segunda-feira, março 09, 2015

Meditar, viver, amar, ser feliz


No post abaixo já me deitei a divagar sobre a matemática e a vida. Deu-me para isso nem sei porquê, talvez porque a minha cabeça esteja formatada para pensar seguindo ensinamentos que a matemática me proporcionou e, pensando no que vejo à minha volta ou dentro de mim, me ocorram frequentemente paralelismos que me ajudam a encarar as coisas com outra limpeza.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.







Sei muito pouco de algumas coisas e nada de quase tudo. Não há dia que passe que não pense que tenho que me conformar com a ideia de que jamais conseguirei abarcar o conhecimento ou a compreensão de uma pequena parte do que o mundo contém ou do ser que habita dentro de mim. Dito assim pode soar a falsa modéstia ou a esoterismo mas isso será impressão pois não sou nem uma coisa nem outra. Talvez seja uma banalidade, isso sim, porque qualquer pessoa de bom senso sabe bem quanto é insignificante o pouco que sabe.

Gosto muito de escrever. Revejo ideias, estruturo melhor o que sinto, descubro coisas e pessoas, abro caminhos dentro de mim.

Talvez por isso tenha adquirido este hábito de, à noite, aqui me pôr a divagar, a escrever-vos, a conversar convosco. Hoje quero contar-vos uma parte do meu dia.




De manhã caminhei, andei pela beira do rio, fotografei. Estes primeiros calores do ano trazem flores às árvores, gaivotas e veleiros às águas do rio, um azul muito azul ao céu, trazem-me também um prenúncio de vida nova e a expectativa de tempos felizes.

Depois almocei numa esplanada banhada pelo sol. Claro que, na mesa, estávamos protegidos pela sombra mas a proximidade do sol trouxe uma luz festiva e um sabor a verão à comida.

A seguir, e é disso que vos quero falar, fui experimentar uma coisa que há muito andava a despertar a minha curiosidade: meditar. Não sabia de que se tratava, não fazia ideia de como se conseguia, imaginava que seria um esvaziamento mental impossível de atingir. Surgiu esta possibilidade e tive companhia pelo que, toda feliz da vida, lá fui.

A professora (se é que se chama professora a quem orienta estas sessões) começou por explicar de que se tratava, que nos deveríamos focar no que fosse bom para nós, colocar de lado o que nos afligisse ou preocupasse, que deveríamos fazer como se uma esponja levasse para longe o que não nos fizesse sentir bem.

Depois disse que nos deitássemos, que nos puséssemos confortáveis, que nos tapássemos com uma mantinha. E colocou uma música tranquila. E que relaxássemos os pés. E depois as pernas. E depois as mãos, e a seguir os braços. Só falava de vez em quando. E que respirássemos fundo pausadamente. E que nos concentrássemos na respiração. E a música tocando. Depois que pensássemos num lugar onde gostássemos muito de estar, um campo de flores ou outro local agradável para nós.




E eu, surpreendentemente, logo que me deitei, relaxei completamente o meu corpo e quase instantaneamente deixei de pensar no que quer que fosse, abstraída de tudo, uma tranquilidade total no meu corpo. E, quando ela falou num campo de flores, lembrei-me de um campo da minha infância, havia ervas muito altas com espigas e nós passávamos a mão ao longo do caule e ficávamos com a mão cheia de espigas que atirávamos à roupa uns dos outros e depois contávamos as espigas que tinham ficado presas e cada espiga era um namorado e o que eu gostava de ficar cheia deles... Por esta altura, por entre as espigas apareciam papoilas e eu gostava de as apanhar, de soprar as pétalas, de abrir o saquinho das sementes. Era feliz de uma forma absoluta. E foi quase assim que me senti, leve, leve, andando pelo meio do campo verde e florido, brincando com os meus amigos. Depois a professora disse que sentíssemos a aragem e eu lembrei-me de como ficava bonito o campo ondulando ao vento e de como eu gostava de sentir a aragem suave no meu cabelo que era longo e que brilhava ao sol.

