Música, por favor
Glenn Gould - Bach - Partita Nº 4, Sarabande
Este sábado de manhã, um homem sozinho atravessa o Tejo - de pé Sentirá que está envolto em beleza, em quietude? Sentirá solidão? Sentirá felicidade por estar ali, sozinho no meio do rio? |
Em qualquer parte um homem
discretamente morre.
Ergueu uma flor.
Levantou uma cidade.
Enquanto o sol perdura
ou uma nuvem passa
surge uma nova imagem.
Em qualquer parte um homem
abre o seu punho e ri.
Jamais me arrependo
de ter escolhido viver
Mesmo na desgraça
Teço a matriz
do meu próprio fazer:
escrevo leio e desenleio
descuro curo e anseio
Uso o corpo mas primeiro
sei onde a morte deslassa
tomo conta do orgasmo
onde o prazer desenlaça
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Grupo Corpo, coreografia de Rodrigo Pederneiras ao som de música de Marco António Guimarães sobre música de Bach - o prazer de ter um corpo, o prazer dos corpos em movimento, o prazer da vida
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O primeiro poema é de António Ramos Rosa e pertence a um conjunto que se chama 'Visão Ausência Presença Encontro', in Antologia Poética.
O segundo poema é de Maria Teresa Horta e chama-se Viver, in Poesia Reunida.
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E tenham, meus Caros, um belo domingo, com música, rodeados de beleza, felizes.
20 comentários:
Querida UJM
Estive há pouco no Ginjal. Não deixei nada escrito, não quis perturbar aquele quase recolhimento...
Aqui também, tudo tão perfeito que nos convida à meditação.
Um bom domingo minha amiga.
Beijos
Olinda
magnificas poesias, com forma e conteudo, isto é, com mensagens, alem de ritmo, cadencia, rimas.
Amiga:
Acordei às seis e pouco, para dar o medicamento ao meu marido. O cão acordou, tive que o ir por a fazer chichi, 10 minutos depois cocó, segurá-lo, primeiro ao colo, depois no chão, para não se sujar, dar-lhe água. São 14 quilos e várias viagens.
Foi assim, que o dono deu o jeito às costas. Está melhor, mas amanhã vai outra vez ao médico.
Estamos muito tristes, mas alguma coisa tem que ser feita. O bicho respira mal, cansa-se muito, engasga-se. Nem sei se sofre ou não.
Nós já não temos forças, o Vasco tem a vida dele e tem problemas de coluna.
Tudo isto, me está a baralhar a cabeça.
Por isso, foi tão bom chegar aqui, ouvir Bach, ver o rio, o homem no barco, ler A.Ramos Rosa e Teresa Horta, ver o bailado.
Acalmou-me. Restituiu-me a paz, por uns momentos.
O pior, vai ser agora, levantar os olhos, ver os olhos do meu pobre canito, fixos em mim, cheios de amor e confiança. Que vou fazer, Amiga?
Desculpe, mais esta seca.
Beijinho da
Mary, a gaivota de asa caída.
É tudo tão lindo (fotos, música, poemas e bailado) que não digo nada para não estragar!
Um beijinho e um bom domingo
Cara UJM:
Hoje com a sua sensibilidade e capacidade de renovar a visão da vida e transformá-la em dias mais felizes.
Começa por um momento de espiritualidade a ouvirmos Bach e, já refugiados do mundo carnal, com a alma assim despida leva-a a banhar-se nas ondas de quietude e harmonia, para de seguida exaltar o amor e a perfeição criadora da cumplicidade dos corpos cingidos pelas palavras dos poetas.
Belo momento de exaltação da arte… da vida.
E tenha dias felizes
Abraço da
Leanor
Olá Olinda,
Por vezes estou com alguma exuberância, apetece-me rir, provocar, animar, mas outras, tal como ontem à noite, só me ocorre que a vida é breve, é tão efémera.
E, no entanto, há tanta beleza que pode fazer valer a pena vivê-la.
Apesar dos abanões que de vez em quando sofremos com a partida de pessoas que constroem fragmentos de vida para os outros, a vida continua disponível para ser vivida.
Louvar a beleza e a vida, louvar o que nos cerca, louvar os afectos, é tudo o que, por vezes, me parece valer a pena.
Obrigada pelas suas palavras sempre tão gentis, Olinda.
Caro Patrício Branco,
Fico muito contente com as suas palavras. Escuso-me a dizer mais o que quer que seja pois sei que captou na perfeição tudo o que me estava a ocorrer no momento em que compus a mensagem (nunca sei como lhe chame, se post, se mensagem).
Concordo consigo: os poemas são lindos, perfeitos, e são aquilo a que agora se chama, um 'statement'. Louvam a vida, a vida apesar de tudo.
