Chega-se lá vindo de Vila do Bispo por uma estrada pelo meio dos campos. A dada altura, num alto, a estrada bifurca para a direita, para a Praia da Cordoama que também é bem bonita.
Mas não se vá por aí. Desça-se pela esquerda, por uma estrada estreita que desce para o mar.
Há sítio para estacionar lá mais para baixo, bem perto do acesso ao areal. Contudo, por ser mais fácil a manobra, costumamos deixar o carro numa zona de parque cá mais em cima, à direita de quem desce. Depois são uns escassos metros a pé. À direita, num ponto com excelente vista, há um restaurante de praia com esplanada.
Chegamos, então, à praia. O areal distribui-se em concha, aconchegada entre as falésias rochosas. À direita, logo à entrada, juntam-se os surfistas. Depois, à esquerda e à direita distribuem-se os veraneantes, geralmente estrangeiros. Contudo não é essa a parte da praia de que mais gostamos nem é aqui que ficamos. Para nós, aqui não é o nosso Castelejo.
Ao Castelejo deve ir-se com a maré vazia e explico porquê.
Andando para a direita (com o mar em frente) há uma rocha muito alta e umas quantas mais baixas.
Quando a maré está alta, a praia acaba aí. Contudo, quando está maré baixa, passando para lá dessa rocha alta e dessas rochas mais baixas, entra-se então numa outra praia.
Mesmo que na parte principal e mais conhecida esteja vento (e isso é frequente), na parte de que falo, geralmente não há. Aí é o deslumbramento. Espaço, largueza, um imenso areal polvilhado de rochas - e quase ninguém.
Andando até ao fim dessa praia chegar-se-á ao ponto em que se passa para a Cordoama, mas apenas vamos até lá ao fazermos as nossas caminhadas.
Não me perguntem porque é que as pessoas gostam de se amontoar na praia onde o acesso desagua e não andam mais uns metros para entrarem nesta praia paradisíaca da direita (sendo que, para mim, praia paradisíaca não é a praia de areal liso, mar chão e palmeiras à beira de água mas sim, como tenho dito, uma praia de mar batido, rochas onde o mar se enrola, limos, algas, cheiro a maresia, areal com conchas, pedrinhas).
De facto, se a maré está cheia não há outro remédio senão ficar pela praia da entrada. Por isso, só vamos com maré vazia para podermos passar para o lado de lá.
Também nunca vamos carregados para podermos andar um pouco mais sem nos cansarmos e para podermos lá ficar até a maré estar quase cheia.
Muitas vezes, ficamos lá até ao limite da maré e atravessarmos o estreito de que falei com água já pelas pernas, senão mesmo quase pelo peito .
Temos uma toalha grande daquelas muito fininhas da Decathlon (não sei se serão de camurcina; mas sei que não são de turco), que não ocupam espaço quando dobradas nem pesam. Temos uma pequena mochila térmica da Sportzone. Aí cabe tudo: essa toalha grande que dá para dois, uma garrafa de água, fruta, iogurte líquido, protector solar, os documentos, os telemóveis, a máquina fotográfica, um livrito*, e cabe a roupa que despimos e que também é leve e facilmente dobrável. Se calha ser de tarde ou não estar muito sol, não levamos mais nada. Se calhasse ser hora de sol, levávamos um pequeno chapéu de sol, muito leve. Mas agora há uma solução bem melhor, uma espécie de mini tenda que se atira para o chão e fica instantaneamente montada, leve como uma pluma, misto de chapéu de sol e abrigo do vento. Fechada, fica um círculo espalmado que se transporta ao ombro (há também na Decathlon, a baixo preço).
Quando caminhamos e somos só os dois, toda a bagagem vai na mochila. De qualquer forma, se o Leitor ou a Leitora gosta de ir de chapéu de sol grande e tradicional, cadeiras, geleiras, grandes toalhas turcas, raquetes, barbatanas, etc, mesmo assim lhe digo que a distância a percorrer não é grande e que não chegará cansado à zona da praia de que falo.
