segunda-feira, maio 13, 2013

Neste 13 de Maio, as pequenas flores brancas e perfumadas da capela da minha infância, naqueles inocentes dias de procissão e de Primeira Comunhão.


No post abaixo falo do momento grave, grave para a democracia, grave para a coesão social do país onde vivo, grave para a sobrevivência de Portugal como um país livre e digno. 

Não que neste domingo tenha acontecido alguma coisa de especialmente importante: não. 

O que aconteceu foi apenas mais um episódio triste que veio confirmar a falta de carácter de pessoas que deviam zelar por nós e que, em vez disso, nos sacrificam no altar do absurdo, da ganância ou da pura estupidez (ainda não percebi o que os motiva a serem tão maus). 

Se é Passos Coelho que trai Portas, se é Portas que trai Passos Coelho, se são ambos em simultâneo e em permanência, se são ambos que traem quem os elegeu e todos aqueles que governam, se algum deles trai a sua consciência, isso já é pormenor face à gravidade da situação em que estão a colocar o País.

Mas isso é no post abaixo. Aqui, agora, a conversa é outra.


Avé, Avé, Avé Maria




Hoje, in heaven, ao passear por entre aquela natureza rústica que, por esta altura, cresce florida, vigorosa, veio-me um perfume que involuntariamente me emocionou. Sou muito influenciada pelos sentidos. 

Foi algo de imprevisto, não percebi logo de onde vinha aquele perfume nem que memórias evocava. Olhei em volta, aproximei-me de onde me parecia vir aquele cheiro leve, suave, doce.

Em tempos plantámos uns pequenos arbustos nuns canteiros daqueles que existem essencialmente para que as plantas possam ter alguma terra dado que o terreno é tão pedregoso. Mas têm crescido devagar, se calhar têm falta de água. Ficam um bocado afastados da casa e, de resto, é impossível regar tudo. Depois de muitas discussões no início em que eu queria regar tudo e levávamos o fim de semana a regar, depois de termos instalado um sistema de rega, caro e difícil de instalar e que os coelhos roíam sem dó nem piedade, e depois de termos percebido que era uma tarefa inglória substituir os tubos porque os coelhos não davam tréguas, acabei por acatar: o que lá deve existir é o que se aguenta, por si, sobrevivendo apesar dos calores tórridos do verão, do frio e do vento inclemente do inverno.

Por isso, há sempre arbustos e árvores que não vingam.

Estes arbustos de que falo têm andado a sobreviver sem vigor, sem crescer muito. Mas este ano, talvez pelo inverno chuvoso, deram um pulo. Estão viçosos, floridos.




Dirigi-me a eles, cachos de pequenas campânulas rosadas. Mas o perfume que eu sentia no ar não vinha deles.

Olhei melhor.

O canteiro da ponta estava também florido, mas tão crescido está que se misturou com o ramo da aroeira que está por cima. Por isso eu não tinha dado por ele.

Era dali que vinha o perfume. Ramos floridos de pequenas flores brancas.




Peguei nestes cachos brancos, delicados, uma renda macia, perfumada. E então lembrei-me. Era o perfume das flores que enchiam a capela da minha infância e que decoravam o andor de Nossa Senhora na pequena procissão em que, em Maio, por altura da Primeira Comunhão, Comunhão Solene, Crisma, eu participava.

Creio que já uma vez aqui falei nesses dias. Quando ainda andava na escola infantil eu ia de anjinho, asas de penas brancas nascendo das costas do vestido comprido branco, coroa de flores sobre os longos cabelos. Ainda hoje, depois de ter dado esse passeio, fui ver uma fotografia em que estou assim, sorrindo, feliz, o sol dourando os meus cabelos que voavam, tal como o vestido quase esvoaçava de tão leve que era, de tão leve que era o momento.

