quinta-feira, setembro 10, 2015

Quem ganhou o debate televisivo: António Costa ou Passos Coelho? Em minha opinião, António Costa esteve bem, marcou pontos, ganhou nas calmas; Passos Coelho mostrou como é limitada a sua inteligência e mostrou o seu habitual mau feitio e mau perder (porque perdeu o debate). E Sócrates mostrou que um governante com carisma fica inscrito na memória de toda a gente. E estes debates assim não acrescentam grande coisa: os candidatos não conseguem aprofundar coisa nenhuma e têm que se cingir ao que os jornalistas acham que cativa os telespectadores e não o que eles próprios acham que deviam dizer às pessoas. Olhem, por exemplo, a minha mãe foi deitar-se a meio, diz que não estava a ouvir nada de novo.




Perguntei à minha mãe: mas então porque é que não viu o debate todo? Disse que se fartou, que há anos que anda a ouvir as aldrabices do Passos Coelho, que já não tem paciência para ouvir mais desculpas, mentiras, passa-culpas, que a conversa dele era mais do mesmo e que o que queria era ouvir com mais pormenor o que o António Costa tinha para dizer e -- mas que os jornalistas não dão tempo para ninguém se explicar como deve ser. Portanto que foi para a cama ler.

A seguir ligou-me o meu filho. Disse que o debate tinha sido uma pobreza. Que as diferenças de inteligência e de preparação entre o Costa e o Passos são óbvias (a favor do Costa, claro) mas que estava à espera de conseguir conhecer com algum detalhe as propostas do Costa para a Saúde ou para a Educação e que pouco ou nada falaram disso - responsabilidade do modelo do debate, disse-lhe eu..




A minha filha diz que já não há pachorra, que estes debates são uma seca e que já lhe tinha bastado o dia difícil que tinha tido.

O meu marido apreciou incomparavelmente mais o Costa - aliás, abominou o Passos Coelho (melhor: antes tinha dito que não sabia se ia conseguir ver o debate porque já não consegue 'ouvir aquele gajo') - mas lamentou que não tivessem colocado questões sobre a Educação ou Investigação ou outros assuntos.

Concordo com todos. E tenho também pena que não tivesse havido nenhuma questão que tivesse permitido que falassem das privatizações e das vendas de empresas ao desbarato bem como do ataque soez aos direitos dos trabalhadores -- pois teria sido bom que os telespectadores percebessem bem a ideologia de pacotilha que orientou os dislates levados a cabo nos últimos 4 anos e percebessem que, a ter Passos Coelho no governo por mais uma legislatura, iria ser mais do mesmo até que não sobrasse pedra sobre pedra.

Este modelo de debates, em que os entrevistados têm que se cingir ao que os entrevistadores lhes colocam e, ainda assim, têm 1 ou 2 minutos para cada resposta, não permite aos eleitores conhecer bem as intenções dos candidatos. O que seria necessário seria que se conseguisse conhecer com mais pormenor as propostas de cada um, quando em confronto com as do adversário político - e isso, obviamente, não passa por estes debates toca-e-foge, altamente mediatizados, em que se admite que o tempo de concentração dos espectadores é curto pelo que é dizer meia dúzia de sound bites e partir para outra. Um erro, este modelo.

Tirando isso, e cingindo-me agora aos dois principais intervenientes, António Costa conseguiu mostrar que tem sangue quente - e sangue frio, quando necessário - levou gráficos e números, falou de coisas concretas e enunciou propostas que mostra serem fundamentadas. Esteve francamente bem: enérgico, firme, bem temperado (ie, com segurança, bom humor, boa atitude, boa educação).



António Costa evidenciando como o Láparo, Gaspar e adjacências resolveram ir muito para além da troika


Passos Coelho foi o que se sabe: jogo branco, uma língua de trapos, diz uma coisa hoje e, com igual convicção, o oposto no dia seguinte.


