sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Muammar Kadhafi, o ditador louco que ajudava os amigos do ocidente

Ah que cinismo o nosso, ah que hipocrisia.

Olhemo-nos ao espelho antes de cuspirmos na imagem que nos surge nas televisões, a imagem do louco inflamado que ameaça de morte, que manda de matar (como sempre o fez), que nos aparece no figura ridiculamente carnavalesca - olhemo-nos ao espelho e, envergonhados, falemos baixinho contra nós.

Este homem circulou por toda a Europa, foi recebido como um chefe de Estado moderado, abancou numa tenda em Lisboa, todos foram lá ao beija-mão - durante todos estes anos onde estava esta nossa indignação? Achavamos vagamente despropositado mas já nos tínhamos habituado.

Sabíamos (sabíamos!) que este homem é um assassino - mas como pagou indemnizações pelas vítimas, como se confessou arrependido, nós fechámos os olhos e recebemo-lo como se ele fosse um imperador especial.

Com o nosso provinciano sentido de superioriade europeia, sorríamos condescendentes. Falava-se que o homem é um boçal inconveniente, que as maneiras dele são abaixo do mínimo socialmente aceite, mas sorríamos superiores porque temos maneiras e porque ele tem petrodólares, porque nos achamos bcbg e porque a Líbia tem liquidez, tem reservas de petróleo. E porque nós estamos com uma mão à frente, outra atrás, e porque que remédio senão estender a mão a quem nos puder dar uma ajudinha.

Todos nós pusemos num prato da balança o pragmatismo e no outro os princípios morais - e todos nós, deixemo-nos de puritanismos hipócritas, achámos que, paciência, fazer o quê?, venha de lá a esmola.

Agora que a grande onda de revolta da juventude esclarecida e escolada saíu à rua em toda esta parte do mundo, olhamos agoniados e, outra vez com superioridade, escarnecemos dos ditadores, dos malvados.

Muammar al-Gaddafi

A Líbia a ferro e fogo, milhares de mortos, multidões em fuga - e a Europa sem saber o que fazer com esta inesperada onda suja que invade de lama as suas salas. O petróleo em alta faz balançar as economias exangues, os imigrantes assustam as populações.

E nós, pobres tontos, cínicos, ignorantes, não sabemos como lidar com tudo isto que está a acontecer. Acho que, nestes momentos de fractura, deveríamos ser humildes, reconhecer os nossos erros, tentar perceber de que matéria somos feitos, deveríamos tentar perceber em que momento histórico estamos a viver. Talvez, então, depois, pudessemos opinar de cabeça erguida.

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