domingo, dezembro 27, 2015

As habilidades da minha mãe, uma jovem prendada e bem disposta com 82 anos


Tarde com sabor a natal na casa dos bisavós. Como contei, as visitas e as comemorações começaram a seguir ao almoço da véspera, com visita a uma das bisas, depois houve o jantar, depois o dia, e prolongaram-se até a este sábado à tarde, com visita aos outros bisavós. 

Depois de passadas várias tormentas e apesar de já estamos preparados para que, a todo  minuto, as coisas se podem alterar (porque, temo-lo aprendido a duras custas, o que é uma coisa pode passar ao estado oposto no instante seguinte), por estes últimos dias, felizmente, parece reinar a acalmia. O meu pai hoje estava muito tranquilo, com apetite, e conversou, queria saber se já tínhamos lanchado, e falou-me que recomeçou a fisioterapia e que lhe fez bem, que a fisioterapeuta lhe disse que pode ser que consiga, de novo, voltar a andar (a minha mãe, quanto a isto, encolhe ao de leve os ombros, já tem dúvidas), e, no fim da conversa, rematou que, 'para aqui estou, não passa disto - estou a viver da reforma'. A minha mãe riu-se, diz que se ele soubesse que o dinheiro da reforma não lhe chegava para as despesas, lhe custaria ainda mais: mas, felizmente, chega e ele, pelo menos, quanto a isso está descansado. (Sei bem o desgosto de quem sabe que tem despesas que não consegue suportar.)

No meio de todos os sobressaltos, a minha mãe mantém-se activa, sempre bem disposta, com uma pedalada fantástica e com um gosto actual que faz as maravilhas de todos.

Hoje tinha um poncho para a bisneta que ela adorou: vestiu e já não quis tirar -- todo giro e com uns pompons com as cores das rosetinhas floridas da orla. É a sua última obra; mas já está a planear camisolinhas para os netos e um poncho para a neta. 


Dois dos outros bisnetos estavam com casacos de tricot também feitos por ela. Quentinhos, confortáveis e sempre como novos.




Na fotografia acima, o mais crescidinho, está com um livro que tinha acabado de receber. Digo livro mas, na verdade, nem sei se é um livro ou um jogo.

No outro dia, Leitor, por mail, perguntava se, por estas bandas também tínhamos atirado a toalha ao chão. Claro. Nada a fazer. A coisa é de tal ordem que eu já só recebo instruções por escrito e não é por mais nada, é apenas porque não consigo fixar, é toda uma nova realidade, um mundo estratosférico que desconheço. Há uma coisa que é o Minecraft e o que se pretendia era o Red Stone e que, como digo acima, eu ainda não percebi de que se trata, e era o lego Ninjago não sei quantos, com um misto de nave espacial e de bicho do além, o jogo para a PS3 que era exactamente o não sei quantos e nenhum outro e mais uns bonecos para os ditos jogos (e já nem consigo dizer o nome, já se me varreu. Seria Highlanders?) e os bonecos Hulk e não me lembro do nome do outro, embora estes sejam mais identificáveis. Felizmente, para ela a coisa foi mais normal, um pianinho e, para o mais pequeno, tal como para o seguinte (aquele a quem eu chamava ex-bebé mas que está tão alto que já não chamo tal coisa) foram legos mais normais, da série City, com helicópteros, barcos salva-vidas, crocodilos e coisas reconhecíveis. E galochas e chapéus de chuva. Ou seja, para o mais crescido a realidade já é a tender para a realidade paralela, o irmão para lá caminha enquanto os outros ainda pisam solo familiar. Mas com certeza, não tarda, estarão também a querer coisas estranhas que pertencem a um mundo que eu não sei a que galáxia pertence. 

Depois dos presentes, o lanchinho, já todos desertos de fome, como se não comessem há anos.

