quarta-feira, julho 08, 2015

Augusto Santos Silva na despedida ao comentário semanal na TVI: a coragem das palavras abertas contra a cobardia dos actos escusos. A sua explicação (dita com os nervos à flor da pele) na TVI 24, perante um Paulo Magalhães também nervoso. E, na despedida de Maria Barroso. Xácara das Bruxas Dançando


No post abaixo falo de Francisco Seixas da Costa, Ricardo Paes Mamede e Mariana Mortágua: três pessoas inteligentes, convincentes e com as ideias arrumadas. E, como contraponto, refiro o Arnaut, um exemplo acabado do que é um PaF em estado puro, um trauliteiro chapado que só engana quem gostar de ser enganado (que há gente assim, então não?: são os chamados cornos mansos). Vi-os na TVI e, pudesse eu ser conselheira da 'esquerda portuguesa' (e as aspas são intencionais já que, para mal dos pecados dos portugueses, não há essa tal coisa da 'esquerda portuguesa'), a ver se a 'esquerda portuguesa' não dava um memorável baile à coligação dos direitolas canhestros que por aí andam, convencidos que estão para ficar.

Mas, enfim, sobre eles falo no post seguinte. Aqui, agora, continuo pela TVI 24 e com Paulo Magalhães, desta vez na presença de Augusto Santos Silva: os porquês da política. E os porquês dos critérios televisivos.



Os porquês da esperança ou a ironia das circunstâncias da vida. 
Paulo Magalhães e Augusto Santos Silva juntos em livro agora que as televisão os apartou




Foi um Augusto Santos Silva nervoso que nos apareceu nos ecrãs. A voz trémula, denunciava a emoção e uma certa raiva contida. Com aquele seu mocking smile, disse ao que vinha. Tendo visto o seu contrato com a TVI unilateralmente denunciado, fez questão de explicar as suas razões. Fez bem. Foram palavras de coragem como são sempre as suas. E contrastam com o silêncio (cobarde?) da TVI.

E eu, ouvindo-o, percebo a sua perplexidade e desconforto. Devo também dizer que simpatizo com Sérgio Figueiredo e que aqui dele já referi as suas crónicas. Muito, mas mesmo muito, me espantou a sua decisão. Não parece dele. Ficar-lhe-á como uma nódoa incómoda, um acto do qual talvez se venha a envergonhar -- a menos que existam razões ponderosas; mas, nesse caso, seria de homem que as expusesse.

Augusto Santos Silva era a única voz socialista com um espaço de comentário fixo na televisão. Mas não era fixo, era aliás do mais móvel que existia. Aqui em casa não atinávamos com o horário que lhe destinavam. Ultimamente era um horário errático que desrespeitava a paciência dos telespectadores. Fez ele muito bem em protestar.


Disse acima que ele era a única voz socialista porque não consigo incluir António Vitorino nesse grupo. Não suporto aquele António Vitorino: é um habilidoso dos jogos florais, tem uma conversa adiposa, um paleio redondo que gira em torno de lugares comuns e graçolas inconsequentes. Sabendo-o criatura que saltita de administração em administração, de negócio em negócio, vejo-o como uma outra face do arnaut: um é alto e outro é mignon, um é bem parecido e outra é charila, um tem cabelo e outro parece que não -- mas, tirando isso, movem-se nos mesmos espaços. Para mim, se é para aparecer como exemplar socialista, mais valia que não aparecesse.
Adiante. De resto, depois da chazada inicial, Augusto Santos Silva esteve bem - como sempre. Atirou flechas e acertou sempre, mostrou a sua inteligência, a sua ironia, a sua cultura. 

Uma pena que a TVI o tenha tratado assim.

Mas estou certa que a esta hora já algum outro canal estará a contactá-lo e não tarda tê-lo-emos de volta, na maior e em grande estilo.

No final do programa, Augusto Santos Silva proferiu umas palavras de despedida em relação a Maria Barroso. Foi contido mas viu-se que sentia com emoção o que dizia.


Eu não consigo dizer muito nestas alturas, aliás, nem muito nem pouco, não sou dada a despedidas, muito menos em relação a pessoas de quem gosto.


Se Maria Barroso partiu em paz, sem sofrimento, 

já Mário Soares está a sentir tudo e, por isso, 

é também nele que penso com preocupação e muita pena.


Mário Soares é uma força da natureza mas era junto de Maria Barroso, 
essa mulher forte apesar de pequena e de aspecto frágil, que ele se completava


Não vou pôr-me com votos de pesar ou louvor porque tenho grandes dificuldades nesse registo. Limito-me a deixar aqui a voz de Maria Barroso lendo poesia. Nessas alturas, ela agigantava-se e mostrava a mulher de fibra que era e de que tantas evidências deu ao longo de uma vida imensa, intensa, ímpar.


Maria de Jesus Barroso - "Xácara das Bruxas Dançando"

do livro/CD "Geração do Novo Cancioneiro" (2010). Poema de Carlos de Oliveira. Música de Luísa Amaro.



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira. 
Sejam felizes e sintam como eternos os momentos mais belos da vossa existência.

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