terça-feira, agosto 06, 2013

A entrevista de Helena Sacadura Cabral no Diário Económico: um frete para melhorar a imagem de Paulo Portas, um gesto de carinho de mãe para ajudar o filho que está com a popularidade em baixo ou apenas a opinião de uma mulher livre?


No meu texto anterior, em que falava de outros assuntos, apareceram-me comentários relativos à entrevista de Helena Sacadura Cabral concedida a Cristina Esteves no Diário Económico. 


Fui ver, curiosa. 



The Lady in Violet,
é mãe de Miguel e de Paulo Portas mas é, antes disso, Helena Sacadura Cabral 



Do que li, percebo que foi uma longa entrevista e, por isso, tem sido publicada em 'fascículos'.

O último deles, à hora a que escrevo, pode ser visto aqui (Votaria em José Sócrates contra Durão Barroso) e os anteriores, respectivamente aqui (Fomos um esgoto de ensaio) e aqui (O que o meu filho sofreu até agora só ele e eu é que sabemos).


Cá por casa - não escondo - a opinião que ouvi foi semelhante ao que os comentários deixam transparecer: Paulo Portas viu o País virado contra si, as críticas têm sido demolidoras e, para tentar atenuar o desastre, os experts em comunicação e imagem, sabendo que a mãe é simpática e figura bem conhecida, acharam que, pondo-a a ela a falar na crise e no filho e nas razões que lhe assistiram ao longo deste processo, o zé povinho sentiria compreensão e, de certa forma, perdoaria ou, pelo menos, deixaria de sentir aversão que agora tem demonstrado.

Ou seja, que a entrevista de Helena Sacadura Cabral não passaria de um frete feito para limpar a barra de Paulo Portas.


Claro que eu não sei o que se passou para que esta entrevista acontecesse justamente agora, e nestes moldes, nem tenho procuração de ninguém para dizer isto, aquilo ou o outro.

Não conheço Helena Sacadura Cabral (HSC) pessoalmente. Conheço-a do que ela escreve, dos comentários em torno dos blogues, de a ver em entrevistas na televisão. No entanto, e para que fique bem claro - à laia de declaração de interesses - apesar de apenas a conhecer por esta via, simpatizo com ela. Acho-a inteligente, lúcida, divertida, uma valente, uma mulher de fibra, uma jovem.

Por isso, o que vou dizer decorre do que eu penso racionalmente mas, claro, é influenciado pelo que sinto.

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Música, por favor
(que parece que me vai ser mais fácil escrever se estiver a ouvir música) 

[Não é Bill Evans mas é uma jovem de 30 anos que canta muito bem e cujas canções me encantam]

Alele Diane interpreta Age Old Blue





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1. Até admito que possa ter havido alguma concertação ou conjugação de interesses para que esta longa entrevista tenha decorrido agora. É politicamente oportuna para Paulo Portas e imagino que produza bom efeito. 

Mas uma coisa é certa: se eu fosse jornalista, e sendo a HSC uma mulher conhecida por ser espontânea, bem disposta, bem falante, não se eximindo a opinar sobre política e sobre a actualidade, e sendo a mãe de um ministro debaixo de fogo, eu tentaria entrevistá-la. Seria um sucesso garantido. É tema que desperta interesse. Por isso, acho que é um bom furo jornalístico e pode ter acontecido por razões independentes de interesses partidários. Mas, para mim, isso é-me indiferente.



2. Também admito que ela, mesmo não gostando que o filho esteja na política, e mesmo discordando do que ele defende e mesmo não gostando da sua última atitude, como mãe, sinta vontade de o ajudar.


Eu, que sou mãe de filhos que têm a sua vida profissional, não me passa pela cabeça que me viessem chatear a mim pelo que eles fazem no trabalho. O que é que eu tenho a ver com isso? Ou que me viessem fazer queixas da forma como eles se portam no trabalho - sei lá eu das razões deles. Os meus filhos são maiores e vacinados, agem profissionalmente em total independência em relação a mim. Seria uma coisa absurda virem bater à minha porta para me chatearem pelo que eles fazem no trabalho deles, ou na vida deles.

É a mesma coisa que o meu caro Leitor ser incompetente no seu trabalho ou fazer, por exemplo aqui, um comentário menos agradável e alguém, não gostando disso, achar que deveria ir aborrecer a sua mãe (ou, quem diz mãe, diz outro elemento da família próxima), fazendo-lhe queixa de si, querendo quase que ela assumisse parte da responsabilidade por actos que não são os dela mas os seus. Não faria qualquer sentido, não é?

Claro que fico contente se sei que os meus filhos são bem sucedidos ou que o seu trabalho é apreciado mas isso é coisa mesmo de mãe. E, se alguma coisa lhes corresse menos bem, eu ficaria preocupada por eles, e, se soubesse que a culpa era deles, em privado dava-lhes na cabeça, tentaria que eles percebessem que não deveriam voltar a cair na mesma, mas apoiá-los-ia pois uma mãe não quer que os filhos sofram (mesmo que a culpa seja deles). 

