segunda-feira, julho 08, 2013

A obnóxia solução governativa encontrada entre os desacreditados Passos Coelho e Paulo Portas e a forma como Cavaco Silva está a gerir tudo isto são um exemplo de tudo o que não faz qualquer sentido em política e na forma de gerir uma crise. A primeira é uma estupidez na forma e no conteúdo, a segunda é incompreensível. A primeira e a segunda conjugadas são um perigo para Portugal. Veja-se um sintomático e estranhíssimo aplauso que estes três receberam na missa de D. Manuel Clemente nos Jerónimos. Se há alguém a rir nesta história, ri de quê? // E, in heaven, as minhas uvas verdinhas, e a esteva ruiva num campo com pequeno bosque em fundo e uma pele enorme entre as ramagens do cedro


missa de Manuel Clemente, Cardeal Patriarca de Lisboa

Este domingo, Paulo Portas cumprimenta efusivamente, sorriso embevecido, com ambas as mãos, Passos Coelho

(Assunção Esteves olha de lado, com um sorrisinho, quase sem conseguir acreditar.
Deve estar a pensar: Ou são doidos ou são uns hipócratas! 
ou então o sorrisinho é também embevecido e pensa: Meus lindos meninos, tão amiguinhos....)

- isto passou-se "Depois de ter tomado posse como Patriarca de Lisboa, neste sábado, D. Manuel Clemente celebrou, hoje à tarde, a sua primeira missa, na Igreja de Santa Maria de Belém, no Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa".



Tudo o que se tem vindo a passar - a dissolução de conceitos estruturantes de qualquer sociedade como a dignidade, a honra, a nobreza de carácter, a verdade, a lealdade perante compromissos assumidos - degrada a coesão entre os cidadãos, ensombram o discernimento, estimulam o lado menos generoso das pessoas. 

A sociedade portuguesa é, cada vez mais, uma sociedade menos solidária, menos esclarecida, mais irracionalmente extremada, mais disponível para gestos fratricidas.

As manifestações a que se assiste são preocupantes e indiciam a doença que começa a alastrar.


A Entrada Solene do novo Patriarca de Lisboa foi marcada, este domingo, pelos aplausos do público presente no Mosteiro dos Jerónimos, e apesar de D. Manuel Clemente ter sido o mais saudado, as palmas soaram com fervor quando se assistiu à entrada do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e, pouco depois, à do Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva.


E quando se tenta perceber: mas o que fizeram estes tristes personagens, Cavaco Silva e Passos Coelho, para serem aplaudidos?, não se encontra uma única explicação. Ou melhor, encontrar até se encontra. Mas é uma explicação muito preocupante.

É certo que a Igreja dos os Jerónimos se situa em plena zona residencial do Restelo, onde as pessoas são tradicionalmente conservadoras, frequentemente saudosistas e pouco esclarecidas. Mas, ainda assim, é gente que tem muito a perder com o poder exercido por gente incompetente, a raiar a idiotia. É que creio que, mesmo os mais conservadores deste País, já estarão ao corrente de que este grupelho que tem andado a governar Portugal, destruindo-o, tem andado a aplicar uma receita que já é unanimemente aceite como errada, inclusivamente pelos que a gizaram e aplicaram (como é o caso de Vítor Gaspar cuja carta de demissão convém não esquecer).

Transcrevo um dos mais recentes (e repetidos) casos de mea culpa:

O ajuste orçamental "brutal" não tem de ser levado até ao seu "máximo", disse hoje a diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, admitindo erros cometidos pelo organismo na sua avaliação sobre a situação de alguns países.

"Temos de ter uma perspetiva a longo prazo", disse hoje a directora-geral do FMI num encontro de economistas em França.

E de tal maneira falhou a política seguida cegamente pelo desGoverno de Passos Coelho e Paulo Portas e apadrinhada por Cavaco Silva (e por mais alguns crentes) que o 2º resgate vem a caminho. Segundo noticia o El Pais este novo resgate está a ser preparado na moita, e será brando (talvez para não matar de vez, pela asfixia, pela tortura e pela fome todos os portugueses). Uma vergonha. Tudo isto é um vergonhoso falhanço.

