sábado, março 15, 2014

Da beleza. Shakespeare, Vasco Graça Moura, Jorge Martins, Alan Rickman todos aqui comigo. Uma tertúlia poética, nocturna, aqui na minha sala para a qual vos estou a convidar, meus Caros Leitores.


Bem. Depois de aulas práticas de bom comportamento masculino (que alguns espíritos mais conservadores acharão picantes mas que, de facto, são aulas do mais simples e útil que há) e de um breve apontamento sobre Viriato a dar luta a um desajeitado Carneiro e, ainda, sobre os mails que recebo e mais dois filmes, cada um mais inesperado que o outro, eis que é chegado o momento da acalmia. 


Silêncio, serenidade, paz de espírito, o doce ambiente nocturno da minha casa, um livro que aqui tenho e que percorro com desvelo. E as palavras e o amor por elas, e uma voz que é bela e me percorre os sentidos como um vinho macio, como uma música insinuante, como uma flor cor de sangue.


Refiro-me ao livro 'Os Sonetos de Shakespeare', tradução de Vasco Graça Moura e desenhos de Jorge Martins, um daqueles livros que me ofereço como se fora um presente precioso. 




Quis ouvir um dos sonetos no original e já aqui estou há que tempos a ouvir não um mas vários.

Que encantamento. 



Mas acabei por me fixar no Soneto Nº 130 dito pela perigosa voz de Alan Rickman


Ouço, ouço. E quase me deixo levar para labirintos subtis como abismos. Não sei se é a voz, se são as palavras, se é a minha atracção por vozes quentes que dizem poesia.







My mistress' eyes are nothing like the sun;
Coral is far more red than her lips' red;
If snow be white, why then her breasts are dun;
If hairs be wires, black wires grow on her head.
I have seen roses damask'd, red and white,
But no such roses see I in her cheeks;
And in some perfumes is there more delight
Than in the breath that from my mistress reeks.
I love to hear her speak, yet well I know
That music hath a far more pleasing sound;
I grant I never saw a goddess go;
My mistress, when she walks, treads on the ground:
     And yet, by heaven, I think my love as rare
    As any she belied with false compare.




Minha amante nos olhos sol não tem,
mais rubro é o coral que sua boca,
se a neve é branca, o peito é escuro e bem,
se há toucas de oiro, negro fio a touca.
Vi rosas brancas, rubras, damascadas,
não tem rosas na face, ao contemplá-la,
e há essências que são mais delicadas
do que o bafo que aminha amante exala.
Gosto de ouvir-lhe a voz, contudo sei
da música mais doce a afinação,
e uma deusa a passar jamais olhei,
a minha amante a andar põe pés no chão.
     Creio no entanto o meu amor tão raro
     quão falsas ilusões a que o comparo.


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Que vontade de escolher mais poemas, mais vídeos, que vontade de vos ter aqui comigo e de saber que também gostam de aqui estar a ouvir esta voz que diz estas palavras que prendem como irresistíveis lianas. 

Mas sei comportar-me (em público). Por isso, fico-me por aqui. Até porque há leitores que não dão para o peditório da poesia, certo?


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Relembro: por aí abaixo há mais uns três posts de hoje. Coisa variada que vai do sexy (perdão: do útil), ao político, ao pessoal, ao ternurento, ao divertido. É deixarem-se ir. Claro está que, com esta azáfama postadeira, não tive tempo para comentar os comentários. As minhas desculpas.


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E, assim sendo, por aqui me fico por agora. Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo fim de semana.
O tempo promete.


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