quinta-feira, maio 29, 2014

Ana Gomes é uma das muitas pessoas que defende que Seguro convoque um Congresso Extraordinário. Tomara que ele, não apenas registe o que ouve, como aja em conformidade. Quanto mais tempo prolongar isto, mais a imagem do PS se degrada, mais os socialistas se desunirão (quando deveriam estar unidos e coesos). A bem do País, Seguro deve ser rápido e submeter-se ao voto dentro do Partido (por muito que lhe doa, por muito duro que isto seja para ele, por muito ingrato e injusto que isto lhe pareça)


Um River of Sorrow, para nos acompanhar





Chegada de um dia de trabalho longe da capital, longe da realidade política e mediática, com dores no ombro e cansada, ligo a televisão, a SIC N, e vejo Ana Gomes de um lado, esgrimindo argumentos contra João Galamba, que se apresenta como estando do lado oposto. Tanto eles falam que a Ana Lourenço nem precisa de atirar achas para a fogueira.


Que a Ana Gomes critique a entrada em cena de António Costa eu percebo. Se ela foi escolhida por Seguro para a lista do PS para o Parlamento Europeu, não ia agora bandear-se para o lado de quem desafia o dito Tozé.


Da mesma forma que também percebo que Alberto Martins critique a entrada em cena de António Costa. Se é o líder da bancada parlamentar, não ia bandear-se para o lado de quem desafia quem acabou de o nomear para aquele lugar.

Há coisas que se percebem.

Mas registo que Ana Gomes, embora claramente a contragosto, diga que acha que, perante o avanço de António Costa, então, pois que remédio, deve mesmo ser convocado o Congresso. Claro. É inteligente. Fala por uma dúzia de peixeiras mas, vá lá, é inteligente.

António José Seguro é o homem do aparelho, o que fez toda uma carreira partidária, a pulso, decorando os nomes dos que manobram os cordelinhos por esse país fora, sendo simpático, apertando mãos, distribuindo os seus sorrisinhos. Depois de tanta braçada nem deve conseguir conceber que agora o queiram ver morrer na praia. 

O lado humano desta crise no PS não pode deixar de me tocar. Anos e anos de esforço, anos e anos de trabalho de sapa, agora uma campanha eleitoral em que se envolveu até à rouquidão, percorrendo estradas, locais, distribuindo beijinhos, vendo que, pela segunda vez, ganha as eleições, vendo que está quase lá... e, eis que o seu concorrente de sempre, o líder do coração dos socialistas, em vez de o vir aplaudir, aparece a desafiá-lo em público... deve ser emocionalmente desgastante.

Quando ele gostaria de ver o partido inteiro a testemunhar gratidão, vê o partido partir-se ao meio, contestando a sua presença. Deve sentir-se injustiçado. Percebo-o. Sinto até alguma pena por ele e estou a ser sincera.
Mas a vida na política é isto mesmo. Há momentos em que as pessoas toleram outras porque sim, porque depois de um líder forte (como foi Sócrates) é normal que as pessoas precisem de alguma descompressão, que depois de um animal feroz prefiram um bichinho de peluche, um fofinho. Mas isso dura o tempo estritamente necessário. Um peluche não vai à luta, não ganha guerras. Pode vencer uma ou outra batalha mas não vence guerras.

E quem é que quer fazer parte de um exército em que o líder notoriamente não é capaz de ganhar uma guerra...? 

Mas que ninguém pense que o ponho no mesmo cesto que os da actual coligação. Nem pensar. Francamente acho que o Tozé até deve ser boa pessoa. Entre António José Seguro e Passos Coelho há uma diferença abissal. O primeiro tem mostrado ser uma pessoa séria. O segundo não. E isso faz muita diferença.

Mas, sejamos muito francos: António José Seguro é naturalmente um líder fraco. Ora um líder fraco é uma contradição de termos: se é líder não pode ser fraco; se é fraco não pode ser líder. 

Por exemplo, quando Seguro, para se armar em galaroz, anuncia que o PS vai votar favoravelmente a moção de censura do PCP, revela uma fragilidade ou inexperiência ou falta de inteligência que assusta. Com medo de ser atacado pelos comunistas, foi-se-lhes colar. Agora, ou aprova uma censura que arrasa o PS ou desdiz-se. Em qualquer dos casos, fica mal na fotografia, ridículo mesmo.