António Costa mostrando que nenhum governo antes
destruíu tanta riqueza como Passos Coelho

Em síntese, neste debate televisivo de difusão alargada à RTP, SIC e TVI, António Costa:


  • esteve bem ao apontar o dedo ao aventureirismo e aos riscos das propostas dos PàFs para a Segurança Social, 
  • esteve bem ao apontar o dedo à postura do Governo perante o que se passou com o BES em que deixou ruir um banco, lesando muita gente, depois de ter garantido aos portugueses que o banco era saudável, 
  • esteve bem ao demonstrar como o governo carregou na dose de austeridade, indo muito para além da troika, 
    by Luís Vargas
  • esteve bem ao denunciar as mentiras permanentes de Passos Coelho, 
  • esteve bem em evidenciar a ausência de contas no programa eleitoral dos PàFs
  • esteve bem quando referiu que há casos em que não é preciso gastar mais dinheiro para se melhorarem as condições de vida das pessoas - dando como exemplo o do Centro de Cuidados Continuados de Melgaço, pronto desde 2012 e sem ser utilizado;
  • esteve bem ao apontar o absurdo que é o País estar a preparar bons enfermeiros... para os enviar para o Reino Unido;
by Luis Vargas
  • esteve bem ao recordar a palhaçada que é aquele programa do Vem, apresentado pelo Lombinha-dos-Briefings (esta do Lombinha dos briefings é minha, não do Costa, claro; e a palhaçada também), que é suposto atrair 20 emigrantes, uma macacada sem igual (esta da macacada também é minha), 
  • esteve bem ao lembrar que Passos Coelho é muito esquecido (e, para bom entendedor, meia palavra basta - nem teve que lhe atirar com o esquecimento de pagar a Segurança Social...)
  • esteve bem ao gozar com a fixação de Passos Coelho em Sócrates, convidando-o a visitar Sócrates e a debater com ele.


As sondagens vão começar a ser favoráveis ao PS e é bom que António Costa e o partido não percam este élan.

Passos Coelho todo arreganhado,
todo enxofrado, com um mau perder insuportável,
com uns maus fígados verdadeiramente desagradáveis


Por outro lado, com aquela boca em forma de esgar, ar contrafeito --- quando sorri é um sorriso postiço -- aqueles olhos sem vida que parecem pertencer a um peixe morto, Passos Coelho mostrou uma vez mais que, apesar de ter uma voz bem colocada que o favorece, é uma criatura desagradável que não cria empatia com ninguém nem ninguém com ele. Perdeu em toda a linha.


Tal como referi no post abaixo, para além das vacuidades e deturpações do costume, parece ter-se esquecido que o ajuste de contas com Sócrates já teve lugar em 2101 e que agora é ele, Láparo, como Primeiro-Ministro dos últimos 4 anos -- em que só fez porcaria e da grossa -- que está em avaliação. Mas não. A sua fraca cabecinha não chega para tanto. A sua conversa centrou-se em Sócrates, Sócrates, Sócrates. De resto, mostrou que não percebeu nada de nada da crise internacional e das consequências para Portugal e que se prepara para, se ganhar, fazer mais do mesmo: empobrecer os portugueses, dar cabo da economia e das finanças públicas, agoirar o futuro de todas as gerações (e, digo eu, porque isso ele não teve a franqueza de dizer, passar o país a patacos e colar-se ultrajantemente aos pés da Merkel, mas só no que a Merkel tem de pior).

Quanto a mim, Costa só esteve menos bem numa coisa: quando lhe perguntaram se ia agradecer pessoalmente ao Sócrates, mostrou desconforto e quis fugir à resposta. Não percebo. Se não quer ir, poderia ter dito que a agenda eleitoral, preenchida como está, lhe torna um bocado difícil manter uma agenda pessoal; mas também podia ter dito que, quando a agenda eleitoral lho permitisse, seria com todo o gosto que iria dar um abraço ao amigo. Acho que lhe teria ficado melhor. 
Mas, enfim, foi um aspecto que acho menos bom, no meio de muitos em que acho que esteve bem, ágil no raciocínio, claro na argumentação, credível, confiável. 
Relevo, portanto, essa sua questão mal resolvida. Um dia destes, tenho a certeza, arranjará maneira de corrigir a sua atitude.

Penso que, com este debate, Passos Coelho iniciou o caminho descendente que o levará de vez para fora das nossas vidas - porque não apenas não terá lugar num próximo Governo como, certamente, será pontapeado para fora do PSD por aqueles meninos que só apoiam os que os podem aproximar do pote e lhes permitam farejar poder e d$nh€$ro.


Passos Coelho e a sua cara de mau perder
Olha: Adeus, ó vai-te embora.
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Uma palavra para os entrevistadores: não é que tenham estado mal. Não estiveram. Aliás, nem bem, nem mal.




A questão é que esta forma de debates é um apelo à superficialidade e isso não me agrada.
Não contribui especialmente para o nosso cabal esclarecimento. 
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E, para já, é isto que me ocorre dizer.

