A minha estreita relação com as palavras vem de muito cedo. Com seis meses comecei a falar, pregando um valente susto à minha mãe. Fui também precoce na aprendizagem da leitura. Não guardo memória de alguém me ensinar a ler ou escrever (só podem ter sido os meus pais, mas não me recordo) mas lembro-me de que, quando entrei para a escola infantil, com 4 anos, já o sabia fazer com facilidade. Ler era para mim uma coisa muito intuitiva, tenho ideia de que não precisava que me ensinassem para que eu conseguisse perceber os sons e os significados associados às palavras. Não que isso me tenha trazido qualquer vantagem sobre qualquer outra pessoa mas, se o refiro, é para tentar explicar esta minha precoce paixão pelas palavras.
Havia, na escola infantil que frequentei, uma cartilha de João de Deus em tamanho gigante, colocada num suporte na parede e a professora, de imaculada bata branca, dava uma página por aula.
Brincávamos também com barro, com plasticina, fazíamos dobragens com serpentinas ou papel de lustro, dançávamos, cantávamos, tocávamos tambor, pandeireta ou ferrinhos, mas uma parte da manhã era sempre reservada à aprendizagem da leitura e da escrita. De início, a escrita reduzia-se a fazer risquinhos entre linhas que tinham uma linha intermédia. Eu fazia os risquinhos todos e depois escrevia o nome completo e o mais que me viesse à cabeça. A aprendizagem da leitura pela Cartilha era um momento engraçado, era um verdadeiro ritual iniciático. Ela lia e nós tínhamos que repetir em coro.
As letras, os ditongos, depois as sílabas, depois aqs palavras - ela dizia e era como se representasse e mostrava como deveríamos colocar os lábios, a língua, mostrava os sons dominantes, e nós repetíamos fazendo os mesmos trejeitos.
Embora a leitura para mim já não oferecesse dificuldade, aqueles exercícios de dicção eram engraçados. Mas a professora deve ter percebido que a matéria tinha pouca novidade para mim e, então, comecei também a aprender francês e aí é que eu já gostava mesmo porque havia o efeito novidade. O meu avô, que em novo tinha andado por França, falava-me, por vezes, dessas suas aventuras e eu pedia-lhe que ele me ensinasse palavras em francês. A que eu gostava mais era fourchette para garfo, e aquele arranhar do R soava-me divertido. Depois era o u a ler-se iú e a fazer biquinho. Por isso, na escola, aprender a dizer mais palavras e ver como se escreviam, agora numa língua diferente, era aliciante.
Quando entrei para a escola primária, tinha a sensação de que já sabia tudo aquilo de que a professora falava mas, apesar disso, era uma experiência agradável. Na mesma sala havia a 1ª, a 2ª e a 3ª classes, separadas por filas. Quando a professora ensinava uma coisa a uma classe, estavam as outras a fazer alguma actividade (cópia, redacção, contas, etc). A professora era amiga da minha mãe e quando se juntavam eu ficava cheia de medo porque à noite lá vinham as recriminações. Dizia-me a minha mãe que a professora se queixava que eu não parava sossegada, sempre virada para o lado ou para trás. Mas a questão é que eu nem me dava conta que eram várias classes, prestava atenção a todas como se tudo me dissesse respeito, sempre com curiosidade.
Lembro-me que uma vez levei umas fotografias para mostrar aos meus colegas e à professora e numa delas eu estava sentada num sofá a ler uma Crónica Feminina, coisa que eu adorava ler.
Era uma revistinha pequenina, cheia de temas variados e interessantes. Eu devia ter, na altura, 6 ou 7 anos e lia a revista de trás para a frente com muita curiosidade e sem qualquer dificuldade. E, então, a Professora disse-me ‘podias era ler coisas melhores e mais apropriadas à tua idade’. Aquilo soou-me a censura e fiquei um pouco incomodada, sem perceber que mal é que aquilo tinha. Lembro-me que contei em casa e que notei que os meus pais trocavam impressões sobre o assunto, muito sérios, quase como se avaliassem a justeza do remoque.