Foi como quando traçou como fasquia para o desempenho do governo uma saída limpa. Só um pateta poderia meter-se num beco destes. Passos Coelho que, como é sabido, não se ensaia nada de dar cabo do país, avançou sem programa cautelar (a conjuntura internacional estava-lhe favorável e a Europa está deserta por se ver livre destes malfadados programas de apoio que só a metem em sarilhos, tanta a incompetência geral de quem os aplica). Face a isso, o que poderia Seguro fazer? Nada. Meteu a viola no saco.
E isto tem sido uma constante. Mete-se em becos sem saída, ou hesita na resposta, ou enrola, ou diz que vai dizer, ou diz que já disse, ou arma-se em valentão sem ter cara para isso. Ou seja: um desastre.

Ou seja, voltando à vaca fria: entre Passos Coelho e Seguro, escolho o Seguro. Mas escolho o Seguro, contrariada porque não acredito na capacidade de Seguro conduzir os destinos do meu País.

Face ao resultado das eleições, em que o PSD e o CDS levaram um tareão sem paralelo e o PS não conseguiu atrair os descontentes, só há 1 (uma!) coisa a fazer: Seguro pôr o lugar à disposição.


Agarrar-se ao lugar, contabilizar vitórias (mesmo que tangenciais, mesmo que miseráveis) revela pequenez de princípios e, sobretudo, falta de amor ao País. 

Se ele acha que é o melhor líder para o PS depois destes resultados, então que ouça a confirmação por parte dos militantes socialistas.

Arrastar isto vai provocar cisões, vai fazer com que o País assista a divisões na praça pública, vai enfraquecer a oposição a este inescrupuloso governo, vai reforçar a imagem de que a esquerda é dada a tricas, vai reforçar a empáfia das gentes do PSD e até do inexistente CDS.

Seguro deveria querer sair em beleza, mostrar-se um líder sem medo, não se agarrar a subterfúgios. Devia comunicar ao País: Os resultados não foram tão bons quanto se desejaria e, uma vez que há mais quem queira provar o que vale, então aqui estou eu para ir a votos. Vou convocar o Congresso Extraordinário quem quiser que se chegue à frente e vamos medir forças.



Os nomes mais sonantes e respeitados no PS nitidamente preferem António Costa. 

Neste momento estou a ver Vieira da Silva com Judite de Sousa na TVI 24 a explicar por a mais b, que não há dúvida que António Costa tem muito mais perfil que Seguro - pelas provas dadas, pela capacidade de formar equipas com pessoas de outros quadrantes políticos, pela visão, pela determinação. E se ele está com vontade de trabalhar pelo País num momento como aquele que atravessamos, com Portugal a ser aniquilado, destratado, roubado, então há que deixar o Partido pronunciar-se.



E depois há Mário Soares (por acaso ainda este domingo o vi). O velho leão, o animal político por excelência, o que sabe ler nas partículas elementares o pulsar do País, o que é intuitivo, frontal, enérgico, há muito que sentiu que a margem de manobra de Seguro é ínfima, que não seria com ele que a direita ignorante, incompetente e imoral seria derrotada.


Dizem os mentideros que foi ele que pressionou António Costa para que avançasse, que lhe mostrou que teria a confiança dos verdadeiros e nobres socialistas, que não temesse os pequenos entraves do aparelho.

E ele lá sabe. 

Tomara que Seguro saiba desprender-se da sua ambição pessoal - na prática, que saiba desprender-se da sua natureza humana. É duro mas é o que deve fazer para não sofrer ainda mais. E, sobretudo, para permitir que o País sofra menos no futuro.

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PS: Acabo de ouvir Luís Filipe Menezes a atacar António Costa com todas as munições que arranjou: que António Costa gere uma Câmara com muita gente, que gere uma Câmara com uma dívida brutal, etc, etc, como se tudo isso pudesse ser assacado a António Costa e descontextualizando as coisas. Demagogia barata é isto. 


