domingo, junho 03, 2012

A Bruxa, o Burguês e o Bombista, 3 retratos à la minuta de Ary dos Santos; os Políticos que só querem é mama porque não passam de lactantes, segundo Natália Correia; o Manifesto anti-Cavaco dito por Mário Viegas e, para terminar em beleza, o fantástico Happy Birthay segundo Jirí Kilián


Depois de saber que a dívida está maior do que estava,  que a economia está cada vez menos competitiva, que o desemprego está maior do que alguma vez se supôs e que a tendência continua a ser de subir (e que eles próprios que o provocam não conseguem explicar o que se passa e de 3 em 3 meses corrigem, em alta, as estimativas) Passos Coelho, rapaz cuja inteligência é sobejamente conhecida, conclui que o remédio para esta hecatombe é intensificar e acelerar ainda mais o que tem andado a fazer. 

Face a isto, hesitei entre entrar em hibernação profunda ou partir para a baderna. Como não sou de sonos muito prolongados, optei pela segunda e, nesse sentido, pensei chegar aqui e escrever um manifesto anti-Passos, anti-Relvas, anti-Álvaro, anti-Gaspar, anti-Borges (o ministro fantasma que por aí anda a tratar dos big negócios).

Mas depois resolvi deixar-me disso, é déjà-vu. Já toda a gente diz mal deles, já não se encontra quem os defenda, desde o Prof. Marcelo ao Pacheco Pereira, desde o Marques Mendes à Manuela Ferreira Leite,  ninguenzinho. Impossível alguma originalidade.

Pensei, pensei e decidi, então, armar-me em menina prendada e deixar-me ficar pela poesia: afinal, gosto de ouvir piano, falo francês.

E, assim, com vossa licença e com toda a finesse, convido-vos a virem comigo até ao salão. 


José Carlos Ary dos Santos - A Bruxa


Já não sei se é país se é orfanato
pois nem vela, nem reza, nem sabá
impede que em berreiro e desacato
ande tudo à procura do papá.

Ó pobre povo que em desvalidas ânsias
por ter progenitor tanto te enervas!
E já que pai nem putativo alcanças
dão-te por sina seres filho das ervas.


José Carlos Ary dos Santos - O Burguês


Nesta lusa farronca sem vintém,
neste muda que muda sem mudança,
venha o que venha, há-de lixar-se quem
do salsifré tiver a governança.

Em conclusão: onde o maior partido
é o do ócio que causa inveja à lesma,
ganhe quem ganhe, só muda de vestido
o génio de deixar tudo na mesma.


José Carlos Ary dos Santos - O Bombista


Malvadas línguas que dão fel à fama
dizem que nestes lúdicos quadrantes,
os políticos querem é ter mama.
Como não hão-de querer se são lactantes?

Onde os meninos de tudo são senhores
forçoso é que da asneira haja fartura.
E se alguns deles são uns estupores,
é só traquinice. É só candura.

***


Manifesto anti-Cavaco por Mário Viegas
(parafraseando o Manifesto anti-Dantas de Almada Negreiros)

***

Tempo agora de coisas sérias. A seguir à poesia... o que mais? Bailado, claro... bailado a sério, claro.

Happy Birthday - Nederlands Dans Theater numa coreografia de Jiri Kylian


***


A poesia escrita é de Natália Correia, excertos de poemas publicados em 'O Bisnau'

***

Bom, que mais vos posso dizer...? 

Olhem, Caríssimos Leitores, façam como eu: divirtam-se. Tenham um grande domingo!

6 comentários:

Isabel disse...

Achei divertida a sua escrita de hoje.
Gostei imenso da coreografia, diferente, mas muito interessante e com humor.
Enfim, cultura e humor no post de hoje, não foi?
Um beijinho e bom domingo

Maria disse...

Amiga:
Já conhecia todos os poemas. Foi bom, relembrá-los. Estou ainda meia tonta, mas daqui a pouco, depois de dormir um pouco, vou contar-lhe tudo.
Ary, o meu Ary, um dos meus amores poéticos. E Natália, a açoreana, linda, valente, forte, explendida, Mátria. Já para não falar, no meu adorado Mário Viegas, actor, declamador.
Vou dormir um bocadinho. Já vou ao Email.
Beijinho.
Mary

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Divertimento, poesia satírica, dança esfuziante de humor (gosto muito deste coreógrafo, é um artista que sabe reinterpretar a tradição com alegria, humor - outras vezes com muita poesia, também).

Obrigada, Isabel e uma boa semana para si!

Um Jeito Manso disse...

Olá Mary, que bom tê-la de volta.

Ainda bem que, ao regressar, teve por aqui humor e gente de que gosta.

Espero que ponha o sono em dia que eu estou cheia de vontade de saber como foi.

Beijinhos, Mary.

Anónimo disse...

Magnífico Post! E adorei ouvir e recordar o grande Mário Viegas! Que saudades! E que humor! Já não há disto hoje, em Política, quer-me parecer. Até nisto a política ficou mais chata, mais cinzenta!
O nosso Domingo foi excelente, a viver momentos de muita ternura com o pequerrucho (que doçura!).
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Olá P. Rufino,

Tem razão. Parece que as pessoas agora perderam a verve, o colorido, a irreverência. Talvez apenas o Manuel João Vieira.

Quando me ocorreu fazer este post, tentei ver se encontrava coisas actuais. Mas não. Mas encontrei material suficiente de Ary dos Santos e de Natália Correia (e a ideia de os juntar apareceu de um comentário e da minha resposta a um comentário do Leitor Patrício Branco) e, de facto, tinham os dois uma truculência e uma graça muito conjugável. O manifesto anti-Cavaco de Mário Viegas foi a cereja em cima do bolo.

Fico contente que tenha gostado (eu divirto-me a escolher e a compor estes posts...)

Quanto ao bebé: é a ternura maior. Um minuto com um bebé dos 'nossos' (leia-se: filho dos filhos) vale por mil outros sem eles, por muito felizes que sejam.

Felicidades imensas para todos!