Nunca achei piada nenhuma aos Tio Patinhas. Daquilo, apenas gostava das histórias que envolviam os Irmãos Metralha. Mas, em geral, não me despertavam grande interesse.
Uma amiga minha que tinha uma irmã muito mais velha, talvez uns 10 anos mais velha, costumava ter em casa revistas com as fotonovelas da Corin Tellado e eu, quando lá ia lá a casa delas, devorava-as.
Aqueles romances de mulheres sedutoras, às vezes chorosas, traídas ou traidoras, insinuantes e com belos vestidos, reclinadas na cama, homens a abrir a porta do carro com ar másculo, ou sensíveis, ar sofredor, tudo aquilo era para mim um pitéu. Não devia perceber nem a décima parte do que lia mas acho que antevia que havia um mundo de romance e ilusão por descobrir. Não faço ideia se a minha mãe sabia que eu lia aquelas coisas mas acho que ela há muito que tinha desistido de controlar o que eu lia pois sabia que eu lia tudo o que apanhasse à mão.
Pelo contrário, nunca achei piada à Anita - era muito bonita, muito certinha. Anitas ou Mulherzinhas ou demais meninas comportadinhas que faziam travessuras insignificantes, foi coisa que nunca me despertou curiosidade. Gostava era muito de uma colecção de que já não recordo o nome mas que tinha livros de uma autora que eu adorava, a Berthe Bernage, que escrevia muito bem (tanto quanto recordo) e que contava histórias sobre uma menina que tenho ideia que se chamava Brigitte (nome que eu achava lindo) e a quem chamavam Menina Aguaceiro e lembro-me que havia a Menina Aguaceiro na Côte d’ Azur, na Holanda, na Bretanha – e o que eu gostava desses ambientes longínquos…
E gostava também muito de um livro que era A Princesa da Lua de Patrick Saint Lambert, um livro que também me fazia sonhar. O meu pai, na brincadeira, às vezes até me chamava princesa da lua, coisa que me encantava porque achava que tinha tudo a ver comigo.
Quando entrei para o liceu, as minhas redacções eram muito apreciadas e eu achava que o mérito não era meu, que o que se passava era que eu tinha incorporado a escrita Berthe Bernage ou Patrick Saint Lambert.
E cada vez queria ler mais e mais. Os livros que havia em casa não me chegavam. A minha mãe tinha uma amiga cujo marido era médico e que tinha a colecção das obras completas de Fernando Namora, também ele médico como é sabido. Eu via na estante aquela fiada de livros da mesma colecção, escrita por um médico-escritor, e tinha uma vontade enorme de lhes deitar a mão. Até que essa amiga disse à minha mãe que aquilo era capaz de não ser do mais indicado para uma miúda de 12 ou 13 anos mas que, olha, se ela já lê de tudo, mal também não deve fazer. E então começou a desdobrar-se perante mim um mundo novo. O mundo dos rapazes numa República em Coimbra, o mundo dos médicos de província, o mundo dos amores e desamores dos adultos, tudo já escrito numa linguagem mais elaborada. Li então a obra completa, até à data, do Fernando Namora.
Entretanto em casa lia tudo o que havia, O Jogador de Dostoievsky que me marcou imenso, Werther de Goethe, A morte de Ilan Ilitch de Tolstoi, vários de Edgar Allen Poe que me deixavam transida de medo mas que não parava de ler, geralmente noite fora (desde miúda que sou noctívaga; os meus pais passavam-se quando acordavam a meio da noite e reparavam que a luz do meu quarto ainda estava acesa). Quando estava sozinha em casa ou de noite temia que saíssem mãos ensanguentadas das paredes, que houvesse gente emparedada, quase me parecia ouvir gemidos de trás das portas. Mas eram livros tão bem escritos…
Até que um dia entrei na Biblioteca do Liceu. Estantes de livros pintadas de um verde água muito claro, quase branco, com portas de vidro, estantes até quase ao tecto, tantos, tantos livros, aquele cheiro característico das bibliotecas. O céu.
Nem sabia por onde escolher, o coração quase batia mais rápido quando lá entrava, tamanho o entusiasmo.
