segunda-feira, julho 14, 2014

As amorosas mãos da minha corajosa mãe







Como todas as semanas, estive hoje em casa dos meus pais. Telefono à minha mãe todos os dias, três vezes por dia. A situação de dependência do meu pai faz com que eu queira estar certa de que está tudo bem, não vá surgir algum problema e não terem como pedir auxílio já que o meu pai não seria capaz de telefonar. Mas, para além disso, vou lá todas as semanas. Não apenas levo algumas compras mais pesadas como gosto de lá estar e, para eles, acho que também é importante a minha presença.

A minha mãe é uma força da natureza. Não é exuberante mas é muito alegre. Tem um sentido prático notável, não complica, não alimenta pessimismos nem chora sobre leite derramado.

Quando teve o AVC que por pouco não o levou desta para melhor e que o fez perder grande parte do campo visual, o meu pai esteve algum tempo acamado, incapaz de se mexer. Foram tempos muito complicados, de aprendizagem, de quase desistência. A vida dele e da minha mãe (e, de certa forma, embora em muito menor escala, também a minha) mudou por completo. A casa teve que sofrer algumas adaptações e toda a rotina sofreu uma reviravolta. A vida dele passou a ser um dia de cada vez, pequenos progressos, pequenos retrocessos - e isso passou a condicionar, em absoluto, a vida da minha mãe. Depois, com fisioterapia especializada, foi recuperando o andar e houve uma altura em que ainda conseguiam sair. Lembro-me de que num aniversário dele ou da minha mãe, já não me lembro, chegámos a ir almoçar a um restaurante de praia de que eles gostavam muito, e vinham sempre pelo Natal a minha casa, chegaram a ir passar o dia à nossa casa in heaven. Sempre com passinhos curtos e oscilantes, mas lá ia. Foi também ao casamento do meu filho, foi pelo seu pé, esteve bem. Só quando saíu é que já ia um bocado desorientado, o dia tinha sido longo, música e festa a mais para a cabeça dele. 

Para a minha mãe, o poderem sair era bom. Estando ainda em plena forma, ágil, muito activa, e vinda de uma rotina de liberdade de movimentos, habituada a irem passar férias duas vezes por ano, a encontrar-se regularmente com o seu grupo de amigas igualmente professoras reformadas, acostumada a passear, ir ao cinema, etc, o poderem, de vez em quando, ainda sair, era uma forma de atenuar a prisão que o AVC  do meu pai provocou na vida de ambos.

Quando era preciso deslocar o meu pai, ajudavam muito o meu tio, irmão mais novo da minha mãe, a a minha tia, sua mulher, um casal que respirava saúde, energia, alegria. A minha tia podia ter sido uma comediante, sempre com uma piada a propósito de tudo, graças de improviso que nos faziam a todos rir, e o meu tio, sempre na boa, achando imensa piada à mulher, conversador, nunca se detendo em assuntos menores, sempre disponível para falar de política, de arte, do que fosse. Onde eles estivessem, o ambiente era leve, alegre, afectuoso.

Afinal, sem que ninguém o suspeitasse, transportavam dentro de si a morte em estado avançado. Em pouco tempo, com meses de intervalo, foram-se ambos embora. Quando penso em como estavam bem nesse dia tão feliz do casamento do meu filho, ambos muito bem encarados, sem qualquer sintoma, bem, mesmo bem, ainda me custa acreditar que pudessem ambos ter cancro em estado avançado. 

Foi mais um rude golpe para a minha mãe. Aquele irmão não era apenas um apoio, era um complemento, uma alegria. E a cunhada era uma amiga, uma amiga disponível e sempre bem disposta.

Depois de momentos de grande desgosto, a minha mãe superou também a tristeza. 

