quarta-feira, março 11, 2015

O tempo que se esvai. A vida que passa a correr. Nós que passamos pela vida e pelo tempo sem nos determos.


No post abaixo dou a palavra ao Leitor Vítor que, em palavras sentidas, relembra tempos de guerra, retorno e recomeço. Emocionei-me quando as li. É um testemunho de alguém que viveu uma situação que afectou tantas pessoas e de que muito pouco se fala.

Muito gostaria que as lessem também.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, tempo de rêverie. Ou reflexão, nem sei. Para todos vós e para cada um em especial, estas palavras.








Se não sou uma mas muitas, como posso esperar que os outros sejam diferentes de mim? Se me desloco levando comigo a que aqui escreve, a que diariamente se desdobra, como querer que só eu possa ter esse dom?

Se calhar cada um de vós que aqui me lê seja também assim, um ser múltiplo, um corpo e várias sombras, um ser concreto e muitos outros transportando sonhos.

Qual o sentido de nos sentirmos perplexos quando encontramos divergências no comportamento dos outros? E que direito temos nós de julgar os outros quando são o que são por necessidade, por prazer e quando, na sua imensa delicadeza, se limitam a ser bons e a espalhar sorrisos, cores, palavras?

Quantas vezes, na nossa apressada insensatez, ignoramos aqueles que laboriosamente, amorosamente compõem todos os dias rendas, flores, acordes, pensamentos de afecto, sorrisos?

Sei que muitas vezes o faço, ignoro os gestos dos outros. Cega pela correria dos dias não me detenho o quanto devia a pensar na vida dos outros, no quanto são amáveis e generosos, no quanto são merecedores também de um sorriso, de um agradecimento, de um gesto. 




Ainda no outro dia, acho eu, aqui o perguntei: de quantas vidas precisamos para encontrar a amizade perfeita, o amor irreal ou, apenas, a empatia mais completa? Com quantas pessoas temos que nos cruzar para encontrar aquela ou aquelas junto de quem sentimos afinidades, compreensão, alegria?

Então, como podemos, quando a encontramos, tantas vezes passar ao lado, seguir como se não a víssemos? Que pessoas desatinadas somos que tantas vezes voltamos as costas a quem nos quer bem ou negamos a nós mesmos a companhia mais perfeita?

Faço perguntas, eu, porque me é mais fácil interrogar-me do que olhar para dentro de mim e encontrar respostas.

Escrever aqui tem sido uma experiência fascinante. Descubro-me e descubro outros mundos, outras vidas. Muitas pessoas têm vindo até mim e trazem-me histórias, memórias, alegrias, tristezas. Outras enviam-me músicas, anedotas, notícias. Tantas, tantas vezes, nem agradeço. Tantas, tantas vezes, quem me escreveu esperava de mim um agradecimento, uma palavra de simpatia e eu nada disse. Quantos comentários cheios de vida lá dentro, ou poemas, ou zangas e eu nada digo. Leio, publico e, quando devia sentar-me à beira de quem tão gentilmente me trouxe um pouco de si, nada digo.

Posso, claro, desculpar-me: não tenho tempo. A minha vida é muito cheia e o meu tempo encurta-se com o quanto me reparto. Mas, não deveria eu, arranjar maneira de reservar um pouco mais de mim para retribuir a todos vós que tanto me dão?

Sei que devia. Ainda não aprendi a fazê-lo mas sei que quero esforçar-me. Sei que muitas vezes posso ter magoado outros com a minha indiferença ou reacções precipitadas. A todos quantos alguma vez se sentiram magoados as minhas desculpas.




Não sou especial, não sou uma santa, parto muita louça, tantas vezes aqui chego e faço estragos. Não é todos os dias que isso acontece mas, vocês sabem, tenho os meus dias. Quando aqui se está, neste lugar público, não deve ser para magoar ou entristecer ninguém. Por isso tento não trazer para aqui os meus problemas ou as minhas inquietações. Volta e meia sabem como me atiro à jugular dos farsantes que tomaram de assalto o meu País mas acho que isso é desculpável. Mas não é desculpável quando, por ironias excessivas ou desatenções ou juízos apressados, me esqueço da palavra de apreço, do gesto de solidariedade ou incentivo, da manifestação de afecto que faria toda a diferença.

Não consigo prometer que vou tentar arranjar tempo e atenção e carinho para todos quantos se me dirigem mas quero que saibam que agradeço a todos a vossa presença, as vossas palavras, e peço que não levem a mal não vos mostrar o quanto vos sou grata e o quanto me sinto devedora em relação a todos vós.

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As imagens que escolhi são de Tim Walker. A música é de Arvo Pärt, The Deer's Cry.


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Permitam que relembre: não deixem, por favor, de descer até ao post seguinte onde o Leitor Vítor Manuel nos traz as suas recordações tão sentidas do seu tempo no ex-Ultramar e do seu regresso.

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Desejo-vos, a todos, Caros leitores, uma boa quarta-feira. 
Que seja serena e feliz.

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3 comentários:

Rosa Pinto disse...

Dizia minha mãe - dinheiro e santidade fica tudo por metade. Todos, + ou - partimos loiça...agora se tocam no nosso coração, mesmo, não acredito no passar ao lado....

Anónimo disse...

Hélas!
Que mudança que só lhe fica bem.Apetece gritar Bravoooooooooo Mansinha.
Passou numa capela resolveu entrar e penitênciar-se?Só pode ser efeito da Hóstia.
Continue...e eu voltarei para a aplaudir.
Bob Marley

Um Jeito Manso disse...

Bob Marley,

No outro dia fui fazer uma sessão de Meditação e vim de lá assim: zen, zen, zen.

Mas ontem à noite já regredi um bocado, já me pus a cascar no Lombinha. Mas, enfim, fui mansinha com ele, até lhe chamei fofinho.

Mas ver é quantos dias resisto e me mantenho nesta onda.

Já sentia a sua falta. Espero que esteja tudo bem consigo.