domingo, julho 18, 2010

Taxonomia - uma questão metodológica



Correndo o risco de parecer uma insuportável elitista, gostaria de tecer algumas considerações sobre como eu divido a espécie.

Acho que traçar-se a metodologia é a primeira coisa a fazer-se quando se procede a uma qualquer análise.

Há quem divida o mundo segundo duas escolas de pensamento, a escola francesa e a anglo-saxónica. Eu acho isso muito errado, acho que essa divisão já vem cá muito para baixo.

Imaginemos que começamos a abrir chavetas. A espécie humana dividida em dois grandes grupos.

Depois deixemos para trás o grupo que não nos interessa analisar e peguemos no outro: abramos aí uma chaveta e dividamos então em dois novos sub-grupos. Um é deixado para trás e prossigamos com a sub-divisão do outro; e assim sucessivamente.

O que para mim é fracturante (por provocar as grandes sub-divisões) prende-se, antes de qualquer outra coisa, com o correcto uso da língua. Como se está aqui a falar da espécie, haverá obviamente que encontrar em cada língua o equivalente ao que aqui vou referir pois, naturalmente, vou exemplificar com a língua portuguesa.

Então, para mim, a espécie divide-se, em primeiro lugar, naqueles que ao menos sabem que o plural de qualquer é quaisquer e aqueles que nem isso. Os que nem isso, ficam irremediavelmente de lado.

Depois, o grupo dos que passam esse primeiro crivo, divide-se nos que sabem dizer hás-de ou hão-de e os que nem isso. O sub-grupo dos hadem e dos hades fica logicamente para trás.

Os que passam, dividem-se seguidamente nos que sabem que o condicional reflexo é partido por dois hífens e nos que, alegremente, dizem que faria-se, comeria-se. Estes últimos ficam para trás.

Seguidamente (e aqui hesito na ordem, não sei se este não deveria vir antes do anterior), temos os que ficam indiferentes às palavras que acabam em ‘mos’ e aqueles que, tendo omitido o hífen atrás, onde ele fazia falta, agora exorbitam e, sempre que a palavra acaba em ‘mos’, colocam um hífen antes, como por exemplo, em ‘come-mos’ (até me doeu escrever isto). Este grupo geralmente tem a mesma reacção com a terminação ‘se’ não a distinguindo da partícula reflexa e, não sendo de modas, coloca-lhe um hífen antes (com dor, exemplifico: ‘se eu come-se um bolo’ ).

A estes, claro, deixo para trás. Os que passaram pelo crivo até aqui, dividem-se seguidamente em dois novos grupos: os que dizem ”ter a ver com” e os que, sabe-se lá porquê, dizer ‘ter a haver com’. Esses, santa paciência, ficam para trás.

Os que prosseguem dividem-se entre os que sabem que 21 ou 31 - e por aí fora – é plural e, logo, que se diz 21 anos ou 61 kgs e não 21 ano!!

De seguida, e aqui o grupo já está cada vez mais restrito, há a sub-divisão entre os que sabem que as unidades de medida são masculinas e, portanto, se diz ‘dois gramas’ e não ‘duas gramas’.



Ainda teríamos mais alguns crivos até que finalmente entraríamos em divisões mais conceptuais como o grupo dos conservadores e o dos liberais, ou o grupo dos que seguem a escola francesa ou a anglo-saxónica ou os que apreciam arte abstracta ou apenas gostam do que reproduz quase fotograficamente o que conhecem.

Já cá muito para baixo na hierarquização poderemos então aplicar a taxinomia mais usual (os heterossexuais e os homosexuais; os louros e os morenos; os altos e os baixos; os feios e os bonitos – enfim coisas já irrelevantes).

Como um pequeno apontamento de confidência direi aqui que tenho alguma dificuldade em investir algum do meu tempo com pessoas que pertencem aos grupos acima referidos (os que são para deixar para trás): não é possível manter uma conversa decente com diz quaisqueres, faria-se, hades, e por aí fora. Isso desconcentra-me. Desmotiva-me.

1 comentário:

Anónimo disse...

Quero deixar apenas uma nota:

As unidades de medida não têm plural, no entando, na língua portuguesa e quando se pretende representar mais do que uma unidade escrita por extenso, usa-se o plural, e.g., um grama , dois gramas, 1 Kg, 61 Kg :)