Não faço ideia do número de livros que li dessa maravilhosa biblioteca mas foram muitos, muitos. Escolhia ao acaso, abria, folheava, se me agradava levava com uma fichazinha. O empregado achava-me graça, já me fazia recomendações. Se gostava, ao entregar esse, levava outro do mesmo autor até que não houvesse mais. Todos os da Pearl Buck, todos os do Somerset Maugham e o que eu me fascinava com a sua escrita bem enredada, com Liza a Pecadora, com essas vidas complicadas que envolviam sexo, rua, drama. Depois Steinbeck, as Vinhas da Ira e demais. Até que comecei a ir eu às livrarias. Deveria ter uns 15 anos quando li tudo o que havia de D. H. Lawrence. Uma fascinante descoberta. Como acontece com a aprendizagem das crianças, tudo assimilava sem que nada me parecesse chocante.
Quando fiz 16 ou 17 anos, o meu namorado da altura ofereceu-me uma coisa que me deixou nos píncaros da felicidade.
Quando fiz 16 ou 17 anos, o meu namorado da altura ofereceu-me uma coisa que me deixou nos píncaros da felicidade.
A Selva de Ferreira de Castro numa edição linda, capa de pele verde, um livro enorme, ilustrações de Júlio Pomar. Adorava folhear devagarinho, tocar nas folhas de espesso papel. E deslumbrei-me também com a história fantástica da vida solitária no meio de uma selva quase opressiva, quase humana. Daí, passei naturalmente para o resto da obra de Ferreira de Castro e adorei conhecer a vida nas serras frias, a neve cobrindo a terra áspera, os lobos, a pobreza nas aldeias, as mãos gretadas, os caminhos percorridos de madrugada, noite cerrada. Logo depois Aquilino e montes de palavras que desconhecia, sempre a ter que ver o dicionário, mas era uma força telúrica que me fascinava.
Já antes, talvez pelos 13 ou 14, nas minhas incursões pelas livrarias, tinha andado a ver livros de poesia e tinha havido um que tinha achado estranho mas que, apesar disso, me tinha despertado muito interesse. Estávamos perto do Natal e então pedi à minha mãe que mo oferecesse. Assim fez. Nesse natal recebi o Poemas de Deus e do Diabo e também o Filho do Homem, de José Régio. Foi uma coisa que me marcou. Li e reli e voltei a ler, tão diferente de tudo o que tinha lido até aí. Foi o meu primeiro verdadeiro contacto com a poesia. E fiquei presa até hoje e assim ficarei até ao fim - é das poucas certezas que tenho na minha vida.
Quando entrei para a Faculdade já tinha lido imensa coisa e já estava verdadeiramente adicted to books. Preferia comer apenas nas cantinas para poupar dinheiro e ir gastá-lo em livros. Por essa altura descobri os alfarrabistas entre o Príncipe Real e o Chiado e passava horas enfiada nestas lojas escuras e cheias de pó, com livros em caixas, em montes, em estantes a barrotar. Adorava os da Rua da Misericórdia e foi de lá que quase refiz a colecção completa de Fernando Namora.
Outros momentos altos, em que me perdia e gastava todas as poupanças e o dinheiro retirado mensalmente à mesada, eram os saldos da Bertrand. Era a perdição absoluta. Passava de sala para sala e ia juntando livros. Às vezes saía de lá tão carregada que mal conseguia dar passo. Foi assim que descobri autores de cuja existência nem suspeitava alguns dos quais li na língua de origem, Miguel Angel Asturias, Violette Leduc, por exemplo. E que descobri (e passei a aceitar) lados da vida até então obscuros para mim.
'A bastarda' com prefácio de Simone de Beauvoir, edição Gallimard |
E li Gorki, Balzac, Zola, Hemingway, Erich Marie Remarque, Graham Green, Tchekhov, e Augusto Abelaira, Fernanda Botelho, Irene Lisboa, e José Rodrigues Miguéis, e Jorge de Sena, e por aí fora.
E poesia, muita, toda.
