quinta-feira, maio 16, 2013

Em silêncio, o grito - no dia em que, pelo conjunto da sua obra poética, Nuno Júdice ganhou o Prémio Rainha Sofia, um prémio que distingue a poesia ibero-americana. O Um Jeito Manso, que é porto seguro para Poetas, acolhe-o aqui uma vez mais, tendo a seu lado Paula Rego. E muitos parabéns ao Poeta!!!!!!


Nuno Júdice ganhou hoje o Prémio Rainha Sofia, prémio destinado a distinguir a poesia ibero-americana. Em 22 anos de prémio, foi o segundo português a ganhá-lo. Antes apenas Sophia o tinha ganho, honrando desta forma este valioso prémio. Que bela precedência, pois.

A vida por vezes é tão estranha mas, outras, é tão boa. Que boa notícia foi esta hoje...! A bela e luminosa poesia portuguesa premiada!

Parabéns, pois, a Nuno Júdice, um homem cujo físico parece diluir-se no espaço que atravessa, que anda com muita suavidade e que, com discrição e delicadeza, tem vindo a oferecer à língua portuguesa poesia muito bela. Já o vi várias vezes e há pouco tempo até almocei numa mesa mesmo ao lado da dele. Nesse dia, que vontade tive de lhe pedir um autógrafo (ou um poema...) - mas, claro, não tive coragem. 

Estive a escolher um poema para aqui, no Um Jeito Manso, festejar este dia grande. Podia ter escolhido inúmeros mas, neste tempo irracional e tolhido pelo medo, resolvi escolher um que se chama 'Em silêncio, o grito'. Não é um poema festivo mas é o poema que me ocorreu para ilustrar a sua arte em tempos de chumbo. Claro que não podia deixar de trazer aqui Paula Rego e as suas mulheres que gritam, que guardam o grito, que escondem o terror dentro de gritos presos no peito.

(E para quem quiser ver outros poemas de Nuno Júdice aqui no Um Jeito Manso, é simples: basta clicar aqui.)

Resta-me enviar, de novo, os meus parabéns e desejar-lhe uma vida longa e feliz!!!








Onde ouviste esse grito que morre contra
as paredes, que atravessa os quartos mais fechados,
que não sai por janelas ou frestas, e que
rasga a garganta de quem o sonhou? Foi
no silêncio de uma tarde, sob o calor
de um céu sem horizonte nem pássaros?




Ou
no escuro da noite, quando as estrelas
se apagam nos teus olhos e só um gemido
distante ecoa na treva? Mas é dentro de ti
que o ouves, e onde quer que estejas,
tapando os ouvidos para que o mundo
não venha ter contigo, ou fechando
os olhos para que nenhuma imagem
te distraia,




levá-los-ás na tua cabeça,
em tudo o que pensas, mesmo que não
saibas já de onde vem, porque nasceu,
nem porque tens de ser tu a ouvi-lo,
de lábios fechados para que não o grites.



[de Nuno Júdice in Fórmulas de uma luz inexplicável]

2 comentários:

jrd disse...

Nuno Júdice é um Poeta Maior.
Uma das maiores figuras da cultura iber-americana contemporânea.

(Quantos dos membros desta corja medíocre que nos desgoverna, conhece ou ouviu falar do Poeta?)

Maria Eduardo disse...

Olá UJM,
Parabéns ao poeta Nuno Júdice por ter ganho o Prémio Rainha Sofia, tão merecido!
Ouvi a entrevista que deu quando soube que lhe tinha sido atribuído o Prémio Rainha Sofia, recordo-me de um poema que ele fez nesse preciso momento sobre um pássaro e as nuvens, mas não consegui fixar.
Um beijinho