Acho que o vou escrever deve ter banda sonora. Por isso, meus amigos queiram, por favor, fazer play. Aos que estão no trabalho recomendo que baixem o som do computador para não ficarem com a reputação na lama.
Já está? Ok. Então vamos lá.
Quem aqui me costuma ler sabe que não morro de amores pelo Miguel Relvas. Aparece-nos amiúde casa dentro a falar de tudo e de mais alguma coisa, sempre com aquele ar de velha sabichona, de quem muito sabe.
Li no Expresso que a empresa da qual era administrador executivo até à altura em que veio para ministro, a Finertec, adquiriu 20% da Fominvest, a empresa na qual Pedro Passos Coelho era administrador (segundo constava, pela mão de Ângelo Correia) até vir para primeiro ministro. A operação visará atacar mercados como Angola e Brasil.
Nada de mais.
O que me espanta não é isso. O que me espanta é como é que o Miguel Relvas tinha tempo para exercer a sua função de gestor executivo numa empresa enquanto o víamos andar num permanente vaivém enquanto político activo?
Espanta-me isso em relação a ele e espanta-me em relação a todos os outros (o Miguel Frasquilho que é director do grupo BES e deputado, etc). Eu trabalho numa empresa - e trabalho o dia inteiro sem ter tempo para me ausentar para ir ali tratar de umas coisinhas. Como é que eles conseguem?
Ou será que estão nas empresas, não para trabalhar, mas apenas para garantirem os contactos que conseguem enquanto políticos? É mais isso, não é?
Mas detenhamo-nos agora no super-ministro Miguel Relvas - como é que conseguia ser deputado, presidente da Assembleia Municipal de Tomar, gestor de uma empresa privada e ainda ter tempo para andar pelas televisões a participar em debates? E como é que, no meio disto, ainda arranja tempo para as reuniões da Maçonaria? E, ainda mais espectacular, como é que, no meio disto tudo, ainda conseguiu tempo para tirar um curso superior (acabou o curso de Ciência Política e Relações Internacionais na Lusófona, em 2007) - vejam bem.
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Numa festa na Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria no Rio com convidadas |
Mas as proezas deste homem biónico não se ficam por aqui - em 2008 tornou-se Cidadão Honorário da Cidade do Rio de Janeiro. Presença frequente nas festas de sociedade, interlocutor em negócios, facilitador, dizem.
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Na mesma festa com Paulo Elísio de Souza .... Agostinho Branquinho agora funcionário do Nuno Vasconcellos na Ongoing, que também terá estado na festa |
Como é que ele consegue - perguntarão alguns cépticos? Alguma coisa ficará para trás, digo eu.
Fui ler o CV do fantástico Miguel Relvas - uma vida inteira de servicinho partidário, desde tenra juventude. E daí partiu para estas acumulações com a gestão de uma empresa com interesses em África e Brasil.
E agora é nº2 do Governo, o mais importante, omnipresente, omnisciente, omnifalante.
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Outra coisa surpreendente que li no Expresso deste sábado. Depois de muito adiar, depois da AICEP (a importantíssima Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal que depende de Paulo Portas) estar sem direcção durante mais tempo do que devia, eis que finalmente se sabe quem vai chefiá-la: Pedro Reis, uma escolha pessoal de Passos Coelho.
Pedro Reis para além de amigo é referido como conselheiro de Passos Coelho e, a pedido deste, escreveu um livro, 'Voltar a crescer', no qual reuniu testemunhos de empresários e gestores. Nada de mais, certo?
Pois, se calhar não. Se calhar sou eu que gosto de me armar em difícil. Sou exigente, penso eu. 'Arma-se em esquisita' dirão alguns.
Mas é que o curriculum dele diz-me que depois de ter estado na Altamira (que faliu) e no Grupo Tubos, passou a dedicar-se à imagem e comunicação, detendo participação numa agência de comunicação, Imago, participação que mais tarde vendeu, passando a partner da Cunha Vaz & associados (outra agência de comunicação).
