Música, por favor
Shostakovich - a Segunda Valsa pela Orquestra Filarmónica de Berlim
(Tantas acrobacias fiz no post anterior que agora estou assim) - Foto by Helmut Newton [Mas nada de parar de dançar - e hoje proponho nada mais, nada menos que uma valsa] |
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Antes de continuar, é melhor fazer já aqui um statement: nunca li nenhum livro do tipo auto-ajuda. Por vezes, apenas para confirmar que a minha suspeita se mantém válida, folheio um ou outro numa livraria. Não dura mais que escassos segundos a confirmação. Banalidades, lugares comuns, xaropes, placebos - geralmente com uma idílica capa azul.
Nada disso faz o meu género. Impossível eu ser capaz de gastar o meu tempo a ler frases soltas que não aquecem nem arrefecem. Mas sou assim com isto e com tudo a que me cheire vagamente a best seller. Já aqui o disse algumas vezes e que não me levem a mal os que lêem e gostam: não consigo nem sequer pegar num livro embrulhado em tule, ou que meta anjos, demónios, vampiros. Passo pelas estantes de romances históricos, ficção científica, sucessos internacionais e também sigo sem me deter. Só aquelas capas cheias de bonecada, fotografias vulgares, letras às cores, um ruído assustador, me fazem fugir a sete pés. Por exemplo, também nunca li 'O Alquimista' nem nenhum outro livro de Paulo Coelho apesar de ter recebido mil recomendações nesse sentido; mas só o facto de pessoas a quem não reconheço particular exigência me dizerem com ar convicto 'tens que ler', me leva, de imediato a dar dois passos atrás. Nunca li também nenhum livro da Margarida Pinto Correia ou que tais. Mas o meu elitismo vai ao ponto de nem sequer ter lido nenhum dos best sellers do Miguel Sousa Tavares (li o 'Não te deixarei morrer David Croquett' de que gostei) apesar de os ter cá em casa e apesar de pessoas cuja opinião respeito, me terem dito que são livros que se 'lêem bem'. Há talvez muito preconceito nisto, reconheço, mas a questão é que a minha vida é finita e os livros são infinitos. Acho, por isso, que tenho que ser criteriosa, e ler livros que se lêem bem para mim é curto.
Voltando aos cândidos livros azulinhos de auto-ajuda: apesar dessa minha posição, passo a vida a dizer que me sinto agradecida pelo que vejo, pelo afecto que recebo, pelo que sinto, pelo que tenho. Cada pequena coisa de que goste é apreciada como se fora uma refinada e rara preciosidade mesmo que se tratem de coisas mil vezes ditas ou ouvidas ou sentidas.
E gosto de me rir e de estar junto a pessoas que se riem, que não se tomam muito a sério, que gostam de aprender e trocar opiniões. Gosto de viver e gosto de apreciar esse raro dom que é estar estar viva e com saúde, rodeada por aqueles que amo.
E, se a saúde por um momento se ressente, ainda mais sinto isso. Tudo é efémero e tudo deve ser apreciado no preciso instante enquanto dura.
E vocês, Caros Leitores, ao lerem isto, já devem estar com sorrisinho jocoso ao canto do lábio...ah, se isso não é converseta de tipo pastilha de auto ajuda, então é o quê...?
Pois não sei que vos diga. Julguem vocês.
E a propósito disto, ou por coincidência, o Caro Leitor dbo a quem aqui, de novo, agradeço, referiu no comentário que escreveu sobre o meu texto anterior, um livro que está a ler, Às terças com Morrie de Mitch Albom. Nunca tinha ouvido falar e, portanto, fui pesquisar.
O autor encaixaria, talvez, no género best seller e, no entanto, este livro, um pequeno livro, começou por uma tímida edição até que foi fazendo paulatinamente o seu caminho e se tornou algum tempo depois um incrível sucesso tendo, depois, conforme li, sido adaptado a filme com a participação de Jack Lemmon - e, então, fui à procura e encontrei este excerto que me tocou e que resolvi partilhar convosco. Não é sobre a morte, não é triste. É sobre a vida. Sem mais, aqui vos deixo com Morrie.