E a música tocando. De vez em quando, ao ouvir a voz da professora, eu sentia que estava como que a acordar. Penso que adormeci embora talvez não mais que por uns micro períodos de sono. Quando ela disse que nos sentíssemos de novo naquela sala, voltei de novo a mim. Leve, leve.

Depois pediu que cada um de nós tirasse uma carta das virtudes e a lesse, que seria a carta que nos iria influenciar durante a semana. a minha dizia 'pacífico' e dizia que eu atraio pensamentos positivos e que, com a minha serenidade, trazia serenidade aos que me rodeiam. Claro que esta parte das cartas pode ser vista como uma treta mas a verdade é que, se a gente lê uma coisa agradável, se sente bem e isso não faz mal nenhum.




Depois levantámo-nos e ficámos a beber chá e a conversar na salinha de entrada. Essa parte para mim teria sido escusada. A verdade é que estava tão zen que as palavras estavam num outro hemisfério, não me apetecia falar. Acho que, mesmo que tentasse, não o conseguiria. Mas algumas participantes desataram para ali numa catarse colectiva, cada uma a queixar-se nem sei bem de quê. Claro que ouvi mas, a bem dizer, sem prestar grande atenção. Eu é como se vivesse num outro comprimento de onda e isto é sempre, não preciso de meditar para isso, não me dá para me pôr a dizer que os outros são feios, porcos  maus, que no trabalho não nos prestam atenção, no trânsito são todos uns animais, na sociedade uma competição vazia de sentido. Eu isso passo, sinceramente. Não acho que os outros sejam do piorio porque os outros somos nós todos. Limito-me a queixar-me das elites que aceitamos ter, das fracas figuras que elegemos ou das prebendas que aceitamos que sejam concedidas a criaturas que são uns zeros e que tanto contribuem para a indigência política, social, económica e cultural que prolifera no país. Quanto ao resto e aos outros, são meus iguais. Aliás, cansa-me ouvir estar a falar mal de tudo e de todos, acho que isso corrói a alma da gente..

Mas, pronto, nem tudo é perfeito e lá nos viemos embora, eu com o corpo e a cabeça numa paz de dar gosto.

Dali fomos para um parque para nos juntarmos ao resto do pessoal. Um tempo maravilhoso, tudo verde, o lago com umas cores belíssimas, as crianças felizes, correndo, brincando, todos tranquilos, bem dispostos.




Há momentos que a gente tem vontade de os fixar dentro de nós para todo o sempre.

Depois fomos todos para casa do meu filho e, no terraço da sua casa que é tão bonita, estivemos a lanchar até o dia quase se ter ido, e os meninos ainda brincaram na relva e estava-se ali tão bem, tão acolhedor aquele espaço e todos tão amigos uns dos outros.

Claro que depois, ao chegar a casa, tive afazeres domésticos, comida a confeccionar, roupa a arrumar, mas tudo o que se faz sem esforço é bom de fazer.

E agora tenho estado aqui a ouvir música e vejo pelas estatísticas que, enquanto escrevo, várias pessoas me estão a ler e eu gosto de vos sentir aí desse lado, é como se estivessem aqui comigo, à minha beira, ouvindo a mesma música, olhando-me e eu olhando-vos a vós, e, acreditem, é como se uma corrente de harmonia chegasse até mim.

Gosto de escrever, gosto de aqui estar convosco, é bom. E tomara que vocês também gostem de estar comigo, que tenham sempre vontade de voltar até junto das minhas palavras.



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Fiz as fotografias neste domingo que me trouxe uma descoberta tão boa que só eu sei.

A música é um excerto da ópera "Thais" de Jules Massenet, interpretado por Elmar Oliveira no violino e Robert Koenig no piano.

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Permitam que relembre que abaixo falo na relação entre a matemática e a vida, uma relação que, para mim é virtuosa e que, talvez para os mais afastados, pareça improvável.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda-feira. 
Sejam muito felizes, está bem?

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2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada por me inspirar UJM. :)

Uma boa semana para si.

V

Rosa Pinto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.