E é este o CV da pessoa que vai ter por missão promover a internacionalização da economia portuguesa, atrair investimento para o País e mais um monte de coisas que, diria eu, requereria a sólida experiência de alguém com provas dadas no comércio externo, um gestor de mão cheia, alguém com visão estratégica, com conhecimentos de história, com uma cultura vasta, com dotes políticos e diplomáticos. Diria eu.
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Começa a ser consensual que a única salvação possível para a Europa, para que não se afunde de vez, para que os países não entrem numa pantanosa insolvência da qual não se vê como poderiam sair, seria o BCE assumir-se como banco, adquirindo toda a dívida pública dos países, emitindo moeda, procedento a manobras monetárias (valorização ou desvalorização consoante as circunstâncias).
Podemos ler isso um pouco por todo o lado - e é isso que Cavaco Silva defende. É isso que ele diz nas entrevistas, nos encontros diplomáticos, aos jornalistas que o apanham na rua, no jardim ou onde calhar. E aí não o posso censurar. Nesta matéria concordo com ele (tomara que o soubesse dizer num inglês mais fluente e que tivesse um ar mais cosmoplita mas, enfim, isso é outra conversa).
No entanto há quem não o queira. Quem? Angela Merkel, claro. Se isso acontecer a Alemanha perde o seu protagonismo, a sua preponderância, a sua indisfarçável tentativa hegemónica. Angela Merkel e os seus seguidores, claro. E, de entre eles, quem é que aí anda defendendo que o BCE não deve emitir moeda, que isso iria favorecer a inflação e mais não sei o quê? O Pedrocas, claro. O PPC que nos saíu na rifa. Ou melhor, a fava que nos calhou em sorte.
Pois, conhecendo nós como conhecemos o nosso Presidente, sabemos que o Pedrocas se está a pôr a jeito.
Cavaco Silva anda numa ronda diplomática em que a principal mensagem é que o problema não é apenas de Portugal, que o problema é europeu e que a maneira de isto ir ao sítio é o BCE agir como banco central e... e o ex-Doce anda a dar entrevistas a dizer que isso é um disparate....?
Já com a história dos dois subsídios foi o que foi e agora está a desafiar Cavaco Silva desta linda maneira...? Parece que está a pedi-las.
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Reparem no fácies do Presidente: de uma rigidez assustadora Parece que quer estraçalhar a mãozinha do PPC, não é...? |
Isto não vai acabar bem. Cá para mim Cavaco Silva já deve estar a ver como é que se vai livrar dele e não me custa imaginar a D. Maria, à noite, quando se vão deitar, a dizer-lhe, 'Ó filho, não te enerves. Também já sabias que ele era assim uma cabecinha fraca, a Manuela bem dizia. Mas deixa lá, qualquer dia corres com ele, acaba-se com isto. Não vês o que já aconteceu na Grécia e em Itália? Se achares que ele prejudica o interesse nacional, corres com ele e nomeias tu um que aches que percebe disto. Vá, anda-te lá deitar, filho, não te enerves.'
Pois.
Olhem, meus amigos, só desejo é que apesar desta pimbalhada toda, consigam ter uma semana com muita classe.
Divirtam-se, ao menos!
10 comentários:
Relvas e Pedro Reis fazem parte da boyada, nada mais a comentar. Quanto às divergências, sabendo das manhas presidenciais, resta saber se são efectivamente reais. A situação, tal como está, necessita de um fusível. Será Cavaco esse fusível? É q se não é, este inverno será quente, de muitos calores. Havendo sempre, claro, uma solução tecnocrática... aliás, é o q está a dar.
Packard,
Tem toda a razão nas suas dúvidas. Eu também as tenho. No meio de tanta coisa de má qualidade ou incompreensível, a que esperança nos podemos nós agarrar...? Olhe, eu não sei.
Estamos por aqui à deriva, num barco em que ninguém parece estar ao leme.
Durão Barroso despareceu nesta voragem e é apenas um exemplo.
Quanto à solução tecnocrática, se for muito provisória (até a umas eleições com data pré-determinada) e for de reconhecida qualidade, ainda vá que não vá - numa emergência.
Agora, se isso acontecer por cá, será que ao menos temos tecnocratas que se aproveitem? Ou aparecer-nos-ia um do género dos que referi?
