Transcrevo parte da crónica semana de Pedro Santos Guerreiro no Expresso:
O Governo PSD está a implementar um intenso programa de privatizações. (...)
O advogado mais influente nestas privatizações foi, sem dúvida, José Luís Arnaut: esteve em todas. Ora trabalhando para o Estado, ora para as empresas vendidas, ora para as empresas compradoras, Arnaut foi decisivo nas privatizações da EDP, REN, ANA, TAP (que falhou) e agora nos CTT, de que a Goldman Sachs comprou 5%, tornando-se o maior accionista.
Arnaut foi o assessor da Goldman Sachs, que, antes, fora um dos bancos que venderam swaps tóxicos a empresas públicas. (...) Esta semana, o Governo contratou a Goldman sachs como um dos bancos que assessoraram a emissão de dívida pública.
E a Goldman contratou Arnaut para um comité de topo, onde estão figuras de relevo, pensamento e lobbying.
Isto não é uma conspiração, é um modo de estar - ou de ser - entre um sistema financeiro internacional voraz e um país dependente de quem lhe empresta dinheiro para além da sustentabilidade.
Transcrevo agora do Jornal de Negócios:
O Goldman Sachs anunciou esta sexta-feira, 10 de Janeiro, que José Luís Arnaut é o novo membro do conselho consultivo internacional do banco.
As funções do português passam por “fornecer conselhos estratégicos sobre uma série de negócios, regiões, políticas públicas e questões económicas, em particular sobre Portugal e os países africanos de língua portuguesa”, revela o comunicado emitido.
José Luís Arnaut vai integrar um grupo de 18 membros, que é presidido por Robert Zoellick, ex-presidente do Banco Mundial.
José Luís Arnaut “traz elevados conhecimentos e experiência” sobre Portugal, bem como a Europa, Médio Oriente e África.
“É excelente” para o conselho consultivo internacional do Goldman Sachs a integração do português, refere Zoellick, citado em comunicado.
“É excelente” para o conselho consultivo internacional do Goldman Sachs a integração do português, refere Zoellick, citado em comunicado.
(...) nas negociações dos swaps com o Estado, a firma de Arnaut, CMS Rui Pena & Arnaut (RPA), representou os interesses de bancos como o Goldman Sachs e o JPMorgan.
Volto ao Expresso.
Aí leio que António Esteves, CEO da Goldman Sachs para os países do sul e responsável dos clientes da Europa, diz que Portugal está a fazer o que lhe foi pedido.
Fez um esforço económico e social muitíssimo forte.
Acrescenta ainda que em Portugal se fizeram ajustes muito grandes ao nível das reformas laborais, a nível estrutural, o que permitiu mais competitividade e diferenciação em relação ao resto das economias europeias.
E diz que a Goldman Sachs quer ter em Portugal uma presença maior. Temos uma percepção de Portugal muito positiva, não só pelo que vemos, mas pelo que perspectivamos.
E diz que vai reforçar a presença e investir em equipas para fortalecer a presença da Goldman Sachs em Portugal.
Quando lhe perguntam Em fusões e aquisiçãos? Responde: Em tudo.
E diz que vai reforçar a presença e investir em equipas para fortalecer a presença da Goldman Sachs em Portugal.
Quando lhe perguntam Em fusões e aquisiçãos? Responde: Em tudo.
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Tudo isto parece sinistro? Parece e, infelizmente, acho que é.
E nós somos a carniça sobre a qual os abutres estão a pousar.
NB: Depois de ter escolhido esta imagem, dei-me conta que procurei 'tubarão' e 'capitalismo' quando estava a falar em abutres, urubus. Mas, de facto, o que acontece é que primeiro as vítimas são abocanhadas, destruídas e depois, então, é que chegam os necrófagos. Revejo-nos, a nós, indefesos portugueses, na impotência do pequeno peixinho encarnado de frente para a bocarra gulosa da besta insaciável que se prepara para o devorar.
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PS: Depois de ter escrito o texto acima, volto aqui para referir um facto que me foi sugerido pela leitura de um comentário aqui abaixo.
