terça-feira, maio 10, 2011

José Sócrates e Paulo Portas: na TVI um debate entre quase iguais mas que estão em campos opostos; e Pedro Passos Coelho e a sua equipa e Francisco Louçã e Jerónimo de Sousa - as alternativas em cima da mesa não são famosas, meus amigos

Numa altura destas, começando-se a conhecer os programas eleitorais, campanha em marcha, candidatos conhecidos – e eu sem vontade de falar de nada disto...

Não me revejo nesta gente. Claro que alguns estão mais a milhas do que outros do que considero serem os mínimos mas, mesmo assim, não há um, unzinho, que eu diga ‘grande governante que ali está’ ou ‘grande parlamentar’: nada, nadica.

A coisa pior numa organização é quando acontece a pouca sorte de alguém fraquinho chegar a uma posição de poder: aí está tudo estragado; e só se acontecer alguma coisa fracturante é que há hipóteses de algum dia a coisa voltar a encarrilar. Caso contrário a mediocridade vai alastrando, como uma mancha de óleo, em círculos concêntricos que vão chegando cada vez mais longe.

O fraquinho, porque detesta não perceber o que dizem os subordinados - melhores que ele - substitui-los-á por outros fraquinhos, estes novos fraquinhos farão o mesmo e quem, melhorzito, sobreviva, terá as maiores dificuldades. Aos poucos disfarçará que sabe para não se ver sozinho a falar chinês, até porque os outros, uma rede de ignorantes, não sabendo do que ele fala, tenderão a dizer ‘o tipo é um complicado’ ou ‘ o tipo é avesso à mudança’ e outras coisas do género.

Isto é o que tem vindo a acontecer na sociedade portuguesa, um pouco por todo o lado; e não sei como se sai disto sem que se interrompa a democracia ou sem que aconteça qualquer coisa disruptiva.



Paulo Portas tem atrás de si histórias mal contadas, suspeições, algumas pesadas, graves. Tem conseguido passar por todas sem se expor, com habilidade e, na política mediatizada, o que passa, esquece-se - e isso joga a favor dele. É intrinsecamente um artista, um intuitivo, um predador solitário e, por isso mesmo, não é muito reliable. Além disso, ataca sozinho, move-se melhor se puder estudar cuidadosamente os movimentos da presa, e estuda-o bem, escolhendo os melhores momentos para atacar.
No entanto, reconheço que ultimamente tem demonstrado que está melhor, ligeiramente mais gregário, talvez até mais solidário e, malgré tout, reconheço que, sendo certo que tem o papel fácil, se tem andado a portar melhor (o que prova que é inteligente). Mas quando se analisa mais de perto vê-se como é demagogo, perigosamente demagogo, tanto mais perigoso quanto é exímio na interpretação dos papéis que interpreta.



Passos Coelho é uma insuflação, arranja gente que tenha ideias por ele e tem toda uma máquina ávida de poder que tenta meter-lhe essas ideias lá para dentro: são marketeers, jovens académicos, jovens tecnocratas, ou seniores independentes que, como o Dr. Catroga [sem sensibilidade política ou cultura humanista, por uma questão de brio profissional à mistura com alguma impaciência  - estou a vê-lo no Prós e Contras e vejo como se altera, se impacienta, é arrogante, é um bocado troca-tintas, já não devia andar nisto, e nem é por ter 69 anos, é porque não tem também o perfil adequado para este momento] se saem com ideias avulsas, muitas vezes contraditórias entre si e, com frequência, contrárias ao discurso político de Passos Coelho. E o aparelho a pressionar. Miguel Relvas ou Marco António lá estão para garantir que a rapadura vai chegar para todos. E, então, o PSD aparece como uma caldeirada mal sucedida.



Sobre Louçã ou Jerónimo de Sousa nem me apetece falar: são perigosos manipuladores, demagogos sem vergonha, oportunistas da pior espécie (slogans como ‘Fora com o FMI que quer destruir as pensões dos mais pobres’ são calúnias e os seus autores deveriam ser responsabilizados por tal), frentes de bloqueio. Por vezes têm razão, por vezes defendem causas justas ou denunciam situações que merecem repúdio mas, a maior parte das vezes, são desestabilizadores, destrutivos, mentirosos, populistas, perigosos manipuladores e têm, justamente, como público alvo as classes mais desfavorecidas, menos informadas (ou então, as camadas esquerda-caviar, nascidas no conforto, eternos descontentes por não terem tudo aquilo a que se acham, superiormente, com direito)


Por fim, Sócrates. Sócrates é um lutador, um lobo, um sobrevivente, um homem corajoso. Mas nessa luta pela sobrevivência, que é a sua vida, ele faz o que for preciso para sobreviver. Se necessário for, ignora o que são escrúpulos, ignora o que é a verdade (esse abstracto conceito), passa por cima de inimigos, de adversários, críticos, e, sejam quem forem, prepara-se meticulosamente para os destruir e, quando é chegada a hora de atacar, atira-se sem complacência, com vigor, avança como um tsunami sobre o adversário, num gozo quase primário.

