sábado, janeiro 10, 2015

"Je suis Gaza"? - ou "Mais vale chorar 1000 mães palestinas do que uma israelita"? /// Um grande comentário de um Leitor de Um Jeito Manso.


Todos os comentários que aqui recebo são importantes e todos agradeço. 

Por exemplo, ontem fiquei muito contente por ter um comentário da JV que é sempre tão assertiva, tão cheia de uma vivacidade transbordante (e de certezas cujas arestas o tempo, esse grande escultor, se encarregará de amaciar), e cujas palavras transportam a confiança e determinação de quem avançará pela vida fora sempre pronta a agarrar cada oportunidade pelos cornos.

E gostei de ter a confirmação, por parte do P. Rufino, daquilo que intuía:
Mas, digo-lhe uma coisa (com algum conhecimento de causa): nas reuniões internacionais, quer a nível europeu, ou mais alargado, a questão da venda de armas, o seu controlo, a sua proibição, etc, não é discutida. Não faz parte da agenda de qualquer dessas discussões, nas tais reuniões. Discutem-se várias questões, de ordem política, de cooperação judiciária e policial, entre os diversos ministérios do Interior, etc. Mas nunca a questão de como evitar que os terroristas venham a ter acesso a armamento! 
Mas é o comentário do Leitor J. que hoje aqui vou transcrever na íntegra pois considero que está estruturado de uma forma lúcida e objectiva e, também, porque aponta a luz para a situação subjacente aos meios em que estes movimentos proliferam. A visão em landscape é importante quando se pretende compreender o enquadramento de uma situação e, de certa forma, é um pouco isso que o J. nos traz. Ou seja, é como se contrariasse a tendência que temos de ver demasiado de perto, em visão macroscópica, reagindo em picos de emoção que se extinguem logo que deixamos de contemplar aquilo em que nos focamos sem distanciamento.

Tem razão o J: é bem verdade que a nossa insensibilidade e egoísmo nos levam a ignorar as desgraças e misérias que se passam longe de nós e apenas acordamos quando o terror chega perto do nosso quintal. 

Mas, se concordarem, acompanhemos o texto com música. 


Arvo Pärt - Te Deum






Os fenómenos de extremismo são muito complexos e a explicação de atitudes irracionais de indivíduos deriva necessariamente de fenómenos muito mais vastos e globais. 

Todo um exército de fundamentalistas pronto a morrer como mártires, a abdicar da própria vida, como o EI, é uma situação muito mais difícíl de entender, do que limitar a análise ao individuo em particular, viciado em jogos de computador. 

Sendo certo que até esse estará, muito provavelmente, morto até ao final do dia, impõe-se a questão: será que está mesmo disposto a morrer? E se está, será que é por ser viciado em jogos de playstation? Duvido.

Avaliando o fenómeno global é muito mais certo pensar que este extremismo tem rédea solta em comunidades pobres e em que grassa o sentimento de frustração. 

Como se sentirão os jovens de Gaza que perderam os irmãos em bombardeamentos esses sim racionais, na medida em que são ordenados por um Estado, e que resultam de uma razão colectiva e sancionada pela comunidade internacional? 

O que pensará quem vive o horror diário do Iraque ou da Síria?

Como se sentirão os jovens argelinos a viver em carência material num país onde o PIB per capita não vai além dos 5.000 dólares? Já para não falar da Síria onde são 2.000 dólares? Considerando que estes são países com vastas riquezas materiais, das quais beneficiam fundamentalmente outros, é natural pensar num sentimento global de frustração.

No Courrier do mês passado falava-se do início de uma terceira guerra mundial, já em curso, totalmente diferente das anteriores, mas ainda assim global. 

Numa guerra há facções e há vítimas, como as de Paris.

Se não concordamos com isto, porque é que não pomos todos "je suis Gaza" cada vez que 12 crianças são mortas por bombas israelitas sob o pretexto "Mais vale chorar 1.000 mães palestinas do que uma israelita", conforme referiu um ministro de Israel?






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As imagens são da autoria do fotógrafo francês Laurent Baheux

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2 comentários:

Anónimo disse...

Já estive em Israel (embora não a viver lá). Uma das coisas que retive e recordo foi o ódio que exprime aquela imprensa, abertamente e sem complexos, contra os Palestinianos (e muçulmanos em geral), nas suas publicações diárias. Chega a ser chocante. Esta atitude extremista de Israel para com o mundo árabe em geral, sobretudo os Palestiniano e sempre defendendo o direito de Israel à ocupação ilegal dos territórios daquele povo, condenada pelas N.U, de forma sistemática, mas que Telavive ignora arrogantemente (com o apoio dos EUA e o silêncio subserviente da UE), acaba por inflamar o extremismo muçulmano. Mantenho a opinião de que no dia em que o Ocidente (EUA e o EU, sobretudo) reconhecerem oficialmente o Estado da Palestina (com troca de Embaixadas) e obrigarem Israel a recuar para os territórios que detinham antes da guerra de 1967 e da ocupação que procedeu desde então, a Paz no Médio Oriente poderá vir a ser um realidade. E o Terrorismo Islâmico poderá ter então menos razões razões para os seus excessos (o que não implicará o fim das suas acções, naturalmente). O Leito “J” fez uma excelente análise, ou observação, com a qual concordo. Voltando a Israel, pude ouvir, de funcionários das NU, que ali, naquele encontro se encontravam, numa ocasião, a forma como Telavive ordenava aos seus militares para destruirem todos o medicamentos que se destinavam aos Palestinianos, na fronteira para Ramahla, como lhes cortavam o acesso à água e à electricidade, etc. Quando falávamos com eles, israelitas, os Palestinianos eram considerados como cães com sarna. E depois, o que esperar deste tipo de atitudes? Tudo isto é do conhecimento da UE, dos EUA, das NU, etc, mas niguém mexe um “palha” para o impedir. Chocante! É assim no Médio Oriente. Desde 1967.
Quanto aos conflitos no Iraque e na Síria, a mão do Ocidente (sobretudo dos EUA) está presente e o caos que ali se instalou acabou por permitir que a inatabilidade política acabasse por ser terreno fértil para o extremismo islâmico, que controla hoje não só a parte da Síria e do Iraque, mas também da Líbia. E o que mais vier a seguir. E, muito desse armamento como combatem e se aniquilam é de origem ocidental!
P.Rufino

FIRME disse...

Pois...Dê o mundo as voltas,que der...o problema,está á vista !O pequeno não se defende,assassina !O FORTE...DEFENDE O QUE NÃO É SEU...Matando.Se isto não é barbárie é o quê? CRISTO ressuscitou dos mortos ao fim de 3 dias,logo o sepulcro ficou vazio...PRA QUÊ AS CRUZADAS?...Hoje? Vejo incrédulo,as viaturas todo o terreno JAPONESAS,ao serviço daqueles turras...Quem as põe lá...? Ver imagens da miséria,da guerra na líbia,eram as mesmas?