terça-feira, fevereiro 28, 2012

O sms do meu amigo e uma nova surpresa em casa dele - aquela sua doce mulher não pára de me deixar atarantada...


Estou a começar a escrever já muito tarde, quase 1 da manhã. Cheguei tarde a casa e, depois de ter escrito no Ginjal (hoje sobre poema de Inês Fonseca Santos), quando cheguei aqui ao UJM vi-me forçada a escrever um pequeno apontamento sobre as palavras de Paul Krugman (post aí já a seguir). Por isso, é já perdida de sono que aqui estou a dar-vos conta das minhas andanças.

Música, por favor
Katie Melua - The closest thing to crazy


Não está a ser fácil conciliar a minha vida normal, com as suas rotinas e compromissos, com as solicitações que agora me surgem quase todos os dias dos lados dos meus amigos. E, no entanto, é compreensível face ao que tenho andado a escrever aqui. E, tenho que reconhecer que gente que bebe muito chá em pequenina é assim mesmo, tolerante, simpática, enorme poder de encaixe, porque, fossem outros, e esta brincadeira já tinha dado para o torto.

Adiante.

Hoje logo de manhãzinha um sms do meu amigo, ‘Estás a ver? Tu consegues. Quando queres até consegues portar-te bem. Não conheço esse livro do JLB, é novo? PS: Em contrapartida portaste-me muito mal com a brincadeira da bicha. Tens sorte é que nem a minha mulher nem a amiga me espetaram uma faca nas costas’. Ou seja, desta vez gostou do que leu e não levou excessivamente a mal aquela minha brincadeira do outro dia ao revelar o telefonema em que ele se expressou como um homofóbico homem das cavernas. Felizmente… (porque andei um bocado receosa, confesso…)

À hora de almoço foi a vez da mulher, desta vez ao telefone, toda divertida, ‘o meu marido é muito parvo, não é? Meteu na cabeça que o diseur – gostei dessa designação que a tua leitora lhe atribuíu, é mesmo a cara dele (e ele também gostou)…- mas dizia-te eu, meteu na cabeça que ele é maricas e agora é sempre ‘então hoje foste beber chazinho com a tua amiga?’ ou então, se ouve o telefone, ‘vai lá a correr, não faças esperar a menina…’ Parvo. Não ligo nenhuma. Olha, quando saíres daí passa por cá, gostava de te falar numa ideia’.

Logo hoje que não me dava jeito nenhum. Mas tanto insistiu que eu lá disse que sim, numa rapidinha.

E assim foi. Saí do trabalho e lá fui até casa deles.

De óculos no alto da cabeça, jeans justinhos, blusinha já com as cores desta primavera, sabrinas, toda juvenil e bem disposta, abriu-me a porta.

‘Óculos? Não sabia, nunca tos tinha visto. Ora põe lá a ver como te ficam.’ Coquette, lá os pôs, ajeitando o cabelo. ‘Comecei a semana passada, é para ler e escrever, já me estava a custar. Mas gostas de ver?’

‘Claro, ficam-te bem, dão-te um ar de charme qualificado’. Riu-se, ’Ainda bem, seja lá o que isso quiser dizer’. Depois voltou a pô-los no alto da cabeça, atirou-se para o grande sofá, bateu com a mão no assento e ordenou-me, ‘senta-te, temos que conversar’ e o ar já era outro, sério.

‘Uuupsss… lá vem chatice’, temi intimamente. ‘O que será?’

E então disse, alto, lá para dentro: ‘Podes vir’  e eu senti que alguém vinha na direcção da sala. O diseur? O que é que estes dois andarão a tramar?, interroguei-me.

Mas qual não é a minha surpresa quando vejo surgir uma mulher de máscara veneziana… Felizmente estava sentada. Confesso que até me assustei ligeiramente, que maluquice… !

Com máscara

Mas elas, as duas, desataram-se a rir. Passado aquele instante de perplexidade, voltei a mim, ‘... A advogada…?’.

Ela arrancou a máscara.

Sem máscara


Cabelos compridos revoltos, vistosa, talvez pelos quarenta e tal, cinquenta e poucos, calças pretas justas, blusa estampada em tons de azul, brincos de água marinha, uma bonita gargantilha talvez de ouro branco, uma écharpe em volta do pescoço, sapatos azuis escuros, tudo muito bem e a condizer com uns olhos muito azuis.  Nitidamente aquilo a que os gabarolas gostam de chamar MILF (= Mothers I'd like to fuck).

No meio do espanto pela insólita situação, ainda consegui pensar ‘ felizmente hoje trouxe esta roupa, também não estou mal’, que isto, em qualquer circunstância, uma mulher estabelece logo rivalidade a nível de apresentação com qualquer outra que lhe apareça pela frente.

A minha amiga observava-me, ‘Admirada?’ e eu: ‘O que é que achas?’ e a outra ria-se ‘É que você não sabe a coincidência… adoro máscaras de Veneza, tenho várias, não apenas as trago de cada vez que lá vou, como os meus amigos, quando lá vão, fazem questão de me trazer. Imagine só. E no entanto você não sabia quem eu era, muito menos deste pormenor, pois não? Imagine a coincidência… ‘

E eu, que ultimamente sou sistematicamente deixada em estado de estupor catatónico pela minha ex-conservadora amiga (que eu, com estas peripécias, já não consigo achá-la nem doce nem conservadora), outra vez quase sem saber o que dizer, ‘Claro que eu não sabia de nada, nem sei ainda.’