Uma vida longa e feliz a todos, cheia de momentos bons, infinitos enquanto duram!
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A ver se amanhã durante o dia actualizo o meu Ginjal que já sinto falta de pôr as minhas palavras a voarem em volta de poemas.
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E tenham, meus Caros Leitores, um dia muito feliz!
14 comentários:
Querida jeitinho,
Ainda bem que já se encontra melhor mas não abuse desta vez.Sei como é.
Parabens, encontra sempre umas fotos fantasticas.
Nas diversas vicicitudes da vida já me têm oferecido e recomendado livros como O Segredo, A Sexta Profecia ou os Livros de A.Solnado.
Também numca li duas páginas seguidas.Soa-me tudo tão marketing americano que não consigo que me prendam.Assim como certos programas Dr.OX,Oprah etc.
Obrigada pelo"cheirinho" do livro/filme que me parece uma boa lição de vida. Será uma das minhas próximas aquisições.
Continuação das melhoras e uma boa sexta feira.
Cara UJM:
Arriba, Amiga!
Deixo-lhe, partilhando, "Arriba".
Saudações cordiais,
J. Rodrigues Dias
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Arriba
Aqui estamos!
De novo caminhamos...
Foi anteontem,
Tinham depressa eles chegado,
Malditos o míldio e o oídio…
E eu não sabia das roseiras…
Hoje, de manhã, olhando-vos,
Procurando a posição melhor do sol,
Voltando-vos
De barriga para baixo e para cima,
Senti de novo o vosso respirar
E o olhar de um recomeçar.
Ganhámos! …
Aqui estamos
E, de novo, caminhamos,
Como um...
Lá ao fundo,
O cimo da cidade,
O templo da deusa,
A planície...
Deixá-los…
Por nós caminhamos,
Uva preta, branca,
Vermelha …
Que importa a nossa cor
Se nós vamos…
José Rodrigues Dias, 2012-06-21
Devo dizer que senti alguma estranheza e um certo vazio pela sua curtíssima ausência, que, agora constatei ter sido provocada por razões de saúde. Esperamos que seja mal de pouca monta.
Também fiquei deveras enternecido com o seu tributo ao “locus” do “dbo” para relançar mais um belíssimo texto sobre aconselhamentos e preferências de leituras.
Tal como a UJM, não li algumas das suas referências, mas apenas porque não senti “tactismo” para tal. Às vezes leio algumas obras que, subjectivamente, me parecem supérfluas e vazias de conceitos, mas quase sempre as remato…um jeito de ser! Realmente, como disse, a vida é finita e os livros infinitos. Sempre disse, em triste desabafo, que, para ler os livros que gostaria, iria necessitar de “cem anos de solidão”.
Sabendo dos motivos da sua “quase” ausência, pois sentimo-la bem viva nas palavras que aqui escreve, mais uma vez reforço o meu incitamento: saúde, felicidades e muita vida!
Olá Querida Pôr do Sol,
Tenho, felizmente, alguma capacidade de me rir de mim mesma e a minha figura tem sido motivo de muitas piadas cá em casa. Pesquisei junto dos fotógrafos de que gosto, nomeadamente dos de moda, se havia alguma que tivesse a ver comigo, tal como estou e, curiosamente, encontrei algumas.
Espero que agora, tendo algum cuidado e medicada e ainda por cima metendo-se o fim de semana, isto melhore. Espero bem...
Eu custa-me um bocado falar disto porque sinto que serei vista, aos olhos de muitas pessoas, como uma vaidosa, elitista. E se calhar sou. Mas o que se passa é aquilo que eu disse lá no texto: há coisas que me motivam mais.
Imagino as boas intenções dos seus amigos ao oferecerem ou recomendarem esses segredos, visões e profecias... Mas aquilo são tudo umas banalidades ou histórias da carochinha, não é...?
Este livro, Às terças com Morrie, parece-me interessante, uma visão em retrospectiva muito lúcida de uma pessoa inteligente que gosta de partilhar os seus conhecimentos e sentimentos.
Obrigada pelas suas palavras, Sol Nascente, e tenha também uma boa sexta feira.