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Porque maravilhosa, permito-me agora transcrever aqui, na íntegra, a crónica do fabuloso Ferreira Fernandes, no DN:

Passos puxou pelo fantasma e saiu-lhe Costa



Ontem aconteceu uma derrota para o jornalismo. E não tem que ver com os três que a RTP, a SIC e a TVI enviaram. Tem que ver com uma intromissão indevida. Mas que raio estavam lá a fazer os jornalistas? Aqueles ou outros? Portugal precisa de ser governado e ontem havia dois homens que tentavam convencer os portugueses de que podem ser o próximo primeiro-ministro. E acontece que esses dois eram, são, os únicos que o podem ser. E acontece, ainda, que ontem foi o único dia que os dois tinham para se combater - dando a cara e as ideias. Alguém a intrometer-se estaria sempre a mais. Os portugueses só precisavam de que as televisões lhes dessem câmaras, luzes e microfones para que o duelo lhes chegasse a casa. A haver alguém a mais só seria necessário quem soubesse como funciona um relógio, para repartir o tempo a meio. Mais nada. Ontem, porém, meteram no estúdio três jornalistas que cumpriram a mesma função intrusiva e desnecessária dos pés de microfone que, nos corredores, pedem a opinião daqueles que, um minuto antes, estiveram no estúdio a dizer o que queriam. Com um agravante: os três de ontem, porque importunavam, não deixaram que se visse, como completamente devia ter sido visto, a coça que Passos Coelho levou. Primeiro, de si próprio, porque medíocre. Segundo, de si próprio, porque sonso (inventando um adversário que não o que tinha à frente). E, terceiro, de si próprio, porque manifestamente inferior a António Costa.

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E, já agora, mais um vídeo do grande Luís Vargas sobre os brilhantes feitos, desfeitos e tentativas em boa hora desfeitas (pelo Tribunal Constitucional) dos malfadados PàFientos

Episode II - Attack of the Clones #PortugalPodeMais





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Para verem o que escrevi durante o debate, é fazerem o favor de descer até ao post já aqui a seguir.

E permitam que vos faça uma recomendação: há comentários fundamentados, detalhados e oportunos  nos posts a seguir. Não os percam porque, estou certa, vão gostar de os ler.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.
Haja esperança.

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2 comentários:

Rosa Pinto disse...

Sem dúvida AC foi superior. Passos ficou nervoso - o rodar da caneta assim o demonstrou. No final saiu com cara de derrotado. Os moderadores - três- não foram ao cerne dos programas eleitorais. Não me pareceram documentados para formularem questões mais específicas. A educação' as privatizações' a segurança social mereciam questões concretas.

Anónimo disse...

Depois do debate, em que Costa arrumou Passos (como aliás já tinha sucedido antes, com Catarina Martins a desfazer o demagogo e aldrabão do Portas), ainda fui espreitar os comentadores de ocasião. Julguei que tinha entrado num filme de paródia, quando vi o Relvas “dr” como convidado a comentar, creio que na TVI! Extraordinário! A Mariana Mortágua nem sequer olhou, por um momento que fosse, para ele. Desprezo total! Noutro canal, suponho que na SIC, puseram dois “gonzos”, o Henrique Monteiro e essa velhaquíssima figura, o Gomes Ferreira, igualmente a comentar, juntos com a Clara Ferreira Alves, cujo palavreado utilizado, vindo daquela cabecinha baralhada, não deu para perceber o que pensava. Olhei para aquilo, aqueles cabotinos, fiz-lhes um manguito e desliguei a televisão. Dei uma olhada rápida no computador e depois fui passear com os cães. E esqueci os Relvas, Gomes, Monteiro, etc.
Bom, agora é esperar que este povo aturdido com tanta demagogia reles comece a pensar bem e dia 4 de Outubro lhes dê uma biqueirada no cu e os mande embora de vez, aos malfeitores que nos desgovernam há 4 anos.
P.Rufino
PS: quanto a Sócrates, o problema de Passos é que sabe, muito bem, que o ex-PM foi, apesar de tudo, muito melhor governante do que ele. E estou à vontade para dizer isto, pois já aqui deixei expresso a minha pouca simpatia por ele (JS). Houve ainda um pormenor curioso, quando uma das jornalistas (creio que Judite de Sousa) perguntou a Passos o que pensava de o seu ex-Ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, seu braço direito, ter sido constituído arguido. É que J.Sócrates ainda não foi constituído arguido! Passos foi comedido a falar do amigalhaço, numa atitude que contrasta com a sua posição relativamente a Sócrates.