Esta praia tem um senão: porque o mar é batido e há muitas rochas, nunca me aventuro em grandes natações. Mergulho, dou umas braçadas e pouco mais. Claro que para intrépidos aventureiros ou surfistas impenitentes isto é um desafio. E, para os mais timoratos, há sempre as pequenas piscinas naturais que se formam junto às rochas e que dão para se estar de molho (...estar de molho, é como quem diz, que a água nunca é especialmente quente...).
De qualquer forma, não é como, por exemplo, a Meia-Praia que, essa sim, é óptima para nadar.
Mas é uma praia de uma beleza natural extraordinária. Se ainda nunca foi ao Castelejo, sugiro que não deixe de a conhecer.
/\
* Asterisquei lá em cima a palavra livrito para vos falar de uma coisa que, até ao ano passado, era uma excepção e que este ano foi recorrente.
É frequente nestas praias frequentadas por muitos estrangeiros (como é o caso de todas as da zona de Sagres e Lagos) que quase toda a gente esteja na praia a ler. E se, até aqui, quase todos liam livros de bolso (paperback), este ano fui surpreendida com a invasão de kindles.
Nas praias ou na piscina do hotel ou nas esplanadas vi kindles por todo o lado. Folheando como se se tratasse de um livro, ali estava meio mundo a ler os e-books.
Não há dúvida que é prático, leve. Eu que vou sempre carregada de livros e que acabo por apenas ler metade dos que levo, escusava de levar aquele carrego e de ouvir o meu marido sempre a protestar pela minha falta de sentido prático.
Fiquei a pensar que, quando se viaja, é de facto muito prático. Claro que, pensando nisso e pensando na possibilidade de me vir a render a esta tendência (que, pelo que vejo, já é mais do que uma tendência: já é uma realidade), sinto uma angústia: e depois deixava de ter livros em papel? Deixava de ter a mesa cheia de livros? Deixava de ter aqueles problemas - tão gostosos - de tê-los desarrumados e precisar de mais estantes?
Não sei, não.
^^
Ainda cá volto.
5 comentários:
Olá UJM,
Obrigada por ter dado a conhecer as Praias do Castelejo e Cordoama, pois não as conheço e fiquei com curiosidade em explorar essa zona do Algarve.
Continuação de boas férias, com muita saúde.
Um beijinho
Jamais irei aderir a semelhante moda. Um livro é um livro, um kindle uma aberração. Daqueles que conheço que os possuem, não são grandes leitores, no sentido cultural do termo. São mais do tipo leitor com vista a obter informação, muita das vezes relacionada com a sua profissão, etc.
Comigo não pegará. Essa malata, se repararmos, enfim, falo dos que conheço, não eram habituais leitores antes e passaram a sê-lo mais pelo objecto do que pelo que leem. Posso estr errado, mas foi o que observei.
P.Rufino
Eu sou daquelas que tenho a certeza absoluta que nunca, mas nunquinha, me vou render a essas modernices. Não gosto! Para mim livro é livro.
A melhor prenda que me podem oferecer são livros e o que mais gosto de comprar para mim, são livros.
Antigos, novos, sóbrios, coloridos, fininhos, grossos, grandes, enormes, miniaturas...LIVROS!
Não há nadinha que os possa substituir!
Mas esta é apenas a minha opinião.
Continuação de boas férias!
Um beijinho
(Também li o post anterior. Também simpatizo bastante com os princípes e desejo-lhes felicidades)
Imagino o traumático que deve ter sido a passagem dos rolos de pergaminho para o papel impresso. Quantos juraram que nunca leriam aquelas coisas escritas num material tão perecível como o papel? Na verdade, isso representou uma drástica alteração no mundo.
