terça-feira, junho 14, 2011

Fernando Pessoa, um poeta intemporal, jovem aos 123 anos. E um cheirinho a alfazema.

Já acabou há pouco o dia de Stº António, santo da nossa afeição, e que, em Lisboa, é tido por abençoar casamentos em grupo e, assim sendo, se a data apela de tal forma ao amor, partilhei convosco algumas descobertas científicas que explicam os mecanismos do dito (no post abaixo deste, reportando-me ao último livro de Eduardo Punset).

Mas fez também anos ontem Fernando Pessoa e embora o tenha festejado no Ginjal e Lisboa não me apetece deixar passar em branco a data aqui no Um Jeito Manso.

Contudo, antes, para que a data fique bem temperada, junto-lhe aqui uns cheirinhos populares que, se fosse daqui por uns anos, desmaterializava e enviava-os para que, aí, ao abrirem este blogue, pudessem fazer o download destes belos aromas bem portugueses (lá chegaremos). Por enquanto são apenas palavras e imagens.

Andei a apanhar, in heaven, oregãos que já estão bem floridos e cheirosos (para serem secos e depois servirem para temperarmos as saladas, especialmente as de tomate), alfazema que está com uma cor vibrante e um perfume intenso e fresco e, de passagem, também algum louro.

Que perfume, meus amigos... cheira a serra, cheira a campo, cheira a alegria.

Depois, fui colocando espigas de alfazema um pouco por todo o lado para que a casa fique com aquele cheirinho bom a gavetas com lençóis com dobras de renda, toalhas de linho, brocados, enxovais de fino bragal, saquinhos bordados com cheirinhos, e outras coisas boas da nossa memória.

Enchi este bule - que é de esmalte lilás pintado à mão, muito antigo - de espigas de alfazema e a sala ficou logo cheirosa.


Mas, se o que estou a escrever é dedicado a todos, em geral, que me lêem, tem também um destino em particular. Como não poderei oferecer pessoalmente um pequeno e cheiroso bouquet deste alfazema à Laurinda Alves, daqui lhe envio estas imagens, desejando que os dias de despreocupação voltem rapidamente.

E agora, então, a palavra a Fernando Pessoa:

Não sei se é sonho, se realidade,
se uma mistura de sonho e vida,
aquela terra de suavidade
que na ilha extrema do sul se olvida.
É a que ansiamos. Ali, ali
a vida é jovem e o amor sorri.

Talvez palmares inexistentes,
áleas longínquas sem poder ser,
sombra ou sossego dêem aos crentes
de que essa terra se pode ter.
Felizes, nós? Ali, talvez, talvez,
naquela terra, daquela vez.

Mas já sonhada se desvirtua,
só de pensá-la cansou pensar;
sob os palmares, à luz da lua,
sente-se o frio de haver luar
Ah, nesta terra também, também
o mal não cessa, não dura o bem.

Não é com ilhas do fim do mundo,
nem com palmares de sonho ou não,
que cura a alma seu mal profundo,
que o bem nos entra no coração.
É em nós que é tudo. É ali, ali,
que a vida é jovem e o amor sorri.
 
 
(Do Cancioneiro).

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