(E, aliás, não é este governo já uma amostra do que é um grupo de 'tecnocratas' repescados por aí, sem enquadramento político capaz?)
NOTÍCIA DE ÚLTIMA HORA:
ATENÇÃO AMIGA, MUITA ATENÇÃO.
Faltam menos de dois meses para acabar a CRISE.
D U V I D A ??????
Quem o garante é o ÁLVARO!!!!!!!!!!!
Era uma Vez,
O quê? Era uma vez uma crise? Era uma vez o quê? Não percebeu bem, Era uma Vez...? Então não percebeu o econo-canadês do Álvaro? Perceberam todos mal. O que ele queria dizer era que ia dizer que era uma vez uma coisa qualquer... Enfim.
Relvas e Passos Coelho são iguais na inutilidade do Curriculum Vitae. Ao segundo tirei-lhe a pinta logo após as eleições (http://outofworld.wordpress.com/2011/06/02/a-vidinha-de-pedro/ ), relativamente ao Relvas, acho uma perda lamentável de tempo debruçar-me, que sejam uns pequenos minutos, sobre aquele vazio humano.
Luísa,
Podemos não lhes ligar patavina mas não nos podemos esquecer que são eles que estão à frente (mais ou menos...) dos destinos do nosso país e isso é que é uma grande chatice.
PS: Gostei de saber que foi professora de matemática.
Sabe, eu até concordo que a maioria dos nossos governantes, não têm um curriculum minimamente decente. Por isso, eu nunca aceitei qualquer convite para exercer funções políticas. Por isso, quando o meu colega Fernando, respeitado e respeitável director do curso de Economia da FEP, me ligou a anunciar que estava de saída da Faculdade para liderar o Ministério das Finanças, eu lhe disse que a opção era péssima e que ele se iria arrepender, pois não seria nos ministérios que ele iria encontrar aqueles a quem se orgulhava de chamar "seus pares".
Até aqui, parece-me que estamos de acordo: quem tem competências e curriculum, não se mete em cargos políticos, porque além de ganhar muito melhor nos privados, nunca corre o risco de precisar de se vender ou de aceitar qualquer tipo de "disciplina de voto".
Quanto à pirosada da grande maioria dos nossos governantes, também concordo. Acho que à nossa primeira-dama, até lhe assentaria melhor "D. Mariazinha" de que "D. Maria"; que o accent do PR é péssimo e que, também, esperava que o do MNE fosse melhor, o que não achei, no pouco que ouvi.
Mas, para que respeitasse a isenção das suas opiniões, teria que a ter "escutado", no governo anterior, a tecer as mesmas criticas naquilo que igualmente era criticável. Se bem se lembra, o nosso anterior primeiro-ministro, tinha tudo o que estes têm, mas a dobrar: uma licenciatura tardia terminada, por fax, a um domingo, em que a melhor nota dos primeiros anos do seu curso, era 11. As notas altas aparecerem nessa molhada das últimas cadeiras... todas do mesmo professor. Helas!
E o inglês do Eng. Sócrates? Tão brilhante, e com tanta falta de vergonha, que os que o escutavam, não conseguiam disfarçar o riso, mesmo em momentos formais. E o espaniol? Se não se lembra e quer desanuviar, vá ao Youtube, que vale a pena.
Depois, por falar em pirosada, aqueles prédios da autoria desse nosso engenheiro técnico eram um verdadeiro susto. Quem como a senhora, que tem uma casa que parece de bom-gosto, conseguiu durante tanto tempo, não ridicularizar com comentários e apelidos, este tipo de coisas?
Olhe, e as criteriosas nomeações dos boys "crâneos", no governo anterior, a começar pelo mítico Rui Pedro Soares, jovem brilhante licenciado em marketing pelo IPAM...
Eu também não aprecio particularmente o Miguel Relvas, mas sabe, este, no tempo que aloca às diversas funções, é igual a todos os que por lá vão andando... E já percebi que há pessoas em que as 24 horas dão para muita coisa... E não é só nos políticos. A senhora, que se afirma uma executiva muito ocupada, também consegue muito mais tempo “livre” para actividades de laser, de que eu, por exemplo:alimenta todos os dias três blogues, tira fotografias por Lisboa, faz tapetes de arraiolos, pinta, cuida das suas plantas, etc. E faz tudo - pelo menos aquilo que nos é mostrado - com bastante qualidade.