Mary, gaivota branca de asa caída,
Fala-me de um assunto doloroso. Sei muito bem o que pensa, o que sente. Tive durante 13 anos uma cadela que era uma menina carinhosa, alegre e inteligente, um membro de pleno direito da nossa família.
Depois adoeceu, artroses, depois um tumor, depois foi operada, depois aquilo espalhou-se, teve anemia, levou uma transfusão, esteve várias vezes a soro, tomava imensos medicamentos. Mas sempre corajosa, meiga, asseada. Por vezes caía, vergavam-se-lhe as pernas, sem força e olhava-nos com olhos tão tristes, tão infeliz. E nós seguravámos com todo o cuidado, levávamo-lo ao colo, emagreceu. Quando ela caía eu nem conseguia evitar um pequeno grito, assustava-me, receava o pior. Tinha receio de ser a primeira a chegar a casa não fosse ter acontecido alguma coisa. Foi um sofrimento sem tamanho.
Até que um dia ela piorou mesmo, já não se aguentava e olhava-me com uma tristeza que me feria a alma, uma tristeza naquele olhar meigo.
No hospital veterinário disseram que estava a chegar a um ponto em que pouco havia a fazer, que já era um sofrimento (embora ela estivesse a ser medicada para as dores). O meu marido é que ficou lá com ela, eu não fui capaz. Mas não me esqueço dela olhar para trás, para mim, ao ver-me ir-me embora. É um dos olhares mais marcantes e mais tristes que alguma vez pousaram em mim. Estou a escrever isto numa tristeza que não imagina pois embora tenham passado uns dois ou três anos, a saudade e a recordação de tristeza e perda ainda não passou - e só o faço para lhe dar o meu testemunho (porque não sei dar conselhos).
E, portanto, o meu marido tomou a decisão mais difícil da vida dele. Ficou também numa tristeza tão funda, tão funda. Era uma amiga e uma companhia e pensar que tinha tomado aquela decisão revoltava-o, dilacerava-o.
Mas racionalmente todos sabíamos que era a única coisa possível para evitar mais sofrimento à nossa menininha querida pois, andávamos a prolongar já quase artificialmente a situação há mais de um ano.
Na nossa família foi um desgosto enorme, para todos, uma tristeza. Deixou um lugar vazio na nossa casa e na nossa vida.
São decisões muito difíceis, muito dolorosas. Mas, apesar de tudo, ficamos com a sensação de termos tomado a melhor decisão.
Acho que não devo ter ajudado nada mas, enfim, quando o assunto é este, eu fico com o coração em lágrimas.
Um beijinho, Mary.
Olá Isabel,
As suas palavras são muito simpáticas e eu fico muito contente que tenha achado isso.
Gostei de escolher os poemas, as fotografias, a música, o bailado.
Queria partilhar convosco esta ideia de que devemos usar os instantes de que é composta a nossa efémera vida para apreciar a beleza e as coisas boas que nos rodeiam. Passa depressa a vida, não nos devemos esquecer disso, devemos abençoar o facto de estarmos vivos, de podermos apreciar a natureza, a arte, a beleza, a vida.
Um beijinho, Isabel, e muito obrigada.
Leanor, formosa, segura,
Muito obrigada. Quando estou aqui, como estou agora, a escrever dirigindo-me a alguém que não conheço, escrevo ou transcrevo o que, no momento me ocorre. Por vezes não sei bem no que vai dar mas, outras, tenho uma ideia a pairar sobre mim e o que tenho a fazer é reunir as peças que vão dar corpo a essa ideia.
Abalou-me o desaparecimento do Bernardo Sassetti, fiquei mesmo atordoada, gostava muito do grande artista que ele era.
Mas depois o Caro Leitor J. Rodrigues Dias deixou-me aqui um comentário que me espevitou, lembrou-me que a vida continua e contou-me que tinha andado mais de 6 horas no tractor a cuidar da terra-mãe. As suas palavras pegaram em mim e levaram-me a pensar que, apesar de tudo, a beleza e a vida continuam aí.
E, de seguida, tive a ideia de passar da tristeza ao louvor da vida.
Ainda bem que gostou. Fico contente.
Um abraço Leanor e muito obrigada!
Cara Jeitinho,
Permita-me deixar aqui uma palavra de compreenção e apoio para Maria,Mary, pois tal como ela já sofri horrores com a perda de dois elementos da familia, dois cockers lindos, mas totalmente diferentes.
O primeiro era, lindo, preto, de uma inteligencia surpreendente e de uma doçura e dedicação que era chamado por todos como o melhor cão do mundo, morreu com sete anos, foi estupidamente atropelado por um jovem em condução irregular e sem noção de respeito pela vida dos animais. Deixou-nos uma saudade tremenda.