Comecei por essa altura também a diversificar os meus interesses. A teoria da relatividade, a mecânica quântica, a física da matéria, coisas que me intrigavam e que queria perceber. Livros pequenos que comprava na feira do livro, livros enormes da Universidade de Berkeley, um fascínio, coisas que lia como se lesse poesia, temas mágicos, sem me preocupar em fixar ou, sequer, em perceber tudo.
Não sou de Letras nem de Física pelo que tudo o que lia era puro prazer, nada por obrigação.
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Não vos maço mais porque, por mim, continuava. Falo de livros como de pessoas. Vivo rodeada de livros, adoro livros, continuo a comprar livros mesmo sabendo que, em relação a grande parte deles, talvez nunca consiga vir a ter tempo para os ler.
E gosto de escrever.
No fundo, acho que gosto é de palavras. Gosto de pensar que estou aqui na minha sala, praticamente às escuras - em que apenas um pequeno candeeiro ilumina a mesa em que escrevo, uma mesa cheia de livros, rodeada por estantes cheias de livros - e que vocês, que não conheço, estão aí a ler estas minhas palavras. Gosto de sentir a harmonia quase aleatória, quase mágica, como as palavras se ajeitam entre elas, se combinam, se desafiam, como se enfeitam, coquettes, para seduzir quem as lê, quem as ouve.
Gostava de poder ver a vossa expressão, gostava de poder sentir pela forma como respiram ou como inclinam a cabeça, se também gostam de ler, se também gostam de palavras, se gostam das minhas palavras. Gostava de vos poder mostrar os meus livros, de poder folheá-los para vermos quem é o tradutor ou quem ilustrou a capa, qual o ano da edição, ou contar-vos onde o comprei ou onde o li.
Acho que se hoje sou tolerante, compreensiva, se aceito tão bem as diferenças, as falhas, se gosto tanto de pessoas, o devo aos livros, às pessoas que os habitam, aos muitos mundos para onde me levam. E se sou tão crítica em relação à estupidez, à ignorância arrogante, à vil ganância, acho que é porque o que aprendi nos livros me permite concluir que não há nada mais perigoso que isso.
De facto, muito do que sou devo-os aos livros que li. Por isso, lhes sou tão agradecida.
13 comentários:
No silêncio da casa, não ouso ir buscar o LD para confirmar, é de cor que,lamentando a iliteracia galopante e agradecendo-lhe a viagem retrospetiva de um itinerário que me é comum, transcrevo Bernardo Soares
«As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas.»
Ana de Sá
Cara Ana de Sá,
Acho que perceberá se lhe disser que o seu comentário me tocou pois, ao usar estas palavras do Livro do Desasossego, descreveu na perfeição o que eu sinto em relação à palavras.
Aliás todo o seu comentário vai de encontro ao que eu penso sobre o quanto é difícil explicar às pessoas que é normal usar o dicionário, mesmo que hoje se use um dicionário online; quanto é difícil explicar que, sem se ter lido, pouco se sabe; sem se ter lido pouca espessura se poderá ter; sem se ter lido, dificilmente se antev~eem as diversas vertentes da vida; quanto é difícil explicar que ler é um prazer, não um sacrifício.
Para mim, falar de livros, falar de palavras, conjugá-las, brincar com elas, é, de facto, um enorme prazer.
Já agora, permito-me convidá-la a visitar um outro blogue que faço e no qual, justamente, me dedico às palavras (e também, embora menos, à música):
http://ginjalelisboa.blogspot.com/
Aí diarimante faço um exercício. Pego num qualquer livro de poesia, escolho um poema e transcrevo-o. Depois escolho uma fotografia feita por mim (outro gosto que tenho: fotografar) e, a seguir, sem pensar, ponho-me a escrever um pequeno texto inspirado pelo poema e, por vezes, pela própria fotografia.
Gosto imenso de fazer isso. Só depois de o fazer, diariamnete, é que venho aqui para o Um Jeito Manso.
Muito obrigada pelas suas palavras e volte sempre.
interessante memória das primeiras letras, da atração desde muito cedo pela palavra escrita, das leituras desde a crónica feminina a d h lawrence, régio, sena, outros.
entrada rica de pormenores informativos e evocativos, o método joão de deus, o folhear dos livros, os nomes dos tradutores (importante), a sonoridade das palavras incluindo de outras linguas, forchette, curioso o que aqui se diz.
