A menina Otília foi às Finanças. Queria um esclarecimento e foi lá informar-se. Não deixando nada ao acaso, produziu-se toda: minissaia justa, decote fundo, meia preta, maquilhou-se cuidadosamente e pintou as unhas de vermelho. E, do alto dos seus maravilhosos 29 anos, bem vividos, lá entrou, triunfante. Tirou a senha e sentou-se, enquanto desfrutava do olhar baboso de uns tantos cotas e menos cotas a olhar para ela, como que a quererem dizer-lhe, “comia-te toda”.

Ser puta era um bom investimento, razoavelmente duradouro, mais do que um atleta de alta competição, ou futebolista, por exemplo. Tinha despesas, é certo, porque isto de se ser puta implicava cuidados com a sua forma física nos fitness-centers, bem como na compra de vestuário adequado às circunstâncias. Ao contrário do que muita gente imagina, é uma profissão algo cansativa. Por exemplo, ter de aturar gente, muita das vezes, com gostos e desejos bizarros, etc.
Mas, agora o que seriamente a preocupava era o seguinte, daí ter vindo aconselhar-se às Finanças: desde que iniciara aquela sua actividade liberal, nunca tinha emitido uma factura, nunca descontara para o IRS, nem tão pouco para a Segurança Social. Ora, depois de ver a perseguição de tinha sido alvo, recentemente, um dos seus mais ilustres clientes, por essa imprensa sem vergonha, ficou apreensiva”.
Aqui, o “mangas”, já com a camisa húmida de baba, interrompeu-a, muito atencioso: “mas, apreensiva porquê, menina?”

O Sr. Honorato, o manga-de-alpaca, com um largo e babado sorriso solícito, sossegou-a: “Oh menina, não se preocupe com isso. A menina não faça nada. Vá por mim, salvo seja. Como não tinha que passar facturas, nem estava a recibos verdes, não tem que descontar nada. A menina é uma decentíssima puta e ninguém tem nada com isso. Nunca roubou ninguém, muito menos o Estado, já que essa sua versátil profissão não consta da lista das actividades profissionais reconhecidas oficialmente. Assim sendo, não está obrigada perante a lei e o fisco, quer a descontar para o IRS, quer para a Segurança Social. Se conseguiu viver e sustentar-se razoavelmente bem, furando a crise, até aos dias de hoje, a si lhe diz respeito e a mais ninguém. Olhe, sabe a menina, pode ter essa profissão de puta, como diz, mas puta de profissão é a minha, que não tenho dinheiro para ir às putas, sofro cortes no meu salário, desconto cada vez mais, tenho menos férias, vou ter uma reforma de merda e ainda me obrigam a trabalhar mais horas! Vá com Deus e a Nossa Senhora, aceite o lugarzinho político que lhe vão oferecer, aproveite-o para futuros contactos e influências, que a vida é curta. Tenha uma boa tarde!”
Otília, de tão contente, até deu um beijo na calva testa do Honorato manga-de-alpaca e, baixinho, ainda lhe disse, ao ouvido: “a si faço-lhe um precinho especial, de amiga!”
Uns dias depois tomava posse.
E alguns meses após, era capa do CM: “na cama com Otília!” E lá vinham os nomes de vários dos seus clientes. Quase tudo gente fina, banca, empresas, políticos, advogados, um mundo profissional “imaculado”. Como aquilo tinha surgido não sabia.
Quando o governo cessou funções, era célebre e tinha uma carteira de clientes, do melhor, até ao ano 3 mil! Era puta, mas puta de vida é que ela não tinha. Bem pelo contrário!
Autor: P. Rufino
E alguns meses após, era capa do CM: “na cama com Otília!” E lá vinham os nomes de vários dos seus clientes. Quase tudo gente fina, banca, empresas, políticos, advogados, um mundo profissional “imaculado”. Como aquilo tinha surgido não sabia.
Mas, aquilo que mais receara não fez parte do tablóides, ou seja, se tinha feito descontos para a Segurança Social, se tinha pago o IRS, nada. Feito o desmentido oficial, Otília por lá continuou.
Quando o governo cessou funções, era célebre e tinha uma carteira de clientes, do melhor, até ao ano 3 mil! Era puta, mas puta de vida é que ela não tinha. Bem pelo contrário!
Autor: P. Rufino
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Transcrevi a suculenta história que o Leitor P. Rufino me enviou por mail. As imagens, a música (Roberta Sá interpretando A Vizinha do Lado) e o destaque são de minha responsabilidade.
Se a menina Otília é arraçada de láparo ou tem qualquer coisa a ver com as 50 sombras fiscais e contributivas de Passos Coelho isso não sei.
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6 comentários:
Divinais e...suculentas imagens!
P.Rufino
Muito Bom !!!
Parabéns a si ao P.Rufino
HB
Bom dia. Parabéns. Valente gargalhada! E grande otilia...como muitas que nos governam.
São mesmo casos de sucesso...Na senda dum casal ,hoje muito rico,que foram para FRANÇA,com uma mão á frente outra atrás!Daí á fortuna,foi SIMLES...Ela tirou a mão da frente...Ele tirou a mão de trás ! Bom fim de semana.
Junto, tambem, os meus parabens a P.Rufino.
SOBERBO !
Vitor
Uma grande história!
Beijinho
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