Entretanto, o meu pai foi perdendo a mobilidade e, pior que isso, a capacidade de se integrar. Agora gosta é de estar sossegado em casa, quase em silêncio. Anda dentro de casa, embora com dificuldade, ou vai dar umas voltinhas na rua com a fisioterapeuta mas tudo o que fuja disto é para ele uma confusão, fica nervoso, chega a exaltar-se. Quando tem que ir ao médico ou fazer exames, a minha mãe contrata os bombeiros - e isso é o máximo que ele suporta de idas a qualquer sítio. Quando a malta miúda se junta lá em casa, pede logo para ir para a cama e mesmo assim, passado um bocado, já começa a ficar enervado, desnorteado, pois as crianças são ruidosas por natureza - e, então, ele diz que já não tem vida para estas coisas. Este Natal não quis vir a minha casa nem nunca mais o convencemos a ir passear onde quer que seja. Não quer, tem medo de não se aguentar, medo de ficar nervoso, e há o problema da casa de banho (em casa vai à casa de banho mas já conhece bem o percurso; contudo, fora de casa, tem receio que haja algum percalço e só essa perspectiva o inibe completamente). Quando se lhe coloca a perspectiva de ir a algum lado, com semanas de antecedência começa a ficar nervoso. Desistimos. Não vale a pena. Sugerimos, então, que venha a minha mãe e que a senhora que vai de manhã e à noite tratar da higiene dele o fique a acompanhar. Mas a minha mãe não quer ir laurear e deixá-lo em casa. 

Claro que isto se tornou uma prisão para a minha mãe: se ele não sai, ela também não pode sair. Obviamente vai às compras ou ao médico mas vai e vem sempre à pressa pois pode acontecer que, quando chega, já ele esteja numa aflição, a chamar por ela, cheio de medo, a achar que já passou muito tempo e que pode ter acontecido alguma coisa. Não tem bem a noção do tempo, tudo lhe parece mais do que é e, além disso, a situação de dependência dá-lhe uma angústia que facilmente se transforma em medo.

Mas, tirando alguns momentos em que se passa com ele (quase todos os dias, ao fim da tarde, antes de jantar e de ir para a cama, parece que os neurónios do meu pai entram em curto-circuito e ele começa a empreender com parvoíces, moendo-lhe a paciência - depois passa-lhe e é como se não tivesse acontecido nada, fica normal, com o raciocínio normal), e em que fica mesmo aborrecida, a minha mãe encara tudo isto com paciência, invulgar resistência e, quando fala, está sempre a rir, bem disposta. Encontra humor nas coisas, relata episódios divertidos que vê na televisão ou de que tem conhecimento no super-mercado ou no posto médico, recorda situações hilariantes de quando era professora. Não raramente acabamos as duas a rir à gargalhada, lágrimas nos olhos de tanta risota. Nessas alturas o meu pai faz má cara, os risos, as conversas altas ou tudo o que, aos olhos dele, são excessos o incomodam. Mas a minha mãe encolhe os ombros, pergunta-lhe se ele quer que ela se sinta morta em vida. Ele encolhe também os ombros, arreliado por ela o confrontar em frente de mim e do meu marido ou do meu tio, irmão dele (que todas as semanas também lá vai). E a vida prossegue.

Os meus filhos adoram-na. Acho que a minha mãe nunca se deve ter zangado com eles. Quando eram pequenos, ficavam em casa dos meus pais nas férias e eram dias felizes para os avós e para os netos. Agora são os bisnetos que adoram lá estar e que gostam muito dela.

Habituou-se a lidar sozinha com assuntos que antes eram tratados pelo meu pai (impostos, seguros, manutenção da casa, bancos). Junta a isso o gosto que sempre teve por trabalhos manuais. Não consegue estar sentada na sala sem fazer nada. Por isso faz casacos de malha, camisolas, arranja-nos a roupa (aperta calças, põe joelheiras nas calças dos pimentinhas futebolistas, alarga saias), o que for preciso.

E todos os dias lê. Agora anda a reler Eça de Queirós, diz que lhe apeteceu voltar a reler os Maias e, como gostou tanto, agora passou para a releitura d'O Primo Basílio.

Quem a vê não diria que já tem 81 anos. Não sei se é porque se veste de forma descontraída, leve, jovial até, se é pela atitude, se é por ela mesmo mas a verdade é que a vejo como sempre a vi: disponível, na boa, bem disposta. No Centro de Saúde onde vai, trabalha como médica uma amiga minha que, quando a vê, se mostra sempre admirada porque a acha sempre na mesma, e sempre em grande forma.