E a aminha amiga, oportuna, ‘Então deixa que te apresente: é, obviamente, a minha advogada.’.

Estando já sentada, só me apeteceu atirar-me ao comprido, deitar-me, esconder a cabeça debaixo de uma almofada, sair dali para fora coladinha às paredes.

A advogada dela? Então foi a advogada dela que lhe atirou a ele papéis pela janela do carro, deixando-o infeliz e prostrado…? Tem um caso com o marido da cliente e a cliente não desconfia de nada? É demais, vou-me embora, apeteceu-me dizer. Mas, atordoada que estava, nenhum som saíu da minha boca.

E acrescentou ainda, para me baralhar mais: ‘Minha advogada e minha amiga’. E riram, divertidas, giras, bem dispostas. 

Lá consegui dizer, numa tentativa de parecer também bem disposta, de dizer alguma gracinha: ‘só falta aqui a bicha de serviço…’. Elas desataram-se a rir e a advogada, enquanto brincava com a máscara, disse ‘é verdade, podias ter dito para ele estar cá. Aliás foi ele o grande mentor’ e a minha amiga aquiesceu: ‘E achas que não lhe disse? Mas hoje anda em roteiro ou lá o que é, parece que agora andam todos, o Cavaco, o Seguro e até ele, imagina’.

‘Mentor de…?’, perguntei.

‘Então, vá, agora vamos falar a sério’, disse a minha bela amiga, pôs os óculos, abriu um dossier que tinha na mesa ao lado do sofá; a advogada puxou de uma banqueta e sentou-se à nossa frente e eu reconheci, à beira de me sentir despeitada, ‘Nº 5. Então a flausina  também usa Chanel…’

E, compenetradas, começaram a contar-me. 
........

Mas, dado o adiantado da hora, vou pedir que me desculpem - o resto tem que ficar para amanhã. Mal consigo escrever, estou mesmo perdida de sono.

Tenham, meus caros, uma bela terça feira. Está sol e uma temperatura agradável. Não chove mas, ao menos, sabe bem assim.
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E, já agora, não esqueçam: se não forem dados a folhetins e estiverem mortinhos por saber o que acho das palavras que Paul Krugman proferiu sobre austeridade e sobre ordenados, deixem-se escorregar até ao post abaixo.
   

4 comentários:

Maria disse...

Jeitinho amiga:
Afinal, a máscara é dela, mas quem a usava era a advogada dela. O diseur é dela, de quem é o marido ou, quem é o marido? Isto ainda é mais complicado do que as telenovelas.
Já começo a ter pena do marido. Duas mulheres sádicas e uma bicha política, é de mais.
Com 4 personagens, consegue baralhar mais, do que "Os Mistérios de Lisboa".
Valha-me a Santa que estou baralhadinha de todo.
Beijinhos
Maria

Anónimo disse...

Cara UJM:
perdi-me a folhear o livro da Matemática de Clifford A. Pickover e a admirar as imagens, porque matemática....
Os seus amigos são uma surpresa constante e gostam de a chocar, mas não sabia que apesar de burgueses gostam de contestar os padrões burgueses e o socialmente correto?
Esta aparição da (des)conhecida com a máscara veneziana fez-me recordar o casal Beauvoir e Sartre e como souberam conjugar liberdades individuais e vida conjunta. Quem sabe se a "enganada" é a querida UJM?
Hoje as mulheres são pragmáticas , e pelos vistos a sua amiga será mesmo muito pragmática. para ela há o marido que lhe pôs a aliança no dedo e será sempre o seu marido, e aqueles com quem se diverte ... uma várias vezes ! O marido será também como ela muito pragmático! Assim terão uma relação fecunda e divertida (digo eu)....
Leanor pela verdura

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria,

Tudo tão simples Mary: um casal perfeito, ele um executivo de sucesso, conhecido na nossa praça, ela a sua bela mulher que é excelente dona de casa, que organiza umas festas maravilhosas, e ainda um seu amigo, uma pessoa muito conhecida na esquerda (que ainda não percebi se é gay ou se tem um caso com ela), e ainda a advogada dela (e que ainda não percebi se tem caso com o executivo ou não).

Tudo tão simples, tão civilizado, Mary.

Beijinhos!

Um Jeito Manso disse...

Caríssima Leonor-Beauvoiriana-pela-verdura,

Então nadinha também com a matemática...? Não sabe o que perde. A matemática é de uma beleza fantástica para além de ginasticar o raciocínio no exercício da abstração. Corpos pluridimensionais, modelos complexos, espaços infinitos, ah como eu gosto até de falar nisto. Love, love, love.

Conheço a história do homem pequeno e feio que despertava grandes amores (e que, de alguns, não se percebia se eram mais do que platónicos) e da mulher sensível inteligente que vivia na periferia de Paul, o pequeno génio, tendo também as suas amizades de género variado e intensidades variáveis também,e que acabou por aceitar que assim seria a sua vida com ele. E ele que tanto gostava da sua pequena 'castor', também ia e vinha. A verdadeira relação aberta, tem toda a razão.

Quanto a este casal amigo que conheço tão bem, por via de um simples facto que presenciei acidentalmente, tenho vindo a descobrir alguns aspectos que me deixam perplexa. Mas porque fico eu assim se estou farta de saber que 'por fora tudo é fácil e vão, por dentro das coisas é que as coisas são'?

Gosto dos seus comentários, deixam-me a pensar, ajudam-me a perceber o que vejo (e acho graça às suas interpretações). Obrigada.