quinta-feira, março 22, 2012

Mulheres que gostam de poesia são perigosas


Música por favor
Berenika Glixman - Bach, Partita Nº4


Podia ter chamado um taxi ou podia ter combinado com alguém que a apanhasse mas apeteceu-lhe ir sozinha, a conduzir. 


À saída de casa pegou numa das clutches Alexander Mcqueen, uma discreta, guardou o baton Allure Coquette, o telemóvel, uma pequena bolsinha com os documentos, os cartões e uma nota de 20 euros, verificou que tinha o espelho, um pente, uns ganchinhos (não fosse, às tantas, querer apanhar o cabelo), lenços. Voltou ainda atrás para dar uma última mirada no grande espelho do hall, ajeitou o cabelo, à última hora ainda pensou que podia estar frio, voltou à grande gaveta das écharpes, escolheu uma finíssima, transparente, de uma leve renda belga, sempre agasalharia alguma coisa se fosse necessário.

Quando lá chegou todo o local estava vedado, seguranças, o costume. Soube-lhe bem estar sozinha, gostava de sentir a admiração quando se debruçavam para pedir a autenticação e a viam sozinha. Deixou o carro para o estacionarem, dirigiu-se ao palácio onde a recepção decorria. Novas barreiras de segurança, tudo muito eficiente, o mestre de cerimónias e as meninas vestidas de preto e auriculares para ajudarem a encaminhar e ela, aparentemente segura, iniciou, então, o seu exercício de cat walking (mas se, por um acaso, alguém lhe medisse a pulsação, verificaria uma ligeira aceleração; ou talvez não, é sempre tão baixa que, mesmo um pouco acelerada, continua a ser baixa, pulsação de corredora de fundo). A menina perguntou se queria deixar o casaquinho mas não quis, teve medo de ter frio.

A escadaria é larga, de mármore, toda de mármore, e desce em suave curva, da esquerda e da direita, confluindo, em baixo, num vasto salão que dá para uma larga varanda que, por sua vez, se debruça sobre frondoso jardim. E há grandes carpetes de Arraiolos, e há enormes candelabros e estátuas de pedra e todo o ambiente era, naquela noite, de festa.

Já lá estava tout le monde e a discrição que estas situações exigem não nos vai permitir referir aqui nomes, cargos. Mas poderemos confirmar a presença de vários empresários portugueses e de um outro país de língua portuguesa, investidores e vários governantes de cá e de lá. E embaixadores e gente das câmaras de comércio e assessores e advogados que fazem a ponte, e alguns que são apenas influentes.

A mulher de olhos cor de esmeralda entrou, então, e pareceu ignorar os olhares que para si se dirigiam. Nestas circunstâncias, para manter as boas graças das outras mulheres, finge não reparar nos olhares dos maridos. De facto, está habituada a lidar com estas situações. Várias figuras avançam na sua direcção, cumprimentos, beija mão, sorrisos, simpatias e ela a todos cumprimenta com um sorriso, ar vagamente superior ou talvez não.

Num rápido tour d'horizon, a mulher avaliou os vestidos das restantes mulheres ali presentes. Algumas riquissimamente vestidas mas, elas próprias, nada de especial, outras com indumentárias vulgares, ou excessivas ou ridículas. Contudo, como um íman, o seu olhar foi logo atraído para uma outra mulher elegante que estava de costas, com um belo vestido de um veludo azul escuro que se lhe colava, sinuoso, às curvas do corpo. Que belo vestido. Ficou ligeiramente aborrecida, ver mulheres assim deixam-na tendencialmente insegura (mas, felizmente, a insegurança dura sempre pouco). Era uma conhecida figura da televisão portuguesa.

De uma das extremidades do vasto salão, nascia a música que embelezava ainda mais todo o ambiente. A mulher, como se não prestasse atenção, pensou que era a Partita nº 4 de Bach - e, interiormente, pensou que a noite só podia vir a ser fantástica. Mas ninguém diria que enquanto era cumprimentada e, depois, levada até ao seu lugar, estava a pensar em Bach.

Ficou em frente de um dos mais influentes governantes do momento e tendo ao lado, à esquerda, um investidor do outro país e, à direita, um outro que lhe foi apresentado como um príncipe árabe há muito radicado no outro país. O registo da mulher era de profissional simpatia, a afabilidade indiferente das recepções de negócios, conversa polida de circunstância, troca de informações desclassificadas, alusões a hipóteses de investimento, rácios ditos como que por acaso, mas tudo com elegante displicência (até porque é feio falar de dinheiro em sociedade) - ninguém diria que, enquanto isso, a mulher pensava que o príncipe era um homem e tanto, parecia feito de bronze, uma pele que parecia macia, um sorriso atento, uns olhos acutilantes. Elegeu-o, logo ali, como o homem da noite. Contudo, dir-se-ia que ainda nem tinha reparado nele.

