terça-feira, janeiro 06, 2015

Desejo e saber. No fundo, é só isso que importa na vida, não é?


No post anterior já vos falei de uma tentação que temo bem que possa tornar-se um vício. Ora já sabem que não sou mulher de virar as costas a uma boa tentação. Por isso, vamos ver como, daqui para a frente, vou conseguir conjugar este prazer que é bem capaz de passar a ser um prazer diário com esta minha devoção, a de vir aqui dar-vos conta do que me vai na cabeça.

Mas, enfim, sobre isso falo a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. O prometido é devido.


My one and only thrill




No seu quadragésimo terceiro ano de vida, Stoner aprendeu o que os outros, muito mais jovens do que ele, tinham aprendido antes de si: que a pessoa que amamos no início não é a mesma que amamos no fim, e que o amor não é uma meta e sim um processo através do qual uma pessoa tenta conhecer a outra.




Na sua mocidade, Stoner imaginara o amor como um estado absoluto do ser ao qual uma pessoa, se tivesse sorte, podia aceder um dia; na idade adulta, decidira que era o paraíso de uma falsa religião, que uma pessoa devia encarar com uma divertida incredulidade, um suave desprezo familiar e uma nostalgia embaraçada. Agora, na meia idade, começava a perceber que não era nem um estado de graça, nem uma ilusão; via-o como um acto humano de transformação, uma condição que era inventada e alterada de momento para momento e de dia para dia, através da vontade, da inteligência e do coração.




Por vezes, na preguiça ensonada que os assolava depois de fazerem amor, ele ficava deitado num fluxo lento e suave de sensações e pensamentos; e, nesse fluxo, nem sabia se falava em voz alta ou se reconhecia simplesmente na sua mente as palavras que traduziam essas sensações e pensamentos.

A vida que tinham juntos era uma vida que nenhum deles imaginara verdadeiramente. Passaram da paixão a um desejo intenso e do desejo a uma sensualidade profunda que se renovava a cada instante.

- Desejo e saber - disse Katherine, uma vez. - No fundo, é só isso que importa na vida, não é?




E Stoner teve a sensação de que era exactamente verdade, que era uma das coisas que aprendera.


Começou a sentir por Edith um curioso sentimento que raiava o carinho e até conversavam, de vez em quando, sobre tudo e sobre nada.




Era preciso fazer um esforço para se lembrar de que estava a enganar Edith. As duas partes da sua vida eram tão distintas uma da outra como o podem ser as duas partes de uma só vida, e embora soubesse que as suas capacidades de introspecção eram fracas e que era capaz de se autoiludir, não conseguia acreditar que estivesse a fazer mal a alguém por quem sentisse que tinha responsabilidades.


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  • O texto acima é um conjunto de excertos não sequenciais do livro Stoner do qual já ontem falei, da autoria de John Williams. Como penso que é fácil perceber, Katherine é a amante, Edith a mulher do professor William Stoner.
  • A música é Melody Gardot interpretando My One and Only Thrill
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Relembro: sobre a série Borgen que começou a sua exibição na RTP 2 esta segunda-feira, que será exibida todos os dias úteis das 22:00 às 23:015 e que promete, falo no post já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça-feira. 
Espero que para mim e, em especial, para uma pessoa que me é muito querida também o seja.

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3 comentários:

Anónimo disse...

o futuro passa por aqui - https://www.youtube.com/watch?v=b2OcKQ_mbiQ#t=180


para o caso português era urgente fazer estas campanhas

Bob Marley

Anónimo disse...

http://madespesapublica.blogspot.pt/2015/01/o-longo-abraco-de-margarida-martins.html?m=1

bob marley

Rosa Pinto disse...

Não li “Stoner” mas fiquei curiosa.

Na verdade o prazer erótico é o mais forte dos prazeres.

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.
Pablo Neruda

Beijinho