Quando circulava mais, acontecia-me com alguma frequência um desconhecido começar a falar comigo e contar-me coisas profundamente pessoais. Eram situações completamente inesperadas que eu havia com atenção e respeito.
Se eu pudesse compilar todas as 'histórias' que têm chegado até mim, quem me lesse diria que a minha imaginação é excessiva, talvez a tender demasiado para o drama, por vezes talvez delirante. Obviamente não o farei pois respeito em absoluto a confiança que ao longo de anos tantas pessoas têm depositado em mim.
Quando eu trabalhava, era frequente, quando havia alguma suspeição no ar, virem perguntar-me se eu sabia de alguma coisa pois diziam que o meu gabinete era o confessionário. Claro que, mesmo que soubesse, não contava nada -- a menos que, pela natureza da situação, me apetecesse colocar algumas achas na fogueira.
Muitas vezes dou por mim a pensar: porque é que isto acontece? Porque as outras pessoas percebem que me interesso genuinamente por elas? Ou que procuro compreender sem julgar? Ou por qualquer outra razão?
Claro que depois me penitencio por não conseguir desdobrar-me em mil para ter tempo para acompanhar todas as pessoas que me procuram. Tenho a minha vida, as minhas ocupações, e é impossível ter tempo para conviver, mesmo que por mail, com todos quantos têm mostrado confiar em mim como guardiã de segredos, angústias, maravilhas, sucessos, preocupações, mágoas. Faço o melhor que posso mas sei que, para muitos, isso não é suficiente. Espero que compreendam.
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Talvez por tudo isto gosto imenso de ver estes vídeos em que alguém aborda e filma estranhos e estes, sem hesitação, falam da sua vida, dos seus assuntos mais pessoais.
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