quarta-feira, maio 21, 2014

AS TERÇAS COM MORRIE


No post abaixo já partilhei convosco um pouco do que estive a ler a propósito de l'air du temps (digo assim, em francês, para disfarçar o quão pindérico tem sido o que se tem passado por cá). Falo das eleições europeias, das formações partidárias que têm assento no parlamento europeu, nas últimas sondagens para Portugal e para toda a UE. Sei que é um post anormalmente extenso para o que é normal nos blogues mas, porque para mim é matéria útil, permito-me o risco de vos maçar para o caso de, a alguns de vós, isto também ser de algum interesse.

Num outro post ainda lá mais para baixo, falo e mostro o Sr. Bacalhau, que foi animar as fracas e anémicas hostes do Sr. Três Cabelos, essa pequena virgem ofendida que não distingue uma sardinha de um carapau. Falo ainda de um Secretário de Estado do sujeito de Massamá que acha que a solução do País passa por exportar velhas.


E, como sou dada a excessos, vou para o terceiro post mas, desta vez, a coisa é muito diferente.






Volto a um livro de que falei ontem e de que o Leitor dbo que é médico (e portanto, de certa forma, habituado a lidar com situações complexas) - e por quem há tempo fiquei a saber da sua opinião muito favorável sobre este livro - volta a falar num comentário ao post onde ontem falei dos meus últimos livros. 

As terças com Morrie é da autoria de Mitch Albom e foi publicado originalmente em 1997.


Transcrevo da contracapa a seguinte informação:

Mitch Albom escreve para o Detroit Free Press, e já foi dez vezes eleito como o melhor colunista desportivo pela Associated Press Sports editors. Ex-músico profissional, tem um programa de rádio diário em Detroit. Publicou vários livros de crónicas despoetivas.

Morrie Schwarts foi professor de Mitch Albom na universidade. Ensinava Sociologia e marcou-o profundamente. Vinte anos mais tarde, Mitch sabe acidentalmente, através dum programa de televisão, que o seu professor está a morrer com uma doença que o consome lentamente. Mitch é um cronista desportivo muito atarefado. Morrie teve uma vida cheia, com amigos, família, ensino, música.

O reencontro entre os dois homens prolonga-se por catorze terças-feiras, em que o professor conduz o seu antigo aluno numa jornada comovente pelas mais simples e mais gratificantes lições da vida - e da morte.


Do que já li, o livro é tocante. Como diz o Leitor dbo, não é um livro lamechas. Nada disso. Nem é mórbido, que eu detesto coisas mórbidas.

O facto é que transporta em si uma sabedoria simples, se é que posso exprimir-me assim, uma sabedoria que nos prende.

Depois de, no outro dia, ter falado na procura pela longevidade, este livro introduz uma chamada de atenção para o que é uma realidade incontornável: lá virá o dia em que a vida vai acabar. E até lá? O que é ou não importante para que a vida valha a pena? O amor? O perdão? O dinheiro? E o que é um dia perfeito?

Para quem, como eu, lida com a realidade de ter um pai numa situação de dependência depois de uma vida inteira ostentando uma atitude orgulhosa, autónoma, jovial, ler um livro assim é útil (e especial). Nenhum de nós está livre de, um dia, se ver também numa situação destas. Penso que todos nós desejaríamos que num dia longínquo, velhinhos, muito velhinhos, nos deixemos dormir, tranquilamente, para nunca mais acordar. Mas sabemos lá como vai ser? A vida pode ser ingrata. No entanto, enquanto o não é, que seja bem apreciada e, mesmo quando prega partidas, que se saibam aproveitar os pequenos momentos de doçura que sempre existem.

Transcrevo de novo:

'Ouve, tens que saber uma coisa. Todos os jovens têm que saber uma coisa. Se estiveres sempre a batalhar contra o envelhecimento, vais ser sempre infeliz, porque isso vai acontecer de qualquer maneira.'
'E, Mitch?'
Baixou a voz.
'O facto é que vais mesmo acabar por morrer.'