O governante desfazia-se em sorrisos, em simpatias, uma coisa excessiva. Tinha duas senhoras simpáticas, uma de cada lado, a quem tentava agradar de forma insistente. Enquanto ele estava nisso, e até quase parecia falar com o sotaque delas, a mulher das esmeraldas olhava-o com indisfarçada agonia. Mas, noblesse oblige, sorria-lhe ao de leve quando os olhares se cruzavam. Ele queria também agradar-lhe e o interesse foi subindo à medida que ia vendo o interesse que os dois investidores iam manifestando na mulher. A conversa entre os três, a mulher e os dois investidores, estava animadíssima e o governante queria integrar-se.

Acabou por tirar o casaquinho e, ao fazê-lo, sentiu que os três cavalheiros pararam de conversar, quase pararam, até, de respirar. Ela sentiu que uma das alças descaía muito ligeiramente mas fingiu não reparar. Era um descaiamento muito ao de leve, apenas daria uma suave graça. Pareceria que, a qualquer momento, poderia cair a sério sobre o braço, deixando, nessa altura, talvez, entrever grande parte do seio. Fez de conta que, animada que estava com a conversa, nem tinha dado por isso.

Para que a conversa se mantivesse animada e descontraída a mulher ia levando a conversa para o seu térroir de eleição, o território em que poesia, política, negócios, vinhos, perfumes, música, se uniam num harmonioso bouquet

Enquanto isso, quando bebia vinho, pegava gentilmente no pé do cálice, rodava o vinho com gentileza, aspirava discretamente o aroma, degustava-o, depois, com vagar, deixava que o líquido encorpado, frutado, corresse com cuidado ao longo das várias secções gustativas da língua. Era uma apreciadora e via como as mulheres a olhavam com secreta admiração e via, também, o efeito que isso produzia nos cavalheiros. Contudo, por comodidade, fazia de conta que não o percebia.

Referiu então que era dia de poesia, falaram de poetas, curiosamente ambos os investidores gostavam de poesia. Então pediu a um, ao da esquerda, que dissesse um poema e ele, tímido mas querendo agradar, disse um poema de João Cabral de Melo Neto.

  
Morte e Vida Severina, dito por João Cabral de Melo Neto


A mulher ficou admirada, ouviu enternecida.

E então, sorriso insinuante, virou-se para o príncipe de ébano:  'Não me vai dizer que também sabe um poema de cor?'. Ele sorriu, o olhar preso no dela: 'Vários. Tem preferência?'

O olhar firme e suave do príncipe e aquela resposta fizeram a mulher sentir-se estupidamente enrubescida e resolveu quebrar-lhe a atrevida confiança. 'Tenho. Herberto Helder', pensando agora vais ver, vais ter que dizer 'esse não' uma meia dúzia de vezes até te deixar escolher uns versinhos da treta.

Ele riu, triunfante - ah os homens acham-se uns heróis por tão pouca coisa, pensou ela - e, então, surpreendentemente, disse, 'Então veja se gosta deste' e, fixando-a nos olhos durante todo o poema, disse-o com alma, com emoção. E com que voz. O sotaque, o timbre, as pausas, tudo e, ainda mais, o olhar.

'Havia um homem que corria pelo orvalho dentro' dito por Herberto Helder


Ela sentia-se arrepiada, tocada (a poesia dita produzia, nela, este efeito) mas, claro, não o iria demonstrar.

Então, virando-se para o governante, atirou-lhe: 'Então e você, meu caro, vai brindar-nos com o quê?'. Ele engoliu em seco, sorriso forçado: 'Ah eu não sou dado a poesias, eu agora é mais ...' e ela, sem esperar,sem o deixar completar: 'É mais austeridade, mais desemprego, certo?'.

O governante tentou aparar o golpe sem acusar o toque e, com ar complacente, tentou sorrir, disfarçar, e, falando com ar paternalista: ' Também não gosto, não gosto nada, acredite, custa-me, acredite, mas tem que ser; mas já estamos a meio da ponte como disse o meu colega..' .

