quinta-feira, julho 14, 2011

100 Maneiras e Festival ao Largo - a arte na culinária e na música numa noite feliz em Lisboa

Não faz parte dos meus hábitos andar a dizer onde vou, o que faço – excepto se tiver que ver com museus, jardins ou, então, com alguma coisa especial.

Mas vou abrir uma excepção.

Não sou grande apreciadora de andar em restaurantes. Sou forçada a frequentá-los diariamente para almoçar pelo que, em jantares, festas, ocasiões especiais, aniversários, quase que pago para não me ir enfiar num.

Detesto barafundas, detesto estar à espera, detesto barulho, detesto pagar um dinheirão para não comer nada de especial. Se for em grupo ainda é pior porque geralmente há conversas cruzadas, confusão, muito tempo, uma maçada.

Mas, obviamente, há excepções.

Numa conferência do Tom Peters ouvi-o citar que há que saber perceber o que se quer vender. Dizia ele, citando um executivo da Harley-Davidson: "O que nós vendemos é a possibilidade de um executivo de 42 anos se vestir de couro preto, passear-se de mota pela cidade e sentir que impressiona as pessoas’.

Que orgulho, a minha rica motinha...! 

Ou seja, a Harley-Davidson, mais que um produto, uma mota, é um conceito. Quem anda numa Harley-Davidson paga para poder ser ‘o fulano que tem uma Harley-Davidson’. É carisma, é glamour no masculino, é toda uma experiência que passa por sentir que se desperta inveja, por sentir que se é o maior.

Um jantar num restaurante pode ser também mais que uma refeição, pode ser mais do que ‘ir jantar fora’.

Pode ser uma experiência, pode ser um prazer, pode ser descoberta.

Refiro-me, neste caso, em concreto ao O restaurante 100 Maneiras (o restaurante, não o bistrot) – e informo que não tenho participação nos lucros nem conheço ninguém que o tenha. É, pois, uma opinião desinteressada.

Elevador da Glória - une os Restauradores ao Bairro Alto

É no Bairro Alto, na Rua do Teixeira, onde foi o Olivier e, antes, o Porta Branca, muito perto do miradouro de S. Pedro de Alcântara, ali onde chega o belo elevador da Glória. O chefe é o bósnio Ljubomir Stanisic (que faz parte do júri do programa Master Chefe na RTP 1).

Não é barato, longe disso. Fica à volta de 50 euros por pessoa.

Apenas funciona para jantar e apenas com menu de degustação. O menu, segundo creio, varia mensalmente.
Deve ser feita marcação.

Tem uma decoração muito agradável, acolhedora, é pequeno, tem um ambiente óptimo, os funcionários são eficientes, competentes, simpáticos, muito bem dispostos.

Sentamo-nos e começam a trazer-nos, numa sequência perfeita, 10 diferentes ‘degustações’.

Fotografia ao estendal do bairro

Desde o estendal do bairro, com bacalhau desidratado, em pequenas folhas presas por molas da roupa, que se come com um molho óptimo, o amuse-bouche delicioso, a sardinha sobre tosta, o lombo de robalo com ovas de salmão sobre cama de risotto de camarão, o limpa palato de champanhe e gelado de lima, os rolinhos de borrego forrados a pistachio crocante sobre espuma de batata, tudo é uma delícia, mas uma delícia mesmo (e não estou a referir tudo, nem os acompanhamentos - que não tomei nota nem consigo lembrar-me).

A qualidade dos ingredientes, a arte na mistura de sabores, a confecção e o empratamento, as quantidades, tudo é perfeito. A arte na culinária.

Aqui vos deixo, para uma ocasião, esta ideia. Garanto-vos que vão gostar (pena que seja caro mas, para o que é, justifica-se plenamente).

A Casa Havaneza e a Brasileira do Chiado
(à esquerda, Fernando Pessoa, discreto, entre os clientes)

Sugiro depois um passeio a pé pela zona do Chiado, sempre tão agradável, e muito animada, agora no verão.

Ontem tive a sorte de apanhar o Mário Laginha e o Bernardo Sassetti no Largo do S. Carlos a ensaiarem para o concerto do dia seguinte no Festival ao Largo (os concertos são gratuitos).