No outro fim de semana tinha chovido quando estávamos in heaven. O alfazema ficou tombado, exalando um perfume intenso mas todo ele sobrecarregado ao peso da água que se tinha abatido durante a noite. Receei que não arrebitasse. Apanhei então um grande ramo dele que levei à minha mãe. Ela adora o cheirinho do alfazema, ficou toda contente.

Mas disse-lhe que o ramo de alfazema vinha com um pedido dentro: será que poderia separar uns quantos pés e, se pudesse, fazer um saquinho para eu pôr no roupeiro...? Ficou logo entusiasmada com a perspectiva de ter uma missão.


Este domingo, quando lá cheguei, juntamente com o meu presente de aniversário, tinha dois saquinhos lindos, cheirosos. Secou o alfazema, comprou uma espécie de tule reluzente, coseu-os, arranjou umas fitinhas, uns laços, umas florzinhas. Uma maravilha.

Já os tenho a perfumar os roupeiros mas fiquei até com pena de os prender no varão, dava-me vontade de os ter à vista, tão bonitos, tão cheirosos. Por isso, os fotografei para que todo o mundo os possa ver, os saquinhos de alfazema feitos pelas amorosas mãos da minha mãe.

Não me deu só isso. Entre outras coisas, também me ofereceu um reforço de Chanel Nº5, coisa que nunca deixa de me oferecer pelos anos e pelo Natal já que sabe que, desde que me conheço, gosto de me perfumar, tal como gosto de me arranjar.

Tantas vezes o meu pai se zangava por achar que eu ainda não tinha idade para andar toda perfumada ou para pôr um risco nos olhos, ou que não era apropriado eu usar shorts ou blusas sem costas. E sempre a minha mãe passou por cima: deixa-a lá, se ela gosta que mal tem? 

(A minha tia bem disposta, então, quando me via assim, para provocar o cunhado - e cúmplice da cunhada -dizia, olhando para mim: está toda gira, ela... e faz muito bem, que o que é bom é para se ver, ora essa...! - e a minha mãe apoiava-a pois não via razão para o meu pai querer contrariar a minha natureza)

Acho que herdei alguns dos genes da minha mãe e tomara que assim me mantenha mas, sobretudo, tomara que por muitos e bons anos eu a tenha a ela, assim, bem disposta, toda para a frentex, a dizer mal destes políticos aldrabões, desta palhaçada, e a fazer coisas bonitas, casacos de malha todos modernos, e quiches deliciosas e belos bolos, e a contar-nos peripécias, sempre a rir, toda jovial, a brincar com os bisnetos e atenciosa e babada para com os netos, paciente e dedicada para com o marido que (involuntariamente) não lhe facilita nada a vida.

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A música é Natalie Merchant interpretando "Nursery Rhyme of Innocence and Experience" 

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já nesta segunda feira.

E que a vossa vida seja leve, feliz, com saúde e plena de afecto. 
Ou, se for complicada, que consigam encontrar o raio de luz, o breve sorriso, a palavra certa que atenuem a dureza dos vossos dias.

Recebam, meus Caros, o meu abraço - e sintam-no, não como um abraço virtual, mas como um abraço de verdade, pleno de estima por vós que, aí desse lado, tanta companhia também me fazem.

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12 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

UJM
A sua descrição assemelha-se a que vivo agora com o meu irmão mais velho que teve um AVC que lhe toldou movimentos e fala. Com a agravante da minha cunhada ter Alzheimer.
Só o amor - seja ele de que natureza for e, aqui, o meu é fraternal - consegue conviver diariamente com a situação.
Amor ao outro e amor à vida, que foi sempre aquilo que nos uniu, fortaleceu e sustentou.
Um abraço enorme à sua Mãe!

FIRME disse...

Ao ler este se texto que exala o aroma da ternura mais" CARA" do mundo,lembrei-me do meu pai,falecido com um avc 1962,era eu 1 rapazinho! Desejo aos seus,do lado de cá,deste ecrã que nos separa,o melhor possível! Se nem tudo são rosas,que saboreie o perfume que algumas nos dão!Boa semana !!!

Vitor Gomes Freire disse...