Não tenho para mim que António Costa seja um santo, um nobel das finanças, um D. Sebastião. Se fosse algumas destas coisas, não estaria aqui metido em trabalhos. Nem conheço as contas da Câmara de Lisboa. Sei apenas o que é público: que é inteligente, competente, sério, determinado, lutador. Agora uma coisa é certa: assusta os do actual PSD e CDS. O nervosismo demonstrado pelo Menezes (que foi presidente de uma Câmara endividada até à raiz dos cabelos e que levou uma corrida em osso nas últimas autárquicas) revela bem os amargos de boca que se avizinharão caso António Costa vá para a frente do PS.

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  • A música é River of Sorrow numa interpretação de Antony & The Johnsons
  • As imagens provêm do blogue We Have Kaos in the Garden com excepção da selfie da lista do PS que, cá para mim, foi uma brincadeira sugerida pelo Kaos e que eles levaram a sério.
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PS: Já me fartei de rir com um comentário da Leitora Lídia. Grande mulher! Não deixem de lê-lo aqui e, se houver, de entre os meus Leitores, alguém que esteja à altura do desafio, pode aqui apresentar a sua candidatura.

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2 comentários:

Anónimo disse...

A Direita (Passos, Relvas e Compª lmtª) já vai dando de barato que Costa será com quem eles se terão de entender, mais dia menos dia. A campa de Seguro, começa a ser aplanada pela Direita, curioso. Mas, o futuro a Deus pertence, lá diz o ditado!
P.Rufino

Anónimo disse...

Olá UJM!

Também vi ontem o debate da Ana Gomes com o João Galamba, a seguir ao comentário do Bagão Félix.
A Ana Gomes esteve muito mal. Eu até achava que ela era mais de esquerda, mais tipo Louçã, pelos direitos humanos e tal, lá com a história de Timor, mas agora que enriqueceu na Europa, está conservadora, mais de direita.
No início não prestei muita atenção ao debate, por isso posso ter ficado com a ideia errada, mas pareceu-me que ela não se inclinava para a convocação do Congresso, dizendo que isto tudo era inoportuno. O Galamba é que lhe trocou as voltas e acabou por levá-la para onde ele queria. De qualquer forma, ele esteve muito bem, sério, mas afável, direto, tem boa dicção: parece-me que o PS tem ali uma pessoa válida.

Quanto à tristeza do Seguro, não tenho a mais pequena das penas. É um medíocre. Não digo intelectualmente - também o é, mas isso é tolerável. Refiro-me à mesquinhez dos seus sentimentos e à falta de coragem. Ter pena de um boy que se convenceu de que TINHA que ser PM e andou a fazer sorrisinhos forçados a meio mundo para o conseguir ao longo de anos e anos a trepar pelo aparelho partidário acima? Era o que mais faltava!
Quem está na política deve ter garra, acreditar nas suas ideias, determinação e até uma pequena dose de teimosia - de outra forma, não conseguem aguentar a pressão e levar os outros a acreditar neles. Mas não pode pensar que TEM de ser PM. Porque sim, porque quer. Não tem de ser nada. As coisas podem correr mal e há que assumir os riscos que a política, como qualquer atividade, acarreta. Agora ter pena daquele enfermozito porque ele se acha no direito de ser PM, tendo em conta "tudo o que fez", todo o seu incansável trabalho de bastidores? Jamais.

Prognósticos: o que me parece que seria o melhor, era o Seguro não convocar o Congresso extraordinário, e ele ser convocado à mesma por uma das duas outras formas. Aí sim, haveria uma união em torno de Costa e uma demonstração de grande força política. O Seguro se for muito estúpido não convoca. Mas é capaz de convocar, aconselhado pelos seus amiguinhos. Parece que, de uma forma ou de outra, o PS, em geral, percebe que tem de ir a Congresso resolver a questão da liderança. E, havendo eleições, não tenho dúvida de que o Costa ganhará. Afinal, o PS quer ou não uma grande vitória nas legislativas?

JV

PS: Vi também o Passos a falar sobre a moção de censura proposta pelo PCP. Credo! O homem está cada vez pior! A sua indignação, o tom de desprezo com que um parvalhão incompetente daqueles fala! Já não se aguenta!