Bernardo Sassetti, a plena fruição da arte
Mário Laginha, sensibilidade e bom gosto
A alegria destes dois, juntamente com Elizabeth Davis e Pedro Carneiro na percussão, o à vontade de um ensaio sem stress - que maravilha, que maravilha vê-los, muito bem dispostos e que arte, que arte. Que bom ouvir os pianos na noite. E ali, no aconchego do Largo de S. Carlos, que sonoridade, que felicidade.

Uma noite de artistas, a começar no Chef do 100 Maneiras e a acabar com o piano de Mário Laginha e Bernardo Sassetti. A noite em Lisboa pode ser agradável.

Vamos sair de casa de vez em quando, meus amigos, que as cidades são bonitas com vida, com gente feliz nas ruas - e Lisboa e, em particular, esta zona do Chiado são lindas!

4 comentários:

Magnólia disse...

Não conheço o restaurante 100 Maneiras, mas gosto do diz sobre ele. Vai ser o meu próximo!
Também não sou uma 'frequent eater' em restaurantes: quando estou por cá ou pelo meu Douro, acho que não há melhor sítio para comer e desfrutar do que a minha própria casa. A minha gente e os meus amigos concordam, e eu quero acreditar que não é só para serem queridos com o chefe... que sou eu.
Mas, durante muitos anos, sempre que ia a Lisboa em trabalho (2, 3 ou mais vezes por semana), comia no velho Gambrinus, onde o Senhor Aurélio me tratava muito bem e acarinhava gastronomicamente… apesar de eu ser uma ‘mulher do norte’ e de termos algumas rivalidades desportivas.
Mais recentemente, quando vou e não volto no mesmo dia, aproveito para jantar em restaurantes diferentes, para ir conhecendo a oferta, que cada vez tem mais qualidade. Na semana passada, jantei no Eleven, pela curiosidade de ter uma estrela Michelin. E gostei imenso. Deve conhecer. Fica no Jardim Amália Rodrigues, tem umas janelas XXL voltadas para a cidade e para o seu Tejo, oferecendo-nos aquela luz única de Lisboa… A decoração é gira, minimalista, mas com um luxo discreto que sabe muito bem. No meio daquele intimismo modernista, sente-se a mãozinha da Joana Vasconcelos, que tem lá uma peça inesperada chamada “Coração Independente”, que vale a pena observar.
O Chefe Joachim Koerper, alemão, que eu já conhecia por ter jantado, há muitos anos, num restaurante em Paris onde ele trabalhava, tem altíssima qualidade. Os menus de degustação são excelentes e super originais. O robalo com escamas de trufa em puré de batata ratte e molho branco trufado, que comi, tem um nome super pomposo para um prato fresco, simples e de muita qualidade.Fechei com a sobremesa ‘sinfonia de chocolate’ que, deixe-me que lhe diga, é verdadeiramente yum yummy!...
Bon appétit!

anad disse...

Que agradável sugestão. tenho pena de este ano não ir muito aos concertos do Largo mas estou a preparar a minha maravilhosa viagem à Índia.
Um abraço
Anad

Um Jeito Manso disse...

Olá Anad,

Que sortuda, uma viagem à Índia...!

Que bom, estar a prepará-la!

Espero que corra muito bem, que adore, que aproveite!

Um abraço.

Um Jeito Manso disse...

Olá, Magnólia,

Pois faz bem. Quando vier a Lisboa esperimente que é óptimo (mas vá ao restaurante porqu eé o menu de degustação que é uma arte!

Pois não conheço o Eleven mas vou conhecer em breve.

Como disse, por estas bandas,perto de casa, gosto é de comer em casa. Fujo de restaurantes.

Mas, talvez por ver a minha recente receptividade a experiências degustativas, um dos meus filhos ofereceu-me uma caixa de cupões ('2 em 1'), na Fnac, que se traduz em 50% de desconto em refeições a 2, nos 20 melhores restaurantes (de Lisboa ou do país, não sei e agora não estou em casa, não posso validar) e, portanto, agora vou-me dedicar, de vez em quando, a descobrir novos sabores. E, justamente, o Eleven é um deles. Vou anotar as suas sugestões que devem ser óptimas...

Conheço muito bem o Coração Português (ou Independente?) da Joana Vasconcelos feito com talheres de plástico encarnados. Esteve em exibição no Colombo recentemente e já o tinha visto no Berardo. Aquela mulher é o máximo!