Abaixo festejo o prémio Rainha Sofia atribuído a Nuno Júdice. Juntei-me a ele, tendo também comigo Paula Rego e Rodrigo Leão, e festejei a honrosa distinção.
Mas isso é abaixo. Aqui, agora, a conversa é outra - e vou já avisando que é uma conversa desagradável.
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Notícias desta quinta feira dão-nos conta de que, vendo o descalabro a avançar como uma gangrena nos países forçados a uma austeridade sem quartel, meio mundo começa a sacudir a água do capote a grande velocidade.
Nomeadamente, leio que os alemães demonstram irritação com a onda de excessiva austeridade que está a destruir as economias do sul e atribuem as culpas a Durão Barroso que, à frente da EU, tem imposto estas políticas aos países intervencionados.
Leio ainda que os alemães discordam completamente do ataque à população pela via dos impostos e que chamam incompetentes com todas as letras a quem não tem sabido usar os milhares de milhões de euros que estão à disposição para serem usados na modernização do tecido económico.
Leio isto e tenho que confessar que fico um pouco perplexa.
Se há na reacção dos alemães alguma sinceridade ou se isto é apenas oportunismo, não sei com exactidão. Que Durão Barroso é um cherne que por aí anda ao sabor da corrente já o sabemos há muito.
... Mas será que é verdade que há milhares de milhões à disposição e que não estão a ser aproveitados?! Será que estamos a ser vítimas, mais do que tudo, da incompetência de um bando de frouxos, palermas, oportunistas?
É de uma pessoa ficar banzada com tudo isto.
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Que Portugal está entregue a um bando de ignorantes e incompetentes também é mais do que sabido. Aliás, por falar em tal gente, agora de noite já vi no Expresso online uma divertida reacção. Transcrevo uma parte:
O deputado referido, 32 anos acabados de fazer, curso de Relações Internacionais, presidente da JSD e, até há dois anos, imagine-se!, Chefe de Gabinete do Grupo Parlamentar do Partido Social Democrata no Parlamento Europeu, é mais um que deve ter uns conhecimentos académicos e de vida que só visto...!
Agora, ele (provavelmente tal com os restantes psd's que por aí têm andado a louvar a política estúpida deste desGoverno), sentindo o chão a fugir-lhe debaixo dos pés, não é de modas: escreve à Merkel a puxar-lhe as orelhas, como se a Merkel estivesse para aturar putos chorões.
Esta gente não se enxerga! Em tudo o que fazem revelam que não devem muito à inteligência.
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Adiante.
No entanto, sendo verdade que Portugal se põe de gatas e parece gostar, não é menos verdade que alguns países, ou melhor, alguns grupos de alguns países com economias mais robustas, não têm escondido que gostavam de impor a sua hegemonia, aos países com economias mais débeis ou menos sustentadas.
Mas é difícil saber a verdade toda quando há tanta manipulação de informação, tantas vozes papagueando ad nauseam o que uns e outros dizem, muitas vezes não sabendo do que estão a falar.
O que eu sei é que a ser agora verdade o que as notícias de hoje nos dão conta, da arrelia dos alemães por lhes atribuírem culpas que não têm porque defenderiam um ajustamento pelo lado da robustez económica e não do estrangulamento fiscal, isso seria consentâneo com a política que eles, internamente, têm posto em prática e com sucesso.
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Não é à toa que a Alemanha soube manter-se firme na defesa da sua industrialização. Conheço algumas indústrias alemãs e nórdicas e sei bem como são focados na sua gestão. Há neles um pragmatismo que falta, regra geral, a Portugal. Não que sejam mais inteligentes ou trabalhadores. Do que conheço, durante os dias úteis saem cedo e à sexta feira à tarde não trabalham. Têm tempo para a família e amigos e não abdicam disso. Prezam a qualidade de vida. E, no trabalho, são práticos na tomada de decisão e rápidos na implementação. Há um reconhecimento por quem tem mais mérito e uma vez percebida a linha de rumo vão em frente.
Em contrapartida, em Portugal, para pôr qualquer coisa em prática, hesita-se, vacila-se, chama-se consultores e mais consultores, depois submetem-se as recomendações dos consultores à discussão, ouve-se a opinião de tudo o que é cão e gato sem qualquer competência para opinar, volta-se atrás, um desgaste. É normal juntar muita gente em longas e estéreis reuniões em que todos opinam, discutem. É normal, em Portugal, desfazer o que está feito e começar de novo. É também frequente em Portugal aceitar-se tudo o que aparece como nova moda. É normal desprezar-se o saber de experiência feito, é normal uma coisa e o contrário. É nisto que se esvai a produtividade portuguesa. Trabalha-se horas a fio, mal se descansa, e, na prática, de útil, pouco se produz. É um facto.
Se transpusermos isto para a realidade pública do país, em que a máquina governativa e legislativa dominante está entregue (salvo raras e muito honrosas excepções!) a iletrados, ignorantes, cábulas, espertalhaços, chicos espertos, perceberemos como dificilmente o País poderia estar melhor.
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Li também que o grupo de reflexão designado por “think tank” belga Bruegel critica a forma como o ajustamento tem estado a decorrer em Portugal.
Nomeadamente refere que “Com as taxas de juro de longo prazo em redor de 6%, Portugal tem que conseguir um crescimento nominal do PIB de pelo menos 4% (que implica um crescimento real do PIB de pelo menos 2,5%) e um excedente primário para assegurar a sustentabilidade da dívida.” E evidencia como todos os indicadores previstos estão significativamente piores que o expectável (défice, desemprego, dívida; nomeadamente, e isto é dramático, enquanto era suposto que a economia estivesse a crescer 1,2% ao ano, está afinal a decrescer, -1,9% nas melhores previsões)
Ou seja, é no crescimento e sobretudo no crescimento que toda a política se deveria estar a concentrar. Dar um salto de cerca de -2% para 4% significa um incremento de cerca de 6% o que é muito. Mas a verdade é que, se não for assim, a dívida não parará de crescer e tornar-se-á insustentável.