Na minha mãe, apesar de super avisada para não se pôr com trabalheiras, a vontade de pôr uma boa mesa, com acepipes a gosto de cada um dos convivas é mais forte do que todas as recomendações

Não tirei uma fotografia à mesa que estava um espectáculo, nem, em particular, ao bolo de chocolate e ao clafoutis de maçã (que adoro!) mas, num ápice, antes que desaparecessem, ainda consegui fotografar um dos pratos das tostas que estavam deliciosas. A minha mãe descobre sempre coisas boas para fazer, que nos surpreendem e deliciam. Estas estavam barradas com queijo-creme e, por cima rolinhos feitos com uma fatia de queijo flamengo com um espargo verde lá dentro e um meio tomatinho cherry. Que agradável e vistoso, com o adequado toque natalício.


Ainda mais deliciosos os crepes -- mas a fotografia ficou desfocada, nem a devia colocar aqui. Fez crepes e recheou-os com ricotta, espinafres salteados e salmão fumado. A mesma mistura encarnada e verde e tão, mas tão, bom, macio, suculento.


Viemos de lá já anoitecia, distribuídos por carros, apertadinhos, e, naquele em que vim, viemos na maior alegria, ouvindo os Tais Quais (presente de natal), com acompanhamento por parte dos viajantes, tudo cantando. No dia de natal, uma outra avó tinha brindado os convivas com a sua bela voz, entoando o cante alentejano, e uma das canções que cantou foi justamente o Limoeiro que também figura neste CD.

O meu marido diz que, no carro em que ele veio, foi a mesma coisa: toda a gente cantava ao som de um cd que tocava alto e bom som.

Hoje tinha um comentário dizendo que este é o blog da abundância. Talvez seja, sim. Quando me dá a veneta, disparo abundantemente, se me dá para o sentimento, a emoção é abundante e, quando relato estes momentos familiares também conto a abundância de cantorias, alegrias, comes e bebes, e animada convivialidade.

Tendo para a imoderação, confesso. Por ser extrovertida, não me retraio na manifestação de pensamentos e sentimentos. Felizmente, tendo a relativizar o que de menos bom me acontece e a vibrar com o que me agrada. Como, às vezes, aqui conto, não é que não tenha problemas como toda a gente os tem, e, como eu, têm problemas as pessoas do meu núcleo familiar mais próximo. Mas temos isto em comum, todos: chatices para trás das costas e vamos mas é curtir a vida no que ela tem de bom. E tem tanta coisa boa. Termo-nos uns aos outros é uma dessas coisas boas - talvez a melhor de todas.
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Podia agora ter aqui uma das músicas que veio animando a viagem mas, com vossa licença, faço uma inflexão.


Amira Willighagen interpreta O Holy Night (St. Jacobs Church, The Hague) - cantando para uma senhora com 105 anos no Concerto de Natal  2015, num programa de televisão dinamarquês

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A ver se consigo fazer, nestes dias que antecedem o fim do ano, um balanço do que se passou (livros, filmes, passeios, etc) ou um caderno de intenções para 2016. Tenho muitas dúvidas que o consiga, não sou dada a isso, esqueço-me do que se passou e gosto de deixar ao improviso o que vem. Mas, enfim, talvez consiga tentar. 
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.

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2 comentários:

Pôr do Sol disse...

Continuação de Boas Festas Jeitinho.

Parabens pela familia fantastica que tem e acima de tudo PARABENS por fazer das dificuldades alegrias e levar todos os que a rodeiam na onda.

Tambem tive dificuldade com os nomes de alguns brinquedos. Resolvi o assunto entregando as cartas para o Pai Natal, aos empregados das lojas para quem foi tarefa fácil.

E ver a facilidade com que as crianças mexem em certos brinquedos?

Bem, este já está quase. Tenhamos nós saude e força para o próximo Natal.

Bom domingo.

Silenciosamente ouvindo... disse...

Momentos felizes de uma Família que vive em harmonia.

Lindas peças para os meninos. Muito bonitas.

Amiga, desejo-lhe tudo de bom para 2016.

Bjs.

Irene Alves