No post abaixo já falei de piropos, essa manifestação artística tão pouco protegida e tão vilipendiada, e mostrei um vídeo deveras elucidativo.
Mais abaixo ainda, falei de um filme que trata de um dos temas quentes destes tempos (tempos que, por um motivou ou por outro, que mais parece andarem virados do avesso): as fugas de informação, a privacidade na internet, o arrogado direito de alguns a ingerirem na vida de muitos outros, etc.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.
Vou falar de um casamento, o meu, e das fotografias do meu casamento. As fotografias que vou usar aqui, para ilustrar este texto, foram obtidas através do google e são apenas fotografias de casamento, nada tendo a ver com o que vou escrever - aliás estão nos antípodas.
Já contei isto algumas vezes e, quando se tem um blogue há quatro anos, difícil é nunca nos repetirmos. Por isso, correndo o risco de vos maçar, vou falar na mesma.
Quando me casei tinha 20 anos, andava a estudar e vivia uma vida muito preenchida pois, para além de estudar, tinha também começado a dar aulas no secundário e andava apaixonadíssima e, portanto, não me sobrava tempo para frescuras.
Agora assisto a casamentos que são preparados como se de um evento de sociedade se tratasse, tudo encenado e pensado com meses, senão anos, de antecedência. A sala, a igreja, os enfeites da igreja, o coro, a música e o catering do copo-de-água, os convites, lembranças para os convidados - tudo contratado meses antes de forma quase profissional.
No meu caso não foi assim.
Namorava ardentemente e as separações nocturnas eram uma dor de alma. Além disso, quando passeávamos à noite pelas ruas de Lisboa e víamos a luz acesa nas casas das outras pessoas, invejávamos a intimidade que adivinhávamos atrás das cortinas e desejávamos muito ter a nossa casa para não termos que nos separar.
Namorava ardentemente e as separações nocturnas eram uma dor de alma. Além disso, quando passeávamos à noite pelas ruas de Lisboa e víamos a luz acesa nas casas das outras pessoas, invejávamos a intimidade que adivinhávamos atrás das cortinas e desejávamos muito ter a nossa casa para não termos que nos separar.
Sei que já aqui o contei: não nos ocorreu que podíamos viver um com o outro sem termos que casar. Casarmos pareceu-nos uma coisa normal. Claro que os meus pais não acharam o mesmo dada a minha tenra idade mas, por outro lado, tanta fogosidade viam na nossa paixão que devem ter pensado que mais valia casarmos logo do que eu aparecer grávida, solteira e grávida. Agora isso é normal mas, na altura, ainda fazia alguma confusão, especialmente junto da família.
Resolvemos casar e, com a maior naturalidade, fomos ao notário (digo notário porque o edifício era o do Notário mas, se calhar, foi na secção do registo civil) ver quando havia data disponível. O senhor perguntou se tínhamos preferência por dia da semana e nós, sem pensarmos, dissemos que não. Ele disse que se quiséssemos ao fim de semana demoraria mais mas, não fazendo questão, poderia ser daí por um mês mais ou menos. Aceitámos. Seria numa sexta-feira. Quando contei em casa, os meus pais acharam que era mais um disparate, sexta feira era dia de trabalho, as pessoas teriam que meter um dia de férias. Nem nos tínhamos lembrado de tal coisa.
Depois escolhemos um sítio para fazer o copo de água, um sítio agradável mas nada de transcendente. A seguir, como já antes o contei, ainda andei a provar vestidos de noiva mas não gostei de me ver. Habituada a jeans ou vestidos justos e curtos, ao ver-me com um vestido rodado até aos pés mais me parecia estar vestida de dama antiga ou a brincar às princesas.
Por isso, optei por umas calças brancas bem justas - acho que de sarja de algodão, mas não garanto - e por uma túnica branca, curta, bordada, linda, quase transparente, do Augustus.
A seguir havia a questão do fotógrafo.
Nem sabíamos onde desencantar um mas, verdade seja um, nem nos demos ao trabalho. Havia um colega meu de curso que gostava imenso de fotografar, especialmente a preto e branco, e que já me tinha fotografado antes. Depois, uma vez, eu tinha pedido que nos tirasse fotografias, a mim e ao meu namorado, no Jardim Botânico, local que eu achava o cúmulo do romantismo. O meu namorado não era nada dado a essas cenas mas, enfim, era um colega meu, que ele conhecia bem, e eu manifestava tanto interesse em ter fotografias nossas que lá fez o frete. As fotografias, a preto e branco, ficaram muito bonitas. Por isso, lembrámo-nos de lhe pedir que fizesse as fotografias do casamento. Ele vibrou com a ideia. Os meus pais voltaram a achar um disparate, nem um fotógrafo profissional íamos ter. Mas as fotografias ficaram lindas. Grande parte é a preto e branco, coisa que os meus pais, a princípio também achavam que não teria jeito nenhum (mas, depois, acabaram por gostar). Nessas fotografias, pareço uma menina e estou sempre a rir, sempre abraçada, sempre aos beijos ao meu amor, sempre muito feliz. E toda a minha família estava bem disposta, tantos que já cá não estão, e muitos amigos, alguns a quem entretanto já perdi o rasto.