O segundo,entrou na nossa vida para amnisar a falta do Digui era lindissímo, louro, com "nuances" muito bem colocadas, era possessivo, temperamental e nasceu com uma deficiência cardiaca que se foi agravando com os anos.
Gastámos mais dinheiro num ano com ele em veterinarios, exames, analises, que chegaram a ir para laboratorios alemaes, que em tres anos com o resto do agregado.
Depois de muitas noites de vigilia, pois o seu,e o nosso sofrimento era grande, decidi falar com o veterinário que me respondeu que estava lá para tratar animais, para mais nada. Depois de muitas lágrimas decidimos que não tinhamos o direito de ser egoistas e prolongar o sofrimento do nosso amigo. Gostávamos demasiado dele para continuar a vê-lo sofrer.
Esta decisão custou-nos meses de muita tristeza, mas a saudade perdura.São amigos verdadeiros que nos dão tanto.
Querida Maria com o seu desabafo revivi a vida e perda dos meus amigos.
As suas fotografias estão junto às dos outros elementos da familia com o mesmo amor.
São familia, só que falam e andam de modo diferente, e, tal como ela também partem. Desejo-lhe coragem
Querida Jeitinho
Permita-me um grande grande abraço de muita força para a Mary.
Por muito denso que seja o nevoeiro, é sempre o espaço que medeia entre dois raios de sol...
Força, OK?
Queridas Pôr do Sol e Erinha,
Tocam-me as vossas palavras de apoio à nossa Mary. São situações que nos dilaceram o coração e em que as decisões nos deixam arrasados.
Um beijinho às duas.
Amiga:
Tudo acabou. O Nabão adormeceu há poucas horas, nos meus braços, como sempre lhe prometi.
Não consigo dizer mais nada.
Beijinhos
Mary muito magoada.
Corajosa Mary,
Admiro a sua coragem. Eu não fui capaz. Imagino como deve estar magoada, sim.
Um beijinho, Mary.
Mary sei bem o que está a passar,em Dezembro o meu fiel amigo, perdeu a mobilidade das patas de trás, arrastava-se,tinha-mos de lhe pegar ao colo, ficou internado para exames e já não saiu, tivemos que tomar a decisão mais dolorosa da minha vida, mas ele estava a sofrer tanto e tinha vivido 12 anos maravilhosos connosco. Tinha um tumor e os médicos diziam que iria piorar perder a visão, etc.Deixo-a como uma frase que uma amiga me disse na altura "Amor é também libertar quando é o momento." Continuo sempre a lembrar-me do meu amigo e os meus filhos todos os dias falam nele, mas ele não merecia sofrer tanto, e por muito o amar tive de decidir para ele ficar em paz.
Um beijinho
Ana
Cara UJM:
Permita-me que me dirija a Maria. Já uma vez falámos de cães a propósito de uma situação que se passou comigo, quando escrevi "Que hei-de fazer, amigo" no meu blog.
Só quem passa por isto é que imagina. Há olhares indescritíveis e gestos que nos acompanham...
Guardemos os momentos bons...
Eles gostavam mais de nós quando nós estávamos contentes. Não lhe parece, Maria?
J. Rodrigues Dias
Caríssimos Ana e José Rodrigues Dias,
Tal como ontem referi, fico tocada por ver como, por esta via etérea, se desenham laços de estima que unem pessoas que não se conhecem e que partilham experiências tão pessoais.
No outro dia li que os laços de amizade que se constroem assim, na internet, são tão fortes e emocionalmente tão sustentáveis como os que se constroem cara a cara. Não sei mas, lendo as vossas palavras tão calorosas no apoio à Mary, sou levada a crer que sim.
As vossas palavras são dirigidas à Mary, gaivota de asa caída, mas eu, se me permitem, meto-me no meio para vos agradecer.
Um abraço.
Por mim pode sempre meter a colherada.Eu sinto uma enorme ligação a este blog,com quem aprendo sempre qualquer coisa e com as pessoas, que são de um enorme bom gosto, sensibilidade e sentido critico.
Obrigada Jeitinho por existir e por nos juntar.
Beijinho
Ana
Ana, tão simpática,
Era bom que este blogue fosse como o rés do chão da casa de Ana (não me refiro a si mas à mulher mistério): uma casa aberta a quem aqui viesse comentar, ouvir música, aprender uns com os outros, conversar - mas mesmo a sério. E que, quando estivesse calor, pegassem nas cadeiras e fossem continuar o convívio debaixo do pinheiro, na boa, entrando e saindo, sempre na boa. E que uns trouxessem limões e fizessem uma limonadas e outros trouxessem um bolinho, apenas pelo prazer, nada por obrigação, apenas pelo prazer de uma boa companhia. Gostava imenso disso.
Não podendo, olhe..., faço de conta que o blogue é isso mesmo e fico desejando que os meus leitores façam o mesmo.
Um beijinho, Ana.
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