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As terças com Morrie - excerto do filme legendado em português






Li no Youtube que este mini-filme foi criado para ser apresentado numa aula sobre Cuidados Paliativos, recomendando-se que se veja o filme na íntegra.


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A música lá em cima era Bella's Lullaby - Carter Burwell

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Relembro: deslizando por aí abaixo encontrarão mais dois posts, um elucidativo (ou, pelo menos, tentando sê-lo) e outro que mostra a pândega que têm sido as campanhas tugas. E falo do Secretário de Estado que quer exportar velhas.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira.


4 comentários:

Helena Sacadura Cabral disse...

UJM
É um livro maravilhoso. Deu-mo uma médica amiga. A Isabel Galriça e li-o vária vezes durante o "caminho" do meu Miguel.
Ensinou-me muita coisa! Ainda bem que lho indicaram.

Anónimo disse...

Credo! As coisas que uma pessoa encontra!

http://youtu.be/1MwDNyXJuqk (só a partir dos 4:00, principalmente a partir dos 5:00)

Credo! Se estas coisas não são ensaiadas, se não é tudo representação, nem sei o que pensar.

JV

Um Jeito Manso disse...

Olá Helena,

Há assuntos de que durante anos fugi. Fugia como se fugindo os pudesse evitar.

Mas depois começaram a morrer-me os avós, um a um (com excepção de um que morreu quando eu era miúda), e eu tive que ver os meus pais a perderem os seus pais e a assistir à dor deles enquanto sentia a minha. Depois foram duas tias do meu marido de quem éramos próximos. Depois o pai do meu marido e aí o choque foi maior. Parecia que estava a aproximar-se. Tivemos que tratar do enterro, que receber os beijos e as palavras das pessoas. Agora mais recentemente foi o meu tio e padrinho de quem eu tanto gostava e, logo a seguir, a mulher dele, minha tia e minha grande amiga.

E colegas. No outro dia, estava na praia, ligou-me um colega a dizer que um colega nosso tinha morrido. Fiquei quase sem conseguir falar.

E começo a perceber que não vale a pena fugir.

O meu tio, quando soube o que tinha, dizia que não se importava, tinha tido uma vida boa e que ia feliz. Nós ouvíamos e ficávamos sem saber o que dizer.

Não consigo imaginar como se consegue acompanhar o 'caminho' de um filho nem quero pensar nisso, quero fugir a sete pés.

Um dia morreu um outro colega meu, um que era brilhante e alegre e um sedutor (como o seu Miguel). Também com cancro. Trabalhou quase até ao fim. Quando morreu, fui à capela e a capela estava cheia (era aquela ao lado dos Jerónimos) e eu fiquei na rua. Quando espreitei quase dei um salto. O filho mais velho estava lá e era igual a ele. Mas estava também o pai. Toda a gente estava em silêncio consternado mas o pai chorava muito alto e dizia com uma voz rouca 'eu é que devia ter ido!'. Um choro triste que não se aguentava. Não me esqueço daquele sofrimento.

Mas todos ainda nos lembramos dele e falamos muito das coisas dele, das puladas de cerca, era um namorador, descarado e alegre, não nos esquecemos do riso dele. Na capela estavam todas as que ele tinha namorado. A mulher dele estava lá dentro, apoiada no filho.

O que acho importante é que aproveitemos bem, com alegria, bondade, generosidade e consciência tranquila, a vida que temos. Enquanto temos. E que saibamos aceitar como natural que uns vão mais cedo, outros mais tarde mas que, um dia, todos vão. Quem sabe se acabam por encontrar todos algures naquele sítio para onde se vai depois de passar por aquele túnel de luz por onde parece que se passa.

Um abraço, Bárbara Helena!


[PS: Não me leve a mal por ser tão impiedosa para com o seu filho Paulo. Mas ele tira-me do sério, que hei-de eu fazer...?]

Um Jeito Manso disse...

Olá JV,

Vi o vídeo e fiquei estarrecida. parecia ser verdade. Como é possível uma coisa assim? e porque vão as pessoas para a televisão expor as suas misérias, os seus segredos? Há gente tão estranha, não é?

Como fica uma filha, ouvindo a mãe dizer que a odeia...? Nem quero pensar.