Caro Patrício,
É um tema de que me empolga falar, nem imagina. A forma como os arrumo, a forma como os folheio, as capas, o papel, as edições, o tipo de letra e, claro!, o conteúdo, as palavras.
Gosto de descrever tudo o que se relaciona com as palavras (se tem reparado lá no Ginjal, é um tema recorrente). Escrever, ler, cerzir palavras, usá-las como se bordasse, tomá-las dos livros como se fosse um conteúdo precioso.
Só não falo mais para não maçar as pessoas que devem achar que não devo ser boa da cabeça...
Mas gostei que tivesse reparado no meu percurso feito sobre o caminho das palavras.
sim, podia subscrever muito do que diz, aplicado a mim.
noutro blogue fio de prumo esta sua entrada é citada, comprovando-se que há muita gente que se revê (encontra, reconhece) nestas suas palavras sobre as palavras.
Voltarei ao assunto.
Adorei a epopeia do seu percurso literário.
Sabe que eu também fui para um Jardim Infantil aos 4 anos- A Flor dos Pequeninos - em Campo de Ourique, bairro onde nasci e onde vivi até aos 8 anos. Também eu aprendi a ler muito cedinho e quando ingressei aos 6 anos na 1ª classe, a professora, que era amiga dos meus pais e lecionava no Grémio de Campo de Ourique, que ainde hoje existe, disse que era pena eu marcar passo no livro da 1ª classe e que propunha que dessem autorização para eu começar com o da 2ª.
Sempre achei que as palavras nos identificam, nos abraçam, nos ajudam a conviver e que é com elas que podemos comunicar ao longo da vida.
Agora percebo a razão do introito do seu blogue. É verdade, elas tanto nos abraçam e beijam, como nos empurram e fazem sofrer.
Como foi bom recordar alguns dos livros da minha infância/ juventude /adolescência que me fizeram, tal como conta, estar de luz acesa até às tantas e ouvir valentes ralhetes quando os meus pais descobriam. Até porque de manhã é que a coisa ficava preta para me levantar.
Até a Crónica Feminina que era tão engraçado ler no intervalo dos assuntos sérios.
Hoje também me esqueci que lhe estou a escrever e que sem a ver é como se a tivesse ao pé de mim a conversar.
Grande beijinho
Teresa
Teresa-Teté,
Que bom saber que as minhas palavras despertam lembranças e que o seu percurso e as suas recordações são tão parecidas com as minhas. São afinidades.
Sabe? Eu, quando começo a escrever, nunca sei bem o que vai sair. Vou escrevendo e as ideias vão arrebanhando letras para que as palavras se formem.
Comecei a escrever com a intenção de fazer uma pequena introdução a uma fotografia que fiz com os meus livros mais recentes, agora do Natal. Afinal, fui buscar coisas de que já nem me lembrava, fui percorrendo o meu caminho não das pedras mas dos livros.
No fim, quando dei por mim já tinha escrito tanto que já nem dava para encaixar a fotografia com um textozito sobre os livros.
E sabe também?
Eu, quando leio os comentários e quando me ponho a responder é como se estivesse mesmo a falar convosco. É como se vos tivesse aqui á volta desta minha mesa, que é redonda, junto a uma janela com uma bela vista, e estivessemos aqui todos, em amena cavaqueira, uns calados a verem a paisagem, outros aqui a trocar impressões comigo. Um grupo de amigos à volta da mesa. Pelo menos é assim que eu quase que penso quando me ponho a escrever isto.
Um beijinho, Teresa-Teté.
É sempre saudável ver alguém a dizer o que aqui, neste post, se escreveu. Inteiramente de acordo. Sou igualmente um compulsivo leitor, desde pequeno, graças a meus pais e avós, que me incutiram esse interesse e gosto. E comecei orgulhosamente a minha biblioteca ainda adolescente. E, dentro da tradição, esforço-me por passar este bom hábito a meus filhos.