EXTRAORDINÁRIA, a Senhora sua Mãe, estimada UJM !
Quanto desvelo e disponibilidade numa situação nada fácil !
" Post" que nos deixa séria reflexão e grande exemplo .
TUDO DE BOM, são os meus melhores Votos para si e Família.
Melhores Cumprimentos
Vitor

Concha disse...

Ao lê-la,a sensação era a de uma conversa de amigas,pelo modo simples e próximo como escreve.A família, seja qual for o grau de parentesco e a frequência com que se visita,é uma âncora nos tempos difíceis.Infelizmente já não tenho os meus pais, mas desejo-lhe que tenha os seus por muito tempo.Uma excelente semana!

Tété disse...

Toda a minha admiração a sua mãe.
Sei bem o que isso é e também sei que por muito que eu tivesse apoiado a minha (o meu pai faleceu em 1994 e a minha mãe em 2010)às vezes ela, que não tinha esse dom da descomplicação, quase me fazia sofrer mais do que ele estando acamado. Foi exemplar no trato e na disponibilidade que dedicou ao meu pai, mas o seu perfil era nostálgico e como consequência o ambiente que se vivia era permanentemente triste.
Deus ajude a sua mãe e lhe continue a dar essa força e alegria que tanto ajudam a ultrapassar os problemas.
A minha mãe dava-se de alma e coração, mas quanto à rapioquice eu saí mesmo ao meu pai.
Um abraço muito apertado a sua mãe.
Com que então muitas prendinhas? Quem semeia, colhe e elas traduzem o carinho que merece receber.
Também não me posso queixar, só que neste jogo de netos está a ganhar-me 4 a 1. Até parece o Mundial...
Beijinho
Teresa

Isabel disse...

São lindos, os saquinhos de cheiro da sua mãe :)
Que a tenha ainda muitos anos por perto, e ao seu pai também.
Um beijinho

Um Jeito Manso disse...

Olá Helena,

Pois, ainda deve ser pior e é daqueles casos em que se sabe que só tende a piorar, especialmente por ela, coitadinha. Muitas vezes, no caso do meu pai, interrogamo-nos se não estará, por vezes, com alguma forma de demência. Mas não - pelo menos declarada. É uma coisa que vai e vem e pode estar a dizer coisas sem nexo (e isto acontece ao fim da tarde até se ir deitar) e a seguir ficar lúcido, com boa cabeça, boa memória. Penso que já funciona muito à base de medicamentos e, quando falha o efeito, a coisa descarrila. Depois volta ao sítio. Mas mesmo com os medicamentos é um exercício de calibragem permanente: ou deixam de fazer efeito ou, se se aumenta a dose, dão mau resultado.

Enfim, uma coisa que é difícil para os próprios e para quem os acompanha.

É preciso paciência, afecto, compreensão e muito carinho para com os cuidadores.

Tenho uma pensa enorme pelos meus pais. Estavam tão bem, viviam tão bem antes de ter acontecido isto ao meu pai.

Mas é ir levando isto com realismo e espírito positivo, não é...? Não ajuda nada cair na amargura, não é?

Darei o seu abraço à minha mãe que vai ficar muito contente até porque muito gosta de a ver na televisão e de ler os seus livros.

Um abraço, Helena, e as melhoras para o seu irmão e que a doença avance devagarinho e seja leve no caso da sua cunhada.

Um Jeito Manso disse...

Olá Firme,

Obrigada pelas suas palavras tão simpáticas.

Imagino como lhe deve ter custado perder o seu pai quando era rapazinho. São perdas que não se esquecem.

Um abraço.

Um Jeito Manso disse...

Olá Vítor,

Em tempos escrevi aqui uma história em fascículos a que dei o nome de 'Lidia, a mulher triste' e onde me baseei um pouco na experiência que acompanho de perto em casa dos meus pais. Claro que me socorri também de outros casos que conheço.

