Nos dois posts abaixo falo das orelhas homossexuais de José Rodrigues dos Santos, do rejuvenescimento vaginal da Cristina Ferreira, do saudoso Malaquias, do cérebro mal virgulado do primeiro e do Alexandre Quintanilha que não tem nada a ver com isto. Quem queira tomar o gosto a tão invulgar cocktail deverá espreitar o que vem depois do que agora se segue.
Eu vivia num sótão de um prédio no Malecón. No décimo segundo andar. Uns sessenta metros acima da rua. E habituei-me a sentar-me no beiral, com os pés a balançar no vazio. Era muito fácil. Bastava saltar do sótão para o beiral. Um bonito beiral reforçado com gárgulas lavradas em pedra. Em forma de grifos e de aves do paraíso. Era um prédio antigo, muito sólido, estilo Boston, mas agora cada vez mais em ruínas com tanta gente lá enfiada dentro a tentar sobreviver.
Era assim. Para mim era simples. Sentia-me como um pássaro e recordava o tempo em que tinha os tomates no sítio, e me lançava de asa delta do alto de uma colina para o vale de Viñales, e apertava o cu com medo de me estatelar no chão. Mas aquela geringonça nunca falhou. Agora, todas as noites, saltava para o beiral e sentava-me ali, ao fresco, e via tudo lá em baixo, na penumbra da noite. Apetecia-me. Sonhava saltar e ir voar e sentir-me o tipo mais livre do mundo.
Nessa noite chegou Carmita. Era uma aventureira. Tinha três homens ao mesmo tempo: um marinheiro, um mecânico e um oficial da alfândega. Carmita é um caso sério. Tem quarenta e um anos, mas age como uma miúda de dez. Tem uma paixão por sexo, dinheiro e pelas apostas. Se bem que não por esta ordem. Julgo que é: dinheiro, sexo, dinheiro, apostas e mais dinheiro. E fazer tramóias e ganhar seja lá como for. Vive num quinto andar com os filhos e os homens. Mas não sei como consegue alterná-los, de forma a nunca se encontrarem. Nessa noite, tive logo um pressentimento, propôs-se somar a quarta vítima à sua colecção de homens úteis. E, de súbito, lá estava ela aos gritos atrás de mim. E eu como um morcego à luz do luar. Havia uma bonita lua cheia e a noite estava muito clara, azul. O mar ondulava e o Malecón muito calmo, quase sem gente. Eu em êxtase, pendurado no vazio. A pensar em coisa nenhuma. É maravilhoso estar-se pendurado no ar, frente ao mar, com esta brisa fresca de Junho, e muito silêncio à volta. Começa-se a pensar em coisa nenhuma. Ponho-me a pensar em coisa nenhuma porque estou a flutuar, a entrar dentro de mim mesmo, sem procurar nada. Eu comigo mesmo. É uma espécie de milagre no meio desta tormenta e destes naufrágios. Um milagre dentro de mim.
E, de súbito, Carmita aos gritos:
- Vais cair, Pedro Juan. Que estás a fazer aí? Ai, mãezinha!
- Hei, calma, calma. Que gritaria é essa?
Esta mulher fala comigo como se fosse minha mãe ou qualquer coisa do estilo. E é a primeira vez que vem ao sótão. Se vivêssemos juntos, tirava-me do beiral à paulada.
Bom, não sei como foi, mas em poucos minutos desci as escadas, comprei um pouco de rum barato, com sabor a petróleo. Com gelo e limão fica bastante melhor. Bebemos dois ou três copos e falámos um bom bocado do milhão de pessoas que ficaram sem trabalho. Tudo a vender qualquer coisa no meio da rua, a tentar sobreviver. (...)
Três ou quatro copos depois, não sei porquê, tive vontade de acariciá-la. Sim, sei porquê: estive um bocado distraído porque ela falava de comida e de cozinha e de como o apartamento dela brilhava porque ela o limpa obsessivamente com um pano com que anda sempre na mão, e que o meu quarto era uma esterqueira cheia de lixo. "O que faz falta aqui é a mão de uma mulher. Hei-de pôr-to como um brinquinho, e mais umas cortininhas.". Ela a dizer aqueles disparates todos e eu a vacilar. Tem quarenta e um anos mas está muito bem. Levantei-me da cadeira e acariciei-lhe a cabeça e encostei o meu sexo ao rosto dela. Tirou-me então o cinto, desceu o fecho e aos poucos foi descobrindo os pêlos, o sexo, que lentamente se erguia, se desenrolava e olhava para cima como se perguntasse se alguém tinha chamado por ele.
- Ai, Pedro Juan, que c... mais lindo. Foi feito à mão!
Disse isto com ternura. Com tanta doçura como se fosse um caramelo. (...)
- Vamos para a cama, meu querido.
- Uf, não, espera. Deixa-me respirar.
(...) e queria continuar como se eu fosse um miúdo de quinze anos.
- Respirar coisa nenhuma, que tu tens língua e dedos. Depois de me teres sufocado, não me podes deixar pendurada. Anda lá!
Já tinha começado a tirar a roupa. Um corpo incrível! Com quarenta e um anos, a comer arroz com feijão, três partos, e sem nada de cremes, nem de ginástica nem de sauna. Era perfeito.
(...)
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O texto acima é um excerto de Lua cheia no sótão, um conto que faz parte de Trilogia suja de Havana de Pedro Juan Gutiérrez. Porque os meus filhos são leitores assíduos deste blogue, inibi-me um bocado e não transcrevi as partes mais ousadas do texto nem uma palavra em particular de que deixei apenas a inicial.
Todas as fotografias mostram Rihanna e todas, excepto a última, fazem parte da sessão feita em Cuba com Annie Leibovitz para a Vanity Fair de Novembro.
O vídeo lá em cima mostra Rihanna com Mikki Ekko a interpretar Stay em versão de salsa cubana
O vídeo abaixo mostra a festa que foi essa sessão fotográfica.
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Rihanna em Cuba fotografada por Annie Leibovitz - o making of
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Gosto dos livros de Pedro Juan Gutiérrez que também pinta e bebe e que se diverte com o que faz. Para quem nunca tenha ouvido falar dele, aqui deixo um vídeo, em que nos fala da sua escrita, da sua vida, dos prazeres da vida, da sua vida de cão ou de gato vadio.
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Relembro que, sobre José Rodrigues dos Santos que também gostava de ser escritor, poderão ler nos dois posts abaixo.
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4 comentários:
gosto muito que partilhe escritores interessantes, para eu fugir de coisas técnicas tem que ser mesmo muito bom.
Como sei que gosta do Lobo Antunes não posso deixar de mostrar uma frase do outro blog que visito - https://novaziodaonda.wordpress.com/2015/10/08/nobel/
de mestre-))))
Bob Marley
telefonei para 2 bibliotecas e não têm, vou ter que comprar. Gostava de saber como se gasta os impostos nesta terra
Bob Marley
encontrei o rei de havana - https://drive.google.com/file/d/0BwPNmslZCrWjRnRpdnVGLWpBSW8/edit?pli=1
Bob Marley
Os ares de Cuba têm o mesmo principio activo do relaxante muscular...junte-se umas águas calientes de Varadero...et voilá...noites santas.
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