Aqui há uns tempos, vagueando por uma livraria em Londres comprei um livro e lá dentro vinha um pequeno papel com o seguinte "dizer":
The Original Cure-all, Recommended for: depression, stress, ansiety, uneasiness, feeling low, chronic boredom, nostalgia (também, é verdade!); Dosage: the more books you read, the quicker your symptoms wiil disappear!
Ora aí está. Tal receiptuário só me veio imprimir mais vontade de ler. E um tipo lê e lê e acha sempre que ainda sabe pouco e que há muito mais para aprender. Há gente, talvez por não terem o gosto da leitura, que não percebe o encanto da Cultura.
E lendo e rindo a vida prossegue!
P.Rufino
PS: gostei de ler o Post de HSC, no Fio de Prumo, sobre este seu... Post.
Querida Jeitinho
Percorrer ontem no seu belo texto tantas das minhas próprias memórias
foi um doce e comovente arrepio.
Se quiser espreitar de novo o Fio de Prumo, passei por lá e não resisti.
Abraços!!!
Boa tarde!
Que bom ler o seu texto! Pois algumas, (só algumas...)das coisas que refere,também fazem parte do meu percurso. Mas a que me é mais querida, que recordo com imensa saudade é a velha cartilha maternal do João de Deus! Estraguei umas duas.Teria os meus 4/5 anos...Foram compradas pelo meu pai e foi com ele que aprendi essas primeiras letras. Nasci na província, tenho 62 anos e na altura não haviam jardins de infância. Como era muito traquina, estive "ocupada" até à entrada na 1ªclasse, com 7 anos já feitos, aos cuidados de uma senhora que ensinava números e letras a vários meninos/meninas.
E fico-me por aqui. Mais tarde as bibliotecas itinerantes da Gulbenkian deram uma boa ajuda nas historias dos principes e princesas...
Agradeço esta excelente oportunidade em que recordei tão belos momentos..
Veramaria
Caro P. Rufino,
Gostei imenso de ler o que escreveu e de ver como há recordações que se guardam associadas aos livros.
Também eu, desde que nasceram, incuti nos meus filhos o gosto pelos livros. Começaram por ser brinquedos coloridos, com bonecos, brinquedos que se abriam, brinquedos sobre os quis se contavam histórias; depois já eles os queriam, para ler, para formar colecções; depois começaram a desenvolver os seus próprios gostos, a construir as suas próprias bibliotecas.
Hoje são adultos informados, que não passam sem ler, que sabem escrever e falar, com as suas estantes que já começam a transbordar de livros.
Aprender e ter gozo, ler e descobrir - tudo coisas boas nesta vida.
Saibamos aproveitá-la muito bem.
Era-uma-Vez,
Parece haver um traço comum entre quem gosta das palavras: parece que isso vem de tenra infância, não é?
Ou então é porque se teve a sorte de ter esse gosto desenvolvido muito cedo...
Não sei se é causa ou consequência mas quem gosta de ler, gosta das palavras, gosta da expressão dos pensamentos e sentimentos.
No seu caso, Cara Erinha, o seu gosto tem uma tradução muito objectiva - a facilidade com que se exprime em poesia é fantástica. Sai-lhe com uma facilidade que dá gosto.
Ontem não liguei o computador à noite e só agora o liguei e só agora sábado à noite) fui espreitar o Fio de Prumo e vi a vossa troca de comentários (tão elogiosos na parte que me toca). Quem havia de dizer que um texto sobre o papel dos livros na nossa vida, despertaria tantas boas recordações em quem o leu.
Um beijinho.
Cara Vera Maria,
Gostei imenso de ler as suas recordações que também envolvem a Cartilha, os livros, a escola.
Achei engraçado que a senhora que tomava conta de si antes de entrar para a primária, ensinasse números e letras aos meninos. Teve sorte porque o gostinho da leitura deve também ter vindo daí e das cartilhas do seu pai (que a Vera vandalizou... - estou a brincar, claro)
Gostar de ler abre-nos mundos, leva-nos para ambientes e vivências que não conheceríamos de outra forma.
Agradeço as suas palavras. Volte sempre, Vera Maria.
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