O futuro do livro está nos dispositivos electrónicos, nos eReaders. Poupam a floresta, lêem-se muito bem (tenho um Kindle e um Kobo, um para ficheiros mobi outro para ficheiros epub e sei do que falo), melhor que em papel, permitem ter livros sempre à mão, permitem comprar livros a qualquer hora e em qualquer sítio (não será uma virtude, mas...). Isso, porém, não significa que não se comprem livros em papel. As estantes vão continuar a encher-se, mas o livro em papel é já definitivamente uma coisa do passado, embora isso não seja visível. Vai acabar, mais tarde ou mais cedo, como os discos de vinil, um negócio de coleccionadores. É uma questão de tempo.
Só há uma coisa que não leio - por enquanto - em dispositivo electrónico: poesia. Bem, não é verdade. No iPad lê-se bem, mas os tablets têm demasiado brilho e cansam a vista. Os eReaders, pelo contrário, não são agressivos para a vista e permitem aumentar a letra (os tablets também). Por outro lado, os dispositivos electrónicos permitem aceder a muitos livros gratuitos, permitem, também, que se transformem textos - encontrados na internet, por exemplo - em livros, o que torna a leitura desses textos muito mais fácil e agradável. Depois, pode-se sublinhar, anotar, etc.
Deveria ser obrigatório o uso de eReaders nas escolas, substituindo os actuais manuais por ficheiros digitais. Seria mais barato e as crianças evitavam transportar toneladas de papel às costas. Mas também aqui a mudança será inevitável.
Não concordo com a última opinião, no sentido em que diz "que o livro em papel é uma coisa do passado e vai acabar como os discos em vinil, negócio de coleccionadores."
Eu compreendo o exemplo da passagem dos rolos de pergaminho para o papel, mas reparemos que a simples mudança de material ao mesmo tempo que fez explodir os hábitos de leitura por outro lado terminou com o hábito de se realizarem algumas obras-primas da Humanidade, trabalho especializado e único de inúmeros artistas.
Isto é, se o vinil ou o livro em papel se reduzissem #apenas# ao seu material, já não eram produzido, nem tão pouco havia coleccionadores. As pessoas valorizam o vinil por causa do som e por causa da imagem, o que significa que oferece algo mais do que apenas o seu suporte. É por isso que o livro em papel não irá acabar nunca, porque em alguns casos continua a ser uma obra de arte e em alguns casos continua a valorizar-se, que seja por uma simples assinatura, quer seja por uma palavra acrescentada em lápis ou tinta, ou seja, continua a ser sempre um veículo de transmissão de conhecimentos sempre eterno porque está sempre a mover-se e a crescer,
não é apenas um material comestível como manuais estudantis ou jornais.
Eu até conheço e uso os dois lados da questão, e por isso compreendo as limitações e benefícios de ambos. Um leitor\organizador de livros electrónicos tem enormes vantagens, permite ter numa caixinha de mão milhares de livros e de documentos, permite que numa tarde se possa aceder a toda a cultura escrita produzida pela Humanidade que quisermos (e cada vez mais, a cada dia que passa), sem estragá-la com suores ou humidades, e sem nos limitarmos aos condicionalismos das bibliotecas\arquivos. Posso aceder a questões americanas, da África do Sul ou da Micronésia sem sair de casa. Isto sim, é verdadeiramente revolucionário. Por outro lado, também posso transportá-los para qualquer lado que não pesam nada, não trazem pós ou outro bichos, não ocupam espaço.
Mas são apenas ficheiros, não tem cheiro, nem textura, são impessoais e sem vida.
As Disquetes de computador, por exemplo, eram apenas um material que oferecia um pequeno armazenamento de ficheiros. Tendo em conta o armazenamento que hoje em dia se vende, é natural que tenham desaparecido, nada mais acrescentam àquilo que inicialmente propunham.
Enquanto o vinil e o livro em papel forem mais do que simples material, vão continuar a ser produzidos.
Aliás, basta ler o que Isabel esceveu: mostrou que alguns livros têm personalidade, podem ser "sóbrios" ou "fininhos" - e isso faz toda a diferença em relação aos "ficheiros".
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