*

Quanto à estúpida - mas tão estúpida, senhores, tão, tão estúpida! - solução governativa que Paulo Portas e Passos Coelho engendraram, até tenho dificuldade em pronunciar-me.

Passos Coelho delega a sua liderança em Paulo Portas...?!

Se é o que se tem apregoado, não apenas é incompreensível, como é estúpido, como, sobretudo, não vai funcionar.

Todas as coisas, quando são estúpidas para além da conta, estão ab initio condenadas ao fracasso.

Mas passo a palavra a Marcelo Rebelo de Sousa no comentário da TVI:


«Portas ganhou alguma coisa no Governo, mas perdeu imenso na opinião pública. Passos perdeu alguma coisa no Governo, mas ganhou alguma coisa na opinião pública», resumiu, no comentário do Jornal das 8 da TVI.

Sobre o acordo alcançado entre PSD e CDS que foi apresentado ao Presidente da República,(...): «O jarrão partiu-se, restaurou-se e agora vale menos», sublinhou, acrescentando que está convencido que Cavaco o vai aceitar e fazer uma declaração ao país.




Paulo Portas não brinca em serviço, nem dorme na forma.  Repare-se nos olhos. Não estão fechados: não, espreitam.

Enquanto Passos Coelho joga as mãos à cabeça a tentar perceber onde é que se meteu, Paulo Portas faz de conta que está muito compenetrado a rezar... mas os olhos não enganam



«Para Portas ter mais pastas, o país pagou uma factura enorme. Estes vipes emocionais acabam por desgastá-lo imenso. Pode sair formalmente cheio de peso do Governo, mas sai sob suspeição, quer do PSD, quer dos eleitores», afirmou.



E, para a coisa, ficar equilibrada, agora a opinião de José Sócrates na RTP 1:

"Temos uma coligação invertida porque os principais dossiês do país foram entregues ao CDS", explicou, considerando que o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros não saiu nada bem deste "folhetim".

"O que tenho para dizer de Paulo Portas não é nada lisonjeiro. É um bailarino que acabaria por tropeçar nos seus próprios pés", exemplificou. "Na carta que escreveu houve três palavras-chave: irrevogável, consciência e dissimulação. Uma carta destas não tem volta atrás. O nível de credibilidade de Paulo Portas está neste momento reduzido a zero".


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Perante tudo isto, o que faz Cavaco Silva? Nada.

Pelos seus actos e omissões, ficará, sem dúvida, associado a um período negro da História de Portugal.

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E às pessoas que ficam chocadas com a minha frieza de análise (ou ao calor da minha análise, como queiram) e que acham que devemos sentir compaixão por Paulo Portas ou Passos Coelho ou Cavaco Silva porque têm as suas razões e isto, aquilo e o outro, eu digo: sei disso. Sei que são humanos. Sei que têm as suas razões. Tento compreendê-las.

Mas sei também que os seus actos custam muita miséria a muita gente, muitas falências, muito desemprego, colocam o país à beira da insolvência (com tudo o que isso pode implicar - e pense-se, por exemplo, no que aconteceu em Chipre). A nossa compaixão pessoal não pode fazer-nos esquecer a responsabilidade pelos danos irreversíveis que eles estão a causar muitas pessoas e ao País.


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Custa-me acabar este texto assim, sem uma palavra agradável. Mas tudo isto incomoda-me de tal forma que fico sem inspiração.

De qualquer forma, para ver se entra aqui algum ar puro, deixem-me que vos mostre como estão as minhas parreiras: verdes, verdinhas. Tomara que estes calores não impeçam o desenvolvimento normal das uvas.