Ela sorrindo e sentindo o divertimento nos investidores-poetas, continuou, sorrindo, vitoriosa: 'Será? E o que é que está no lado de lá da ponte? O vazio...? E não será que a ponte é daquelas que vai abaixo...? Com o desemprego a disparar, com as últimas contas a mostrarem o descalabro que se avizinha, com as despesas a aumentarem e as receitas a diminuírem, não me parece nada que se esteja no bom caminho. E, meu Caro, não ouviu o que o seu amigo Poul Thomsen disse, que a política aplicada na Grécia foi um erro, que a austeridade destruíu a economia...?'

O governante já estava a ficar seriamente atrapalhado, desenhava-se ali um incidente, já dava mostras de incómodo, o verniz quase a saltar. Mas, político experiente que é, conteve-se  e optou por continuar com o tom paternalista: 'Pois, não sabe bem do que fala mas não se preocupe que isso acontece a muito boa gente; é que não é bem assim, nós não somos a Grécia.'

A mulher soltou uma gargalhada, a cabeça inclinada para trás, 'Pois não, meu Caro, mas olhe, eu também não sou loura.' Os outros riram de gosto.


Mas o governante, que não é dado a subtilezas, não percebeu. Ela fez de conta que explicava:  'debaixo desta cor, esconde-se a minha cor verdadeira'. Ele continuava sem perceber. Ela sorria, falando com ele como se ele fosse um burro encartado. '....Sou ruiva'.

O príncipe estava deliciado. Ela também. O governante continuava sem perceber que ela lhe estava apenas dizer que não era burra. 

O príncipe perguntou-lhe baixinho: 'É verdade?'. Ela fingiu que lhe dizia um segredo: 'O que lhe parece?'. Ele sorria, encantado, 'Uma ruiva de olhos verdes... faz sentido...'

Quando, no fim, saíu, o príncipe ajudou-a a colocar a écharpe. Estava frio. (Mas as mãos do príncipe, que , sem querer, roçaram ao de leve os seus ombros, estavam quentes.)

+++++

Convido-vos, também, meus Caros a lerem o que me aconteceu ao seguir o Guia dos conceitos básicos de Nuno Júdice, ao som de Ravel, lá no meu Ginjal.

E tenham, meus Caros, uma bela quinta feira!

11 comentários:

Maria disse...

Querida Jeitinho
Tudo corre bem.
Bach, a sensação de se sentir admirada, o lugar à mesa, dois investidores, um governante. A poesia chegou: um dos investidores, investe e bem, em João Cabral de Mello Neto.
Logo o outro responde com Herberto Helder. Até aqui, tudo bem.
Mas no que pensava o governante, enquanto você escutava as poesias?
Dinheiro, claro. Poderia ter desbobinado João de Deus. Mas como político, se calhar não sabia quem era. Se soubesse e tivesse bom senso, não diria. Dava nas vistas.
Ora, lembrei-me de lho mandar:

O Dinheiro
O dinheiro é tão bonito,
Tão bonito, o maganão!
Tem tanta graça, o maldito,
Tem tanto chiste, o ladrão!
O falar, fala de um modo...
Todo ele, aquele todo...
E elas acham-no tão guapo!
Velhinha ou moça que veja,
Por mais esquiva que seja,
Tlim!
Papo.

E a cegueira da justiça
Como ele a tira num ai!
Sem lhe tocar com a pinça;
E só dizer-lhe: «Aí vai...»
Operação melindrosa,
Que não é lá qualquer coisa;
Catarata, tome conta!
Pois não faz mais do que isto,
Diz-me um juiz que o tem visto:
Tlim!
Pronta.

Nessas espécies de exames
Que a gente faz em rapaz,
São milagres aos enxames
O que aquele demo faz!
Sem saber nem patavina
De gramática latina,
Quer-se um rapaz dali fora?
Vai ele com tais falinhas,
Tais gaifonas, tais coisinhas...
Tlim!
Ora...

Aquela fisionomia
É lábia que o demo tem!
Mas numa secretaria
Aí é que é vê-lo bem!
Quando ele de grande gala,
Entra o ministro na sala,
Aproveita a ocasião:
«Conhece este amigo antigo?»
— Oh, meu tão antigo amigo!
(Tlim!)
Pois não!

João de Deus, in 'Campo de Flores'

Se vir o seu amigo governante, ensine-lho. Aposto que nunca o dirá em Público, mas ficará a saber, que em poesia, também se fala de dinheiro.
Estou à espera de mais. Por favor, que o político continue mudo.
É que quando eles falam, ou entra mosca, ou sai asneira. Espero que entre mosca. As asneiras saem-nos caras.
Beijinho
Maria

Isabel disse...