Cada um tem diferentes capacidades de alocar o seu tempo, sem que isso possa significar competência, ou falta dela, não acha?
Cumprimentos
Carlos J. Costa
Olá, Carlos,
Já cá sentia a sua falta.
Pois, começando pelo fim. Então vem o meu Caro falar-me em tudo o que eu faço e eu sempre a queixar-me da falta de tempo e da chatice que é eu não ter o dom da ubiquidade.
Nem tenho agora tempo para os meus Arraiolos, nem para pintar e mal tenho tempo para ler. Já pensei (e estou a falar a sério) que tenho que me reorganizar porque isto dos blogues me ocupa um tempo impossível. Chego a deitar-me às 2 para me levantar pouco depois.
Quanto às fotografias, tiro-as aos montes sempre que me apanho ao ar livre (e de dia, que isto dos dias pequenos dá-me cabo da produtividade).
Quanto ao Sócrates, lá vem você com as suas embirrações. Você tem as suas embirrações de estimação e eu tenho as minhas simpatias (relativas, embora) de estimação. È que, apesar de tudo, acho que o Sócrates tinha alma, tinha determinação, tinha um propósito ambicioso para o país, era um lutador - e eu gosto de gente de fibra. E acho que o meu Caro, daqui por algum tempo, verificará que atribuir tanto mal a um só homem é algo de injusto.
Muitas vezes critiquei o Sócrates mas, apesar de tudo, acho que é uma pessoa com mais valor que o passos Coelho, que o Relvas e que tais.
Mas isto de gostos, meu Caro, cada um tem os seus. Que quer você?
Que lá porque acho que o homem assinou uns projectos manhosos quando ganhava a vida assim, já condescenda com o estilo do Relvas?
Ná...
E pronto, vou ficar por aqui que já passa da meia-noite e ainda quero escrever aqui qualquer coisinha... e mais daqui a nada já tenho que estar outra vez a pé...!
Cumprimentos, Carlos e não esteja tanto tempo sem dar notícias.
Se querer maçá-la, duas adendas ao meu comentário de ontem. A primeira, a de Pedro Reis me trazer à memória aquela pequena cantora, a Maria Armanda. Recorda-se? A segunda, a do mau desempenho dos mercados, bolsas a cairem e a taxa de juro dos bonds a 10 anos da Itália, Espanha e França, de novo a dispararem por aí acima. Por exemplo, a Itália está nos 6.7%. O q prova serem estas alterações governantais, esta suspensão democrática da Grécia e Itália, perfeitamente inúteis. Parece-me estar o destino traçado.
Packard,
Não maça nada. O que me fez foi já dar aqui uma boa gargalhada com a 'noss' pequena Armanda. Fui conferir e ainda aqui estou a rir.
Quanto a isto dos mercados, já no outro dia aqui o referi: empurraram o maluco do Berlusconi e ele disse que se demitia. Resultado: a bolsa voltou a cair e, em Milão, foi a pique.
Parece que há uma qualquer agenda escondida, de quem resolveu abater, um a um, um conjunto de governos para tomar de assalto a zona euro. Se isto é uma tal de guerra entre o euro e o dólar, se é a gente da trilateral a querer governar alguns pontos do mundo, se é um azar dos távoras, não sei, mas que isto pouco tem a ver com o que cada um em concreto faz dentro de casa, lá isso é.
(Claro que toda a gente tem dívidas enormes e que isso aparentemente um dia rebentaria, mas isso sempre foi assim e nunca acontecia este ataque concertado desta maneira).
Isto anda, desde há algum tempo, a deixar-me muito apreensiva porque não vejo gente capaz de enfrentar uma coisa destas, uma coisa indefinida assim.
Olhe, sabe o que lhe digo? Vou olhar outra vez para a cara do Pedro Reis para me recordar da Maria Armanda.
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