quarta-feira, janeiro 20, 2016

Debate na RTP entre os candidatos às eleições presidenciais: Tino de Rans



Começou mal. A uma pergunta banal, teve dificuldade em perceber o que lhe perguntavam, e, quando percebeu, deu uma resposta um bocado ao lado. Temi o pior.

Mas Tino de Rans tem descontracção natural, é genuíno e, aos poucos, foi sobressaindo. Do cinzentismo que ali se tinha instalado, a par da crispação provocada pelo Cândido, Tino destacou-se. Com uma frontalidade educada, com aquela graça natural que têm, tantas vezes, as chamadas 'pessoas do povo', demarcou-se das intrigas que o outro para ali estava a lançar, levando o debate para o terreno pantanoso em que um atira lama e os outros, para não ficarem enlameados, se vêem na obrigação de sacudir a lama. Tino, nessa altura, soube elevar-se e falar daquilo que diz motivá-lo: as pessoas. Falou e falou com emoção, mas de uma forma simples, dos emigrantes, de como, se ligarem para o consulado, não há quem atenda o telefone (e, quando lhe perguntaram o que era preciso, com simplicidade e sentido prático, respondeu que, para além do telefone, era preciso uma pessoa que o atenda). Falou também da noite que passou com um sem-abrigo em Lisboa, esclarecendo que em Rans não há sem-abrigos. Houve, pois, toda uma linguagem e temática que nunca tinha aparecido numa campanha eleitoral para a Presidência da República. Não será presidente mas qualquer coisa nele me fez sentir que fiz um juízo de valor errado quando soube da sua candidatura. Não compreendi, levei para a brincadeira - e acho que fiz mal. 


O País que eu conheço é o País das elites e muitas vezes faço juízos de valor que encaixam nessa realidade protegida. Contudo, há uma realidade a quem nunca é dada voz e Tino de Rans tem, do que me foi dado ver, a capacidade de a saber interpretar. Estou em crer que muitas pessoas que viram o debate terão gostado bastante da atitude de Tino de Rans. Quando falava, vi também a atenção que os seus adversários lhe dedicavam.

Para além disso, teve graça ao dizer que, se o outro trata por tu António Costa, então ele também ia tratar Marisa Matias por tu. Nitidamente, estava embevecido com a Marisa, todo ele sorria para ela. E nitidamente ela também lhe achou piada.

Não o conheço bem, senão de algumas intervenções na Casa dos Segredos, mas, se ele for mesmo genuíno, se for trabalhador e sério, se for como pareceu ser no debate, eu, se fosse o próximo Presidente da República, talvez o convidasse para a Casa Civil. É importante ver o mundo segundo o olhar de outros que sejam diferentes de nós ou que conheçam um mundo que nós não conhecemos.

No debate, numa escala de 0 a 10, a ele eu dava-lhe um 8.


1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo. Também gostei da prestação dele. Genuino. Honesto. Popular, sem ser popularucho. Bom tipo. Melhor que alguns ali presentes.
P.Rufino