Bem, é um mundo completamente à parte.
A única coisa que reconheço é "poesia"

Um abraço

Anónimo disse...

Cara UJM:
Peço desculpa pelo meu atrevido impulso de intromissão na sua história, mas … não resisti!

As belas e perigosas sedutoras sabem que são melhores do que eles e esta está farta de sabê-lo, mas como felina que é, sabe que ganha em esconder e lá está ela pronta a fazer o género “mulher etérea”. A prática certifica- lho: “ Depois de conhecer uma mulher etérea, pode achar-se algum atractivo numa mulher terrestre? “
A vítima, o formoso e magnífico príncipe árabe de cabelos pretos, olhos negros, ofereceu-se-lhe como acontece sempre. Ei-la agora femme fatale /mulher etérea que parte para iniciar a tortura do seu príncipe de ébano, do seu adão inocente.
E quando desciam a escadaria de mármore, uma proposta muito ingénua quase a roçar o vulgar: “eles, uma garrafa por abrir e dois cálices vazios” dava-lhe a primazia da escolha do local e da música.
Música e Eles, … a beleza a entrar-lhes pelos olhos dentro, porque a crise sensaborona mata!
...
Um abraço da
Leanor formosa e segura

Um Jeito Manso disse...

Mary, tertuliana Mary,

Mas não é que, às tantas me vai é apetecer escrever a meias consigo...?

Eu digo 'mata' e chega a Mary e diz 'esfola'. Adorei. O que nós as duas nos íamos divertir a criar situações, respostas, embaraços...!

E não conhecia esse poema que é uma delícia. Tomara que o 'dito cujo' o leia que lhe ficaria mesmo a matar.

Um beijinho, Mary e obrigada. Adorei!

Um Jeito Manso disse...

Isabel das muitas palavras em volta,

Não é um mundo à parte, não senhora. Este é um mundo muito real (embora tudo a história seja ficcionada).

Mas dou-lhe razão: este é um mundo que é feito de coisas que se vão.

No mundo o que fica são outras coisas - e a poesia é uma delas.

Por isso, e por ser dia da Poesia, me ocorreu inseri-la assim, como se viesse a propósito da história.

Um abraço, e bons olhares (a propósito do seu post com o Peter A.)

Um Jeito Manso disse...

Leanor, formosa, segura e romântica,

Ainda, um dia destes, formamos uma cooperativa, nós duas e a Mary. À vez, uma puxaria para a malandrice, outra para o romantismo, outra para a paródia e depois, consoante a inspiração do momento, a história ia avançando, e nós haveríamos de nos divertir à grande.

Mas, indo agora ao ponto: um príncipe de ébano, suave e com fogo no olhar como são os príncipes de ébano. Como irá acabar aquela noite? Cálices e vinho? Vinho branco como sugeriu ontem o leitor P. Rufino?

E, aqui chegados, eu chamaria para a festa a amiga Era uma Vez que, em verso, desmancharia o romance, introduzindo um inesperado amor na história (vidé comentário de ontem) e o Caro P. Rufino que introduziria a experiência colhida junto das grandes sedutoras.

Que bela equipa criativa para produzir grandes histórias, não...?

Obrigada pelo contributo (e nada de fugir com o príncipe árabe...)

Anónimo disse...

Cara UJM:

Obrigada pela observação aos comentários de P Rufino e ERA Uma Vez, quanta imaginação e inspiração bem humorada.
Parabéns, Era uma vez .
Não imaginava a sua sedutora e perigosa Chanel intima de outra perigosa, mas … " Tudo parece perfeito"

e tenha uma bela sexta feira!
um abraço da
Leanor formosa e segura

Anónimo disse...

