Sento-me junto à janela. Tenho o rio encostado a mim. Estou a olhá-lo agora: azul sob um céu dourado. Ao fundo o casario está também quase dourado, rosado. Os fins de dias quentes como estes são de uma beleza doce e tranquila. Um ou outro barco cruza o azul, talvez ande pelas águas mas quase poderia estar a cruzar o céu junto ao horizonte.
De manhã, nos dias bons, o rio é um espelho onde, por vezes, uma faixa de um prateado agudo mostra que o sol está baixo, acabado de nascer. Mas, outras vezes, as nuvens quebram a luz, e o rio pasma-se em verde e cinza sob um céu triste pálido ou negro de chumbo. Também acontece, por vezes, cair uma trovoada e o rio acolher raios, fúrias, os céus doidos de violência. Outras vezes há ventos, agitações, as gaivotas loucas, aos gritos nos jardins. Outras vezes acontece a abstracção surreal do arco-íris, coisa de livro de crianças, o arco da velha, o milagre da óptica.
E, quando agora retomo o texto, escureceu, as luzes iluminam os lados do rio, enfeitam as margens. Podia o luar reflectir-se e o rio ser um espelho prateado, um leito brilhante. Mas não, apenas um ou outro barco silenciosos cruza agora a noite escura.
De manhã, nos dias bons, o rio é um espelho onde, por vezes, uma faixa de um prateado agudo mostra que o sol está baixo, acabado de nascer. Mas, outras vezes, as nuvens quebram a luz, e o rio pasma-se em verde e cinza sob um céu triste pálido ou negro de chumbo. Também acontece, por vezes, cair uma trovoada e o rio acolher raios, fúrias, os céus doidos de violência. Outras vezes há ventos, agitações, as gaivotas loucas, aos gritos nos jardins. Outras vezes acontece a abstracção surreal do arco-íris, coisa de livro de crianças, o arco da velha, o milagre da óptica.
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Interrompi o texto para fazer o post abaixo que, entre outras coisas, deu conta da muito amada rainha de alguém que o gritou aos sete ventos numa parede do Ginjal.
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Eu sento-me abrigada entre livros, ouço música, e vejo o tempo que passa, as horas dentro dos dias, os dias dentro dos meses, os meses dentro das histórias.
Moon river, wider than a mile
I'm crossin' you in style some day
Old dream maker, you heartbreaker
Wherever you're goin', I'm goin' your way
Two drifters, off to see the world
There's such a lot of world to see
We're after the same rainbow's end, waitin' 'round the bend
My huckleberry friend, Moon River, and me
E, aqui sentada, imagino que um dia vou abrir a janela e sair a voar para depois dançar na imensa pista que é este largo rio que mais parece um mar do sul.
Elie Saab S/S 2014 & Sunset |
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De manhã, nos dias de suavidade e abraços, de aragens discretas e olhares nos olhos, vestir-me-ia com as cores ainda da noite mas já com o céu e o rio a iluminar-se, o sol a espreitar, a reflectir-se, a insinuar um calor bom.
Ou, quando o mar se revoltasse, ondas profundas, a maresia fria, um sopro de aflição a vir de dentro da terra, de dentro da alma, um vestido com ondas escuras, um movimento longo, o corpo coberto, uma vontade de que a espuma das margens subisse até onde o corpo deixasse de sentir o peso da tristeza e recebesse a leveza, e os cabelos fossem algas, fragmentos soltos do fundo do mar.
Elie Saab S/S 2015 & Oceanscape Photography |
E, nesses dias de tumulto, quando os entardeceres são sanguíneos e as nuvens se adensam, e vêm sustos e monstros que se afogam em sangue e gritos, e se anunciam chuvas, tempestades pesadas, temores, eu sairia carregada de sombras, levando comigo as cores da noite aflita e junto aos meus pés flutuariam tecidos que, ao esvoaçarem, suspirariam como espíritos tristes, sem dono.
Elie Saab F/W 2014/15 & Pink Lake, Australia |
Mas à tempestade sempre sucede a acalmia e, portanto, logo as águas se aquietam, e logo os corpos se querem descobrir e logo vem o calor, e os veleiros perdem o medo e depois os céus abrem-se em ondas de fogo e há roxos e encarnados no ar - e, então, eu vestir-me-ia com as cores dos quentes entardeceres e sairia com os tecidos flutuando à minha volta, mulher de sombras e sóis, de chamas e tentadores ocasos.
Monique Lhuillier S/S 2014 & Fire In The Sky in California |
E, estivesse como estivesse o rio, coberto de sol ou luar, de ventos ou tempestades, sempre eu me vestiria em grande estilo, de acordo com as cores do rio e do céu e saíria pela janela, voando, o tecido aberto como transparentes asas, para depois deslizar nas águas deste meu rio que me acompanha como um amor para a vida.
Yiqing Yin F/W 2012/13 & Sea surface |
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A música é Moon River interpretada por Louis Armstrong.
As fotografias fazem parte de um artigo do Bored Panda, Fashion & Nature: Russian Artist Compares Famous Designers’ Dresses With Nature. A artista é Liliya Hudyakova e as justaposições entre fotografias de criações de moda e paisagens é deveras interessante.
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Relembro que para pinturas nas paredes e outras divagações poderão descer até ao post seguinte.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda-feira.
Saúde, sorte e afecto é o que vos desejo a todos.
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