É muito parecido com Portas com a diferença que Portas é mais frio, mais secundário. Se se aliassem, seriam capazes de fazer um pacto de sangue, fariam uma dupla quase indestrutível.

Mas voltando a Sócrates: está viciado em sobreviver. Neste momento está na política como se estivesse na alta competição. Para ele, todos os que não estão com ele, estão contra ele e estuda-os cuidadosamente para saber como os apanhar em falso, como os surpreender. Numa altura em que começaram a soar vozes de que, com ele à frente do PS, não haveria acordos, para passar a ideia de que é imprescindível no PS, prepara ao milímetro um congresso que parece um comício de sagração; se for preciso passar a ideia de que não chamou o FMI mais cedo por amor aos portugueses, ele dirá que iremos ter saudades do PEC 4; se for preciso antecipar dividendos e dourar a pílula, ele fará uma despropositada conferência de imprensa em que diz que o acordo é maravilhoso, que não corta isto, nem aquilo, que não diminui isto nem aquilo, conseguindo escamotear as dificuldades subjacentes; se for preciso passar a ideia de que não deu um pontapé de chega para lá em Teixeira dos Santos, fá-lo-á estar ao seu lado na conferência, nem que este esteja quase em estado de rigor mortis.

Já várias vezes aqui o escrevi: acho que Sócrates não tem perfil para a necessária nova etapa da vida política, em que será preciso consensualizar, abrir mãos de rivalidades, anular clivagens.

Depois a equipa de Sócrates. Não gosto de Ferro Rodrigues e ainda menos gosto de Paulo Pedroso. Vem de há muito esta minha aversão, vem de antes de terem tido motivos para se afastarem. Foi com desconforto que vi que regressaram em força.

O debate entre Sócrates e Portas na TVI, com moderação de Judite de Sousa, que esteve muito bem, revelou um Paulo Portas tenso, mas focado, disposto a abater Sócrates, disposto a desnudá-lo perante a opinião pública, acusando-o de viver na estratoesfera e de incompetência e responsabilizando-o pela situação calamitosa do país - e um José Sócrates igual a si próprio, agarrado a uma linha de orientação e dali não se desviando, repetindo à exaustão a mesma argumentação, acusando Portas de ter contribuido para a crise política para agora ir aprovar medidas idênticas às que recusou, acusando-o de nunca ter proposto o que quer que seja para melhorar a situação ´financeira do país e, no momento alto do debate, confrontando Portas com uma pasta vazia, sem o programa eleitoral, por analogia com um discurso vazio de propostas concretas.



José Sócrates e Paulo Portas: dois adversários combativos, resistentes, inteligentes, implacáveis, dois snipers.


Num clima destes, com personagens destes (destes dois e dos outros que referi antes), como imaginá-los a trabalhar em equipa, solidários?

Então, fazer o quê? Escolher quem? Alguém me diz?

Por isso, hoje, apeteceu-me falar de outras coisas.

Quem tiver paciência  e estiver também com este estado de espírito, siga, portanto, para o post abaixo, vou dar a minha receita de sopa de tomate. E, no post mais abaixo falo da exposição do Miguel Palma no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian. Temas mais úteis.


E agora uma fofoquinha

Jessica dixit: Sócrates anda no psiquiatra, diz que anda a ouvir por todo o lado passos de coelho e portas a bater.


(Desculpem-me os que já sabiam)

3 comentários:

Anónimo disse...

Mas qual a obsessão por dizer mal dos partidos da esquerda? Que são demagógicos? Manipuladores? Porque? Alguma desejo reprimido de identificação com uma causa?

Falar de manipulação do Jerónimo de Sousa num post onde o tema é o debate entre Portas e Socrates soa a brincadeira! O Portas termina o debate a dizer que "todos os contratos de trabalho dos jovem a expirar serão renovados" - como??? era bom! Quem me dera! mas é demagogia... pura!

O Socrates passa o debate inteiro a dizer - as negociações correram optimamente. "Porquê Sr. 1º Ministro?", "porque as medidas são iguais ao PECIV". Mas que género de manipulação detestável é esta? Ou se trata de uma falácia para enganar os 50% de ignorantes que são os portugueses ou julga que uma vitória politica per si é "optima", mas para quem? Quem classificou o PEC de optimo para se puder assumir que as medidas da troika sao optimas por serem iguais ao PEC. E repetiu isto vezes e vezes sem conta, tipo lavagem cerebral, a martelar nos tímpanos.