Caro José Rodrigues Dias,
Fiquei muito sinceramente tocada pelas suas palavras e pelo seu belo poema.
Agradeço-lhe muito a sua atenção e noto o seu cuidado ao ter escolhido a imagem das videiras que renascem depois de estarem caídas.
Muito obrigada, com muita estima.
Olá Caro DBO,
Penso que é coisa relativamente simples e que mais simples seria se eu me sujeitasse a uma pequena intervenção. Mas como sou medrosa e mesmo epidural nunca levei nenhuma, nem quando tive os meus filhos (preferi tê-los à antiga portuguesa com medo que a anestesia lhes fizesse algum mal a eles ou a mim), tenho andado a 'atamancar' excedendo-me nalguns esforços que têm reflexo directo na maleita em questão.
Numa crise que tive há umas semanas, em vez de ter guardado o repouso exigido e mantido o gelo durante o período recomendado, sentindo-me melhor, atalhei caminho e a coisa retrocedeu e fiquei pior do que antes. É que apesar de ser coisa aparentemente simples é, de facto, incapacitante.
Mas, enfim, aqui estou, tentando agora e até ao fim de semana ver se me ponho boa e para a semana, se já estiver funcional, se verá qual o veredicto.
Quanto aos livros, esses seus 100 anos de solidão parecem uma boa solução... Eu vou sempre pensando que, quando me reformar, vou ter tempo para recuperar os livros em atraso. Mas sei que nem que vivesse mais duas vidas me chegaria o tempo para tal, até porque eles não param de nascer.
Agora tenho aproveitado para ler.
Um sobre 'a firma' Goldman Sachs (uma coisa, só visto!), outro do Philip Roth, hoje o último do Urbano Tavares Rodrigues.
Adoro os seus votos para a despedida: saúde, felicidades e muita vida - é tudo o que quero! Obrigada. E é o que lhe desejo também a si.
As melhoras jeitinho.Senti a sua falta.
Um beijinho Ana
Muito lindo o filme.Não fazia ideia que havia um filme sobre o livro.
Houve uma época em que li vários livros do Paulo Coelho, mas depois nunca mais li nenhum. Mas na altura gostei.
Do Miguel Sousa Tavares nunca li nada.
Há livros e frases e até mails, que trazem essas frases para pensar e eu acho que há mesmo dois grupos: uns são os lamechas e de conversa fiada, mas há outros que gostei (gosto). `
Enfim, gostos!
Também digo como a UJM :na reforma vou ler tudo, mas já não dá. São livros a mais. Não vou ter vida para isso.
Um beijinho e continuação das melhoras
Olá cara UJM:
Grande equilibrista e acrobata! Mesmo lesionada continua a valsar e com bom humor!
Cuidei que não fosse propositado o seu silêncio e, fantasiosa, confesso que forjei inúmeras razões, mas nunca a imaginei enferma.
E para mitigar a dor, “deixo” flores e ternura.
Não conheço “Às terças com morrie”, mas pelo que vi no filme parece ser uma leitura que talvez ajude a colocar em ordem as prioridades da vida, a questionarmo-nos sobre o que realmente importa na vida.
Cada dia que passa mais me convenço que o mais importante são os afectos e, é o hoje que vale a pena viver!
Sobre leituras, entre as de ofício e as de deleite, para grande pena minha, as primeiras impõem-se às segundas.
Boas e rápidas melhoras e
dias muito felizes
abraço amigo da
Leanor formosa e segura
Olá Ana,
Agradeço-lhe a atenção e o carinho. Lentamente mas cá vou melhorando.
Muito obrigada.
Um beijinho, Ana.
Isabel, olá,
Eu quando digo que não gosto de alguns géneros é porque não gosto e porque tenho que fazer opções. Mas não critico quem os lê até porque é bom que haja muita gente a ler, a bem da economia e a bem, sobretudo, dos hábitos de leitura.
A ver é se na reforma vamos ter paciência para ler tantos livros, não é?
Um beijinho, Isabel.
Olá Leanor formosa e segura,
Isso dito assim, enferma, até me senti mesmo uma pobre doente, infeliz... É que, embora de facto com um problema de saúde, e um problema incapacitante, ainda não consigo ver-me como 'enferma' (é a minha inconsciência habitual, já sabe...)
