quarta-feira, setembro 09, 2015

Meditar, respirar, deslizar in heaven, viver em paz






Se nos posts abaixo as fotografias mostram a beleza espontânea que o mar e o tempo esculpem nas rochas, transformando-as em pinturas ou esculturas, aqui, agora, desloco-me para o campo. Por uns dias, ainda não sei quantos, voltámos à nossa casa in heaven.

A ideia era irmos por uns dias até ao Alentejo mas estamos tão bem aqui que a preguiça está a tomar conta de nós. Dizemos um para o outro: temos que ligar a marcar. E  o outro responde, Pois é. E pronto, ficamos assim e não ligamos. Pode ser que amanhã, logo se vê. Como diz a minha filha: sem stress.



Não temos senão os 4 canais, e, mesmo esses, quase não vemos. A televisão intoxica mais do que elucida ou ensina. Portanto, não acompanhamos comentários, não sabemos o que dizem os do costume.

Hoje andei o dia quase todo lá fora, o tempo esteve a anunciar nuvens, a suavidade pré-outonal: a temperatura muito amena, um calor que parece subir da terra, um cheiro quente que muito me agrada, as figueiras deixam cair os figos e há um cheiro característico no ar que se mistura com os cheiros dos pinheiros, das ervas, das flores. As cores estão douradas, envolventes.

Ouço ao longe um sino, depois um cão que ladra. Não voltei a ver o meu amigo escuro de olhar transparente. Não se ouvem cigarras, o tempo de cantarem ao calor já se foi. 

Hoje estive imenso tempo a olhar a copa dos pinheiros e dos cedros, movendo-me em silêncio como uma gata. Ouvia pássaros e queria descobri-los. Quando aqui venho, à pressa, ao fim de semana, não tenho tempo para estar nisto. Agora tenho. Olho, olho, apuro o ouvido, tento focar o olhar nos ramos de onde de chegam os cantares. Não descobri nenhum, não sei como se escondem de uma forma tão efectiva.




Passo por pequenas árvores que não medraram. Há um lugar onde quero ter um cedro. Já lá plantei uma meia dúzia. Morrem todos. Ao último deixei-o lá ficar. Está coberto de líquenes amarelos, Acho-o lindo. Não o arranco. Enquanto assim se mantiver, de pé, cobrindo-se com as cores que o tempo o vai cobrindo. é o que está na fotografia aqui acima. Desde que o vendaval deitou abaixo umas quantas árvores, passei a achar todas ainda mais bonitas: as que estão boas, de pé, vivas, e as que estão mortas, e mesmo aos troncos que se vão cobrindo de pequenas flores, cogumelos, em tudo vejo beleza.

Comecei a perceber que a memória das coisas (e os matizes que a memória adquire) é uma outra forma de presença - e, assim, suporto bem as ausências. Das árvores, dos animais, das pessoas.

Depois vejo a casca das árvores, as pedras, as raízes que aparecem soltas na terra, pequenas flores delicadas, elegantes como bailarinas, que nascem no meio do mato.




Vou pensando na minha vida. Mas não sei pensar assim, 'na minha vida', de uma forma sequencial. Os meus pensamentos são minimalistas. Acho que, de facto, o que vou é a meditar, em fusão com a natureza, um estado próximo do êxtase. Se, ao chegar a casa, tiver que dizer o que estive a pensar, não saberei dizer nada. De facto, vou respirando, sentindo os cheiros, ouvindo os sons, sentindo-me bem, um bem estar que se expande dentro de mim, uma felicidade, uma paz. Não penso no meu trabalho, nas doenças familiares que recentemente tanto me assustaram, na situação do meu pai que tanto me custa, não penso em crises, não faço planos, nada disso. Volta e meia o telemóvel dá sinal, é um mail de trabalho que chega. Leio-o. A uns respondo logo, a outros deixo estar. Nada me afecta, mesmo os mais complicados. Mal acabo de os ler ou de lhes responder, desligo, continuo na minha caminhada lenta, respirando, sentindo os cheiros, vendo a minha sombra nos caminhos.

Penso apenas em como é bom uma pessoa estar viva, andar, respirar, ver a beleza das coisas. Acho que isto me dá força, como se, por ser capaz de me fundir desta forma com a natureza, me tornasse imune aos problemas.

Vejo alguns frutos que amadureceram e secaram nas árvores. Parecem-me flores carnudas. Belas também. Fotografo-as. Um mundo inclusivo, este meu.




Depois chego aqui, passo as fotografias para o computador, escolho umas quantas para vos mostrar.

Isto que vêem é o que eu vejo, isto que lêem é o que sinto.

Não sei quem são vocês aí desse lado e, no entanto, é em vocês que penso quando, carinhosamente, escolho estas imagens da minha vida para partilhar convosco. Gostava muito que a serenidade que sinto chegasse até vós, que, de alguma forma, se sentissem tranquilos lendo as minhas palavras, que se sentissem mais fortes, mais livres, mais felizes.

Não sei se faz sentido isto que escrevo mas é o que sinto, o que desejo.

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Lá em cima Tunde Jegede interpretava um solo de Kora Solo  ("Alla La Ke"; "By the Will")

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1 comentário:

Anónimo disse...

Faz todo o sentido a beleza e a serenidade que transmite. Todo o sentido.
Obrigada!
Maria Luísa