Por fim de onde vem a demagogia e manipulação do PCP por recusarem o FMI?

A Arqentina teve o maior colpaso da sua história em 2001 por ter uma moeda com paridade com o dolar. Quando a abandonou passou por uma crise brutal, mas ao fim de um ano recuperou e até hoje tem estado a crescer a 9% ao ano e com reduções de probreza de base na ordem dos 20%.

A Islandia por exemplo alinhou claramente pela hipótese da renegociação da divida. E não estamos a falar de um país de ingovernáveis tipo Grécia...

Não estou a dizer que essas sejam as medidas correctas. Mas estou a dizer que são históricamente reconhecidas como hipóteses viáveis.
Então porque é que cá não podem ser referidas?

Mas em Portugal compra-se opiniões pret-a-porter no Expresso, DN e Publico... e sim, os fazedores de opinião vendem-nas como sopas quentes em dias de inverno e então só ha 1 solução, só ha 1 ideia.

Sejamos suficientemente crescidos para encarar com seriedade todas as propostas em cima da mesa.

E vamos finalmente começar a falar da razão pela qual a economia nao cresceu em 10 anos. E essa é a raíz de tudo. Esqueçamos o estado e os funcionarios publicos. E vamos centrar a discussão na mediocridade no nosso aparelho produtivo. A Agricultura? A Pesca? A Industria? Onde estão!? Para onde foram!? Porque é que a UE paga 400euros/ano/hectar nao produtivo?! Porque é que importamos 80% dos alhos que consumimos da china? Porque é a que a indústria quimíca não consegue recuperar? Porque é que a Lisnave fechou se a Setnave está a recusar trabalho?

Aí é que devia estar a discussão,´o resto é ruído, é novela para distrair..

J

Teresa disse...

Gostei muitissimo da sua "dissecação politica" dos lideres dos principais partidos portugueses da atualidade.
Realmente o Sócrates é um lobo,inteligente, muito inteligente e sabe bem o que vai responder, se é um mal governante talvez a culpa não seja somente dele. Aliás a culpa neste exato momento é irrelevante, Portugal tem que sair do lodo e não seria com a figura arrogante, covarde e mal educada de um sr Portas. pois Como confiar em um homem que não olha nos ohos das pessoas com quem fala? Quando sai pelas feiras a passear a sua arrogância como se esta fosse o seu mascote, olha nos olhos das pessoas. O comportamento de quem sabe tudo e é melhor que todos vem de família penso eu, pois o irmão do sr Portas é outro poço de arrogância.
Admito que o programa eleitoral do CDS me agrada em muitos pontos, mas se fosse uma cidadã portuguesa não votaria em um partido cujo o lider pensa subir ao poder dando caneladas e fazendo degraus com a sua arrogância para chegar ao cimo.
É uma lástima que a vida politica da nação esteja neste lodo, acompanho a vida politica portuguesa e acredito que os candidatos venderiam até a mãe para chegar ao poder.
A esquerda portuguesa precisa desenvolver, pois como esta é uma lástima, com toda a certeza é a mais atrasada e retrógada do continente, atravanca o desenvolvimento do país. Enfim, a democracia tem parelas tortas e a esquerda é uma delas, não há nada de novo, o pó que paira sobre a esquerda portuguesa é o mesmo da Coreia do Norte, Cuba e dos países islamicos.
Já não vivemos na "era revolucionária", o mundo mudou e a esquerda estacionou.
Desejo que o Paulo Portas e a sua arrogância que não é sómente partidária é pessoal, arrogância privada e cultivada, "talvez de berço" nunca venha a chegar ao topo, gosto muito de Portugal e desejo um bom futuro para a nação lusa, mas este futuro não deverá passar pelas mãos da esquerda enferma ou de um Portas arrogante com chiliques parecidos com os da ex candidata republicana Sarah Palin. Admito que o Portas é um pouco mais inteligente que a caçadora de lobos que pensava que a África era um país e não um continente.
Sómente o desespero poderia render votos tanto ao CDS como a esquerda neferastus.

Um Jeito Manso disse...

Teresa, muito obrigada pelas suas palavras, gostei de muito de a ler. Dou-lhe muita razão. De facto, para quem não seja português, deve ser difícil perceber como é possível que, num momento destes, não apareçam melhores alternativas políticas e não surjam preocupações nacionais acima das preocupações partidárias.

Mas, tem razão, não é só por cá que há gente desqualificada, a Sarah Palin também não era grande estadista...

Hoje voltei a escrever sobre cada um dos líderes partidários. Se quiser, dê uma espreitadela.

E volte sempre!