Vinho branco só antes do jantar, com o sol a esvair-se no horizonte, num fim de tarde cálido. Por essa altura, a da cena final do Post, talvez um bom Madeira velho ou um Porto como, por exemplo, o que tenho em casa (2notáveis garrafas, produto que meu falecido, mas divertidíssimo, avô, do Alto-Douro, que oportunamente as engarrafou) com várias décadas em cima. Ou – sempre, em qualquer altura, mesmo nessas ocasiões – um flute de Champagne.
E já que falamos em Principes, ocorreu-me Laura Bell, conhecida pela “the toast of London” que, nos idos de 1850 terá alegadamente recebido do então Principe Nepalês, Jung Bahadoor, a quantia de 250 mil Libras – o equivalente a cerca de mais de 12 milhões de Libras a valores actuais! – por apenas...uma noite! Mas que noite deve ter sido! E, mais Principe menos Principe, Gertrude Mahon, na Inglaterra do Sec. XVIII, conhecida por “the Bird of Paradise”, ficou célebre pelos seus extravagantes chapéus (e beleza, naturalmente). Ou a bela Perdita Robinson, um dos grandes amores do então Principe de Gales da época vitoriana, que ficou igualmente famosa pela sua extraordinária elegância e beleza.
Adorei o pormenor da alça descaída! “Ah, as mulher são o Diabo, meu filho! Mas é tentação que nunca deves desdenhar!”, assim me dizia aquele meu patusquísimo avô, o que contrariava meu pai, ainda, felizmente, vivo, mas muito mais conservador, ou, melhor, mais comedido.
Mas, se tivesse nos braços uma Princesa, talvez a levasse até Veneza e escutariamos, ao fim da tarde, Mendelssohn (“songs without words”) a canção da Gôndola, bebericando um branco seco e depois cozinhar-lhe-ia um jantar “très spécial”.
Voilá! E boa noite, que se faz tarde!
P.Rufino

Um Jeito Manso disse...

Jesus, Caro P. Rufino! (leia o 'jesus' à inglesa, se faz favor, que sempre soa mais dramático e menos religioso).

Mas que é o que eu digo, senhores, o Caríssimo deve ter a seu cargo a cátedra de Sedução de uma qualquer Universidade. Só pode... Como conhece você tanta sedutora? Não é possível tal conhecimento num vulgar ser humano!

Mas, adiante. Estou fã dessa Laura Bell - e Laura é mesmo um nome que assenta que nem uma luva numa ruiva, falsa loura, de olhos verdes, amante de poesia, de música dita erudita, e, além disso, castigadora, maliciosa.

E já que se imagina a braços com uma princesa, façamos o exercício inverso.

Suponha-se o Caro P. Rufino numa situação em que se faz passar por príncipe nepalês e tem ao seu lado a Laura (a Bell, não a D. Laurinha, a de Massamá) e que, saem os dois, à noite, de uma recepção em que estiveram no maior climinha. Achando que a iniciativa lhe deveria caber a si (pensamento errado, mas vá lá), hesitaria sobre o descaminho para onde convidaria a sedutora da alça descaída. Tendo já jantado, não se sentiria à vontade para propor aquele número do branco e do jantarinho, pelo que talvez uma piano romântico, um Porto envelhecido, sei lá, uma coisa assim.

Enquanto duraria a sua hesitação, a pragmática Laura, sairia a terreiro e, sem delongas, convidá-lo-ia: 'nestas coisas nunca se come nada de jeito, estou varada de fome. Que tal se fossemos aí petiscar qualquer coisa que se veja?'.

Et voilà. E agora vou à minha empreitada que se faz tarde.

(Hoje está-me a puxar para coisas sérias. Vamos ver no que vai dar)

Olinda Melo disse...

Querida UJM

Porque é que passei pelos excelentes posts dos últimos dias e vim direitinha a este? pergunto-me. Pois é, logo na data da sua publicação fiquei com ele na ideia, na mira, lá do meu Xaile. O título atraía-me:'Mulheres que gostam de poesia são perigosas'. E digo-lhe, o texto, sofisticado e crítico, veio ao encontro das minhas expectativas.
Essa mulher é mesmo perigosa: apresenta-nos dois grandes poetas de uma assentada pela boca de tão grandes personalidades e aproveita para deixar sem jeito nenhum, com o seu jeito manso, determinado governante da nossa praça.

Gostei, gostei muito!

Seguirei a sua sugestão e passearei à tarde pelo Ginjal, ao som daquelas belas músicas...

Um bom domingo.

Beijinhos

Olinda

Um Jeito Manso disse...

Olá Olinda,

Já sabe que, de vez em quando, me dá para isto, para me deixar levar pela imaginação. Ou são textozitos àcerca dos poemas lá para as bandas do Ginjal, ou historietas por aqui. Sento-me aqui e (como não penso antes de escrever nem me auto-censuro), quando dou por mim, está a nascer uma história. E, quando acabo, nesse dia, não faço a mínima ideia se é só aquilo ou se aquilo é o princípio de uma história maior.

Mas, enfim, lá vai surgindo. Não tenho qualquer pretensão, é apenas o que surge, espontaneamente.

Ainda bem que gosta, fico contente, é um incentivo.

Um beijinho, Olinda.