E, como mãe - mesmo que em casa me moesse toda e os moesse a eles, lhes implorasse que tivessem juízo, que se deixassem daquilo, que não voltassem a asneirar, que não me cansasse de lhes mostrar que tinham feito asneira da grossa, que me tinham desapontado, e lhes explicasse que estavam a desperdiçar os melhores anos da sua vida e a dar cabo da minha tranquilidade - se tivesse oportunidade de tentar, em público, atenuar a má imagem deles, fazer com que as pessoas sentissem alguma empatia pelos meus filhos, não tenham dúvidas que o faria. Dúvida nenhumas.



Helena Sacadura Cabral durante a entrevista concedida a Cristina Esteves


[O décor é uma beleza: será em casa dela?
Assim de relance, não nesta fotografia mas na outra que acompanhava a entrevista,
também poderia ser numa salinha do Pestana Palace. Muito bonito.]

3. Dito isto, acredito também numa coisa. Se convidaram a HSC para uma entrevista (tenha sido por habilidade política, tenha sido apenas um furo jornalístico) e se ela a concedeu (e tenha tido a intenção ou não de ajudar o filho), uma outra coisa me parece evidente: Helena Sacadura Cabral já não precisa de provar nada a ninguém. A sua vida tem sido pública qb para sabermos o que pensa, para sabermos que trabalha, que tem opiniões, que é uma mulher livre e que preza a sua liberdade intrínseca. E faz ela muito bem. Grande parte da fantástica energia que se lhe conhece deve provir desse seu amor à liberdade que a tem feito manter-se inteira e fiel a si própria.


Tem o direito de fazer o que muito bem lhe apetece, de dizer o que pensa, o que sente, o que quer, o que não quer, tem o direito de se rir, de hesitar, de barafustar, de ser polémica. Tem o direito de ser livre.


4. Os que me lêem sabem o que penso de Paulo Portas. Não me revejo no CDS, não sou conservadora, não sou de direita, não me revejo na sua forma de fazer política.

Paulo Portas é demasiado errático e populista para o meu gosto, parece não ter uma linha de rumo pois parece comprometer todos os princípios em favor de um cargo de poder e, sobretudo, não aceito e não desculpo a quebra de palavra que demonstrou. 


Não que eu tivesse grandes ilusões acerca dele enquanto político mas, como homem, não esperava tão grande reviravolta, tão espalhafatosa prova de falha de carácter. Quando se toma a atitude que ele tomou em público, não há volta atrás. Além disso, achando o que acho da perigosa condução governativa de Passos Coelho, não consigo perceber o que leva Paulo Portas a contradizer todo o programa político do CDS, aliando-se a tão sinistras e medíocres figuras. Por isso, considero-o co-responsável pelo desastre que está a acontecer a Portugal.

A última sondagem mostra que os portugueses o culpam pela crise provocada (o que nem será inteiramente justo pois quem deu o tiro fatal foi Gaspar, saindo quando e como saíu) e mostram uns ridículos 3% nas intenções de votos.


Mas isto é o que eu penso dele enquanto político. E isto não tem nada a ver com a mãe dele. Ele pode fazer as tropelias que quiser que eu não vou chatear a mãe dele por causa disso. 


E mais: quando aqui me atiro a ele, penso sempre nela. Penso sempre, gaita!, que chato eu estar a escrever isto, que chato para ela saber que as pessoas pensam isto dele. E peço a todos os anjinhos para nunca eu ter que passar pelo que ela seguramente passa, quando tem o filho debaixo de fogo.

Mas o filho anda à chuva, molha-se, e é natural que os salpicos sobrem para ela. São alguns dos horríveis efeitos colaterais de estar na política. 

Mas penso que HSC tem defesas para aguentar. Que remédio. Há tantos anos a levar pela esquerda e pela direita, já deve estar quase couraçada.

Claro que ela, na família, é a brava do pelotão. Tem sobrevivido às mais duras provas e sai inteira. As suas inesgotáveis jovialidade e energia são a sua maior vitória.


E é certamente ao seu conforto de mãe que o filho volta quando sai destroçado de uma batalha (e é natural que o faça; os filhos, quando confiam no saber e no bom senso das mães, gostam de se acolher junto delas).



E deixem-me ser outra vez um bocadinho frívola:
é que não apenas simpatizo, como também gosto das toilettes,
das assimetrias, dos colares, pulseiras, brincos, anéis, dos improvisos
que revelam modernidade e bom gosto

(e aqui a carteira cinza-claro a condizer com a saia fica lindamente,
e faz sobressair o branco do restante;
eu poderia vestir-me exactamente assim)


5. Finalmente: gostei de ler a entrevista, claro. É a Bárbara Helena que conheço (remotamente, é certo), é a mulher de fala franca, riso espontâneo, opiniões abertas, de afectos, de gosto pela vida. 