Mas se vem com flores, então, aceito e faço de conta que me sinto mesmo doente e aleijadinha (que até estou...). Mas e os bombons? É por eu ter dito que andava a fazer dieta? Ora, agora enferma, que se dane a dieta...
Enfim, um dia destes já estou pronta para as minhas caminhadas.
Leituras de trabalho? Eu, em relação a essas que também me absorvem muito, uso, geralmente, o método da leitura rápida. 'Papo' um livro de cento e tal páginas num foguete, e artigos, textos, etc, isso num passar de olhos ficam lidos até porque, regra geral, têm pouca profundidade, pouca textura, pouca complexidade gramatical e, também, pouca coisa nova e que, verdadeiramente se aproveite.
Mas isto, lá está, sou eu outra vez armada em elitista...
Mas, se me permite, também não creio que dedique tão pouca atenção às leituras de deleite, tamanha é a erudição que tem revelado indo invocar, com cirúrgica precisão, excertos de textos completamente apropriados às circunstâncias. Eu diria que lê, lê muito e lê excelente literatura. Ou então tem uma fabulosa memória.
Seja como for, tem razão: acima de tudo, os afectos. Sem afectos de pouco o resto vale a pena.
E que saibamos sempre viver o presente com graça, com alegria.
Dias muito felizes também para si, Leanor formosa e segura!
Estou de acordo com o que refere sobre certos livros que aqui menciona. Nem mais, penso o mesmo.
E depois sou de opinião de que um livro compra-se, não se oferece – é algo muito arriscado! - a não ser que se saibe, de antemão, que quem o vai receber, vai apreciar e ler.
Já tive, em mais de uma ocasião, o azar de receber livros que nunca compraria (o último, já há uns tempos, foi do José Rodrigues dos Santos) e, naturalmente, não os li. Estão por aqui, a ver se lhes dou solução. Mas qual?
Os livros, para mim, são um pouco como as gravatas, salvo seja (pois prefiro livros, de longe, ás gravatas, pois se estrago uma não me deixa mágoa funda, mas um livro que – eu escolhi, isso sim, aflige-me!). É muito difícil acertar no gosto do prendado. As gravatas que me foram oferecidas (do rosa, ao amarelo ás riscas e outras), com “recados” de “vais ficar elegante”, “és um pouquinho clássico”, “ficas mais arejado” (um tipo ouve cada uma!) ainda as pude deixar, mais tarde, longe do olhar de quem me as deu, nos caixotes da “Humana”, para não lhes ter de dar um destino menos digno.
P.Rufino
PS: adorei esse seu humor (a descrever os livros dos vampiros, capas, etc)!
Olá P.Rufino,
Fico contente de saber que não usa gravatas amarelas ou cor de rosa bebé. Acho uma coisa de um mau gosto inexplicável. Dificilmente algum homem pode ultrapassar o mau aspecto que dá ao apresentar-se com objectos tão pirosos ao pescoço. Há ainda um outro tom que abomino. São as gravatas brancas ou quase sobre camisa preta, castanha ou qualquer outra cor escura. Acho uma coisa insuportável.
Eu, livros, só ofereço à minha mãe e aos meus filhos. Sei os gostos deles, sei o que têm e gosto de lhes oferecer livros de que sei que vão gostar. Creio que grande parte dos livros que os meus filhos têm sou eu que lhes tenho dado. Todos os aniversários e todos os natais são alturas em que, complemento o presente, com um pack de livros. Aliás, no caso do meu filho, os livros até ultimamente têm sido a parte principal. Adquiriram em pequenos o hábito de terem livros e, por isso, gostam muito de ler.
Quanto aos livros que jamais lerá sugiro que adopte uma prática muito seguida na dita high society, que oferecem uns aos outros os presentes que recebem, presentes esses que geralmente são umas insignificâncias e que, assim, nem o dinheiro das insignificâncias gastam: ofereça-os a outras pessoas, quando a ocasião se proporcionar.
Boas leituras e acho muito bem que, quanto a gravatas, seja um clássico.
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