos sentidos e da nossa inteligência, as próprias condições que a nossa natureza de sujeitos, e sujeitos particulares, impõe à experiência. 
Para nós, justamente pela sua natureza efémera, a vida é preciosa. Pois, como diz Lucrécio, "a nossa fome de vida é voraz, a nossa sede de vida insaciável" (De RerumNatura, III, 1084).(...)
Porém, imersos nessa natureza que nos fez e que nos impele, não somos seres sem casa, suspensos entre dois mundos, parte apenas em parte da natureza, com a nostalgia de algo mais. Não: somos a casa.
A natureza é a nossa casa e na natureza somos a casa. Este mundo estranho, variegado e espantoso que exploramos, onde o espaço se esfarela, o tempo não existe e as coisas podem não estar em lado nenhum, não é algo que nos distancie de nós: é apenas aquilo que a nossa curiosidade natural nos mostra da nossa casa. Da trama de que nós próprios somos feitos. Somos feitos da mesma poeira das estrelas de que são feitas as coisas e, tanto quando estamos mergulhados na dor como quando rimos e a alegria resplandece, não fazemos senão ser aquilo que não podemos senão ser: uma parte do nosso mundo. (...)
Por natureza, amamos e somos honestos. E, por natureza, queremos saber mais. E continuamos a aprender. O nosso conhecimento do mundo continua a crescer. Existem fronteiras onde estamos a aprender e onde arde o nosso desejo de saber. Situam-se nas profundezas mais ínfimas do tecido do espaço, nas origens do cosmos, na natureza do tempo, na sorte dos buracos negros e no funcionamento do nosso próprio pensamento.
Aqui, na margem daquilo que sabemos, em contacto com o oceano do que não sabemos, brilham o mistério do mundo, a beleza do mundo, que nos deixam sem respiração.
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E, abaixo, pode ver-se o mundo tal como Khaldiya Jibawi, a jovem síria de 17 anos, o vê nesta realidade em que agora vive, no Za'atari Refugee Camp na Jordânia. O pequeno filme (com menos de cinco minutos) que abaixo se vê ganhou o galardão juvenil 2015 UNAOC PLURAL+ Free Press Unlimited pela excelência de jornalismo e informação. Apesar do prémio concedido e de já ter sido divulgado no youtube há cerca de dois meses e meio, à data a que escrevo isto, ainda teve apenas 237 visualizações.


Mas, apesar da indiferença do grande mundo, o que vale é que, apesar de tudo, há sempre alguém em quem brilha a alegria de viver e em quem habita o maravilhoso dom de ver luz para além das sombras.


Another Kind of Girl


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As duas fotografias de pequenas bailarinas debaixo de água são da autoria de Alix Martinez

Lá de cima puderam ver  as·phyx·i·a, um vídeo experimental, da autoria de Maria Takeuchi & Frederico Phillips.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.

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