segunda-feira, fevereiro 28, 2011

Edição 2000 do Expresso - breves sobre a forma e sobre o conteúdo

Estava expectante, depois de tanta publicidade. Edição 2000. De facto é um número importante, merecia bem ser festejado. Sobre as contratações e descontratações já me pronunciei aqui. Sobre a campanha também.

Os números falarão por si ('pelos frutos os conhecemos', não é?), o que interessa às empresas é, sobretudo, o volume de vendas. A opinião individual e subjectiva de pouco vale. Mas transmiti-la-ei, focando, brevemente, a forma e o conteúdo.

Sobre a revista especial sobre a edição 2000 gostaria de saber por que iluminada cabeça passou fazê-la com aquele formato. Por ser um marco, era uma coisa interessante de se guardar. Mas como? Onde se arruma uma coisa assim, daquele tamanho disparatado, e fininha? Não teria sido preferível fazê-la em tamanho standard, talvez com formato de livro, que se pudesse arrumar numa estante?

Depois, a primeira página. Uma profusão de coisas, muito ruído, palavras às cores, de vários tamanhos. A metade de cima, então, é uma confusão.

Edição 2.000 do Expresso: primeira página

Para a 1ª página foi puxado um tema que me incomoda e que, por uma questão de princípio, não leio: segredos roubados. Não leio, tal como não leio escutas. O que sei foi o que ouvi pelas televisões antes de fazer zapping: opiniões e informações que, uma vez divulgadas, se transformam em intriguices, coscuvilhices.

Não me interessa o que funcionários americanos dizem. Cada um terá as suas motivações e tirar as coisas do contexto é um perigo. Não me agrada.

Depois, várias páginas estavam escritas para serem lidas em 3D mas esqueceram-se de nos oferecer os óculos. Mal se lia. O que aconteceu? E logo na edição 2.000?!

Edição 2.000 do Expresso: página interior, desfocada e com aspecto desarrumado


E do caderno principal, agora que o não tenho aqui ao pé de mim, de pouco mais me lembro e mesmo o artigo de Miguel Sousa Tavares me pareceu requentado.

Mas retive que várias páginas estavam uma confusão desagradável, em que até o lettering mudava e, noutras, a organização era tal que até dava a ideia de que o espaçamento das margens era variável.


Do caderno de Economia, ressalvo que João Duque não saíu - o que parece confirmar que a onda levou essencialmente quem escrevia com o coração à esquerda.
Sobre o concurso de ideias que tem o Expresso como sponsor e, portanto, amplamente divulgado, reinventar Portugal, ideias novas, projectos interessantes, a ideia parece louvável - e presumo que tenham acautelado a questão da propriedade intelectual. Mas vamos ver no que dá.

A revista versou uma ideia interessante, qualquer coisa como Jacques Atalli há tempos escreveu: uma antevisão do futuro. Mas algo pobrezinha do ponto de vista gráfico. Não vamos reter porque o tom geral e o aspecto resultou vulgar, sem sal.

E agora a Actual.  Deprimente. Parece que, ao contrário do concurso patrocinado pelo próprio jornal, aqui não se quer nada com novas ideias, quem com a reinvenção de uma vida nova. Não, aqui parece que se combinaram todos para construir um cenário macabro.

Pedro Mexia deu ao seu espaço o estimulante nome de Fraco Consolo, vejam bem. Alimenta com desvelo o seu  próprio pessimismo.

Na sua primeira crónica, bem escrita, escreve sobre Karl Kraus, sem dúvida um sujeito interessante, mas consegue chegar ao fim deste que é o seu texto de estreia, referindo um aforismo que exprime o pouco que a vida vale a trabalheira que dá, participando-nos que essa seria a sua escolha para o próprio epitáfio. Nem dá para acreditar. Até irrita. Começar uma vida nova (afinal começou a escrever num jornal que é de referência em Portugal) a desmerecer a benção que a vida é e a pensar na própria morte... Isto faz algum sentido?! Seja do ponto de vista emocional, filosófico, seja do que for.

Depois, um longo artigo sobre 'Fotografia e o Mal' de Paulo Nazolino, um talentoso fotógrafo, isso não está em discussão, mas, sendo uma pessoa mortificada, as fotografias que constam da exposição e do artigo, são sombrias, e mostram moribundos, mortos e cadáveres mumificados. Mais tétrico era impossível. Estimulante também...

Como se não bastasse, outra das novas estrelas contratadas, Manuel S. Fonseca, começa a crónica dizendo ‘quem me dera que Michelle Pfeiffer estivesse morta’ e ao longo de todo o texto, fazendo a elegia dos actores mortos, fundamenta circunstaciadamente porque deseja que Michelle morra o mais depressa possível. Assustador. Claro que percebo a mórbida ideia dele (quer recordá-la sempre bela) mas, que diabo, que se feche ele numa casa sem televisão nem jornais. Aliás, perigoso como parece ser, melhor que nem saia à rua.

Podia falar de outros, como do jovem Henrique Raposo promovido também a super-estrela que relata também qualquer coisa como afastamento da realidade e suicídio - mas já não tenho paciência.

O que se passou?

Foi apenas uma coisinha má que lhes deu a todos? (Por acaso logo na edição 2.000)... mas vai passar-lhes? Ou vão ficar nisto?

É que eu não tenho paciência para bisbilhotices, desolações, auto-flagelações, cenas sinistras, macabras...

Nem tenho também muita paciência para incompetências como as relatadas acima (páginas inteiras desfocadas, etc).

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