No entanto, a cambada que nos governa - que outro nome não há para designar a equipa das finanças e o primeiro ministro que vai de arrasto – ainda não percebeu isto e faz tudo ao contrário. Há-de andar o mundo inteiro a gritar isto ao sete ventos, hão-de já os alemães estar a sacudir a água do capote para cima do cherne e o cherne a sacudir para cima de outro qualquer, que o Gaspar e o Passos, dois sociopatas, não hão-de mudar de rumo.
Poderia acontecer que o Cavaco, que é economista e foi professor e tinha obrigação de perceber isto, já tivesse posto cobro a este estúpido desvario. Mas preso pelo rabo ou tolhido sabe-se lá porquê, não mexe uma palha, só diz importunidades e coisas assaz estranhas (ouçam por favor, que é digno de ser ouvido).
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Agora digam-me: perante notícias destas, não era da comunicação social ir aprofundar estes dois temas, se a Alemanha critica mesmo a estupidez do Cherne e a forma como a austeridade está a destruir Portugal e o que pensa o dito think tank belga, e se é verdade que Portugal não está a aproveitar o dinheiro que teria à sua disposição para estimular o crescimento...?
Estive a ver a televisão e não dei por nada. A maioria dos jornalistas não investiga, não pensa, limita-se a comer o que lhes dão à boca, uma tristeza.
Mas, enfim, senti-me confortada ao ouvir a tareia, e que monumental tareia, que a Manuela Ferreira Leite deu ao governo no programa da TVI 24 com o Paulo Magalhães. O desprezo que ela sente por aquela gente do desGoverno é imenso, indisfarçável, violento, é quase uma raiva à beira da explosão.
A seguir ouvi a Quadratura do Círculo e foi outro momento de inteligência que dá gosto ouvir. Ao ouvir falar de Paulo Portas (e da ajuda que lhe deve ser dada para reconquistar a sua dignidade) confesso que sinto alguma pena.
Também o ouvi, no noticiário, num evento qualquer, dizendo que é politicamente incompatível com a TSU dos reformistas e que só tem uma palavra, que não tem duas ao mesmo tempo. A voz era pesada, havia ali uma compreensível amargura. Tem sigo muito grande a humilhação a que tem estado a ser sujeito - e em relação à qual incompreensivelmente parece não tentar libertar-se.
Mas não digo mais nada que isto já vai longuíssimo e, para além do mais, daqui a nada tenho que estar a pé que rumo a norte ainda antes do sol nascer.
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Como este texto é dos chatos, relembro que, descendo atá ao seguinte, poderão lavar a alma. Poesia, pintura e música em louvor de Nuno Júdice.
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As imagens que ilustram o texto são, de novo, do blogue We Have Kaos in the Garden, uma inesgotável fonte de ilustrações bem humoradas e muito oportunas.
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Fico por aqui não sem antes vos desejar uma bela sexta feira.
Está frio, chuvoso, desagradável. Abifem-se e abafem-se não vão apanhar algum resfriado, ok?
3 comentários:
Olá UJM,
Obrigada por este excelente post e pela lição de economia que nos deu. Também ouvi M.F.Leite e é evidente o desprezo e a raiva que ela tem a este desgoverno. O exemplo que deu para ilustrar a estupidez que levou à insustentabilidade da dívida portuguesa está muito bem explicado assemelhando-se a uma maratona de dois dias, de Lisboa ao Porto, sabendo que nunca lá chegará, ficando sim pelo caminho e toda partida. É o que está a acontecer a Portugal e a todos os Portugueses, andamos de língua de fora, a correr uma maratona interminável, sem fim à vista.
Era bom que se averiguasse onde param os milhares de milhões que foram postos à disposição para estimular o crescimento da economia e que estão algures parados à espera de emergirem das cinzas, quando já não forem precisos!...
As ilustrações que tem colocado são muito humoristas e oportunas! Haja criativos! Parabéns.
Obrigada e bem haja também pelos seus posts belíssimos.
Um beijinho e bom fim de semana reparador!
O “concierge” das Lajes Mr. José Barroso, aka, Mr. Banalidades, foi uma escolha criteriosa de Bush (Obama preferiu o cão de água português) que a UE aceitou e colocou em Bruxelas a troco de umas "pralines", sabendo que ele não passava de uma nódoa indelével e de um idiota útil poliglota.
A “filantrópica” Alemanha demorou o tempo que lhe interessava, antes de tornar pública a opinião há muito formada.
Quanto aos outros, os domésticos, hão-de vomitar os Apfelstrudel que andaram a "saborear".
Abraço
A parvoíce não vence a realidade. E a realidade é estarmos condenados a décadas de pagamento de dívidas.
Portugal, acabou, enquanto país com alguma margem de manobra. Abençoados os que conseguem viver e ter tempo para andar a escrever disparates como citar frases de Manuela Ferreira Leite, ao que chegámos. Chegámos ao beco triste e sem luz como um grande recto intoxicante de gases nauseabundos dos que falam e falam, peroram e peroram, escrevem e escrevem...mas pouco mudam a realidade, a tal que se vai abater como uma sombra negra não tarda nada. Um país de idiotas e deslumbrados com a sociedade de consumo ou com o estado social ele também um novo consumismo que alimenta 6 milhões de "pendurados" em 3 milhões de "sugados". Não vai dar certo. Nem é preciso ter muita escola ou sinapses.
Alves Lopes
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