Grande parte dos quadros das mais ferozes instituições financeiras e consultoras, aquelas que estão por trás de todas as jogadas na base das quais estão as crises que têm derrubado as economias mais frágeis, provêm de Escolas de Gestão ligadas à Igreja Católica. Universidade Católica, AESE, e isto já para não falar de colégios (da infantil ao secundário) também ligados à Igreja. Não por acaso, se poderá ver qual o percurso de António Esteves: Colégio Valsassina, Universidade Católica.
É um tema interessante este, tendo em consideração a denúncia que o Papa Francisco tem feito das práticas assassinas por parte destes grandes grupos financeiros. Sobre este assunto, sugiro a leitura do texto e sequente troca de opiniões aqui.
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Gostaria ainda de vos convidar a ouvirem e lerem um poema fantástico da actriz e poetisa Elisa Lucinda no meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom domingo!
10 comentários:
Olá UJM!
Que dizer do Asnô!? Que é triste? Que é a sequência natural de um comportamento politico, de uma opção ideológica, de um comportamento que caracteriza a direita em Portugal e no chamado Ocidente, e que contamina infelizmente certa Esquerda? O domínio da Alta Finança Nacional e Internacional sobre a Política e sobre a Economia é, hoje em dia, um facto pernicioso mas condicionante da vida política e económica das Nações. O condicionamento ideológico presente nas Escolas Superiores de Gestão e Negócios,na UE, em muitas Organizações internacionais e nos Média mais populares e o dinheiro e poder que a referida Alta Finança podem proporcionar aos Asnôs da política da economia são um grande chamariz a que muitos não resistem e são levados a tomar conscientemente atitudes e comportamentos lesivos do povo e da nação a que pertencem!
Quem diria que o Hollande seria um garanhão E quem diria que um mediaticamente apagado e meio pateta Asnô seria de utilidade para o Goldman Sachs??
um abraço
vídeo elucidativo - https://www.youtube.com/watch?v=bvLaTupw-hk
fanado daqui - http://www.edisproduction.de/
" É fartar, vilanagem " !
Que tristeza e (des)vergonha !
Recordando o saudoso Camarada , Salgueiro Maia, ( apenas um ano e pouco após o " Grande Dia ", em reunião bem "acesa"com seus pares):
" Não foi para isto que fizemos o " 25 de Abril ". . .
Estava com toda a razão !
Tempos tão tristes, estes !
Melhores Cumprimentos,UJM
Vitor Gomes Freire
Um Post excelente, que contribui também para denunciar este (e outros iguais) abutres da Finança. A Goldman Sachs é uma das mais influentes (se não o principal) cloacas financeiras mundiais. Um esgoto a céu aberto, cuja única preocupação é satisfazer o apetite voraz dos accionistas abutres que a constituiem. Manipula mercados, economias, bolsas financeiras, influência governos (porque se deixam assim influenciar, composta por gente de rebutalho, sem princípios e nem valores), destrói economias, pratica o tráfico de influências, tem ligações ao mercado de armas, etc, etc. Em resumo, é uma instituição financeira abjecta. Todavia, que o Mundo (e Portugal) aplaude, respeita, reverencia. Não tenho nenhum respeito pelo Goldman Sachs e sinto um profundo desprezo pela instituição financeira em causa. Quem lá trabalha, com funções de responsabilidade e de decisão, é alguém amoral, alguém que se identifica com a prática criminosa de manipulação financeira que a G-S leva a cabo, com vista a enriquecer ainda mais os bolsos dos seus conspurcados e venais accionistas. José Luís Arnaut, antes de ingressar nos quadros da Goldman Sachs já reunia todo o conjunto de defeitos morais e ausência de princípios e valores que aquela instituição financeira requer e exige, a quem contrata. E ainda por cima até é Catolico. Como os que estão no nosso governo, a praticarem as maldades e ataques sociais e económicos que se sabe - em nome da Igreja e do Capital Financeiro. E ainda lhe dão tempo de antena, como eu vi naquela treta com o Mário Crespo e uma figura anémica do PS, para fingir que havia ali um debate, quando se tratava de elogiar a figura, convencido, inchado, sorridente, sorriso de vampiro mau, com aquela cara de cínico, sem escrúpulos morais de alguma espécie. O futuro criado, ou homem-de-mão da Goldman Sachs estava que nem podia. Os outros viam pequenino (como ali disse), aquilo que o grande José Luís vê grande: os ricos mais ricos, os pobres (pessoas, empresas, países) mais pobres. Assim é o Mundo, assim deve continuar a ser, pensa o erudito Arnaut. Ir-se-á empenhar, dar o seu melhor, para contribuir que a Bem-Abençoada (tem por lá Católicos aos magotes) Goldman Sachs ainda fique mais rica e ainda consiga empobrecer mais ainda os suspeitos do costume. E não me admiraria que este amigo de Durão Barroso viesse um dia a ser PM. Aí, Arnaut só nos deixaria o ar para respirarmos – o resto teria sido vendido, a retalho e a preço de saldo pela Goldman Sachs. E Portugal desligar-se-ía de Espanha e desapareceria entre brumas e mar, como a Jangada de Pedra. Mas antes disso, Arnaut saltava para a bóia da G-S e acenava-nos, sem saudade, enquanto murmuraria: “missão cumprida!”