No outro dia, numa clínica onde fui para fazer o check up anual, vi uma senhora de idade a andar com dificuldade e, a seu lado, um homem mais novo, jeans, camisa desportiva. Disse mais novo mas, ainda assim, já com pouco cabelo. Quando ele se virou por um instante, reconheci-o: era esse tal meu colega que tinha feito as fotografias do meu casamento. Podia tê-lo chamado, ou ter-me levantado e ir cumprimentá-lo. Mas não me mexi. O tempo passou, ele já não é o jovem que andava à minha volta a fotografar-me. A vida já passou por ele e por mim e acho que já não teria nada a falar com ele. Mas continua a ter o ar simpático que tinha na altura. Gostei de vê-lo.
Lembrei-me desta conversa toda porque, há bocado, tinha na caixa do correio um filme que mostra uma fotógrafa de casamentos em acção. O filme tem pouco a ver com o que acabei de escrever mas é bem divertido.
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No sábado estivemos todos em casa dos meus pais e este domingo estivemos só os dois in heaven, eu e o meu namorado (que, como é sabido, ainda é o mesmo com quem me casei no século passado).
Chovia que Deus a dava, e eu adorei estar deitada no sofá, a ler (uma entrevista a Philip Roth e outra a Marguerite Yourcenar, ambas da Paris Review, no livro recentemente publicado da Tinta da China), a preguiçar, a ver a chuva do lado de fora. Andei também lá por fora a fotografar, maravilhada (e molhada). Há pouco estive a passar as fotografias para o computador e a escolher algumas para vos mostrar.
Mas já passa da uma e meia da manhã e, se me ponho a passear convosco in heaven, só me deito lá para as quinhentas. Por isso, talvez amanhã.
Também gostava de transcrever algumas partes dessas entrevistas.
Vamos ver se o Crato, a Teixeira da Cruz, a Pinókia ou qualquer outro dessa gente transviada não apronta mais alguma e não me desvia da minha rota.
Acabo também de ouvir que há suspeitas de um infectado com o Ébola no hospital S. João do Porto mas, sinceramente, acho que não devemos embarcar numa de pânico pois isso não afecta nem infecta. Vamos esperar que os agentes de saúde ajam conforme com as recomendações e vamos esperar que a sorte nos proteja.
Por isso, a ver se amanhã consigo pôr estes meus propósitos em prática. E hoje fico-me por aqui.
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Relembro - por aí abaixo há mais dois posts, mas vou já avisando: cuidado que vão entrar pela Porta dos Fundos. Devia ter avisado que tem bolinha no canto superior direito e esqueci-me - mas aviso agora.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma semana muito boa a começar já por esta segunda-feira.
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2 comentários:
Que sorte UJM,não ter optado por um fotógrafo profissional!Já não posso dizer o mesmo.Acabei o curso um mês antes de casar,por isso dinheiro para o que não fosse essencial,não havia.Fizemos contas e mais contas, não tantas como os nossos queridos governantes fazem mas o que é certo é que ainda deu para o copo de água num lugar muito in na altura e depois de percorrer com a madrinha as lojas todas da Baixa,havia um vestido que era lindo de morrer, mas logo a madrinha disse o preço ser incomportável.Lá me conformei, mas uns dias depois quando abri um presente, dei de caras com o dito vestido.Ainda hoje o guardo e continua o máximo, ou seja o mínimo porque nem eu nem ninguém que o tenha visto lá cabe.Coisas que acontecem e aceitamos, sendo felizes na mesma.Ainda a propósito das fotos,sem dúvida ficaram ao gosto, mas há uma que logo que a vi disse parece "a fuga do Egípto".Fotos a preto e branco é claro.Não foi por isso, que deixámos de ser felizes.Talvez outros tempos, outras mentalidades e um ter a noção do que é essencial na vida.Há quem se perca por todos os acessórios e esqueça assim que a felicidade não depende de ter tudo aparentemente perfeito.Beijinho e mesmo apesar da muita chuva que por aí anda,continuação de um bom dia.
Quando me casei, fomos ao Registo Civil e zás-trás, ficou feito... eu tinha em vestido branco comprado nos saldos de uma cadeia de pronto a vestir (posso dizer que me casei com um vestido italiano...) e as alianças foram encomendadas uma semana antes (e por sorte ficaram prontas a tempo!), porque eu também tinha uma vida muito preenchida e sinceramente não ligava muito a festas (nem tinha muito tempo, mesmo que ligasse). Um amigo escreveu-me depois a dar os parabéns e a elogiar a "verdade e simplicidade do meu ritual". Finalmente não fomos felizes para sempre, hoje não estou casada, mas nesse dia fui completamente feliz.
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