E vejam como estão as estevas. Desapareceram as florzinhas brancas de olhinho amarelo. Agora estão castanhinhas. O campo parece uma seara ruiva. Ao fundo as figueiras, os pinheiros, árvores já grandinhas, verdes. Há uns anos eu dizia, ainda aqui vou ter um bosque. Riam-se de mim. As pessoas sonhadoras dão vontade de rir. Mas agora há zonas em que já se adivinha um pequeno bosque, cheiroso, sombrio, fresco, atapetado.




Ontem o meu marido disse-me que tinha descoberto uma pele de cobra numa árvore, no cedro que está perto da romãzeira. Fui à procura, máquina na mão, pronta para a reportagem. Pensei que estaria no chão. Não a encontrei.

Afinal estava na própria árvore. E era enorme. Seguramente uns dois metros ou mais. Não tenho como vos mostrar toda a pele pois entrelaça-se nos ramos. E, para apanhar mais, fica mais pequena na fotografia, acaba por não se perceber.

De entre as que tirei, escolhi esta aqui abaixo pois dá mais ou menos para perceber. Reparem como a pele, que está bem visível em primeiro plano, continua e volta a aparecer lá mais em cima, uma meia argola pendurada, do meio para a esquerda. E continuava cá em baixo, mas aqui não se vê.

Há qualquer coisa de peculiar nas cobras, esta sua faculdade de mudar a pele, deixá-la para trás. E seguir em frente.




Também vos quero mostrar a força da natureza.

Havia uma azinheira pequenina, esguia.

À sua frente imaginei um muro em redondo para cortar o vento que vem do lado da serra. Entretanto a azinheira fez-se adulta, forte. Ao princípio ainda tentámos puxá-la para o lado oposto ao do muro. O arame verde acabou esquecido, foi absorvido pelo tronco (ainda se vêem umas pontas). A árvore foi crescendo na direcção que escolheu. Mas respeitadora (até ver). Aconchegou-se ao muro. Como podem ver, entra pelo muro e o muro entra pelo tronco.




Há coligações que funcionam e esta que existe entre a azinheira e o muro já dura há muitos anos. Vamos ver se é para sempre.

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Gostaria ainda de vos convidar para o meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Há bocado abri ao acaso o Lendas da Índia do Poeta-Embaixador e pasmei com a oportunidade do que li. Numa noite impassível, entregues a mãos infantis e cruéis, percebi que somos pouco mais que plasticina. Se forem até lá, poderão comprová-lo.

A música que se segue ao poema é diferente: hoje temos os Dead Combo. Muito bom.

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E já chega, não é?
Tenham, meus Caros Leitores, uma boa semana, a começar já por esta segunda feira.


2 comentários:

Anónimo disse...

Aquela representação nos Jerónimos meteu nojo. Portas, o irreversivel, derretido em sorrisos para Passos, o diminuído, o PR ali a pairar, a Miss Prada, tudo aquilo é de meter asco.
O Cardeal a falar ao Poder e a uma classe que se agarra a estes figurões com medo do seu futuro, enfim, isto vai de mal a pior. Uma encenação rasca, em que só acredita quem precisa desta gente inqualificável.
O fotógrafo foi sublime. Tirou uma fotografia e pêras. Que diz tudo sobre o que todos eles são, em boa verdade. As hipocrisias, o cinismo, a mentira, está tudo ali. Em resumo, o Poder – actual. Com os sorrisos da podridão de que são feitos.
Prefiro as cobras. Comem os ratos. Tomara que comessem os ratos que ali estiveram naquela farsa dos Jerónimos.
P.Rufino

Pôr do Sol disse...

Estou farta destes farçantes!

Como é possivel ter uma postura destas numa igreja?

São "católicos" destes que têm enfraquecido a igreja.

Odeio cobras, mas ao menos estas quando não se sentem bem na sua pele mudam-na.

Gosto muito do campo, mas pelo tamanho da pele parece um bicho de respeito. Eu não descansaria enquanto este não fosse capturado e entregue a um zoo.Só de pensar num encontro com os seus pequenitos fico toda arrepiada.

Um beijinho e boa semana.