Posso concordar plenamente com algumas coisas que ela diz ou discordar frontalmente com outras. É natural. Não é por simpatizar com ela que pretendo concordar com tudo o que ela faz ou diz. Nem é por não assinar por baixo (e como poderia fazê-lo? A entrevista é dela, não minha) que não deixo de considerar uma boa entrevista.

E penso que a Cristina Esteves fez uma boa entrevista e está também de parabéns. 


Claro que não mudei um milímetro a opinião que tenho de Paulo Portas mas a entrevista foi à Helena Sacadura Cabral e não a ele. Em relação ao actual vice-primeiro ministro penso ipsis verbis o que pensava antes. 


Se alguém, ao ler a entrevista dela, mudar de opinião em relação a ele, que é que se pode dizer em relação a isso...? Não sei. Talvez que tem cabecinha fraca.



N.B.:  Ainda mais uma coisa: publico quase todos os comentários. Mas às vezes exerço o direito de censura sobre alguns. Foi o caso de hoje. Se penso que os comentários resultam de opiniões políticas ou pessoais e como tal devem ser entendidos por quem os lê, publico-os. Se considero que contêm matéria que pode magoar pessoalmente alguém em particular, tocando onde dói mais, não os publico. Por isso, não levem a mal por não verem todos os comentários que escreveram mas, por favor, percebam que não é só por poderem magoar a Helena Sacadura Cabral, é também porque se me fossem dirigidos a mim, como mãe, eu ficaria de rastos.


***   ***   ***

E, por hoje, aqui me fico. A ver se amanhã reencontro a concentração necessária para voltar a escrever no Ginjal. Sinto falta.

Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela terça feira!!!!

7 comentários:

Anónimo disse...

se fosse só o amor incondicional de Mãe, a malta até compreendia, o problema é que este amor incondicional passou para:primo,marido,mulher,sobrinho,chefe,subalterno,amante,amiga da amante e por aí fora.

Anónimo disse...

"Se considero que contêm matéria que pode magoar pessoalmente alguém em particular, tocando onde dói mais, não os publico".Há quem use o argumento de "superior interesse nacional".A entrevista dela ofende-me(dói), a defesa dela por si, ofende-me(dói), mas ficou ao meu livre arbítrio ler ou não.

Helena Sacadura Cabral disse...

Cara UJM
Quer se acredite quer não, a Cristina Esteves, na sequência da entrevista televisiva que me fez a propósito do meu último livro, há meses, pediu-me esta. Eu prometi da-la.
Cumpri agora, sabendo que ela seria objecto de múltiplas interpretações. Aceitei o risco.
Disse bastante mais do que veio publicado. Disse o que penso, como sempre fiz.
Se como cidadã e como mãe, apenas se vê que tentei "limpar" a imagem do meu filho, é porque não leram bem o que eu disse. Mais, até me criticam por dizer que o governo já deu o que tinha a dar. Mas é o que penso.
A si, agradeço as suas palavras, porque vieram de quem tem dito do Paulo o que entende. E eu nunca deixei de visitar este seu blogue por isso. Pelo contrário.

Isabel disse...

Engraçado, que eu pensava que conhecia pessoalmente a HSC. Sigo o blogue dela há anos, quase desde o príncipio (ainda nem tinha o meu e num tempo em que a HSC ainda respondia a todos os comentários) e foi através dele que cheguei ao seu.
Admiro a HSC e admiro-a a si!
Não admiro o Paulo Portas.
Não li a entrevista, mas gostei de ler o seu post.
Um beijinho

Anónimo disse...

blog que também frequento (Alguém ainda se lembra dos "limites" que Paulo Portas não podia ultrapassar?) - http://derterrorist.blogs.sapo.pt/2389512.html

Pôr do Sol disse...

Cara Jeitinho,

Obrigada pela partilha da entrevista a HSC. Tinha intenção de a ler desde que a referiu no Fio de Prumo.

Admiro a lucidez e inteligencia daquela Senhora e muitas vezes me lembro como sofrerá ouvindo os horrores que dizem do filho e todas as culpas que lhe atribuiem.

Penso que Paulo Portas não sendo um novato na politica, viciou-se nela, mas não tem nada a ver com Passos Coelho e afins. Agora entrou numa "engrenagem" de onde é dificil sair ileso. É como diz um tio velhinho: pensou que se benzia, partiu o nariz(ou estão a partir-lho).

Pôr do Sol disse...

Cara Jeitinho,

Obrigada pela partilha da entrevista a HSC. Tinha intenção de a ler desde que a referiu no Fio de Prumo.

Admiro a lucidez e inteligencia daquela Senhora e muitas vezes me lembro como sofrerá ouvindo os horrores que dizem do filho e todas as culpas que lhe atribuiem.

Penso que Paulo Portas não sendo um novato na politica, viciou-se nela, mas não tem nada a ver com Passos Coelho e afins. Agora entrou numa "engrenagem" de onde é dificil sair ileso. É como diz um tio velhinho: pensou que se benzia, partiu o nariz(ou estão a partir-lho).