P.Rufino
Há oportunidades muito interessantes e também "madrassas" à altura de preparar os "oportunistas".
Abraço
Olá Joaquim!
O que eu gostaria era que Portugal não pagasse a traidores. Tomara que chegue a hora em que Portugal seja capaz de mostrar isso ao Arnaut, ao Gaspar e a todos esses que sem um pingo de consciência entregam os seus conterrâneos às mãos de abutres esfomeados.
Por enquanto, o que vejo são os asnôs ou asnos desta vida ainda a festejarem as nomeações e o interesse da Goldman Sachs em Portugal como se fosse uma honraria para o País. Uns parolos, uns papalvos.
Enfim.
Um abraço, Joaquim!
Caro Anónimo,
Quando vejo acidentes e, ainda por cima, acidentes com crianças no carro, fico assustada. Tenho tanto medo. Já tive um acidente complicado (do qual, felizmente, saí ilesa) e lembro-me bem o susto terrível que apanhei.
Obrigada por aqui ir deixando vídeos interessantes.
Olá Vítor Gomes Freire,
Foi bom que o 25 de Abril tenha acontecido e isso está fora de questão. Por mil anos que vivamos nunca agradeceremos o suficiente a quem nos libertou de um regime absurdo, tacanho, castrador, retrógrado. Mas tantos anos de vida atrofiada deram nisto: parece que não somos capazes de agarrar a oportunidade. Facilmente deixamos iludir-nos por farsantes, ignorantes, incompetentes. O resultado está à vista.
Mas tenho esperança de que, um dia destes, as coisas voltarão a entrar nos eixos e que, a médio/longo prazo, saberemos portar-nos como um povo que preza a liberdade, o desenvolvimento, o conhecimento, o respeito pelo ser humano.
Um abraço, Vítor Gomes Freire.
Pois é, P. Rufino,
Eu tento animar-me, tento manter viva a esperança mas a verdade é que parece que sinto o cerco a apertar-se. A venda das empresas estratégicas a estrangeiros (a empresas estatais ou de gestão algo duvidosa ou, ainda, a empresas que não se percebe que valor acrescentado trarão) é uma coisa grave, irreversível. Os centros de decisão acabarão por sair de cá, o trabalho qualificado sairá desvalorizado, o investimento em Portugal cairá.
Além disso, a presença da Goldman Sachs em todas estas operações repugna-me. Estes sujeitos estão metidos em tudo o que é esquema, têm uma folha de serviço mais suja do que sei lá o quê. E o governo, depois de todos os swaps tóxicos que eles impingiram e que tanto prejuízo deram, ainda os contrata.
Que coisas asquerosas a que assistimos, senhores.
e a oposição (anémica! - tem toda a razão) caladinha como meninos do coro. Que impressão.
Mas, enfim, mantenhamos a calma e o ânimo (até porque de outra forma não teremos disposição para denunciar as desgraças a que vamos assistindo, não é?).
Uma boa semana para si, P. Rufino!
Olá jrd,
Tem razão. Algumas escolas de gestão e algumas juventudes partidárias são viveiros onde algumas instituições recrutam os seus pontas de lança.
É isto o novo mundo civilizado, jrd? Como pôr cobro a esta triste realidade?
Pergunto e sei que não há resposta...
Um abraço, jrd.
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