Depois fiz a Primeira Comunhão e já não fui de anjinho, fui vestida de renda branca, um vestidinho curto de saia rodada, creio que de manguinha de balão. Não me lembro bem mas tenho ideia que nesse dia a minha mãe me apanhou o cabelo atrás com um elástico e ganchinhos e o rodeou com uma renda branca, um tule, umas florzinhas. Não estou completamente certa pois, também por essa altura, um dos meus tios casou-se e eu fui menina das alianças e não sei se foi ao casamento que levei o cabelo assim. Se calhar fui em ambos os dias. Depois, quando fiz a Comunhão Solene, fui de freira. Não achei graça nenhuma a isso, nunca percebi porque fui vestida de freira, nunca tive qualquer vocação para tal, mas também me lembro que, por eu não gostar, a minha mãe andou a ver alternativas, uma dificuldade, hesitações até à última, mas também não achávamos jeito a eu ir vestida de noiva, parecia ridículo. Então, contrariada, fui de freira, um santo véu e tudo.

Mas, independentemente disso, nos anos intermédios, em que eu não era nem menina da comunhão nem anjinho, participava sempre, e gostava. Esses dias eram precedidos de dias de ensaio. Ensaiávamos os cânticos, eram bonitos os cânticos infantis elevando-se na capela toda florida e perfumada. Ou era bonito quando íamos na rua, em procissão, os anjinhos à frente, depois os meninos da comunhão, depois os outros meninos e só depois a família. Depois a emoção quando entrávamos na capela. 

Havia as rosinhas brancas, não sei se rosas albardeiras, se apenas rosinhas brancar normais. E gipsofila, flor de que eu gostava muito, tão etérea. E eu pensava que aquelas florzinhas miúdas eram só gipsofila.

Hoje percebi que não, que eram estas. O perfume era este. Um perfume tão bom.

E, sentindo-o, aquela emoção leve da responsabilidade de andar bem, de cantar bem, de estar bem, naquele ambiente inocente, perfeito, simples, voltou intacta até mim este domingo, véspera de 13 de Maio.




Pudesse a internet transmitir o perfume tal como transmite a imagem ou o som, e poderiam partilhar comigo este suave perfume da minha infância, quando eu tinha o futuro limpo e imenso à minha frente e cantava Avé, Avé, Avé Maria.


*

Não sei se é de amiga, recordar-vos o post abaixo em que falo de quem, hoje, assombra o meu futuro e o futuro dos meus pais, dos meus filhos e netos. Fica à vossa consideração descerem um pouco mais ou ficarem por aqui.

Mas gostaria também de vos convidar a virem comigo atá ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, onde hoje, pela mão de Ana Marques Gastão, uma estranha ninfa, meio medusa, meio sereia, pousa suave na relva depois de ter pintado a manta numa árvore. A música é canto gregoriano e não digo mais nada para não ficarem a pensar mal de mim.

*

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira. 
Divirtam-se, meus Amigos, e tentem ser felizes, está bem?

2 comentários:

Maria Eduardo disse...

Lindo post este que nos trouxe hoje com recordações da sua infância passadas neste mês de Maio, mês de Maria! Este mês poderá também chamar-se mês das peregrinações, pois todos os dias, a qualquer hora, passaram aqui junto a minha casa milhares de peregrinos, como nunca vi, alguns portugueses certamente com as vidas destroçadas que se dirigiam rumo a Fátima rogar à Padroeira de Portugal que restitua a esperança de vida ás suas famílias e a paz aos seus lares. Que a Virgem Maria lhes conceda a bênção da transformação das suas preces e do seu esforço em saúde, perseverança, bem estar e alegria de viver e que tragam no peito a energia e a crença de que necessitam para vencer as batalhas que estão pela frente.
Conheço o cheiro desse arbusto de flores brancas, miudinhas, de que fala, pois nasceram dois arbustos junto da minha sebe, têm um perfume muito ativo, semelhante ao da flor da laranjeira, mas ainda mais penetrante! A natureza a deslumbrar-nos, sempre!
Obrigada por mais esta pérola que partilhou connosco nestes dias tão bonitos do mês das flores, mês de Maio, Mês de Maria.
Um beijinho grande

Alice Alfazema disse...

Olá, UJM!

Todos os dias passo por arbustos desses, quando as flores ainda estão em botão, bolinhas verdinhas, arranco-as de raspão e fico com as ditas na palma da mão, assim o cheiro permanece nas mãos. É um vício que tenho deste criança. :))))