Na altura em que escrevi a história, todos os dias, ao fim da tarde, o meu pai dizia que entrava ar frio da rua por uma racha que estava na parede ao lado do cadeirão ortopédico onde se senta. Ora a parede em causa é interior e não tinha racha nenhuma. Mas a confusão que aquilo lhe fazia. Queria que a minha mãe mandasse arranjar a fissura, zangava-se porque dizia que ela não ligava ao que ele dizia, eu sei lá. Depois, jantava, tomava a medicação da noite e tudo voltava ao normal. Entretanto, felizmente, nunca mais se lembrou de tal coisa. Dito assim é de gargalhada. Mas vendo-o, num nervosismo, implicativo, é de fazer perder a paciência a um santo. Nem sei como a minha mãe aguenta. E as fraldas durante a noite e tudo isso. Mas, de resto, e durante o dia e a maior parte das vezes durante a noite, as coisas até estão razoáveis, bem. E a minha mãe até se vai habituando. Mas custa muito porque o meu pai era saudável, não tinha hipertensão, colesterol, excesso de peso, não fumava, etc, e movimentava-se bastante. Tinham uma vida óptima e, de repente, acontece uma coisa destas e vira-lhes a vida do avesso. O meu pai tem dias em que está infelicíssimo. É quando nos custa mais.

Mas fazer o quê?

Obrigada pelas suas palavras, tão simpáticas.

Um abraço.

Um Jeito Manso disse...

Olá Concha,

Nem sempre respondo aos comentários porque (a falta d') o tempo não mo permite e, por isso, não lhe disse que fiquei feliz por me ter descoberto.

Gosto que gostem de ler o que escrevo. Escrevo sempre à pressa, de facto como se conversasse - e muitas vezes sem tempo para reler o que escrevi pelo que as gralhas devem ser mais do que muitas. E, pelas mesmas razões, não há censura interna.

Tenho pena que já não tenha os seus pais. Um dia terei que me mentalizar para o facto de que um dia isso me acontecerá a mim mas, por ora, prefiro nem pensar nisso.

Obrigada pelas suas palavras e pela companhia.

Um abraço, Concha!

Um Jeito Manso disse...

Olá Teté,

O meu pai, mesmo antes do AVC, já era mais ríspido, sempre a tender para o complicado, a querer tudo muito controlado, perfeccionista. E o AVC parece que lhe acentuou isso. Preocupa-se com tudo. Se eu não chego quando ele acha que eu devo chegar, fica numa preocupação e tanto massacra a minha mãe que ela acaba por me telefonar. No outro dia cheguei lá às seis da tarde, um sol aberto. Pois estava todo amuado, que não eram horas de eu lá ir, já de noite, a meio da noite, e que tinha estado preocupado, porque é que eu não tinha avisado que ia chegar a meio da noite. Por mais que nós disséssemos que ainda era de dia, recusava-se a olhar para a janela e reagia como se o estivessemos a enganar. Bem faz o meu marido que diz que não vale a pena contrariar quando ele está com estas teimosias malucas. Em contrapartida, quando isto lhe passa, vira-se para o meu marido e é capaz de falar de futebol como se estivesse o melhor possível da cabeça. É surpreendente.

Faço o que posso para estar presente o mais possível, já que vivo a uns 50 km deles e que trabalho todos os santos dias. Mas o facto de acompanhar por telefone e por dar o meu apoio e ir lá todas as semanas e levar compras e tal sempre é uma ajuda. Mas é uma situação complicada, lá isso é.

Vale a minha mãe ser uma força da natureza, sempre bem disposta, sempre pronta a dar a volta por cima. Se fosse de qualidade de ser nostálgica, a coisa seria bem mais pesada, lá isso seria.

Um beijinho, Teté, e obrigada pelas suas palavras.

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

São tão lindos e tão perfumados. Fiquei mesmo contente com o jeito e o carinho da minha mãe a fazê-los tão bonitos.

Também desejo ter a companhia deles ainda por muito tempo.

O meu pai, quando está mais triste, tem muita pena por se ver assim dependente e diz que mais valia morrer. Custa-me muito ouvi-lo dizer isso e atalho logo a conversa. A minha mãe zanga-se com ele: 'Lá estás tu... como se isso dependesse da vontade de cada um. Cala-te e aproveita teres saúde que isso de teres tido um acidente não é doença'. E ele lá se conforma ou, pelo menos, faz por isso.

Não é fácil uma pessoa que era tão independente ver-se assim e falo por ele e pela minha mãe. Mas, enfim, têm o amor e companhia da família e isso é importante. Sentem-se estimados e apoiados e isso ajuda a suportar os momentos difíceis.

Um beijinho, Isabel.